252 - ZÉ BETO

Destemido o quanto só os da sua posição sabem ser, Zé Beto, acima de tudo, era um guardião entusiasmante e muito feliz pela posição que desde sempre ocupou no terreno de jogo. Só por essa sua alegria em defender a baliza é que se entende o quanto lhe terá custado o tempo passado no banco, e nas bancadas, depois de ter sido promovido aos séniores do FC Porto. Mas Zé Beto era um lutador. Para ele, quase sempre titular nas camadas jovens, tanto nos "Dragões" como antes, no seu primeiro emblema, o Pasteleira, tinha de haver qualquer solução para o tirar da sombra de Fonseca e Tibi. Para começar, havia que ganhar alguma experiência. A solução mais lógica estava no empréstimo e o destino acabaria por ser o Beira-Mar. Depois de um bom ano em Aveiro voltaria às Antas para iniciar a época de 1980/81. No entanto, Fonseca continuava a ser o rei e senhor da baliza e o jovem guarda-redes o preterido. Com certeza que durante esses anos foi necessária da sua parte muita perseverança, principalmente para contrariar alguma ansiedade, resultado daquela que era a sua, sobejamente conhecida, intempestividade. Foi essa mesma falta de paciência que acabou por emergir na final da Taça da Taças de 1983/84, quando agrediu alguns dos elementos da equipa de juízes. A temporada até lhe estava a correr de feição. Finalmente, assinalados que estavam 3 anos sobre o seu regresso ao FC porto, conseguira a titularidade. Melhor ainda, fazia parte do "onze" "Azul e Branco" que se estreava numa final europeia. Mas essa partida de Berna frente à Juventus, havia de ser marcada por uma arbitragem polémica, que para além de validar um golo dos transalpinos precedido de uma falta, ainda viraria as costas a uma penalidade cometida na área dos italianos. No final do encontro, derrota consumada, Zé Beto dirige-se ao árbitro principal. Um dos seus fiscais-de-linha, ao aperceber-se dos maus intentos com que, para o colega, avançava o guarda-redes, pôs-se entre ambos, acabando por ser pontapeado duas vezes. Segundo contam as crónicas, para se defender de uma terceira investida, o "bandeirinha" usa a mesma, espetando-a na barriga do seu oponente. Zé Beto ainda mais se enerva e rouba o dito objecto das mãos do seu dono, arremessando-a, e aí é que surgem as discrepâncias nos diferentes relatos, ou para longe ou, como disseram outros, à cabeça do "chefe" da "equipa de negro". Com alguma condescendência, a pena acabaria por não ser tão pesada quanto talvez se esperasse. O jogador ficaria apenas um ano afastado de todas as competições organizadas pela UEFA, o que ainda assim, o retiraria dos convocados para o Euro de 1984 em França. 
À selecção só regressaria em 1986, e em abono da verdade se diga, um pouco também à custa da ressaca do caso Saltillo. Ironicamente, conseguiria a sua primeira internacionalização "A", numa altura em que no clube, Mlynarczyk começava a pôr em causa o seu domínio. Mesmo sentado no banco na maior parte dos encontros, Zé Beto é um dos nomes que ficará para sempre ligado às conquistas da Taça dos Campeões de 1987 e Intercontinental e Supertaça Europeia do ano seguinte.
A sua carreira haveria de terminar brutalmente em Fevereiro de 1990, quando, na sequência de um acidente de viação, perderia a vida. Para a história remanescerá na nossa memória um atleta que, muito para além do seu feitio peculiar, foi um futebolista de eleição.

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