632 - RACHÃO

Quando em 1971 deixa os juniores, Vítor Martins, Toni ou Jaime Graça eram nomes que abrilhantavam o balneário sénior benfiquista. Nesta conjuntura, conseguir um lugar na equipa principal era, para o jovem médio, um trabalho muito difícil. Voltar a Peniche e ao Desportivo local, muito mais do que um regresso ao emblema onde tinha dado os primeiros pontapés na bola, serviria para ganhar alguma experiência.
Já a sua estreia na 1ª divisão, ocorreria ao serviço do Montijo. Na Margem Sul do Tejo, as 4 épocas que aí passaria, fariam do clube o mais representativo da sua carreira. No entanto, entre as temporadas de 1972/73 e 1975/76, a vida de José Rachão haveria de sofrer alguns sobressaltos. Com o Serviço Militar Obrigatório por cumprir, o futebolista acabaria por ser destacado para a Escola Prática de Artilharia de Vendas Novas – “No dia 24 [Abril de 1974], fui chamado pelo comandante e avisado de que não deveria sair do quartel, sem me explicar os motivos. A verdade é que me pirei para ir treinar e dormi na residencial onde morava. Só me lembro de ser acordado pelo dono da residencial, às cinco da manhã, dizendo-me que tinha de me apresentar imediatamente. Arranquei à pressa, sem saber o que se passava, e cheguei ao quartel, onde fui recebido com metralhadoras. Lá me deram uma e enviaram-me de imediato para o Cristo-Rei, onde estavam canhões apontados para o rio e para Lisboa! Só os oficiais sabiam ao certo o que se passava, entre nós havia nervosismo e ansiedade. Felizmente não se ouviu um tiro.”*
Depois de, na sua última temporada ao serviço do Montijo, ter ajudado o clube a regressar ao escalão máximo, decide-se pela mudança para Coimbra. Com este novo capítulo, Rachão acabaria por iniciar uma fase curiosa na sua carreira. Ainda que quase sempre no maior patamar do futebol português, o centrocampista começa, regularmente, a mudar de clube. Depois da Académica, seguem-se Vitória de Setúbal, Académico de Viseu e Portimonense. O Farense e Leixões, já na 2ª divisão, acabariam por marcar o fim da sua vida como futebolista.
Apesar de se retirar cedo, com 31 anos apenas, a sua ligação à modalidade continuaria. Ainda em Matosinhos, faria a mudança para o banco de suplentes. Como treinador, e a exercer as funções em Portugal, José Rachão faria a sua carreira baseada em emblemas das divisões secundárias. Numa das poucas excepções, no Vitória de Setúbal, o técnico seria chamado a substituir José Couceiro. Apesar de contestado inicialmente, a temporada de 2004/05 acabaria, como o próprio haveria de referir, por gravar o seu nome na “história do Vitória e do futebol português”**.
A conquista dessa Taça de Portugal frente ao Benfica, acabaria por ser o seu grande sucesso em competições “lusas”. Já a mudança, muito por culpa desse seu brilharete, para os países árabes, daria a José Rachão a oportunidade de conquistar outras metas. Desde 2006 a exercer funções em África e no Médio Oriente, e com passagens pelo Kuwait, Líbia, Síria e Arábia Saudita, o treinador português converter-se-ia numa pequena estrela. Para tal, muito contribuiriam os títulos conquistados ao serviço de Al-Arabi , Al-Naser (Kuwait) e Al-Ittihad (Líbia).


*retirado do artigo de Vítor Hugo Alvarenga, a 25 de Abril de 2014, em www.maisfutebol.iol.pt
*retirado da entrevista de João Manuel Fernandes, Jornal Record

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