83 - RUI COSTA

Foi na época de 1990/91 que, por empréstimo do Benfica aos minhotos do Fafe, fez a estreia como sénior. Foi também dessa temporada, uma das imagens mais marcantes que guardo enquanto adepto de futebol. Aquele “penalty” que, após 120 minutos de sofrimento, vi rematado na minha direcção, fez-me saltar de alegria. Maior teria sido o júbilo, se o 1,40m que tinha por essa altura, não tivesse impedido, no meio dos pulos da multidão, de ver Rui Costa a festejar o Campeonato do Mundo de sub-20, pendurado nas redes da bancada, mesmo à minha frente!
Os verdadeiros génios constroem-se dessas imagens fortes; constroem-se como os mais brilhantes pedaços do firmamento. Deve ter sido essa luz que Eusébio viu num treino de captação do Benfica. O “Pantera Negra” acercou-se de Rui Costa e disse-lhe – "Miúdo, para ti já chega. Diz-me quem é o teu pai para falar com ele"*. O catraio, apadrinhado por um dos mais cintilantes astros do futebol mundial, cresceu com a “Águia” ao peito. Passados alguns anos, já em 1994, sagrou-se campeão pelos “Encarnados” e, logo ali, soube-se que Rui Costa era dono de outros voos.
Se a partida, mesmo antes de concretizada, já deixa saudades, o regresso enche-se dessas mesmas paixões. Foi assim nessa noite de Verão, quando, no antigo Estádio “da Luz”, o pródigo menino voltou a casa. Coberto pelo violeta da Fiorentina, marcou um golo à sua antiga equipa. Os normais festejos deram lugar às mãos escondendo o choro que cobria a sua face. De pé, o público em ovação, como um beijo que tenta secar as lágrimas de um rosto, mostrou quanta paixão existia entre eles e o jogador.
Rui Costa, o eterno benfiquista, jogava em Itália. A aposta no clube de Florença nunca correu como esperado. O ambicioso projecto dos dirigentes “viola” não deu mais do que 2 Taças e 1 Supertaça italiana. Contudo, a fama de grande condutor foi crescendo, ao ponto do AC Milan começar a ver nele alguém com capacidades para guiar todo o manancial futebolístico “rossoneri”. Para ambos os lados, foi uma bela escolha e os 5 anos de ligação entre o jogador e o emblema, resultaram numa boa serie de troféus, dos quais podemos nomear 1 "Scudetto", 1 Supertaça Europeia e 1 Liga dos Campeões.
Aproximavam-se os últimos tempos de chuteiras calçadas. Como tinha prometido, Rui Costa voltou para terminar a sua carreira, onde a tinha começado e de onde nunca tinha chegado a partir o seu coração. Mais uma vez, o público da “Luz” exaltou a magistralidade dos seus passes precisos, vibrou com as suas jogadas, com a maneira certa de liderar o jogo. Dois anos após o regresso ao Benfica, o fim chegou. Chegou o fim de uma carreira de sucessos, onde só faltou o Campeonato Europeu de selecções, perdido em 2004, naquele que sempre foi o seu Estádio.
Todos os adeptos de futebol, principalmente aqueles que, como eu, viram nele um ídolo, guardarão Rui Costa na memória. Talvez venham a recordá-lo como um homem de princípios que nunca abdicou da sua modéstia. Talvez, por isso, nunca tenha pedido grandes homenagens. Talvez, também por isso, nunca tenha exigido o reconhecimento que merecia! No entanto, aqui fica o meu sincero – Muito obrigado, MAESTRO!

* retirado do artigo publicado em https://fatelasdofutebol.wordpress.com, a 25/05/2008

5 comentários:

manel vitória disse...

Mais um senhor do futebol. Básica-mente, bastou entregar-se de alma e coração ao que fazia. E fazia-o de uma forma correcta: com vontade, sabedoria e humildade. São destes jogadores que, um dos clubes maiores do mundo, precisa. BEM HAJA Rui Costa.

António Omar Spencer disse...

so tinha um gde defeito... ser benfiquista... (através do Facebook, a 31 de Dezembro de 2010)

Bruno Cunha Vitória disse...

Há gente assim... ainda vou ver um dia o Bruno Alves a chorar depois de dar um cacete num jogador do FC Porto!!! (através do Facebook, a 31 de Dezembro de 2010)

Valter Cunha disse...

Acho que é impossível gostar-se de futebol e não se apreciar a classe com que Rui Costa corre com a bola nos pés, sempre de cabeça erguida e a enfrentar os adversários nos olhos; a precisão milimétrica dos seus passes e a colocação perfeita dos seus remates.
Acho que nunca me vou esquecer da alegria e emoção que este grande jogador me deu naquela noite fria e chuvosa de Novembro de 1995, tinha eu 9 anos, quando Rui Costa ao ver o adiantamento do guarda-redes Irlandês escancara a portas do Euro`96 a Portugal com um soberbo chapéu.
Pode não ser nem nunca ter sido considerado o melhor jogador do mundo, mas para mim será sempre o MAIOR e o MELHOR Nº10.

Obrigado Maestro!

(através do Facebook, a 31 de Dezembro de 2010)

Ruben Cunha disse...

Concordo com tudo o que disseste, excepto a parte do "correr". (através do Facebook, a 31 de Dezembro de 2010)