1114 - MANUEL DA LUZ AFONSO

Seria Maurício Vieira de Brito que o traria para o Benfica. Depois de um primeiro convite recusado e da desilusão patente no Presidente das “Águias”, o empresário ligado ao ramo da cortiça decidiria voltar atrás na decisão inicial e abraçar um projecto que, segundo o propósito, haveria de ter projecção europeia.
Em 1958, numa altura em que já pouco sobejava do conjunto que tinha ganho a Taça Latina de 1950, Manuel da Luz Afonso assumiria o cargo de Director Desportivo. Como responsável máximo do Departamento de Futebol “encarnado”, a edificação de uma equipa tão forte quanto a de Rogério Carvalho & Cª tornar-se-ia na sua principal tarefa. A chegada do treinador húngaro Béla Guttmann, campeão nacional pelo FC Porto, como que lançaria o mote para a concretização de um Benfica “internacional”.
Como o “homem na sombra”, o patrão dos bastidores benfiquistas, 1961 marcaria a execução da empresa iniciada, sensivelmente, 3 anos antes. Depois da vitória em Berna frente ao Barcelona de Kubala, Kocsis e Czibor, seguir-se-ia, logo na temporada imediata, a conquista da 2ª Taça dos Clubes Campeões Europeus. Manuel da Luz Afonso pouco mais tempo passaria à frente dos destinos do futebol das “Águias”. Ainda assim, nos 2 anos seguintes, e apesar da derrota frente ao AC Milan, tempo para levar o Benfica à 3ª final consecutiva daquela que era a prova de maior monta organizada pela UEFA.
Com mais 4 Campeonatos e 3 Taças de Portugal no currículo, largaria a modalidade com o apetite de um futuro afastado do universo desportivo. Mas o descanso desejado e planeado seria prontamente interrompido com o convite endereçado pelos responsáveis da Federação Portuguesa de Futebol. Ao assumir o cargo de seleccionar nacional, lançaria os alicerces de uma das mais emblemáticas caminhadas do desporto luso e sem receber qualquer compensação monetária – “Em Inglaterra, os jornalistas estrangeiros perguntavam-me, sistematicamente, qual a equipa que eu treinava em Portugal. Quando eu lhes dizia que não treinava equipa nenhuma, que negociava em cortiça, riam-se em bandeiras desbragadas, pensando que estávamos todos a gozar com eles. Penso que muitos deles nem sequer acreditaram que Portugal tinha um seleccionador… amador! ”*.
Com uma campanha de apuramento exemplar, a participação no Mundial de 1966 confirmaria o nosso país como, muito mais do que uma surpresa, como uma certeza do futebol. Com o 3º lugar conquistado no certame britânico, dar-se-ia a despedida de uma figura emblemática do “desporto rei” português. Para além dos êxitos ao serviço do Benfica e da Selecção Nacional, Manuel da Luz Afonso seria reconhecido como uma pessoa de índole recta e, apesar de algumas acusações, de carácter e decisões imparciais.

*retirado de “100 figuras do futebol português”, de António Simões e Homero Serpa; A Bola (1995)

Sem comentários: