532 - RUI VITÓRIA

Rui Vitória foi um médio de carreira modesta. Tão modesta foi que, pouco me admiraria que, mesmo aqueles que acompanham com regularidade o desporto, não tivessem sobre este facto qualquer conhecimento. Rui Vitória nunca jogou em grandes clubes; nunca foi destaque, enquanto elemento de campo, em nenhum pasquim desportivo nacional ou internacional; nunca chegou a passar da 2ª divisão "b".
Fanhões, Vilafranquense, Seixal, Casa Pia e Alcochotense, são os emblemas que representou e que ajudam a sublinhar o quão discreta acabaria por ser a sua vida dentro das quatro linhas. É verdade que posta desta maneira redutora, nada nesta sua caminhada parece interessar para aquilo que é hoje o seu estatuto, e real valia, no seio do futebol português. Claro que só mostrei o seu caminho desta maneira, tentando dar-lhe alguns traços caricaturais, para que agora, de alguma forma, pudesse pegar naquela velha questão de "quanto importa uma carreira como futebolista, para se fazer um bom treinador?". Ora, se a ideia de "grande carreira" é feita, obrigatoriamente, com passagens pelos grandes clubes ou, na melhor das hipóteses, com experiência comprovada nos maiores escalões do futebol, então, digo-vos já que... nada interessa nesse trilho!
Os exemplos disso mesmo são inúmeros, o que, desde já, me assegura algum descanso, perante uma possível contestação a estes meus parágrafos iniciais. No entanto, e sem deixar de assumir o que acabei de escrever, é inegável que todo o trajecto percorrido acaba, de uma maneira ou de outra, por nos influenciar os passos futuros ou, se quiserem, por nos vincar o carácter. É aí que entra aquilo que, para mim, é o mais importante no definir de uma carreira como técnico, ou seja, a postura do mesmo.
Entendermos como se chega a certos pontos ou sabermos como é que, afinal, nos moldámos, pode ser muito difícil. Contudo, é mais fácil constatar que certas pessoas têm determinadas características. No que diz respeito a Rui Vitória, uma que salta à vista de todos é a sua habilidade para comandar Homens. Essa mesma, já vêm em si (lá está!!!) desde os seus tempos de jogador. No emblema de Vila Franca de Xira, onde fez grande parte do seu trajecto enquanto futebolista, a sua capacidade de liderança levá-lo-ia a assumir o posto de "capitão de equipa". Ora, sem sombra de dúvida, este seu capítulo era já o sinal de que Rui Vitória era talhado para outras andanças. Nessas ditas, onde, também no Vilafranquense, deu os seus primeiros passos, acabaria por ser no Benfica, ainda que como treinador das camadas jovens, que o seu nome começaria a ser mais ouvido. Depois veio a emancipação e os anos no Fátima. As promoções do clube à 2ª Liga, levariam o Paços Ferreira a arriscar a sua contratação. Um ano na Primeira Divisão bastou para que a Rui Vitória fosse lançado novo desafio: o de comandar o Vitória de Guimarães. O pior é que o clube, um dos históricos do nosso futebol, assemelhava-se, por razão da grave crise financeira em que estava metido, a um presente envenenado. Se muitos se deixariam atemorizar por tal facto, para Rui Vitória nada disso foi entrave para assumir tamanho risco. Desde então, "sucesso" tem sido a única palavra capaz de descrever aquilo que o treinador tem feito à frente do emblema vimaranense. Se dúvidas houvesse, a conquista da Taça de Portugal de 2012/13, ou as boas classificações na Liga, serviriam de prova.
Por outro lado, maior ainda é o feito, se tivermos em conta que o orçamento do Vitória pouco tem a ver com o daqueles que consegue ombrear. Ora, é por esta razão que o destaque que Rui Vitória tem merecido vai já para além fronteiras; e é por isto tudo que o italiano “Gazzetta dello Sport”, merecidamente, o apelidou de "mágico"!!!

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