122 - BÉLA GUTTMANN

Muitos anos antes dos seus afamados chazinhos terem valido ao húngaro as alcunhas "feiticeiro" ou "bruxo", ou ainda antes de ter conseguido sagrar-se bicampeão europeu, já Béla Guttmann tinha ganho o seu espaço na história do futebol.
Em 1919 começaria um trajecto como jogador que, ainda numa porção jeitosa, seria vivido no Campeonato norte-americano. Aos Estados Unidos da América chegaria numa “tournée” do SC Hakoah Wien, equipa de génese judaica e com a qual, com alguns colegas a acompanhá-lo na decisão, decidiria não regressar à Áustria. Nessa caminhada como futebolista, também teve o seu lugar na selecção magiar. Uma passagem mais discreta, mas, ainda assim, com a participação nos Jogos Olímpicos de Paris, em 1924.
Já como treinador, globalizou-se. Depois das passagens bem-sucedidas pela América do Sul ao serviço do São Paulo e do Quilmes, ou na Europa à frente do AC Milan, o técnico húngaro aterraria em Portugal. Após um ano no FC Porto, onde ganharia o Campeonato, o treinador iria atrás de uma proposta milionária e assinaria pelos rivais lisboetas. No Benfica, nos anos seguintes, patrocinaria uma verdadeira revolução. Ao dispensar cerca de 20 seniores, promoveria uma séria de novos atletas descobertos nos juniores das "Águias". Seriam esses jogadores a base para as 2 vitórias na Taça dos Clubes Campeões Europeus… Seriam esses jogadores e um tal avançado que, após uma conversa de barbearia com José Carlos Bauer, um antigo pupilo seu no São Paulo, Guttmann acabaria por desencantar em Moçambique.
Foi no Benfica que chegou ao topo e que sentiu a tão afamada mística – "Francamente, até pensava que não fosse nada, que não passasse de uma simples e vã palavra. Agora, porém, que a conheci, senti e vivi, afirmo-lhe que ela existe"*. Após a vitória de 1962, em São Bento, Guttmann e todos os jogadores foram condecorados. À saída diria a um dos vice-presidentes que iria demitir-se, pois não conseguiria treinar 14 comendadores. Abalou mesmo e antes de deixar a “Luz” haveria de proferir a famosa frase que, ainda hoje, é uma maldição – “Nem daqui a 100 anos uma equipa portuguesa será bicampeã europeia e o Benfica sem mim jamais ganhará uma Taça dos Campeões Europeus”**.

* retirado do artigo publicado em www.planetadofutebol.com, a 09/05/2001
**retirado do artigo publicado em www.record.pt, a 10/05/2003

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