759 - SHÉU


Mesmo tendo idade de júnior, Shéu já jogava pelos seniores do Sport Lisboa e Beira. Começou como extremo-direito, mas a sua impetuosidade para avançar no campo, deixava-o, inúmeras vezes, refém do “offside”. Então, os responsáveis técnicos da equipa decidem recuá-lo no terreno de jogo. Apesar da novidade, as qualidades que possuía ajudá-lo-iam nessa adaptação. Shéu responderia da melhor maneira à pretensão dos seus treinadores e, daí em diante, passaria a jogar como médio.
A sua qualidade era tal que José Augusto veria nele um bom reforço para o Benfica – “Foi um jogador que nem estava na lista de jovens que fui avaliar, mas vi-o a jogar em Moçambique quando fui buscar uma autorização para o Nené. Vi logo ali que o Shéu tinha uma enorme margem de progressão. Não hesitei e fiz questão de trazê-lo logo comigo para Lisboa”*.
Pior foi convencer o seu pai. Certo que a vida académica era mais importante que uma hipotética carreira de desportista, a autorização para que pudesse seguir viagem com a comitiva benfiquista, foi muito difícil de conseguir. Shéu insistiu no pedido e comprometeu-se a concluir os estudos. Convencido da sinceridade do filho, a permissão lá foi concedida. Shéu cumpriria a sua promessa e, em paralelo com o futebol, concluiria o curso de Mecânica e Desenho Industrial.
Tendo chegado a Portugal em 1970, o jovem atleta seria integrado na equipa de juniores das “Águias”. Ainda nesse escalão, começou a ser chamado à equipa principal, tendo sido convocado para alguns encontros de cariz amigável – “Fomos a Espanha fazer um torneio, a Salamanca, que ganhámos, e julgo que foi na fase final da época. Como era norma naquela altura, não regressávamos naquele dia, só no seguinte. Então os jogadores decidiram que iam sair. Pediram autorização ao treinador, mas este disse que não. Acabámos por nos reunir já fora do hotel para ir embora. E eu, que tinha sido pela primeira vez convocado, e logo para uma equipa daquelas, não sabia o que fazer. Estava numa encruzilhada! Decidi, lentamente, ir ter com os jogadores que estavam à frente do hotel. Fui a passo, pé ante pé, e do meio do grupo oiço uma voz: «Ó miúdo, vai-te deitar!» E quem era essa pessoa? O Eusébio. Libertando-me assim daquela situação difícil, para quem chegava de novo. Senti-me protegido.”**.
A 15 de Outubro de 1972, numa visita ao campo do Barreirense, Shéu faz a estreia oficial pela equipa sénior. Aos 80 minutos de jogo, entrando para o lugar de Toni, o médio dava início a uma caminhada que apenas terminaria em 1989. Logicamente, e apesar de reconhecidas as suas capacidades, as oportunidades que teria durante esses primeiros anos seriam escassas. Só na temporada de 1975/76, com a chegada de Mário Wilson aos comandos da equipa, é que o seu paradigma começou a alterar-se.
 A verdade é que a partir desse momento, o atleta conquistaria um lugar no “onze” do Benfica. Como titular absoluto, e conseguindo manter essa importância, Shéu tornar-se-ia num dos principais pêndulos da equipa. Sem nunca ser muito exuberante, era ele o jogador que tornava possíveis os necessários equilíbrios tácticos. Esse seu papel contribuiria muito para que o Benfica conseguisse conquistar um sem número de títulos. 9 Campeonatos, 6 Taças de Portugal e 2 Supertaças fazem parte do seu currículo.
Em termos internacionais, o seu percurso não é, de todo, vergonhoso. Apesar de nunca ter conseguido vencer uma competição europeia, o centrocampista pode gabar-se de ter marcado presença em duas finais. Na primeira, a final da Taça UEFA de 1982/83, o Benfica seria derrotado pelo Anderlecht. Ainda assim, nesse duplo embate com a equipa belga (1-0; 1-1), o golo conseguido na 2ª mão seria da sua autoria. Já em 1988, com Shéu a envergar a braçadeira de capitão, os “Encarnados” seriam derrotados no derradeiro jogo da Taça dos Campeões Europeus, desta feita, frente aos holandeses do PSV Eindhoven.
No que à selecção diz respeito, o seu percurso é algo curioso. Tendo em conta as diversas chamadas à equipa nacional (24) e ao seu estatuto de grande médio, é surpreendente que nunca tenha sido chamado a disputar a fase final de uma grande competição. É certo que durante o seu percurso de futebolista, Portugal raramente conseguiu qualificar-se para esse tipo de certames. As excepções seriam o Euro 84 e o Mundial de 1986. Ora, a ausência no torneio disputado no México, até pode ser justificada pela entrada na derradeira fase da sua carreira. Já para França, numa altura em que ainda estava na posse de todas as suas capacidades físico-tácticas, o seu afastamento é difícil de entender.
Em 1989, como já foi referido, Shéu decide pôr um fim ao seu percurso nos relvados. No entanto, a sua ligação ao Benfica manter-se-ia. Tendo concordado com a proposta do Presidente João Santos, o médio passaria a ocupar um lugar na estrutura directiva. Com excepção feita a duas aparições como treinador (1998/99 – treinador interino; 2007/08 – treinador-adjunto), o antigo jogador tem, desde então, cumprido as funções de Coordenador Técnico da “Águias”.

 
*retirado de “www.record.pt”, edição de 29/03/2014
**retirado de “www.relato.pt, “post” de 03/12/2016

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