740 - ROY KEANE

Apesar de hoje reconhecermos o valor da sua carreira, a verdade é que o início da mesma seria tudo menos fácil. Com uma constituição física pouco impressionante, Roy Keane, ainda durante a adolescência, haveria de ser recusado pelos mais diversos treinadores. Chumbado nos testes para os “schoolboys” irlandeses, o passo seguinte seria tentar ser aceite por um clube em Inglaterra. Nessas tentativas, o tal entrave físico, mais uma vez, haveria de barrar aquele que era o seu grande sonho. Todavia, e como haveria de demonstrar nos anos vindouros, a sua tenacidade impedi-lo-ia de desistir.
Ao contrário do que é possível entender pelo parágrafo anterior, as tentativas de embicar a sua vida futebolística para um patamar profissional, nunca impediram Roy Keane de praticar a modalidade que tanto o apaixonava. Parte integrante das camadas jovens do Rockmount, o jovem jogador, curiosamente, até era tido como um dos grandes craques da equipa. No entanto, e ao invés de outros que acabariam por conquistar as suas oportunidades, o médio, na hora de mostrar o seu real valor, acabava sempre por claudicar.
Esta sina acabaria por mudar aquando do convite dos responsáveis do Cobh Ramblers. O emblema da zona de Cork, ainda que semi-profissional, tornar-se-ia na rampa de lançamento para um percurso memorável. Rapidamente, as suas exibições começariam a chamar a atenção de outros clubes. É na sequência desta evolução que, por convite de um dos “olheiros” do Nottingham Forest, Roy keane acaba a treinar-se às ordens de Brian Clough. Tendo agradado, o destino do médio acabaria por ser apontado, em primeiro lugar, à equipa dos s-21. Depois chegaria a oportunidade nas “reservas”, para, finalmente, conquistar um lugar no plantel principal.
A estreia na primeira equipa do Nottingham Forest ocorreria logo no ano da sua chegada. A temporada de 1990/91, muito mais do que proporcionar ao jogador algumas oportunidades, acabaria por revelá-lo com um elemento de enorme preponderância. Brian Clough, rendido às capacidades do “trinco”, acabaria por afiançar-lhe a titularidade. Não tendo decepcionado, Roy Keane, ao longo dessa época, conseguiria manter esse estatuto. Já com o ano desportivo quase a terminar, e a testemunhar todo o seu crescimento, é então que surge a primeira chamada à principal selecção irlandesa. Depois desse “amigável” frente ao Chile, o seu caminho fica traçado e o sucesso começa a avistar-se.
Muito mais do que qualquer outra camisola por si envergada, aquela que mais sublinharia as suas excelsas qualidades seria, sem sombra de dúvida, a do Manchester United. Após, nas 3 campanhas realizadas pelo emblema de Nottingham, ter convencido Alex Ferguson, o “internacional” irlandês mudar-se-ia para Old Trafford. Aí, e como parte influente num dos melhores períodos da história do emblema, Roy Keane transformar-se-ia num atleta de classe mundial.
Nem só os títulos fariam de Roy Keane um dos elementos de maior importância no percurso dos “Red Devils”. A sua entrega, incontestável, faria dele um exemplo para os demais colegas. Já como capitão de equipa, a motivação que mostrava em campo era a mesma que exigia dos outros elementos do plantel. É verdade que essa sua atitude, nem sempre trouxe os melhores resultados. Algum exagero na postura, talvez empolada pela visibilidade que o clube ainda hoje merece, acabaria por denegrir um pouco a sua imagem. Apesar de adorado pelos adeptos e de merecer a confiança do corpo técnico, foram comuns as suas altercações com colegas e adversários. Já numa fase mais adiantada da sua carreira, quando as mazelas físicas e o avançar da idade começaram a impedir o jogador de atingir as metas de outrora, essa faceta quezilenta tornar-se-ia ainda mais evidente. Como Alex Ferguson recordaria – “A energia que o Roy despendia nos jogos era verdadeiramente excepcional, mas quando tu entras nos teus trintas é difícil de compreenderes onde estás a errar (…). Ficou claro para nós que já não estávamos a lidar com o mesmo Roy Keane. (…) Tentámos alterar o seu papel, desencorajando-o de carregar pelo campo fora e de fazer tantas corridas para a frente (…). Acho que ele conseguia ver a verdade naquilo que lhe dizíamos, mas render-se a isso era uma grande afronta ao seu brio”*.
A sua relação com os colegas e responsáveis técnicos denegrir-se-ia até ao ponto de ruptura. Constantes discussões, exigências e posturas caprichosas atingiriam o seu ponto mais alto com uma polémica entrevista ao canal televisivo do clube. Na conversa com os jornalistas, Roy Keane criticaria tudo e todos. A sua intervenção seria tida como uma afronta imperdoável e, a meio dessa temporada de 2005-06, acabaria por levar à sua transferência para o Celtic.
Com o Manchester United, Roy Keane venceria 7 “Premier Leagues”, 4 “F.A. Cups”, 4 “Community Shields”, 1 Taça Intercontinental e 1 “Champions”. Já a mudança para a Escócia marcaria o fim da sua carreira. Em Glasgow, longe das exibições que o haviam delineado como um grande atleta, passaria os últimos meses daquela que seria a sua derradeira época como futebolista. Ajudaria a conquistar a “dobradinha” e, na transição para a temporada seguinte, passaria a assumir novas funções no futebol. Tendo começado como treinador principal, o antigo jogador tomaria as rédeas do Sunderland. Alguns anos mais tarde, acabaria também por passar pelo comando do Ipswich. Contudo, e ao que consta, o seu feitio eruptivo tem-no impedido de melhores resultados. Ainda assim, e após um interregno, durante o qual trabalharia como comentador televisivo, a Federação irlandesa endereçaria um convite a Roy Keane. Como adjunto, o antigo jogador tem continuado a dar o seu contributo no futebol. Como curiosidade, temos ainda a sua passagem pelo corpo técnico do Aston Villa, em simultâneo com o compromisso arcado com a selecção do seu país.


*adaptado do livro “Alex Ferguson, my autobiography”, por Sir Alex Ferguson

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