836 - JUAN FORNERI

Tendo o jogador aparecido por cá em meados dos anos 50, seria certo pensar-se que os registos sobre o seu percurso desportivo fossem mais conclusivos. No entanto, tudo aquilo que consegui apurar levou-me a uma série de dúvidas ainda maiores! A primeira: de onde surgiu Forneri? Há quem diga que, antes da sua viagem para a Europa, o médio já tinha jogado pelo Quilmes. Outros, contudo, referem-no numa senda curiosa. Nela, sem ligação a qualquer colectividade, terá andado pelo nosso país a bater de porta em porta, à procura de um novo clube. A verdade, a única que consegui confirmar, é que a primeira aparição deste argentino em Portugal remonta à temporada de 1953/54.
Foi, então, ao serviço do Juventude de Évora que Forneri disputou as primeiras partidas nos nossos campeonatos. Aqui, mais uma dúvida. Há quem o apresente como vindo de um empréstimo do FC Porto. Todavia, a fraca consistência da dita informação faz-me pensar que tal não passa de mais um erro no universo cibernauta.
Continuando… Já após cumprir essa época inicial, outros pretendentes começaram a aparecer. Sendo um atleta de excepcionais qualidades, e com os alentejanos a claudicarem nas derradeiras etapas da luta pela promoção, novo convite haveria de surgir. Com Oscar Tellechea no lugar de treinador, e havendo no balneário outros conterrâneos seus, foi fácil para os responsáveis do Torreense convencer o atleta a mudar-se para o Oeste. Em Torres Vedras assumiria um papel de tremenda importância naqueles que foram os melhores anos da colectividade. Tendo a seu lado Américo Belen e José Maria Pellejero, também eles argentinos, Forneri destacar-se-ia como um dos melhores centrocampistas a actuar em Portugal.
Bom a defender e a atacar, o atleta conseguia ocupar várias posições dentro do terreno de jogo. Essa polivalência, que o levava a ser médio interior ou médio defensivo, seria uma das grandes armas para as boas campanhas do seu clube. Muito para além de ser um titular indiscutível, seriam as suas prestações que ajudariam o Torreense a atingir a final da Taça de Portugal de 1955/56. No entanto, e depois de já ter marcado o golo que, nessa caminhada, ajudaria a eliminar o Sporting, Forneri não evitaria a derrota na derradeira partida da prova. Frente ao FC Porto, o emblema saloio não conseguiria sair do Jamor com a vitória. Dois golos de Hernâni, sem qualquer tento em resposta, fariam com os de “Azul e Branco” levassem o troféu para a “Cidade Invicta”.
Após mais algumas temporadas ao serviço do Torreense, é a partir de 1959 que o seu nome deixa de aparecer nas fichas de jogo dos nossos campeonatos. É também a partir dessa data que em Espanha surge um atleta que, mesmo com algumas diferenças no nome e ano de nascimento, muitos relatam como sendo a mesma pessoa. Contudo, Forneris Ocampo, também conhecido como Juancho Forneri, tem muitas coisas em comum com o jogador que passou em Portugal. Ambos, para além da similaridade do apelido, partilham Juan Carlos como os primeiros nomes; a posição de campo também era a mesma; e, para concluir, há ainda a muito relatada camaradagem que tinha com o antigo atleta do emblema do Oeste, José Maria Pellejero.
Ora, partindo do princípio que Forneri e Forneris Ocampo são o mesmo, então, e já depois de deixar Portugal, pode dizer-se que a carreira do médio terá continuado no sul de Espanha. No Granada, e com o referido Pellejero como companheiro no centro do terreno, o atleta abrilhantaria os campos do escalão máximo espanhol. Tendo, ainda na mesma divisão, representado o Elche, seria no Mallorca que a sua importância seria mais notada. Já um veterano, é nas Baleares que faz a transição dos relvados para o corpo técnico. Durante anos a fio ficaria ligado ao clube. Desempenharia as funções de treinador em todas as camadas; seria chamado a observar jogadores; e, inclusive, faria de roupeiro. A tamanha devoção ao emblema levá-lo-ia a figurar nos anais como um dos seus históricos. Por altura do seu falecimento em 1995, uma partida frente ao Atlético de Madrid seria disputada em sua homenagem.

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