134 - CANTONA

"L'Enfant Terrible"... nunca um epíteto suou tanto a eufemismo quanto este! Duvidam?! Então, vejamos!
Quando, após um bem-sucedido empréstimo ao Martigues, voltou à casa que o formou, o Auxerre, a agressão ao colega Bruno Martini serviria para Eric Cantona encetar uma memorável lista de habilidosas arruaças. Logo no ano seguinte, para enriquecer o seu currículo, uma entrada sobre um oponente levou-o, por um par de jogos, a engrossar a lista dos atletas castigados. Pouca coisa, dirão vocês! Esperem…
Lado-a-lado com o mau feitio, começava também a despontar um "génio da bola". Tal facto fez com que o Olympique de Marseille, numa transferência recorde, decidisse arriscar no rebelde rapaz. Porém, e se na cabeça dos responsáveis pelo clube, a ideia da sua conduta era avaliada como o comportamento de uma criança traquina, o erro de tal apreciação depressa emergiria. Num particular contra o Torpedo de Moscovo, irritado por ter sido substituído, Eric Cantona acabaria a chutar a bola contra os adeptos e de seguida rasgaria a camisola, atirando-a para o chão! Conclusão: para juntar ao castigo de um ano que já tinha na selecção por, nos “media”, ter ofendido o seleccionador gaulês, o avançado ficaria, também no clube, suspenso por um mês!
Para mal de Cantona, a paciência tem limites e no Olympique de Marseille depressa passou de forte aposta, à lista dos atletas a “emprestar”. Seguir-se-ia o Bordeaux e, já no ano seguinte, o Montpellier. Porém, e se no primeiro emblema não há registos de qualquer confusão, na colectividade seguinte a história seria outra. Atirar as chuteiras contra Lemoult, um dos seus colegas de balneário, quase levaria o jogador à expulsão do clube. Valer-lhe-ia a intervenção de alguns dos companheiros, nomeadamente Laurent Blanc e Carlos Valderrama, para que a redução do castigo resultasse apenas em alguns dias.
No final da época voltaria a Marselha, mas nada de melhor tinha a sua postura. Constantes quezílias com o treinador Raymond Goethals, levariam a sua equipa a "despachá-lo" para o modesto Nîmes. Aí, a sua senda continuou! Num jogo para o Campeonato francês atirou a bola ao árbitro, e como se isso não chegasse, em pleno julgamento, ofenderia todos os responsáveis pela sua pena, aumentando o seu castigo em dois meses.
Se em França parecia que ninguém tinha mão nele, a única saída aconselhável era continuar a sua carreira no estrangeiro. Após uma tentativa falhada por parte do Sheffield United, é o Leeds United que acabaria por contratá-lo. Em apenas meia temporada, ajudaria o clube a conquistar a Liga inglesa e tal feito levá-lo-ia até Manchester. Rapidamente conseguiria transformar-se num ídolo dos "Red Devils". Associado à ressurreição do emblema britânico, a sua chegada coincidiria com a Conquista de um novo Campeonato, algo que já não acontecia desde 1967. Daí para a frente foi como previsto. Por um lado, jogadas e passes brilhantes, golos, uma entrega inabalável e uma gloriosa série de títulos. No revés, o feitio ruim, as agressões a policias e a jornalistas, ofensas a árbitros e cuspidelas em adeptos do Leeds. Mas no meio de tanto há um episódio impossível de esquecer. Num jogo contra o Crystal Palace, após mais uma expulsão, Cantona agride, com um espectacular golpe de uma arte marcial qualquer, alguém que estava na bancada. Afinal o dito espectador não passava de um reles “hooligan” e, ainda hoje, o antigo avançado recorda o momento como o mais admirável da sua vida futebolística - "Acredito que é um sonho para alguns dar um pontapé neste tipo de gente. Assim, eu fiz por eles, para que ficassem felizes"*.

*adaptado do artigo publicado em https://www1.folha.uol.com.br, a 04/03/2011

2 comentários:

António Omar Spencer disse...

the king

(Através do Facebook, a 10 de Junho de 2011)

Bruno Cunha Vitória disse...

L'Enfant Terrible"; "The Genious"; "The Bad boy"; "Eric, the King"... um homem multifacetado!!!

(Através do Facebook, a 10 de Junho de 2011)