72 - JORDÃO

No final dos anos 60, numa altura em que restavam apenas resquícios da geração bicampeã europeia, chega de Angola, do Sporting de Benguela, um jovem rapaz para jogar nos juniores do Benfica. Pouco tempo após juntar-se aos pupilos orientados por Ângelo Martins, ouviu dizer-se que de África tinha chegado um novo Eusébio. Talvez houvesse algum exagero nesse vaticínio, mas a velocidade, a agilidade felina e a frieza que mostrava na cara do golo, revelavam potencialidades acima da média.
Terão sido essas capacidades que, um ano após o seu ingresso no clube, e com apenas 19 anos, levaram Jimmy Hagan a chamá-lo à equipa principal. Em 5 anos ao serviço das "Águias", conheceu a glória e também a tristeza das lesões – "A primeira foi em 1974, num Benfica - F. C. Porto, no Estádio da Luz, num lance disputado com o Gabriel: tropecei no calcanhar dele, caí desamparado, de tal forma que fiquei com a perna dobrada para trás"*. Porém, Jordão nunca foi de virar a cara à luta. E se essa época ficou arruinada, logo na seguinte o avançado ergueu-se e correu para sagrar-se no Melhor Marcador do Campeonato Nacional.
Nas épocas ao serviço do Benfica ajudou a vencer 4 Campeonatos e conquistou o desejo de outros clubes em tê-lo no seu plantel. Em 1976 foi para o Zaragoza. Porém, o ano que aí esteve em nada foi feliz. Primeiro, foi o estranho e negativo aval dado pelo médico do clube, o qual o Presidente decidiu ignorar. Depois viriam as tricas de balneário – “De facto, acabei por não ser feliz em Espanha, mas isso não se deveu a limitações físicas, deveu-se às dificuldades criadas pelas intrigas e invejas de um paraguaio chamado Arrua, que temeu que eu o ofuscasse e começou logo a infernizar-me a vida"**.
Voltou a Lisboa, mas ao ver recusado ao seu intento de regressar à “Luz”, foi para Alvalade. Com as cores do Sporting fez parte, com Manuel Fernandes e António Oliveira, de um dos trios atacantes mais temíveis da Europa. Terá, nessas 9 épocas leoninas, tido o apogeu como jogador de futebol. No entanto, aos títulos de Melhor Marcador e de Melhor Jogador do Ano, ambos alcançados em 1980, só conseguiu, em 1979/80 e 1981/82, juntar 2 títulos de Campeão Nacional.
Na selecção a sua ascensão foi igualmente precoce. Ia na primeira temporada como profissional, quando, em Março de 1972, José Augusto chama o avançado para o jogo frente a Chipre. Nos quase 17 anos em que representou Portugal, marcou 15 golos. Talvez os mais importantes estejam ligados ao Euro 84. No derradeiro jogo da Qualificação, frente à URSS, foi ele que, depois de uma grande penalidade "fabricada" por Chalana, converteu o castigo máximo e selou o apuramento. Já na fase final da competição, numa partida de má memória, foram dele os dois golos na meia-final que, por 3-2, Portugal acabou por perder para a França.
Há ainda, na sua carreira, outro momento caricato e relacionado com a selecção. O episódio passou-se já na fase descendente da sua carreira e à beira da participação de Portugal no México 86. Ora, com uma boa ponta final de temporada, a hipótese de Jordão ser convocado para o certame começou a ser veiculada. Porém, tal não aconteceu. Dizem, que com o desgosto decidiu "pendurar as botas". Não demorou muito tempo a repensar a decisão e passado um ano de inactividade, regressou, para mais 2 épocas, ao serviço do Vitória de Setúbal.
Em 1989 retirou-se dos campos e, definitivamente, do futebol. Voltou a estudar; formou-se em Belas Artes e dedica-se agora, com a mesma mestria com que antes pintava os golos, a criativas composições nas telas.

*retirado do artigo publicado em http://armazemleonino.blogspot.com, a 14/01/2009
**retirado do artigo publicado em http://futebolandotramagal.blogspot.com, a 26/08/2008

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