Ainda não tinha atingido a maioridade e já o jovem Richard Owubokiri, nome pelo qual ficou conhecido em várias fases da carreira, espalhava o terror pelas grandes-áreas contrárias. Com a Nigéria espantada com o seu talento, aos 18 anos estreou-se pela equipa nacional. Num trilho ambicioso e em jeito de grandes cavalgadas, o ritmo alucinante da sua evolução levou-o a sagrar-se, enquanto atleta do Sharks FC, o Melhor Marcador do Campeonato. Depois, convocado por um nome bem conhecido do futebol português, o treinador brasileiro Otto Glória, foi vê-lo na Líbia, a participar na edição de 1982 da CAN.
Foi também à custa do técnico “canarinho” que o avançado africano teve a primeira experiência no estrangeiro. Depois de vestir as cores do ACB Lagos, do outro lado do Oceano Atlântico, no América do Rio de Janeiro encontrou alguns obstáculos. Desadaptado a uma realidade nova e tapado por uma linha atacante que não dava grandes oportunidades, foi curta e discreta a “aventura carioca”. Ainda sem deixar o Brasil, tentou a sorte no Vitória, que atravessava uma fase conturbada. Porém, aqui a história foi outra. Logo na primeira partida, no fervoroso “derby” frente ao Bahia, marcou um dos golos da sua equipa e, tal facto, levou-o a entrar no coração dos adeptos.
No emblema nordestino, mostrou ter na velocidade a melhor aliada para a obtenção de golos. Na última temporada ao serviço do Vitória, a de 1985, o, entretanto apelidado, “Gazela Negra”, juntou à vitória no “Estadual”, a conquista do título de Melhor Marcador do Campeonato Baiano. Tão boas prestações aguçaram-lhe o apetite para outros voos e abriram-lhe as portas da Europa. Depois da França, onde representou o Laval e o Metz, chegou a hora de Portugal e do Benfica. De “Águia” ao peito e rebaptizado como Ricky, o atleta viveu momentos em pontos opostos do espectro da felicidade. Se na pré-época teve o azar de fracturar a perna, já a primeira partida pelos “Encarnados” revelou-se memorável. No encontro para a Taça de Portugal, frente ao modesto Riachense, o emblema da “Luz” ganhou por 14-1. Só na lista pessoal do avançado ficaram 6 remates certeiros e, por conta do enorme pedido de autógrafos, o jogador viu-se aflito para sair do Estádio!
Com uma feroz concorrência pelo lugar de ponta-de-lança – Magnusson, Vata, César Brito –, não restou muito mais a Ricky do que, finda a época de 1988/89, aceitar a transferência para o Estrela da Amadora. Na Reboleira, para além dos 28 golos em 2 temporadas, o nigeriano fez parte do conjunto que, em 1990, disputadas a final e a finalíssima, levantou o maior troféu da história do clube, a Taça de Portugal. Apesar do sucesso alcançado na colectividade da “Linha de Sintra”, foi a passagem para o Boavista que catapultou o atacante para um novo patamar. Logo no primeiro ano com os "Axadrezados", o jogador deixou a sua marca e os 30 golos concretizados em 1991/92, incluindo uma “manita” frente ao Estoril Praia, fê-lo vencer a corrida para Melhor Marcador do Campeonato Nacional e a chegar à 2ª posição na corrida pela Bota d’Ouro.
Na Taça de Portugal, ainda na campanha de entrada no Bessa, Ricky, com um golo na final, foi essencial na vitória das “Panteras Negras” na prova. Nesse sentido e com o que já foi relatado, é fácil entender a razão pela qual o jogador, ainda hoje, é tido como uma das grandes “estrelas” boavisteiras. Porém, o seu êxito não ficou alicerçado apenas nas competições internas. Nessa mesma época, o emblema portuense, ao participar na Taça UEFA, eliminou o Inter de Milão. Também foi na dita competição, dois anos passados e frente à Lazio, que o avançado viveu um dos momentos mais caricatos da carreira – “Era a segunda mão dos 16 avos de final da Taça UEFA, e tínhamos perdido 1-0 em Roma. Precisávamos de ganhar. E ele, o major, apareceu no balneário antes do jogo e atirou um saco cheio de dinheiro ali para o meio. Disse-nos: «Isto é vosso se ganharem» Ganhámos 2-0 e eu marquei os dois golos ao Marchegiani”*.
Por falar em caricato, estranho foi também aquilo que ocorreu na preparação para o Mundial de 1994. Apesar de ter sido chamado durante a qualificação, o avançado, com uma história rocambolesca pelo meio, acabou por falhar a convocatória para a fase final do torneio organizado nos Estados Unidos da América – “O selecionador de então [o holandês Clemens Westerhof] pedia dinheiro aos jogadores. Isto é, quem quisesse jogar, pagava-lhe. Ora eu sou titular da Nigéria porque mereço, trabalho e marco golos, não porque dou um saco de dinheiro a um treinador”*.
Depois de deixar o Bessa, Ricky entrou verdadeiramente na última fase da caminhada enquanto jogador. O regresso ao Brasil e ao Vitória e a posterior passagem pelo Belenenses, precederam a experiência na “Ásia do petróleo”. Mesmo ao entrar na derradeira etapa da carreira, o avançado foi incapaz de deixar a imagem de lutador. Nesse sentido, no Al-Arabi chegou ao lugar cimeiro dos Melhores Marcadores do Qatar. Para terminar, nos sauditas do Al Hilal, tornou-se no artilheiro maior de todo o Médio Oriente.
Ao “pendurar as chuteiras”, o antigo ponta-de-lança mudou-se para o Brasil, onde vive com os filhos e a mulher, uma baiana de gema. Em São Salvador da Bahia criou uma escola de futebol, a “Ricky Soccer Academy”, e é igualmente estimado pela organização de projectos sociais em bairros desfavorecidos.
*adenda feita à publicação original, com texto retirado da entrevista conduzida por Rui Miguel Tovar, publicada em https://observador.pt, a 30/12/2016
Foi também à custa do técnico “canarinho” que o avançado africano teve a primeira experiência no estrangeiro. Depois de vestir as cores do ACB Lagos, do outro lado do Oceano Atlântico, no América do Rio de Janeiro encontrou alguns obstáculos. Desadaptado a uma realidade nova e tapado por uma linha atacante que não dava grandes oportunidades, foi curta e discreta a “aventura carioca”. Ainda sem deixar o Brasil, tentou a sorte no Vitória, que atravessava uma fase conturbada. Porém, aqui a história foi outra. Logo na primeira partida, no fervoroso “derby” frente ao Bahia, marcou um dos golos da sua equipa e, tal facto, levou-o a entrar no coração dos adeptos.
No emblema nordestino, mostrou ter na velocidade a melhor aliada para a obtenção de golos. Na última temporada ao serviço do Vitória, a de 1985, o, entretanto apelidado, “Gazela Negra”, juntou à vitória no “Estadual”, a conquista do título de Melhor Marcador do Campeonato Baiano. Tão boas prestações aguçaram-lhe o apetite para outros voos e abriram-lhe as portas da Europa. Depois da França, onde representou o Laval e o Metz, chegou a hora de Portugal e do Benfica. De “Águia” ao peito e rebaptizado como Ricky, o atleta viveu momentos em pontos opostos do espectro da felicidade. Se na pré-época teve o azar de fracturar a perna, já a primeira partida pelos “Encarnados” revelou-se memorável. No encontro para a Taça de Portugal, frente ao modesto Riachense, o emblema da “Luz” ganhou por 14-1. Só na lista pessoal do avançado ficaram 6 remates certeiros e, por conta do enorme pedido de autógrafos, o jogador viu-se aflito para sair do Estádio!
Com uma feroz concorrência pelo lugar de ponta-de-lança – Magnusson, Vata, César Brito –, não restou muito mais a Ricky do que, finda a época de 1988/89, aceitar a transferência para o Estrela da Amadora. Na Reboleira, para além dos 28 golos em 2 temporadas, o nigeriano fez parte do conjunto que, em 1990, disputadas a final e a finalíssima, levantou o maior troféu da história do clube, a Taça de Portugal. Apesar do sucesso alcançado na colectividade da “Linha de Sintra”, foi a passagem para o Boavista que catapultou o atacante para um novo patamar. Logo no primeiro ano com os "Axadrezados", o jogador deixou a sua marca e os 30 golos concretizados em 1991/92, incluindo uma “manita” frente ao Estoril Praia, fê-lo vencer a corrida para Melhor Marcador do Campeonato Nacional e a chegar à 2ª posição na corrida pela Bota d’Ouro.
Na Taça de Portugal, ainda na campanha de entrada no Bessa, Ricky, com um golo na final, foi essencial na vitória das “Panteras Negras” na prova. Nesse sentido e com o que já foi relatado, é fácil entender a razão pela qual o jogador, ainda hoje, é tido como uma das grandes “estrelas” boavisteiras. Porém, o seu êxito não ficou alicerçado apenas nas competições internas. Nessa mesma época, o emblema portuense, ao participar na Taça UEFA, eliminou o Inter de Milão. Também foi na dita competição, dois anos passados e frente à Lazio, que o avançado viveu um dos momentos mais caricatos da carreira – “Era a segunda mão dos 16 avos de final da Taça UEFA, e tínhamos perdido 1-0 em Roma. Precisávamos de ganhar. E ele, o major, apareceu no balneário antes do jogo e atirou um saco cheio de dinheiro ali para o meio. Disse-nos: «Isto é vosso se ganharem» Ganhámos 2-0 e eu marquei os dois golos ao Marchegiani”*.
Por falar em caricato, estranho foi também aquilo que ocorreu na preparação para o Mundial de 1994. Apesar de ter sido chamado durante a qualificação, o avançado, com uma história rocambolesca pelo meio, acabou por falhar a convocatória para a fase final do torneio organizado nos Estados Unidos da América – “O selecionador de então [o holandês Clemens Westerhof] pedia dinheiro aos jogadores. Isto é, quem quisesse jogar, pagava-lhe. Ora eu sou titular da Nigéria porque mereço, trabalho e marco golos, não porque dou um saco de dinheiro a um treinador”*.
Depois de deixar o Bessa, Ricky entrou verdadeiramente na última fase da caminhada enquanto jogador. O regresso ao Brasil e ao Vitória e a posterior passagem pelo Belenenses, precederam a experiência na “Ásia do petróleo”. Mesmo ao entrar na derradeira etapa da carreira, o avançado foi incapaz de deixar a imagem de lutador. Nesse sentido, no Al-Arabi chegou ao lugar cimeiro dos Melhores Marcadores do Qatar. Para terminar, nos sauditas do Al Hilal, tornou-se no artilheiro maior de todo o Médio Oriente.
Ao “pendurar as chuteiras”, o antigo ponta-de-lança mudou-se para o Brasil, onde vive com os filhos e a mulher, uma baiana de gema. Em São Salvador da Bahia criou uma escola de futebol, a “Ricky Soccer Academy”, e é igualmente estimado pela organização de projectos sociais em bairros desfavorecidos.
*adenda feita à publicação original, com texto retirado da entrevista conduzida por Rui Miguel Tovar, publicada em https://observador.pt, a 30/12/2016
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