123 - COSTA PEREIRA

Ainda no tempo do Ferroviário de Lourenço Marques, começaria a destacar-se por ser um praticante ecléctico! Na vela, mas principalmente no basquetebol e no futebol, Costa Pereira mostraria ser um exímio desportista.
No futebol daria os primeiros passos a jogar como avançado. Porém, a habilidade que as suas mãos demonstravam no ataque ao cesto, levariam o seu técnico no clube moçambicano a sugerir-lhe a baliza. Em boa hora viria a troca, pois Costa Pereira tornar-se-ia num dos maiores entre os postes. Nesse caminho, superaria vários "handicaps". Adaptaria os tiques de basquetebolista às suas novas funções, faltando-lhe vencer as reticências relativas à mudança de posição – “Quem sabe o que o futebol perdeu com a minha passagem a keeper? Talvez fosse hoje um avançado como me dizem ter sido o Soeiro, que eu não vi jogar, mas que me afirmam levava tudo na sua frente, graças ao poder físico que possuía”*.
No Benfica venceria tudo. Contra o Barcelona, em 1961, afastaria das redes benfiquistas um sem-número de bolas, numa final onde o trio magiar Kubala, Kocsis e Czibor semeariam o terror no meio-campo das “Águias”. No ano seguinte, nem os 3 golos do também húngaro Puskas assombrariam uma bela exibição sua e, muito menos, evitaram a segunda vitória dos “Encarnados” na Taça dos Clubes Campeões Europeus.
Já os dissabores viriam nos anos seguintes. O primeiro aconteceria na terceira final consecutiva, onde o Benfica, dessa feita contra o AC Milan, conheceria a derrota. No entanto, o pior desaire ainda estaria para vir. Em 1965, em mais uma presença no derradeiro jogo da Taça dos Clubes Campeões Europeus, um remate frouxo do brasileiro Jair, resultaria num "frango" tremendo de Costa Pereira. Para piorar o cenário já por si negativo, 12 minutos após o intervalo, o guarda-redes ressentir-se-ia de uma pancada sofrida na 1ª parte. Acabaria por sair e, ao não estarem ainda instituídas as substituições, veria o defesa Germano substituí-lo à baliza. O resultado de 1-0 não voltaria a alterar-se. Ainda assim, a chegada ao aeroporto de Lisboa, com os adeptos a ovacioná-lo, serviria para atenuar toda a má fortuna da peleja disputada no Giuseppe Meazza.
Para além do que já foi dito, Costa Pereira será para sempre recordado como um lutador dentro campo ou fora dele. Para além do que conseguiu no rectângulo de jogo, o guardião ficaria conhecido por defender os direitos dos colegas, acabando, tantas vezes, por ser comparado a um aguerrido sindicalista.

*retirado do livro de João Malheiro, “Memorial Benfica 100 glórias”; Quidnovi (2004)

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