840 - ENGLAND 66

O Campeonato do Mundo de 1966, desde os seus estágios preliminares, haveria de ser tema para grandes conversas. Com um número de equipas nunca antes visto, as 70 selecções com lugar no torneio de qualificação transformar-se-iam num recorde para a história do futebol. Ainda assim, a caminhada inicial não ocorreria sem uma boa polémica. Indignados pela falta de um lugar com passagem directa à fase final, os países africanos decidem não participar. A dita contenda agravar-se-ia pela integração da África do Sul, à altura regida pelas leis do “Apartheid”, na zona da Ásia/Oceânia. Com o crescer dos protestos, o país acabaria mesmo por ser afastado pela FIFA. No entanto, e face à intransigência revelada pela entidade organizadora, que continuaria a defender o modelo de acesso, a posição das referidas nações manter-se-ia e o seu boicote também.
O torneio final jogar-se-ia em Inglaterra. Sendo o dito país o berço da modalidade, a enorme adesão por parte dos fãs seria encarada sem grande espanto. Aliás, os ingressos vendidos acabariam também por tornar-se num recorde. Para assistir aos embates proporcionados pelas 16 selecções, o número de adeptos presentes nos estádios ultrapassaria um total de milhão e meio.
Na primeira fase, seriam quatro os agregados compostos pelas equipas qualificadas. Portugal acabaria por ficar posicionada no Grupo 3. Ora, como um dos conjuntos estreantes, e ainda por cima a disputar um lugar nos quartos-de-final com Brasil e Hungria, as hipóteses dadas ao conjunto luso acabariam por ser pouco favoráveis. Contra tudo o que seria lógico, os “Magriços” até estavam ali para disputar o título. Logo nessa primeira etapa, ajudariam a eliminar o Brasil de Pelé e Garrincha. Contudo, esse não seria o único motivo de espanto. A Itália e Espanha, esta última campeã da Europa 2 anos antes, também ficariam de fora. Em sentido contrário, a surpresa chamada Coreia do Norte.
Seria a congénere coreana que Portugal enfrentaria na fase seguinte. A nossa selecção, em grande maioria composta pelos benfiquistas bicampeões europeus de clubes de 1961 e 1962 e pelos sportinguistas vencedores da Taça das Taças de 1964, era a grande favorita a passar a eliminatória. Todavia, aquilo que à partida era um jogo relativamente fácil tornar-se-ia num enorme susto para o conjunto português e num dos grandes momentos do torneio. Para tal muito contribuíram a entrada de rompante da equipa asiática que, aos 25 minutos, já vencia por 3-0. Depois o impensável e, com 4 golos de Eusébio e 1 de José Augusto, a reviravolta no marcador.
A faltar apenas uma ronda para atingir o derradeiro jogo do Campeonato do Mundo, as hipóteses de Portugal, e a força que os seus jogadores mostravam dentro de campo, pareciam também apontar para o troféu. Nada aparentava atemorizar os elementos das “quinas” e nem a contenda frente à Inglaterra tirava a esperança a jogadores e corpo técnico. É então que algo surpreendente acontece. Essa partida das meias-finais, inicialmente calendarizada para o Goodison Park, é, à última da hora, marcada para Wembley. A razão para tal alteração do programa, segundo a organização do torneio, dever-se-ia à maior capacidade do estádio londrino. O resultado: Portugal, ao invés de se manter a jogar em Liverpool, viu-se, no dia anterior ao embate, forçada a uma longa viagem até à capital britânica; já a selecção “da casa”, mantendo-se na cidade que, desde o começo do certame a acolhia, pode repousar e recuperar para o embate que se avizinhava.
À margem desse episódio ficariam os resultados da ronda. Por um lado, Portugal cairia frente à Inglaterra. Por outro, a República Federal Alemã, levaria de vencida a URSS. Perante tais desfechos, a final seria entregue a alemães e ingleses, enquanto que o 3º lugar seria disputado por soviéticos e portugueses.
Na partida de acesso ao último lugar do pódio, o “Pantera Negra” voltaria a marcar. Esse golo, num total de 9 remates certeiros, não só faria do avançado o Melhor Marcador do torneio, como ajudaria na conquista da medalha de bronze. Já no derradeiro jogo, aquele que revelaria o próximo campeão do mundo, mais uma polémica a juntar a tantas outras. Após o tempo regulamentar, com o “placard” a assinalar 2-2, a partida prossegue para prolongamento. Geoff Hurst, com 8 minutos decorridos após o reatamento, chuta à baliza adversária. A bola, com grande estrondo, acerta na barra. Depois vai ao chão e bate, algures perto da linha. O remate, mesmo tento em conta a enorme contestação, seria validado. A Inglaterra passava mais uma vez para a frente do marcador e com mais um golo de Hurst (faria um hat-trick) selaria a conquista da “Jules Rimet Cup”.

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