233 - VENÂNCIO


Dele disse um dia o seu antigo companheiro Virgílio, ser de "(...) uma entrega e uma disponibilidade para servir o clube, em todas as condições, sujeitando-se ao que fosse necessário sem nada pedir em troca (...). Nem quando foi tristemente desrespeitado (...) deixou perceber o quanto isso lhe doía e manteve um silêncio que traduzia uma enorme prova do seu respeito pelo Sporting"*.
Se fora de campo este era o comportamento do defesa-central, em jogo a sua atitude reflectia, igualmente, o amor que sempre nutriu pela camisola verde e branca. Foi essa paixão que o fez, vezes sem conta, esquecer-se, por exemplo, das dores constantes que os seus joelhos provocavam. Contudo, nem essas recorrentes e graves lesões faziam Venâncio, uma vez que fosse, encolher-se na altura de disputar um lance. Como podia?! Era essa atitude que fazia dele uma ás!
Logo muito novo, desde a altura em que, com idade júnior, chegou do Vitória Futebol Clube, que a habilidade para desarmar os oponentes, em conjunto com a capacidade de, na luta com um oponente directo, saber utilizar o corpo, fizeram-no destacar-se dos demais colegas de posição. Rapidamente começou a impor-se. Ajudado pela saída de Eurico para o FC Porto após a conquista do Campeonato Nacional de 1982, tomou um lugar no sector mais recuado da equipa principal leonina. Só nunca chegou mais longe na carreira, àquele patamar onde, independentemente das cores vestidas, todos são vistos como glórias, porque as malfadadas mazelas teimaram em apoquentá-lo.
Foi por razão desse calvário de lesões que, depois de fazer parte da lista inicial de convocados para o Mundial de 1986, acabou afastado do certame organizado no México. Outra das grandes tristezas como futebolista, surgiu do facto de nunca ter vencido qualquer título nos dez anos em que representou o Sporting. No entanto, a sua postura exemplar, mesmo sem nunca ter erguido um troféu, deu-lhe um dos maiores prémios que um atleta pode ter, ou seja, o orgulho de envergar a braçadeira de capitão. Mas nisso de vitórias, curiosamente, seria já ao serviço do Boavista que conquistou a única prova oficial da carreira, a Supertaça Cândido de Oliveira de 1992.

*retirado do artigo de Bruno Roseiro, publicado a 30/09/2010, em http://www.ionline.pt

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