80 - REDONDO

Um dia, Fernando Redondo explicou o porquê do seu sítio em campo – “Sou trinco porque é a melhor posição. Ali cruzam-se todos os caminhos. Se Cristo tivesse jogado futebol escolheria esse lugar”*. Com tais declarações, talvez quisesse esclarecer os que diziam que, ao jogar naquele ponto, estava a ser desperdiçado um atleta de grande habilidade técnica. A verdade é que, avaliações à parte, foram muitos, e ilustres, os que reconheceram no médio formado no Argentinos Juniors, habilidades excepcionais. Sir Alex Ferguson foi um dos seus admiradores. Depois de uma partida dos quartos-de-final da “Champions”, na qual uma assistência de Redondo ajudou à eliminação do Manchester United, o treinador chegou a interrogar-se – "O que é que este jogador tem nas suas botas, um íman?"**.
Elegante, era o jogo de Redondo. Palavra atípica para um jogador da sua posição. Porém, a maneira como, sem abusar de força física, roubava o esférico aos adversários, serviu de sustento a essa avaliação. Melhor ainda, e sensata aferição da sua graciosidade, era a mestria do seu pé esquerdo e a maneira como, com ele, conseguia colocar a bola nos seus colegas.
Essas imagens acabaram por cativar os dirigentes do Tenerife. Em 1990, antes da "Lei Bosman" entrar em vigor, os responsáveis pelo emblema das Canárias haveriam de tomar a decisão de preencher uma das vagas para estrangeiros, com o jovem de 21 anos descoberto na Argentina. Foi Valdano, também ele originário do referido país sul-americano, que treinou o médio no emblema insular. Em 1994, aquando da ida do técnico para o Real Madrid, foi também ele que pediu a sua contratação. Logo no ano de estreia, Redondo ajudaria os “Merengues” a conquistar a “La Liga”. Repetiu a vitória mais uma vez, mas o maior destaque foi para outra prova. Venceu por 3 vezes a “Champions”. Na última, para além do título colectivo, saiu da prova como o Melhor Jogador da competição.
Sofredor, como o Cristo de que falou, Redondo teve também o seu calvário. As lesões atormentaram-no. E se no Real Madrid foi fustigado, no AC Milan as mazelas revelaram-se devastadoras. Nos 4 anos em que esteve em Itália quase não jogou. Consciente de que a sua contratação tinha sido desastrosa, antes de pôr termo ao contrato, quis, numa forma de ressarcir o clube, devolver a casa que tinha sido oferecida pelo emblema milanês, aquando da sua chegada.
Sim, ter convicções rectas também era a sua marca. Foram essas ideias, inabaláveis, que o fizeram recusar um lugar nos Mundiais de 1990 e 1998. No primeiro, apesar de muito terem sido especulados os desacordos entre o jogador e o seleccionador Carlos Bilardo, Redondo desculpou-se, dizendo que não podia interromper os estudos para estar presente no certame. Já no segundo Campeonato do Mundo, foi peremptória a sua opinião em relação às ideias de Passarella - "Eu estava em grande forma. Mas ele tinha ideias muito particulares sobre disciplina e queria-me com o meu cabelo curto. Eu não vi o que é que isso tinha a ver com jogar futebol, então, eu disse que não outra vez"***.

*retirado do artigo de “neumannigor”, publicado em https://futebolarena.wordpress.com, a 25/03/2009
**retirado do artigo publicado em https://justanothermadridista.wordpress.com, a 06/09/2008
***retirado do artigo publicado em https://en.wikipedia.org/wiki/Fernando_Redondo

1 comentário:

António Omar Spencer disse...

Meu medio defensivo preferido.
gde Redondo (através de Facebook, em 29 de Dezembro de 2010)