510 - DERLEI

Por razão da passagem discreta pelo Guarani, ou por outros clubes de menor monta no Brasil (Madureira; América), quando Derlei, em 1999, chega à União de Leiria, era um verdadeiro desconhecido. No entanto, bastariam três temporadas para que o seu estatuto mudasse radicalmente. O seu estilo lutador, incansável na busca da bola, junto com a sua velocidade e boa técnica, fariam do avançado um dos mais cobiçados no "mercado" português.
Já depois de, um ano antes, ter sido sondado pelo Sporting, é no Verão de 2002 que Derlei veste a primeira camisola dos três "grandes". Ora, por essa altura, quem estava no comando técnico do FC Porto, era um velho conhecido seu. José Mourinho, que o havia treinado no clube da "Cidade do Lis", procurava, como é seu apanágio, atletas que, apesar de já terem provado a sua qualidade, ainda não tinham atingido estatuto de "estrela". Derlei, que acabava de marcar 21 golos no Campeonato português, enquadrava-se, e de que maneira, nesse dito perfil.
Se algumas desconfianças haviam no momento da sua contratação, Derlei, rapidamente, tratou de as dissipar. O primeiro passo foi conseguir assegurar a titularidade. A seguir, já com o lugar garantido na frente de ataque, onde preferencialmente ocupava o lugar de extremo, vieram os títulos. Neste capítulo, nada faltou ao brasileiro. Ajudou, logo na época da sua chegada, à conquista da Taça UEFA, Liga e Taça de Portugal. No ano que se seguiu, nova onda de sucessos, com a vitória na Supertaça, na Liga e, como todos se recordam, na "Champions".
Com um lugar na história dos "Dragões", cimentado pela conquista da Taça Intercontinental (2004/05), Derlei e o FC Porto pareciam ter uma relação que se adivinhava para muitos anos. É então que, na partida para as férias de Natal de 2004, um desentendimento entre o jogador e o treinador Víctor Fernandez, deita tudo a perder - "O meu filho Geovanni tinha nascido há cerca de um ano, precisamente à meia-noite do dia 1 de Janeiro. Na altura do nascimento, as coisas complicaram-se (...). Os médicos chegaram a colocar a hipótese de que ele não sobrevivesse. Ora, o que eu mais queria era ir ao Brasil e celebrar com ele, nessa altura, o seu primeiro aniversário, para agradecer o facto de ele estar vivo. O FC Porto deu-nos uma semana de folga, mas tínhamos de nos apresentar no dia 31 de Dezembro. Fui conversar com o treinador e perguntei-lhe se ele podia dar-me mais um dia de folga, explicando a situação. O Fernández disse-me que não poderia abrir essa excepção para mim, porque senão teria de fazê-lo com todos os jogadores"*. A verdade é que o atleta avisou logo que não iria acatar as ordens do treinador espanhol. Chegou com um dia de atraso e a punição para tal foi-lhe anunciada - "Quando me disseram que eu teria que treinar à parte, eu acatei. Depois já diziam que eu teria que ir treinar com a equipa B. E eu isso não aceitei". Com a última decisão o conflito agravar-se-ia e a solução para tal acabaria por ser encontrada na venda do atacante ao Dinamo de Moscovo.
Já na capital russa, num clube que apostava tudo na conquista de títulos, Derlei daria de caras com uma série de jogadores seus conhecidos. Nuno Espírito Santo, Thiago Silva, Seitaridis, Maniche e Costinha seriam os colegas que o brasileiro iria reencontrar. Se a estes juntarmos Jorge Ribeiro, Frechaut, Luís Loureiro, Danny, Enakarhire, Almani Moreira, Jorge Luís e Cícero, então, alguém, poderá começar a desconfiar que, por essa altura, todo o campeonato português se estava a mudar para a Rússia. A verdade é que a forte aposta no mercado luso, não traria para os moscovitas o resultado desejado. Longe dos títulos e com grande parte dos "reforços" a não conseguir adaptar-se a um contexto que, a todos os níveis, era muito diferente daquele a que estavam habituados, tudo começou a ser questionado. Foi, então, que se iniciou a debandada dos jogadores. Uns para um lado, outros para outro... e Derlei regressaria a Portugal.
Desta feita, o destino levá-lo-ia a Lisboa. Já não muito longe do Sporting, ainda assim do outro lado da 2ª Circular, a cor que Derlei envergaria seria o encarnado. No Benfica, a meia temporada que fez, com apenas um golo no Campeonato, não seria suficiente para conseguir convencer os responsáveis do clube na sua contratação definitiva. Mas se um de um lado se fecha uma porta, do outro pode sempre surgir uma oportunidade. A dita chance acabaria por ser o reatar de um "romance" antigo. Finalmente, Derlei e o Sporting, chegariam a um compromisso. A relação nascida nesse Verão de 2007, apesar de curta (2 anos), traria para ambos os lados, os seus frutos. Para o atleta foi a oportunidade de demonstrar que ainda não tinha perdido o talento. Já para os "Leões" seria a conquista de alguns títulos (2 Taças de Portugal e Supertaça) que, ainda longe do almejado Campeonato, adocicariam a boca aos seus adeptos.
Surpreendentemente, depois de um grande esforço - tanto por parte dos associados, como dos corpos directivos - para o convencer, Derlei, terminada a temporada de 2008/09, decide não renovar contrato com os de Alvalade. Segue para o Brasil e, daí em diante, a sua carreira apaga-se. Assina pelo Vitória, mas uma lesão só o deixa participar num jogo. O fim acabaria por acontecer pouco tempo depois, com o avançado a representar um dos emblemas do seu passado, o Madureira.


*Retirado de desporto.sapo.cv, a 08-01-2014

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