696 - JAIME PACHECO

Depois de, durante alguns meses, treinar à experiência no FC Porto, Jaime Pacheco ficaria com a promessa de José Maria Pedroto que, após conseguir livrar-se do Serviço Militar Obrigatório, teria um lugar garantido no seio do plantel. Pacto feito e cumprido. Entretanto, outros convites chegariam às mãos do jogador. Ainda assim, nada demoveria o médio a retrair-se no primeiro acordo e, vindo dos Aliados do Lordelo, o médio chega às Antas na temporada de 1979/80.
Sendo um atleta lutador, Jaime Pacheco acabaria por ser uma das figuras que, na passagem para os anos 80, ajudariam a mudar o paradigma do FC Porto. Ora, numa altura em que os “Dragões” ainda lutavam para regressar aos lugares cimeiros do futebol português, o antigo futebolista acabaria por fazer parte das equipas que ajudariam nessa caminhada.
Curiosamente, o primeiro brilharete na sua carreira, viria com a participação nas competições europeias. Qualificado para a Taça dos Vencedores das Taças de 1983/84, e tendo, até então, apenas vencido 2 Supertaças (1981/82; 1983/84), Jaime Pacheco, e o FC Porto, seguiriam até à final da dita competição internacional. A partida, disputada em Basileia, oporia a equipa portuguesa aos italianos da Juventus. Platini e os seus companheiros acabariam por conseguir vencer o desafio e, desse modo, estragar o sonho do atleta portista.
O apuramento para o Euro 84 e a convocatória para a fase final da dita competição, cimentariam Jaime Pacheco como um “habitué” da selecção nacional. Seria logo após a participação ocorrida em França, que o impensável aconteceria. João Rocha, naquilo que ficou tido como a vingança pela saída de Paulo Futre, endereçaria um convite ao médio. Sendo uma das principais caras na dinâmica do FC Porto, poucos acreditaram que Jaime Pacheco acedesse ao assédio do Presidente leonino. A verdade, todavia, seria outra e, juntamente com António Sousa, Jaime Pacheco mudar-se-ia para o Sporting.
Em Alvalade nem tudo correria de feição. Sem qualquer título conquistado, e com uma grave lesão a assombrar-lhe a época de estreia, a passagem de Jaime Pacheco por Lisboa salvar-se-ia com a chamada ao Mundial de 1986. No regresso do México, e sem que o clube conseguisse renovar-lhe o contrato, o médio faz “inversão de marcha” e volta a vestir de “Azul e Branco”. Esta nova ligação ao FC Porto, traria ao atleta os melhores resultados da sua vida de jogador. A Taça dos Campeões Europeus de 1986/87 e a Supertaça e Taça Intercontinental da temporada seguinte, seriam, nessa lista de sucessos, os melhores exemplos. Depois, para completar um currículo já bem rico, viria, com a vitória na Taça e no Campeonato, a “dobradinha” de 1987/88.
No defeso de 1988, no rescaldo da saída de Rui Águas e Dito para as Antas, Jaime Pacheco recusa uma proposta do Benfica. A sua ligação com FC Porto, que poderia ter tido aí o seu fim, acabaria por conhecer o seu termo no Verão de 1989. O jogador, a entrar na fase final da carreira, acabaria por assinar contrato com o Vitória de Setúbal. Nos “Sadinos”, e mesmo estando a afastar-se dos melhores anos, o médio ainda voltaria a merecer a confiança do seleccionador nacional. Depois de mais de 4 anos de ausência, Jaime Pacheco voltaria a envergar a “camisola das quinas”, naquela que seria a sua derradeira internacionalização.
Paços de Ferreira, Sporting de Braga, Rio Ave e Paredes, muito mais do que marcar os últimos capítulos de uma longa carreira, serviriam de aprendizagem para o seu novo papel dentro do futebol. À excepção dos “Arsenalistas”, em todos os clubes acima citados, Jaime Pacheco haveria de ter uma experiência como treinador-jogador. Já “em exclusivo”, o início da sua caminhada como técnico ocorreria ao serviço do União de Lamas. Pouco mais de meia dúzia de partidas feitas na Divisão de Honra, e o Vitória de Guimarães leva-o à estreia na 1ª divisão. No entanto, o seu percurso no escalão máximo atingiria o pico ao serviço de outro clube. Os anos que passaria no Boavista, nomeadamente entre 1997 e 2002, fariam dele um dos melhores no cumprimento das funções de treinador. As participações na “Champions”, a chegada às meias-finais da Taça UEFA de 2002/03, mas, acima de tudo, a vitória no Campeonato de 2000/01, deixá-lo-iam no topo.
Não sendo, como o próprio já o disse, “um treinador do sistema”*, a carreira de Jaime Pacheco veio a afastar-se dos grandes palcos nacionais. Tendo, ainda ao serviço do Boavista, tido convites para orientar as equipas do Benfica e do Sporting, os sucessos conseguidos com os “Axadrezados”, e ao contrário do que seria normal, acabaria por afastá-lo-ia da ribalta – “(…) para se chegar a certos lugares é preciso ir a muitas capelas ou a muitos bruxos. Duvido muito que as grandes portas se abram sem que se faça isso. Posso chegar ao fim da vida com menos dinheiro e menos currículo mas tenho coluna (…). Depois de ter sido campeão é que se fecharam as grandes portas”*.
Já depois de uma curta passagem pelo Mallorca, e os regressos ao Estádio do Bessa e ao D. Afonso Henriques, Jaime Pacheco haveria de passar pelo comando do Belenenses. Desde 2009, nunca mais voltou a treinar em Portugal. Actualmente (2016/17) orienta os chineses do Tianjin Teda, tendo, ao longo destes anos, tido passagens pelo Al-Shabab (Arábia Saudita); Zamalek (Egipto) e Beijing Guoan  (China).


*retirado da entrevista de Alexandra Tavares-Teles, Diário de Notícias, 16 de Outubro de 2009

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