693 - ANTÓNIO ROQUETE

Nascido em Salvaterra de Magos, no seio de uma família muito pobre, António Roquete entraria para a Casa Pia. Seria na dita instituição, que o antigo internacional português se revelaria um desportista de nomeada. Natação, basquetebol, pólo-aquático e até basebol, fariam parte da sua lista de modalidades praticadas. Contudo, e apesar de ser um atleta multifacetado, o futebol era a sua grande paixão. Tendo começado nas equipas “escolares” casapianas, António Roquete prosseguiria a sua carreira no denominado Casa Pia Atlético Clube. A destreza que demonstrava, a bravura, mas, principalmente, as técnicas próprias de um bom guarda-redes, rapidamente fariam dele um dos melhores a actuar na sua posição.
Mesmo sem pertencer a um dos mais carismáticos emblemas nacionais, o seu nome, a partir de 1926, começa a fazer parte dos convocados para as partidas da selecção nacional. Com as cores de Portugal, num particular contra a França, faz a sua estreia em Toulouse. Esse jogo, já incluído na caminhada para os Jogos Olímpicos de 1928, era o reconhecimento, e merecido prémio, para a sua habilidade na defesa das balizas. A essa primeira internacionalização seguir-se-iam outras e, nessa senda, a sua presença no certame realizado em Amesterdão estava garantida.
Levado às olimpíadas pela mão do seleccionador nacional Cândido de Oliveira, António Roquete seria titular em todas as partidas disputadas. Portugal chegaria aos quartos-de-final e, mesmo a falta de uma medalha, não inibiria o povo de sair à rua para festejar o regresso dos seus heróis. Nisto, e como é fácil de compreender, a popularidade do guardião subiria em flecha. Alto e espadaúdo, e reflexo daquilo que o futebol já representava nessa altura, até a imagem de António Roquete seria alvo de cobiça e comparada com a dos mais afamados galãs do cinema. 

Também no campo desportivo, o futebolista continuaria a gozar dos maiores louvores. Apesar de apenas ter representado o Casa Pia, por diversas vezes seria cedido a outros emblemas, como o Vitória de Setúbal, o Sporting ou o Benfica, para a disputa de particulares ou como integrante nas digressões realizadas no estrangeiro.
Deste modo, foi com grande surpresa que, no início da década de 30, António Roquete desaparece da cena desportiva. Sem ainda ter completado 30 anos de idade, aquele que era tido como um dos melhores atletas da modalidade, retirava-se dos campos sem, ao que dava a entender, deixar grande rasto!

A verdade, no entanto, era outra. António Roquete abandonaria o futebol para ingressar na Polícia Internacional Portuguesa! Destacado no Minho, aquele que era um ídolo para as massas, tornar-se-ia num temido agente. Reconhecido pela sua faceta violenta e impiedosa, a sua imagem, passados alguns anos, ficaria ainda mais denegrida. É já como elemento da PVDE (Polícia de Vigilância e Defesa do Estado), onde chegaria a subinspector, que António Roquete se envolve em dois casos muito badalados. Na morte do Dr. António Ferreira Soares, contam alguns relatos que terá tido parte activa na cilada perpetrada ao militante do Partido Comunista Português. Nela, e no mesmo consultório onde tantas vezes terá ajudado os mais desfavorecidos, o conhecido “médico dos pobres” terá sido interpelado por uma brigada e atingido a rajadas de metralhadora. Ainda vivo, mas já inanimado, seria arrastado para o interior de um carro da polícia, vindo a morrer pouco depois.
Já no caso da prisão de Cândido de Oliveira, também muito se especulou sobre o seu envolvimento. Pelo que se sabe, o treinador teria tido um papel proeminente no decorrer da 2ª Guerra Mundial, ao ajudar os Serviços Secretos Britânicos em acções de espionagem. Por essa razão haveria de ser levado para o forte de Caxias, onde seria sujeito às mais diversas torturas e privações, para depois ser deportado para o campo de concentração do Tarrafal. Dir-se-ia que o próprio Roquete havia participado nos espancamentos a que Cândido de Oliveira teria sido sujeito. Todavia, esta versão seria posteriormente desmentida pela sobrinha do antigo seleccionador nacional – “Era um rapaz muito pobre, o Roquete, o meu tio protegeu-o, garantiu-lhe refeições, ajudou-o a vestir-se, enfim fez com ele o que fazia com todos os casapianos que precisavam do que fosse... É verdade, que apesar disso, não se portou bem quando Cândido foi preso. Mas bater-lhe parece que não bateu. De qualquer forma, posteriormente, Roquete tentou uma aproximação, mas o Cândido recusou”*.

 
*retirado de  http://oindefectivel.blogspot.co.uk/

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