196 - BARREIRENSE

Já a modalidade tinha sido introduzida na Margem Sul havia uns anos, quando um grupo de aprendizes decidiu formar uma colectividade na qual pudessem praticar aquilo que começava a ser um verdadeiro fenómeno de popularidade em Portugal. Da paixão pelo futebol, no seio do universo trabalhador do Barreiro, mais precisamente nas Oficinas Gerais dos Caminhos de Ferro do Sul e Sueste, nasceu o Sport Recreativo Operário Barreirense. A aceitação do novo emblema foi imediata e, talvez pela fundação num contexto fabril, a colectividade começou a crescer a “olhos vistos”.
Cada vez mais eram aqueles que juntavam esforços ao grupo inicial e o desaparecimento de associações de menor expressão, veio ajudar ao crescimento da colectividade. Contudo, com a equipa a aumentar em quantidade, as dificuldades organizativas começaram, principalmente no campo financeiro, a ser a razão de graves aborrecimentos. Com a resolução dos problemas em mente, a 11 de Abril de 1911, após uma assembleia geral, ficou decidido que, entre muitas outras mudanças, a agremiação devia dar lugar a outra que, daí em diante, passou a denominar-se Foot-Ball Club Barreirense.
Jamais as mudanças pretenderam acabar com o projecto fundador. Pelo contrário, para além de todo património, manteve-se intacto o vermelho e branco das camisolas. De igual modo, ficou preservada a crença numa juventude emergente e com muito a dar ao futebol. Essa fé, já na época de 1929/30, levou o Barreirense a chegar à maior competição da altura e à final frente ao Benfica. Contudo, a caminhada não ficou na memória dos adeptos apenas pela presença em tal desafio. Infelizmente, toda a polémica à volta do derradeiro encontro da prova também ficou para a história. Começou pelo agendamento da partida que, ao contrariar os regulamentos que ditavam o jogo para terreno neutro, foi marcada para o Estádio do Campo Grande, o ressinto das “Águias”. De seguida, veio o perdão do castigo imposto, por agressão a um árbitro, a João Oliveira, uma das estrelas dos “Encarnados”. Por fim, a nomeação para juiz da partida de Silvestre Rosmaninho, um dos mais antigos sócios benfiquistas.
Montado o “teatro”, entre lances muito duvidosos e claros atropelos às leis do jogo, o Barreirense saiu derrotado da contenda. Porém, o episódio não esmoreceu adeptos e praticantes, que continuaram a alimentar aquele que veio a tornar-se num dos principais emblemas da senda portuguesa. O sublinhar desse engrandecimento surgiu com o galgar dos anos e com o arranque do Campeonato Nacional. Foram 24 as campanhas em que o grupo da Margem Sul acompanhou, no patamar máximo, todos os outros históricos do nosso futebol. Houve, no entanto, uma temporada em que o sucesso emergiu de forma mais clara. A época de 1969/70, com o 4º lugar na tabela classificativa, tornou-se na melhor posição de sempre para o clube. Por arrasto, trouxe as provas europeias e a participação na última edição da Taça das Cidades com Feira. Apesar da eliminação logo à 1ª ronda, a eliminatória disputada frente ao Dínamo Zagreb transformou-se num verdadeiro marco e num motivo de orgulho para todos os envolvidos.
Os dias que correm para os lados do Barreiro não são os melhores. A atravessar uma grave crise financeira, o clube desceu às divisões “distritais” da Associação de Futebol de Setúbal. Ainda assim, apesar de um futuro difícil, um clube por onde passaram nomes como os de Raul Jorge, Arsénio, José Augusto, Bento, Chalana, entre tantos e tantos outros, de certeza que conseguirá fazer surgir novos “craques”, que farão o Barreirense emergir e, mais uma vez, caminhar em direcção aos maiores palcos do desporto português.

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