1007 - JOÃO TOMÁS


Filho de uma professora primária e de um professor de Educação Física, seria a carreira futebolística do pai que daria força à sua entrada na modalidade. Seguindo os passos do progenitor, que, por opção, cumpriria todo o percurso como amador no Oliveira do Bairro, o pequeno João Tomás acabaria por ir a testes no mesmo emblema. Curiosamente, a primeira tentativa abortaria. Assustado e já depois de deixado no campo, o candidato a jogador esconder-se-ia por baixo das bancadas. Descoberta a manobra de fuga, ser-lhe-ia dada uma segunda oportunidade que, bem agarrada, daria ensejo a um percurso formativo feito no já referido emblema do Distrito de Aveiro.
Aos olhos do que foi a sua carreira, o episódio seguinte da sua caminhada desportiva só pode ser visto com enorme espanto. Na transição para a categoria principal, João Tomás seria preterido pelo Oliveira do Bairro. Depois de inscrito na lista de dispensas, o atleta não hesitaria na hora de dar continuidade à sua paixão e passaria a representar o modesto Arviscal. Nas “distritais” ainda vestiria as cores do Águas Boas até que, na entrada para a 3ª campanha como sénior, dar-se-ia a sua chegada aos escalões nacionais. Ainda que na 3ª divisão, a temporada feita no plantel do Anadia tornar-se-ia de extrema importância para a sua evolução.
Depois de no Águas Boas ter passado do meio-campo para zonas mais avançadas do terreno de jogo, João Tomás começaria a temporada de 1995/96 já bem adaptado às tarefas de ponta-de-lança. Essa campanha com o Anadia, com o emblema a disputar os lugares cimeiros da sua série, despertaria o interesse de colectividades de outra monta. Na sequência de tamanho crescimento, a Académica convidá-lo-ia para prestar testes em Coimbra. Agradados com o seu desempenho, os responsáveis pelos “estudantes” aprovariam a sua integração no grupo de trabalho. O atacante, muito mais do que um futebolista com grande potencial, passaria a personificar aquele que é um dos grandes pilares da história da “Briosa”. Sem descurar o percurso escolar, a contratação do avançado serviria também para sustentar a filosofia do “atleta-estudante”.
Apesar de uma adaptação difícil, a 1ª temporada passada em Coimbra terminaria com o clube a conseguir a promoção ao escalão máximo. A subida permitiria a João Tomás fazer da campanha de 1997/98 a da sua estreia na 1ª divisão. Mesmo sem ser um dos indiscutíveis da equipa, a sua constante utilização permitir-lhe-ia, nas 2 épocas seguintes, evoluir de forma positiva. Contudo, no final de1998/99 a Académica haveria de cair novamente nos patamares secundários. Para o avançado, aquilo que poderia ser visto como um revés, tornar-se-ia numa grande oportunidade. Com a primeira metade da época bem prolífera, a quantidade de golos por si marcados abrir-lhe-iam, ao entretanto apelidado “Jardel de Coimbra”, as janelas de outros horizontes.
Com o seu empresário ligado ao Benfica, seria então José Veiga que levaria o avançado para Lisboa. Mesmo liberto dos terríveis anos de João Vale e Azevedo, o clube sofria ainda de muitas convulsões. Mesmo com o colectivo a alcançar qualificações bem abaixo das espectativas, João Tomás conseguiria boas prestações. As suas exibições acabariam por, naturalmente, levá-lo à principal selecção portuguesa. A estreia, sob a alçada de António Oliveira, aconteceria em Novembro de 2000. Depois dessa partida frente a Israel, o ponta-de-lança voltaria a ser chamado. Por Portugal, atravessando as fases de qualificação para o Mundial de 2002 e Euro 2008, conseguiria vestir a “camisola das quinas” por mais 3 ocasiões.
Outro reflexo das boas participações que teria com as cores do Benfica, seria o interesse do Real Betis. Mesmo com alguma indecisão sobre as vantagens desportivas de tal mudança, as questões financeiras acabariam por levar João Tomás à “La Liga”. Com uma primeira temporada a terminar com um saldo positivo, as graves lesões que na campanha seguinte fustigariam o avançado, deixá-lo-iam numa situação periclitante. Sem espaço no plantel sevilhano, seguir-se-iam empréstimos a Vitória de Guimarães e Sporting de Braga. A partir desse momento, o seu percurso tornar-se-ia um pouco mais errante. Com a carreira a dividir-se entre Portugal e diferentes países do Médio Oriente, o atleta jogaria no Qatar, Emiratos Árabes Unidos e, no regresso ao nosso país, com as cores do Boavista e Rio Ave.
Seria em Vila do Conde que João Tomás voltaria a ter a dimensão que merecia. Sendo um avançado de área, o seu sentido posicional e a capacidade de empurrar o esférico para dentro das balizas adversárias, acrescentariam muitos golos ao seu currículo. Mesmo com uma idade avançada para os padrões da alta competição, os remates certeiros voltariam a pô-lo nas tabelas dos melhores marcadores. Com o listado verde e branco, o internacional português chegaria aos 100 golos primodivisionários e, nessa senda finalizadora, ultrapassaria N’Hbola como o melhor marcador da história dos vilacondenses, no escalão máximo do futebol luso.
Antes de pôr um ponto final na carreira competitiva, tempo ainda para uma experiência no Recreativo do Libolo. Depois da curta passagem por Angola, o fim do seu percurso futebolístico daria azo ao regresso aos estudos universitários. Já como aluno de Mestrado, e depois de ter tido a oportunidade de ser treinador dos avançados do Sporting de Braga, João Tomás seria convidado a desempenhar as funções de dirigente. No Famalicão, entre 2017 e 2018, passaria a ocupar a posição de Director Desportivo.

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