Não deve ser nada fácil para um jovem que procura singrar no mundo do futebol, carregar aos ombros o apelido Águas. As comparações com o pai, José Águas, tornaram-se inevitáveis – “(...) era olhado como mais um e como o filho de uma grande estrela”* – e a pressão causada por essa associação, logo nos primeiros passos, acabaram por fazê-lo tropeçar.
Depois de não singrar nas camadas jovens benfiquistas e de igual destino nas “escolas” do Sporting, Rui Águas chegou mesmo a abandonar a modalidade para passar a dedicar-se ao voleibol. Em boa hora emergiu o seu arrependimento, mas as portas dos “grandes” estavam fechadas e o regresso acabou por acontecer no modesto Grupo Desportivo de Sesimbra. Como um atleta de indubitável qualidade, depressa foi subindo degraus e, após uma passagem por Alcântara, no Atlético, finalmente, com as cores do Portimonense, fez a sua estreia na divisão maior do Campeonato Nacional.
No Algarve começou a sublinhar as qualidades que fizeram dele uma das maiores estrelas do futebol português. Inteligente, capaz de, como ninguém, entender toda a dinâmica do desporto que praticava, percebeu, talvez pelas desilusões que viveu no início da carreira, que o esforço e a dedicação eram essenciais para o sucesso. O resto ficou por conta, tal como o pai, de um poder de impulsão generoso e um jogo de cabeça positivamente invulgar.
Com os golos a surgirem naturalmente, a estreia na selecção principal aconteceu ainda durante a sua estadia a Sul. Ainda nesse mesmo ano de 1985, caiu sobre ele o interesse de outros emblemas. Depois dos primeiros contactos feitos pelo FC Porto, o ponta-de-lança, rendido à “mística” que nele nunca esmoreceu, decidiu retornar à "Luz". O primeiro ano de “Águia” ao peito, tapado pelo “gigante” Manniche, não começou de feição. Contudo, o espaço e as oportunidades que foi ganhando no seio do plantel, para além de 11 golos, permitiram-lhe frente ao Desportivo de Chaves, o seu primeiro “hat-trick”.
A importância no seio do conjunto “encarnado”, de jornada em jornada, cresceu. Em 1986/87 tornou-se num dos principais pilares da vitória do clube no Campeonato e, na temporada seguinte, com 2 golos na 2ª mão das meias-finais da Taça dos Clubes Campeões Europeus, ajudou a vencer o Steaua Bucareste e abriu as portas da derradeira peleja da prova. No entanto, e apesar de realizado desportivamente, Rui Águas começou a sentir-se injustiçado – “(...) nós no Benfica ganhávamos muito mal, mesmo em termos nacionais, muito mal mesmo”*. As negociações para a renovação do seu contrato, longe de conseguirem consenso no que diz respeito aos valores, ficaram ainda mais afectadas por uma proposta do FC Porto a oferecer “11 vezes mais do que aquilo que ganhava no Benfica”*. Rumou às “Antas”. Porém, a verdade é que a vida na “Invicta” não trouxe ao atleta o conforto desejado. Por um lado, uma certa hostilidade inicial, por parte de alguns colegas de balneário, não ajudou à adaptação. Por outro, constatou nele um enorme arrependimento que, aliado à tristeza de ver o seu pai desiludido, acabaram por, ao cabo de dois anos, fazê-lo regressar – “(...) sentia a mágoa do clube, do meu pai, enfim, houve um conjunto de coisas que me estimularam a voltar”*.
De novo com a camisola do Benfica, a conquista do título de Melhor Marcador do Campeonato Nacional de 1990/91, sublinhou Rui Águas no caminho do sucesso. Mas na época seguinte, na disputa da Taça dos Clubes Campeões Europeus, o avançado viveu uma das piores experiências da vida como futebolista. Em Kiev, na partida contra o Dínamo, o atacante começou, num lance infeliz à meia hora de jogo, por fazer a “assistência” para o golo de Salenko e que ditaria a derrota das “Águias”. Como se não bastasse o castigo de ver a equipa a perder, no final da segunda parte, num momento arrepiante, o ponta-de-lança partiu o pé.
A referida lesão, no que restou do seu caminho, retirou-lhe parte do fulgor. Já o fim da carreira, reservado para 1995, só aconteceu depois de ajudar o Benfica a vencer o Campeonato Nacional de 1993/94, de passar alguns meses no Estrela da Amadora e após dar uma “perninha” no Serie A italiana, ao serviço da Reggiana.
*retirado de entrevista conduzida por Mary Caiado, publicada em http://www.ionline.pt, a 02/04/2011
Depois de não singrar nas camadas jovens benfiquistas e de igual destino nas “escolas” do Sporting, Rui Águas chegou mesmo a abandonar a modalidade para passar a dedicar-se ao voleibol. Em boa hora emergiu o seu arrependimento, mas as portas dos “grandes” estavam fechadas e o regresso acabou por acontecer no modesto Grupo Desportivo de Sesimbra. Como um atleta de indubitável qualidade, depressa foi subindo degraus e, após uma passagem por Alcântara, no Atlético, finalmente, com as cores do Portimonense, fez a sua estreia na divisão maior do Campeonato Nacional.
No Algarve começou a sublinhar as qualidades que fizeram dele uma das maiores estrelas do futebol português. Inteligente, capaz de, como ninguém, entender toda a dinâmica do desporto que praticava, percebeu, talvez pelas desilusões que viveu no início da carreira, que o esforço e a dedicação eram essenciais para o sucesso. O resto ficou por conta, tal como o pai, de um poder de impulsão generoso e um jogo de cabeça positivamente invulgar.
Com os golos a surgirem naturalmente, a estreia na selecção principal aconteceu ainda durante a sua estadia a Sul. Ainda nesse mesmo ano de 1985, caiu sobre ele o interesse de outros emblemas. Depois dos primeiros contactos feitos pelo FC Porto, o ponta-de-lança, rendido à “mística” que nele nunca esmoreceu, decidiu retornar à "Luz". O primeiro ano de “Águia” ao peito, tapado pelo “gigante” Manniche, não começou de feição. Contudo, o espaço e as oportunidades que foi ganhando no seio do plantel, para além de 11 golos, permitiram-lhe frente ao Desportivo de Chaves, o seu primeiro “hat-trick”.
A importância no seio do conjunto “encarnado”, de jornada em jornada, cresceu. Em 1986/87 tornou-se num dos principais pilares da vitória do clube no Campeonato e, na temporada seguinte, com 2 golos na 2ª mão das meias-finais da Taça dos Clubes Campeões Europeus, ajudou a vencer o Steaua Bucareste e abriu as portas da derradeira peleja da prova. No entanto, e apesar de realizado desportivamente, Rui Águas começou a sentir-se injustiçado – “(...) nós no Benfica ganhávamos muito mal, mesmo em termos nacionais, muito mal mesmo”*. As negociações para a renovação do seu contrato, longe de conseguirem consenso no que diz respeito aos valores, ficaram ainda mais afectadas por uma proposta do FC Porto a oferecer “11 vezes mais do que aquilo que ganhava no Benfica”*. Rumou às “Antas”. Porém, a verdade é que a vida na “Invicta” não trouxe ao atleta o conforto desejado. Por um lado, uma certa hostilidade inicial, por parte de alguns colegas de balneário, não ajudou à adaptação. Por outro, constatou nele um enorme arrependimento que, aliado à tristeza de ver o seu pai desiludido, acabaram por, ao cabo de dois anos, fazê-lo regressar – “(...) sentia a mágoa do clube, do meu pai, enfim, houve um conjunto de coisas que me estimularam a voltar”*.
De novo com a camisola do Benfica, a conquista do título de Melhor Marcador do Campeonato Nacional de 1990/91, sublinhou Rui Águas no caminho do sucesso. Mas na época seguinte, na disputa da Taça dos Clubes Campeões Europeus, o avançado viveu uma das piores experiências da vida como futebolista. Em Kiev, na partida contra o Dínamo, o atacante começou, num lance infeliz à meia hora de jogo, por fazer a “assistência” para o golo de Salenko e que ditaria a derrota das “Águias”. Como se não bastasse o castigo de ver a equipa a perder, no final da segunda parte, num momento arrepiante, o ponta-de-lança partiu o pé.
A referida lesão, no que restou do seu caminho, retirou-lhe parte do fulgor. Já o fim da carreira, reservado para 1995, só aconteceu depois de ajudar o Benfica a vencer o Campeonato Nacional de 1993/94, de passar alguns meses no Estrela da Amadora e após dar uma “perninha” no Serie A italiana, ao serviço da Reggiana.
*retirado de entrevista conduzida por Mary Caiado, publicada em http://www.ionline.pt, a 02/04/2011
1 comentário:
O tal jogo contra o Chaves de que se fala, em que o Rui Águas faz o seu primeiro "hat-trick", também foi a minha estreia... a ver jogos ao vivo!!!
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