641 - JIMMY HAGAN

Sendo filho de um antigo jogador do Newcastle, Cardiff e Tranmere, seria de esperar que o gosto pela modalidade tivesse sido transmitido pelo seu pai. A verdade é que a relação entre Alfie Hagan e Jimmy não era a melhor. Diz-se que ambos tinham feitios difíceis e parecidos; diz-se que Alfie, apercebendo-se das qualidades futebolísticas de Jimmy, tinha inveja do filho; diz-se que a frieza e reserva que Jimmy sempre mostrou, vinham desses seus tempos de miúdo.
Apesar das adversidades familiares, o gosto que Jimmy Hagan mostrava pelo futebol não parecia esmorecer. Com uma evolução espantosa nas selecções jovens inglesas (schoolboys), seria o Liverpool o primeiro emblema do avançado. Ainda muito jovem, com cerca de 15 anos, muda-se para o Derby County. Aí termina a sua formação e, sob o comando de George Jobey, um ex-companheiro de seu pai no Newcastle, faz a estreia como sénior.
Mesmo tendo em conta a incontornabilidade das suas qualidades, as oportunidades oferecidas ao jovem Jimmy Hagan eram poucas. Insatisfeito por esta situação, o atacante aceita o convite do treinador Teddy Davidson e muda-se para o Sheffield United. A sua habilidade técnica, onde o controlo da bola, rapidez de reflexos, velocidade e capacidade de passe eram excelentes, levá-lo-ia a uma rápida adaptação. Logo na primeira temporada ao serviço dos “Blades”, Jimmy Hagan conseguiria alcançar a titularidade. Com a equipa a disputar o segundo escalão inglês, o seu peso no seio do plantel crescia a cada jornada. A sua importância era tal que, finda a temporada de 1938/39, e conseguida a promoção, grande parte da glória seria a ele atribuída.
Depois chegaria a Segunda Guerra Mundial (1939 – 1945). Com ela a Liga Inglesa entraria numa fase de estagnação. Com tantos recursos apontados ao exercício militar, as competições futebolísticas sofreriam uma paragem. Por essa altura, também Jimmy Hagan seria chamado a servir o Exército. Nas fileiras do “Army Physical Training Corp”, o jogador seria destacado em Aldershot. Ainda assim, e durante todos esses anos, o atacante continuaria a dar azo ao seu gosto pela modalidade. Como convidado, ia jogando alguns jogos pelo Aldershot FC; ao mesmo tempo, nas ligas regionais, continuava a representar o Sheffield United. Com as cores de Inglaterra, em partidas não oficiais, jogaria diversos desafios, que ficariam conhecidos por “wartime internationals”. Já com o aproximar do fim da guerra, e destacado na Alemanha, Jimmy Hagan representaria a Selecção Militar.
Com o fim do conflito, Jimmy Hagan regressaria ao seu clube. Destacado avançado-interior, o atleta tornar-se-ia na principal figura do plantel. Sendo considerado um dos melhores jogadores ingleses do seu tempo, o peso de tal distinção faria com muitos jornalistas vissem a equipa do Sheffield United como “Hagan e mais 10”. Apesar do destaque que foi merecendo, a verdade é que a admiração por parte de adeptos e imprensa desportiva, nunca haveria de transformar-se em internacionalizações. Pela selecção, agora em jogos oficiais, Jimmy Hagan seria convocado uma só vez. Esse particular frente à Dinamarca, em Setembro de 1940, acabaria por ser a única chamada à equipa nacional inglesa. Insuficiente, é certo, para um atleta do seu gabarito. No entanto, as presenças de outros craques como Len Shackleton, Raich Carter ou Wilf Mannion, pareciam justificar esse afastamento. Outro aspecto, e que não podemos olvidar, prender-se-ia com a “modéstia” da sua equipa que, nem sempre, disputava as principais provas.
Os anos em que representou o Sheffield United, ainda que no meio de algumas descidas e promoções, fariam dele um ídolo para a massa adepta. No final da temporada de 1957/58, decide que era a hora de retirar-se. Com 39 anos, ainda teria tempo, e pernas, para uma “tournée” de exibição, realizada por um misto de jogadores, na Austrália.
Esses últimos jogos antecederiam a sua estreia como técnico. Estranhamente, os responsáveis do Sheffield United não reconheceriam em Jimmy Hagan qualidades para exercer tal tarefa. Por essa razão, o agora treinador aceitaria um convite do Peterborough. Depois desta primeira experiência, seguir-se-ia o West Bromwich Albion. Conseguindo manter o conjunto sempre no 1º escalão, apurando-o para a Taça das Cidades com Feiras e, inclusive, vencendo a Taça da Liga de 1965/66, a sua reputação começa a crescer. Mesmo conseguindo atingir todos esses objectivos, a relação com os jogadores, pelas exigências dos seus treinos, começa a degradar-se.
É nesta senda que Jimmy Hagan que, para a temporada de 1970/71, chega ao Benfica. Inicialmente, os seus métodos de treino extremamente rigorosos, haveriam de causar alguma estranheza entre os jogadores. Com o início das competições, e com as “Águias” a tomarem conta das posições cimeiras, a desconfiança passaria a admiração. Ainda assim, a exigência do inglês era bem conhecida e a sua rectidão era inabalável. Esta postura acabaria por ser a razão do seu divórcio com o clube. Antecedendo aquele que era o jogo de despedida de Eusébio, Hagan orientaria um treino de índole física. Durante o aquecimento, numa corrida à volta do terreno de jogo, Toni, Humberto Coelho e Nelinho deixam-se atrasar. O técnico, desgostoso da postura negligente dos três pupilos, ameaça multá-los e excluí-los do jogo dessa noite. Ainda volta atrás na pena monetária, mas mantem os atletas à margem da convocatória. Desautorizando o treinador, o Presidente Borges Coutinho pede aos jogadores para se equiparem. Grande erro e o suficiente para que Jimmy Hagan, que acabava de dar um tricampeonato ao Benfica, deixasse o clube.
Curioso é que, depois deste desentendimento, Jimmy Hagan haveria de permanecer em Portugal. Estranhamente, aceita o convite do Estoril-Praia que, por essa altura, militava na 3ª divisão!!! Em duas épocas, dizem que sem receber um centavo, devolve o “emblema da Linha” ao convívio dos grandes. Depois passa pelo Kuwait e pelo Al Arabi, para em 1976 regressar a Portugal.
Neste última fase da sua carreira, Jimmy Hagan treinaria diversos emblemas do nosso campeonato. Destaque para a sua passagem pelo Sporting, na época de 1976/77. No entanto, onde o inglês voltaria a ter sucesso, seria ao serviço do Boavista. Pelos “Axadrezados”, o técnico, repetindo a vitória benfiquista de 1971/72, conquistaria a sua segunda Taça de Portugal (1978/79).
Após orientar Belenenses e Vitória de Setúbal, seria no regresso ao Estoril-Praia que Jimmy Hagan teria a sua derradeira passagem pelos bancos de suplentes, em Portugal. Para trás ficaria um homem que apenas pedia aos seus atletas, aquilo que exigia a si mesmo. Histórias sobre ele há muitas… mas umas melhores que as outras!!! Conta-se que, após um empate do Benfica, exige aos jogadores que, numas obras ao pé do Estádio da Luz, mudem umas pedras de um lado para o outro. No final, voltaria a pedir aos atletas que pusessem as mesmas no local original, pois não estavam ali para estorvar o trabalho de ninguém.

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