187 - CADETE

Depois de, em 1987/88, subir aos seniores do Sporting, na temporada seguinte, Jorge Cadete viu-se “emprestado” ao Vitória Futebol Clube. O regresso do jovem atleta a Alvalade, por razão das boas exibições na equipa de Setúbal, envolveu-se das melhores expectativas. O avançado depressa mostrou que tinha muito a dar aos “Verde e Branco” e ninguém ficou espantado quando, logo às primeiras jornadas da campanha de 1989/90, assumiu um papel de monta no plantel leonino. Contudo, apesar de mostrar inequívocas qualidades e da sua presença em campo ser regular, os golos teimaram em aparecer. A primeira grande explosão ficou reservada para a época de 1991/92. Finalmente começou a mostrar a assertividade que nele era espectável, mas o mais engraçado é que, os 25 golos alcançados nesse Campeonato – a melhor marca que conseguiu pelos “Leões” – seriam, ante o endiabrado Ricky, insuficientes para vencer a corrida ao lugar cimeiro da tabela dos Melhor Marcadores.
Essa meta dos “goleadores máximos” atingiu-a no ano seguinte. Ironicamente, dessa feita, bastaram-lhe 18 golos para alcançar tal feito. A época seguinte, com a substituição, no comando técnico leonino, de Sir Bobby Robson por Carlos Queiroz, trouxe a Cadete alguns dissabores – “Foi mais um mal-entendido. Eu era o capitão de equipa e dois companheiros meus estavam a discutir. Eu mandei-os calar e Queiroz pensou que eu tinha começado a discussão”*. O equívoco fez com que, aos olhos do treinador, a sua importância no seio da equipa diminuísse. A sua utilização começou a decrescer e a solução encontrada para o problema acabou por ser o “empréstimo” ao Brescia.
Com a passagem pela Serie A, Cadete entrou numa fase mais negativa da carreira. A saída para Itália resultou num falhanço e o regresso a Lisboa não trouxe mais do que novos litígios com o clube. Na Primavera de 1996 deixou de novo Portugal. Rumou a Glasgow e quando tudo pareceu encaminhar-se, surgiu mais um obstáculo. O processo de inscrição pelo Celtic pareceu não ter fim. Especulou-se que o atraso de seis semanas teve como propósito evitar que o avançado participasse na meia-final da Taça da Escócia, frente aos rivais do Rangers. Verdade ou não, o facto é que Jim Farry, Chefe Executivo da Scottish Football Association, na sequência da investigação que deu o erro como grosseiro, foi demitido do cargo.
Caso à parte, a sua estreia aconteceu num desafio contra o Aberdeen. O início foi no banco de suplentes, mas com o avolumar do “placard”, já nos 4-0 para o Celtic, o treinador Tommy Burns decidiu ter chegado a vez do ponta-de-lança. Não foi preciso muito para se mostrar! Bastou responder a uma desmarcação e, ao primeiro toque na bola, com um belo “chapéu” ao guardião contrário, Cadete fez entrar a bola nas redes adversárias. O que se sucedeu foi ainda mais incrível. O público entrou em delírio e tal foi o barulho dos festejos, que os microfones da BBC, durante largos segundos, não conseguiram captar mais nada!
Com tal arranque, os fãs do clube escocês ganharam um novo ídolo e a cada golo seu começaram a entoar hinos inspiradores: “There’s only one Jorge Cadete, / he puts the ball in the netty, / He’s Portuguese and he scores with ease, / walking in Cadete wonderland”. Ora, pelo meio dos cânticos, renasceu o “homem de área”. A rapidez com que voltou a atacar os lances, a facilidade com que passou a movimentar-se no campo, aliado ao seu poder de elevação, ressuscitaram-no como um atacante temível. Já após a participação no Euro 96, com a porta do sucesso de novo escancarada, a maior resposta deu-a na 2ª temporada passada em Glasgow e com 25 remates certeiros conquistou, não só o topo da tabela dos Melhores Marcadores da edição de 1996/97 da Liga escocesa, como o título de maior artilheiro de toda a Grã-Bretanha, na referida campanha.
O que depois aconteceu, por certo, ninguém estava à espera! Ao que parece, por razão das exigências contratuais negadas pelo clube a Cadete, o jogador e os responsáveis directivos do Celtic entraram em “rota de colisão”. Talvez na pior decisão da sua vida futebolística, o avançado exigiu a saída. Com a transferência para o Celta de Vigo e, posteriormente, para o Benfica, a caminhada desportiva do ponta-de-lança entrou em declínio. Em nenhum dos emblemas conseguiu impor-se e depois das passagens pelos ingleses do Bradford City e do Estrela da Amadora, o atleta suspendeu a actividade profissional.
Durante esse interregno acabou por aceitar um convite para participar num “reality show”. Ainda regressou aos campos, ao passar pelos escoceses do Partick Thistle e pelo Pinhalnovense. Nessa derradeira fase da carreira, o destaque acabou mesmo por ser a sua participação, a pedido do amigo e antigo colega Fernando Mendes, nos Distritais de Beja e ao serviço do São Marcos.
Hoje, depois da experiência como treinador na sua escola de formação, orienta pela primeira vez uma equipa de futebol sénior, o Recreio Desportivo do Algueirão, equipa que milita nos “Regionais” da Associação de Futebol de Lisboa.

*retirado da entrevista publicada em www.cmjornal.pt, a 21/03/2009

2 comentários:

António Real disse...

q saudades deste grande jogador e enorme homem simples e simpatico aquele abraço cadetye

(Através do Facebook, a 18 de Novembro de 2011)

Du Mar disse...

cadete, he puts the ball in the net!

(Através do Facebook, a 18 de Novembro de 2011)