468 - CARVALHO

Nascido no Barreiro, foi nos clubes da sua cidade que Carvalho começou na prática do futebol. Primeiro nas camadas jovens do Operário e, já com idade de sénior, no Luso, o guarda-redes começou logo por dar nas vistas com as suas exibições de gabarito superior. Tendo ali um potencial jogador de classe, logo outros emblemas começaram a sondá-lo para uma possível transferência. Na linha da frente partia o Benfica, mas, incrivelmente, o jovem atleta, nos treinos a que seria chamado, acabaria por não agradar aos responsáveis técnicos das "Águias", acabando por regressar à margem Sul do Rio Tejo. Claro está, sendo um jogador de tanta qualidade, não faltariam oportunidades para conseguir catapultar a sua carreira. A verdadeira chance apareceria, num particular frente ao Sporting, por ocasião do aniversário do emblema barreirense que representava.
É deste modo, contava Carvalho com 21 anos, que, no Verão de 1958, chega a Alvalade um guardião destemido, muito seguro entre os postes e com um físico imponente (há que concordar que um 1,80m não era muito usual num jogador daquela altura!). Apesar dos incontestáveis predicados, a sua vida nos primeiros tempos de "verde e branco" não foi tão fácil quanto se suporia. Ainda assim, logo na partida de arranque desse Campeonato de 1958/59, consegue, frente ao Barreirense, estrear-se como titular. Faz mais uma jornada no "onze" inicial e, a partir desse momento, acaba por perder o lugar para Octávio de Sá. A titularidade só a volta a agarrar umas épocas depois. Coincidência, ou não, essa temporada de 1961/62 marcaria o seu primeiro título de Campeão Nacional. Repetiria o feito por mais duas vezes - 1965/66 e 1969/70 - e venceria, também, a Taça de Portugal de 1962/63. Contudo, o troféu que marcaria a sua carreira seria, sem qualquer sombra de dúvida, a edição de 1963/64 da Taça dos Vencedores das Taças. Pode dizer que Carvalho foi um dos principais obreiros dessa monumental campanha europeia. E se o facto de ter sido totalista já, por si só, é prova disso mesmo, a sua presença em campo representava, para todos os seus colegas, muito mais. Como é sabido, Carvalho era um Homem de convicções fortes, conhecido pelo seu carácter determinado e valentia. Um dos episódios que se conta a esse respeito, passou-se no jogo que daria a vitória na competição. Então, nesse desafio da finalíssima, frente ao MTK de Budapeste, Pérides, num lance disputado a meio campo, acaba por se "encolher" na luta pela bola. O resultado seria uma jogada perigosíssima dos húngaros... e um par de estalos para o médio, para que ele perdesse os nervos, dados pelo próprio guarda-redes!!! Outro episódio que demonstra a sua personalidade, e vontade de dizer sempre o que pensava, ocorreu já no Mundial de 1966. Em Inglaterra, o jogo de partida para Portugal seria frente à Bulgária. No alinhamento inicial constava o nome de Carvalho. O pior é que, para o seguinte, o seu nome seria substituído pelo de José Pereira. Carvalho, indignado com a situação, acusaria o seleccionador Manuel da Luz Afonso (não confundir com o treinador, Otto Glória) de ser anti-sportinguista, acabando, por vontade própria, por abandonar a selecção nacional, logo após o dito certame.
Polémicas à parte, Carvalho, por todos estes episódios relatados e por muito mais, acabaria por se tornar numa figura mítica do futebol nacional. Entre os "Leões", as suas 13 temporadas como jogador, mais umas quantas como treinador de guarda-redes, acabariam por o pôr na categoria dos notáveis, acabando mesmo por, em 2011, ser distinguido com o Prémio Stromp.

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