140 - MANTORRAS

Nunca vi jogador algum que conseguisse empolgar o público de tão soberba maneira. Para Mantorras basta levantar-se do banco de suplentes, para que todos nas bancadas se ergam e exaltem, tal como na vitória, aquilo que para eles é o mais querido no futebol, ou seja, a paixão com que um jogador se dá ao emblema que defende.
É nessa sua entrega que o angolano é um verdadeiro tónico. Tanto para espectadores, como para os colegas dentro de campo, a sua abnegação é inspiradora e dá a todos a necessária coragem para lutarem até ao último instante. E como por magia, dos seus pés, as oportunidades lá vão surgindo, transformando-se, muitas delas, nos tão almejados golos. Que opinem os benfiquistas quando em 2004/05, sob a égide de Trapattoni, venceram o Campeonato Nacional. Os desafios até podiam parecer perdidos, mas a entrada do avançado chegava para que a volta no "placard" conseguisse perpetrar-se. Naquele seu jeito meio atabalhoado, em que parecia avançar pelo relvado aos tropeções, Mantorras lá foi conseguindo atingir o seu objectivo e pôr o Benfica na frente! Tantos foram os pontos conseguidos nessa temporada à custa da sua vontade.
Contudo, esse seu querer não foi suficiente para que debelasse as mazelas da grave lesão que o atormentou. Em 2002 magoaria um joelho e por razão de tal episódio, percorreria um calvário que, por entre várias operações, duraria cerca de dois anos. Durante esse período praticamente não jogou e a carreira daquele que era um dos mais promissores atletas da altura, chegou a ser posta em xeque.
Mas cobiça por Mantorras começou muito cedo, ainda este jogava no Progresso, clube do bairro de Sambizanga, em Luanda. De lá saiu, à experiência, para o FC Barcelona e só não ficou porque a última vaga para extracomunitários, acabou ocupada pelo nigeriano Haruna Babangida. A oportunidade para a estreia na Europa recaiu pelo então primodivisionário Alverca. No Ribatejo, uma época bastou para que da "Luz" o quisessem. E se a primeira época de “Águia” ao peito traçou para si um futuro brilhante, a vitória no Campeonato Africano Sub-20 e o prémio da CAF como o Melhor Jogador Jovem do ano, ambos em 2001, vaticiná-lo-iam como uma das maiores promessas do mundo futebolístico. Nessa sua ascensão, foram muitos os que louvaram. Entre tantos, Eusébio chegou a dizer - "Ele tem qualidades especiais e está preparado para um grande futuro"*.
Com o seu crescimento, os adversários começaram a temer a sua força e as defesas tornaram-se cada vez mais impiedosas para consigo. O pedido de António Simões, "Deixem jogar o Mantorras", surgiria no rescaldo de mais um jogo em que só pararam o avançado à força de excessiva "pancada". Talvez tenha sido na sequência de tais lances que o seu joelho enfraqueceu. Seja como for, a verdade é que o angolano, após a malfadada lesão, passou a ser para os treinadores uma opção de recurso, um pronto-socorro mantido no seio dos planteis pela força anímica que transmitia.
Depois de participar no Mundial de 2006, foi essa mesma força que levou Manuel José a inclui-lo nos eleitos para a CAN 2010, disputada em Angola. Parco prémio, dirão, mas um grande exemplo de perseverança para todos os seus companheiros, desse que sempre será um verdadeiro jogador do povo!

*retirado do artigo publicado em https://pt.qaz.wiki/wiki/Mantorras

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