741 - TAHAR EL-KHALEJ

Tendo ganho fama ao serviço do Kawkab, clube pelo qual conseguiria sagrar-se campeão de Marrocos, Tahar cria a reputação de ser um dos melhores jogadores a actuar no seu país. Este facto, aliado às constantes convocatórias para a selecção, faz com que o seu prestígio comece a aumentar. As chamadas à CAN de 1992 e, posteriormente, ao Mundial de 1994, serviriam apenas para reavivar a ideia de que o jogador já merecia uma mudança na sua carreira.
A transferência acabaria mesmo por acontecer. É então, na União de Leiria que surge a “porta” que permitiria ao atleta fazer a sua estreia na Europa. Mesmo tratando-se de um emblema modesto – lembre-se que o clube, nesse ano 1994, tinha conseguido a promoção à 1ª divisão – a verdade é que para Tahar esta era a oportunidade de mostrar as suas habilidades num contexto competitivo de maior valor.
No campeonato português, Tahar afirma-se como um jogador determinado e muito aguerrido. Tendo até começado por posições mais avançadas, é nas estratégias defensivas que o jogador acaba por melhor conseguir expor as suas qualidades. Como “trinco”, mas podendo também ocupar um lugar no centro da defesa, o internacional marroquino seria peça fulcral nas boas campanhas do clube leiriense.
Duas temporadas após a sua chegada a Portugal, é então que o Benfica decide apostar na sua contratação. Com 28 anos de idade, Tahar daria o maior passo no seu percurso como profissional. Na “Luz”, com o clube a atravessar uma das piores fases da sua história, a vida do médio nem sempre foi fácil. Por razão da sua excessiva agressividade, as constantes expulsões acabam por fazê-lo desperdiçar muitas das chances conseguidas. Ainda assim, e durante os primeiros anos, o jogador acaba por cotar-se com um dos mais utilizados e merece a chamada ao Mundial de 1998. Todavia, a sua situação acabaria por alterar-se. Com a chegada de Jupp Heynckes, a sua impetuosidade começa a merecer algumas críticas. Após um empate caseiro frente ao Boavista, em que Tahar, com um duplo amarelo, é expulso cerca de 20 minutos após “saltar do banco”, o técnico alemão como que perde a paciência – “Como é óbvio, não apreciei a expulsão de El Khalej. É uma situação que não deve suceder a um profissional como ele. Por intermédio de Chano, avisei-o antes da expulsão para não efectuar faltas tontas. Isso não deve tornar a acontecer. Ele sabe-o, pois já falámos sobre o assunto”*.
O último jogo realizado com a camisola das “Águias” haveria de ser a derrota por 7-0, frente ao Celta de Vigo. Depois desse jogo no Estádio de Balaídos, Tahar enfrentaria um longo período sem ser chamado às opções de Jupp Heynckes. Em Março de 2000, vinda de Inglaterra, surge a opção para dar continuidade à sua carreira. Depois de alguns jogos à experiência, Tahar consegue convencer Glenn Hoddle e acaba por assinar pelo Southampton.
Já nos “Saints”, Tahar mantém toda a sua fogosidade. Mesmo num futebol conhecido pela sua dureza, a rispidez do jogador acaba por trazer alguns dissabores. Um dos episódios mais polémicos na sua passagem pela “Premier League”, acabaria por ser um lance com Kieron Dyer. Numa entrada duríssima, Tahar acaba por magoar o atleta do Newcastle. A lesão, bastante grave, haveria de pôr em dúvida a presença do internacional inglês no Mundial de 2002. Irritado com a situação, Dyer ainda ameaça processar o atleta marroquino – “Eu estava extremamente zangado porque pensei que a bola já estava longe e ele teve apenas uma intenção – deitar-me abaixo (…). Se as minhas chances de ir à fase final, forem roubadas por aquela entrada, vai ser muito difícil aceitá-lo (…). Se o perdoo-o? Se for à fase final do Mundial, então, sim. É tão simples quanto isso. Se vou tomar alguma acção legal? Não decidi e estou a deixar tudo em aberto, neste momento”**.
Já depois de, no decorrer da temporada de 2002/03, ter sido emprestado ao Charlton, Tahar decide terminar a sua carreira como desportista. O seu regresso a Marrocos e a Marraquexe, dar-lhe-ia a oportunidade para retomar a sua ligação ao futebol. Como Presidente do Kawkab, o antigo jogador acabaria por ajudar o clube que o lançou, a regressar ao patamar principal daquele país.

 
*retirado da reportagem de Nuno Pombo no jornal “Record”, a 31/10/1999
**retirado da reportagem do jornal “The Guardian”, a 20/05/2002

Sem comentários: