435 - MATTHEWS

Quando aos 16 anos, os responsáveis do Stoke City, onde trabalhava nos escritórios, o convidaram para treinar com os restantes jogadores, mal sabiam eles que estavam a contratar uma das primeiras grandes lendas do futebol mundial.
Filho de um pugilista, Stanley Matthews, desde cedo, também se tornou num adepto da prática desportiva. Diziam que todos os dias percorria, em corrida, a distância que separava a sua residência do campo do Stoke city. Não é impressionante?!!! Bem, sempre eram 14 km!!!
Talvez por todo este hábito, que foi ganhando desde tenra idade, a sua adaptação entre os profissionais do clube, foi repentina. Facilmente ganhou a titularidade e, principalmente, conquistou a admiração dos fãs. Não era para menos! Ele era rápido, com capacidades físicas notáveis, mas era muito mais do que um bom atleta. Matthews tinha uma capacidade técnica espantosa. Diziam dele ser capaz de conseguir os mais calorosos aplausos, apenas com o seu extenso reportório de fintas.
Por tudo isto, não foi de espantar que o extremo direito, apenas dois anos após a sua estreia, fosse chamado, pela primeira vez, à selecção inglesa. Por lá continuou durante 23 anos, o que, ainda no presente, é um recorde absoluto.
Bem, não é só deste número que se fazem as metas alcançadas pelo antigo avançado. Talvez o ponto de partida para aquele que é o mais espantoso, e que, sem dúvida alguma, o pôs em destaque nos anais do futebol, tenha ocorrido numa altura em que a maioria já pensa na reforma. Segundo se conta, já teria 32 anos, Matthews viu o seu treinador, em tom jocoso, perguntar-lhe se ainda aguentaria jogar mais uns tempitos. Atitude errada perante tal estrela que, ainda uns anos antes, tinha tido uma manifestação a favor da sua permanência no clube, quando se começaram a ouvir os rumores sobre a sua partida. Desta feita Matthews fez mesmo as malas. Mudou-se para um emblema que hoje poderá dizer-vos poucos, mas que, à altura, era um dos mais badalados em "Terras de Sua Majestade", o Blackpool.
Este novo emblema não era, para ele, uma novidade, pois até já tinha vestido, algumas vezes, a sua camisola. A história conta-se depressa. Assim, com o começo da Segunda Grande Guerra, Matthews viu-se alistado na RAF (Força Aérea Britânica). A base ficava perto de Blackpool, e com a interrupção das competições oficiais, o Cabo Matthews aproveitou para dar uma perninha em jogos particulares, pelo clube da terra.
Em 1947, quando se mudou em definitivo para o Blackpool, já ele era um verdadeiro astro entre aqueles que acompanhavam o desporto. Matthews era um jogador do povo; um atleta que muito para além daquilo que conseguia dentro dos relvados, também era apreciado pela sua postura fora deles. Um bom exemplo do que vos digo, aconteceu na sequência do acidente que ficou conhecido como o "Burden Park disaster". A partida, em Bolton, opunha a equipa da casa com a do Stoke. A assistência era muita e as condições bem precárias. Foi então que as protecções de uma das bancadas partiu, fazendo com que, muitos daqueles que ali assistiam ao desafio, caíssem uns por cima dos outros. Resultado: 33 mortos. Matthews não conseguiu mostrar-se indiferente a tal fatalidade e doou, do seu bolso, dinheiro para ajudar as famílias das vítimas.
Desgraças à parte, foi durante os anos de Blackpool que Matthwes viveu os melhores episodios da sua carreira. Conquistou a Taça de Inglaterra em 1953, a qual ficou conhecida como "Matthews's final", pela reviravolta conseguida através de 3 assistências suas; participou nos Mundiais de 1950 e 1954; venceu, por duas vezes, o prémio de Melhor Jogador do Ano em Inglaterra (1948 e 1963); e foi ele a inaugurar a lista dos vencedores do Ballon d'Or, em 1956, já contava com 48 anos.
Por tudo o que temos estado a contar, Stanley Matthews tornou-se numa figura proeminente e muito popular da sociedade britânica. Por isso não foi de espantar que em 1965, a Raínha Isabel II tenha decidido condecorá-lo como "Cavaleiro" do Reino.
Por mais que vos espante, por altura deste reconhecimento régio, Matthews ainda jogava. Sim, tinha 50 anos de idade!!! Mas o fim não foi aqui!!! Depois de, passados uns meses, ter posto um ponto final na sua carreira, em 1970, ainda teve um pequeno regresso, ao aceitar o convite dos malteses do Hibernians, para lá jogar mais uma temporada!!!

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