823 - PAUL GASCOINE

Sendo um grande fã de futebol, só a sua habilidade com a bola era comparável a essa paixão. Não foi por isso de admirar que, logo em tenra idade, muitos “olheiros” o começassem a desafiar para prestar provas nos respectivos clubes. Ipswich Town, Middlesbrough e Southampton, seriam os primeiros a endereçar-lhe tais convites. Apesar do insucesso dessas experiências, o jovem Paul Gascoine nunca desistiria do sonho de ser um futebolista profissional. Foi então que chegou a hora do clube que apoiava. No Newcastle agradou. Aí, no emblema do Nordeste inglês acabaria a sua formação, e, na mesma temporada em que capitanearia a equipa de S-18 na vitória na FA Youth Cup, acabaria por estrear-se no patamar sénior.
Esse primeiro jogo na temporada de 1984/85, patrocinado pelo mítico Jack Charlton, acabaria por dar início a uma carreira recheada de grandes momentos. Não tardou muito até que as suas capacidades o levassem a um plano de real distinção. Logo na época seguinte à da estreia com os “Magpies”, Gascoine conseguiria ganhar um lugar no “onze” inicial. Cotando-se como um dos melhores do conjunto “geordie”, o médio mereceria honras de destaque na imprensa desportiva, acabando por figurar em muitas capas e primeiras páginas de jornais. Paralelamente àquilo que é o jogo com a bola nos pés, os momentos caricatos também começaram a preencher a sua carreira. Num desafio frente ao Wimbledon, o temível Vinny Jones, conhecido pela crueldade, apertaria a sua genitália. O esgar de dor do médio correu mundo, mas, ao invés de responder com violência, Gazza (alcunha pela qual ficaria conhecido), enviaria uma rosa ao seu agressor e, segundo rezam as crónicas, tornar-se-iam grandes amigos.
Já depois de ser laureado com o “PFA Young Player of the Year” em 1986/87, Gascoine começa a ser assediado por clubes de maior nomeada. Manchester United apareceria na “linha da frente”. No entanto, a preferência do atleta recairia por um emblema de Londres e a transferência, naquilo que foi um recorde monetário, concretizar-se-ia a favor do Tottenham. Em White Hart lane, o que eram as suas habilidades futebolísticas serviriam, ainda mais, para sublinhar a qualidade que sempre havia demonstrado dentro de campo. Uma visão de jogo primorosa, comparável apenas à sua técnica de passe e finta, fariam dele um dos melhores a actuar na sua posição. Partindo desse princípio, e dando seguimento às chamadas nas camadas jovens, o médio acabaria por fazer a sua estreia na principal selecção inglesa.
Voltando ao clube, a sua passagem pelos Hotspurs teria o seu momento mais alto aquando da final da Taça de Inglaterra de 1990/91. No desafio disputado em Wembley, numa altura em que já tinha firmado um acordo com a Lazio, era no atleta que todos as luzes estavam focadas. 15 minutos passados após o começo da partida e, numa entrada violenta, Gascoine atinge o antigo atleta do Benfica, Gary Charles. O médio aleija-se gravemente, mas ainda aguenta em campo o tempo necessário para, na sequência do castigo aplicado à sua falta, ver Stuart Pearce pôr o Nottingham Forest à frente no marcador. Pouco tempo após o golo, o jogador acaba mesmo por ser transportado para fora do terreno de jogo. O Tottenham acabaria por vencer o desafio. Contudo, a lesão que sofreria no joelho deitaria por terra a sua hipótese de transferência para o “Calcio”.
Sendo ele um dos que mais resplandeceu no Mundial de 1990, certame organizado em Itália, era impossível que do Sul da Europa não surgissem mais oportunidades. Após a longa recuperação, novo convite surgiria e, mais uma vez, era Lazio a mostrar interesse na sua contratação. Numa altura em que muito já tinha brilhado à custa dos jogos “Gazza’s Super Soccer” e “Gazza II”, a mudança para a cidade Roma quase que dispensava qualquer tipo de cerimónia. Ainda assim, com toda a pompa e circunstância, a sua apresentação ocorreria na temporada de 1992/93. No entanto, a sua adaptação a uma nova realidade ficaria bem longe dos pergaminhos que trazia. Polémicas envolvendo repórteres e a imprensa, querelas com o Presidente do clube, excesso de peso, novas lesões e exibições inconstantes fariam parte do rol de episódios que ilustrariam a sua passagem pela “Serie A”.
A sua ligação ao emblema romano terminaria no final da temporada 1994/95 e sem grandes louvores conseguidos. Já mudança para a Escócia valer-lhe-ia as primeiras vitórias em campeonatos. 2 Ligas escocesas (1995/96, 1996/97), às quais acrescentaria 1 Taça (1995/96) e 1 Taça da Liga (1996/97), preencheriam o seu currículo. Também no que diz respeito a episódios caricatos, a sua passagem pelo Rangers haveria de ter os seus capítulos. Num desafio que opunha a sua equipa à do Hibernian, o árbitro Dougie Smith deixa cair o cartão amarelo. Gascoine apanha-o do chão e “exibe-o” ao juiz, acabando, ele próprio, por ser admoestado com a tal cartolina. Apesar de tudo, seria durante este período que Gascoine voltaria a mostrar a sua genialidade. Numa altura em que sua chamada seria vista com alguma desconfiança, as exibições que conseguiria durante o Euro 96 serviram para demonstrar que o médio ainda conseguia estar ao melhor nível. Fica na memória o golo que marcaria frente à selecção escocesa. Nesse embate da fase de grupos, o atleta recebe a bola à entrada da área, passa-a por cima de um defesa e remata-a para o fundo das redes adversárias.
As suas passagens por Middlesbrough, Everton, e Burnley serviriam mais às estatísticas do que propriamente ao espectáculo do futebol. A sua fraca forma física, naqueles que foram os derradeiros anos da sua carreira, tornar-se-ia uma evidência. Depois, ainda que na condição de treinador jogador, chegariam os primeiros trabalhos como técnico. As passagens pela China, no Gansu Tianma, e o regresso a Inglaterra ao serviço do Boston United, serviriam de prelúdio para a sua passagem, em definitivo, para os “bancos”. Nessa função, numa carreira que viria ser bastante curta, destaque para estadia em Portugal, onde orientaria o Algarve United.

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