683 - CANIGGIA

Apesar de todos o reconhecermos como um afamado futebolista, a verdade é que a primeira paixão de Caniggia haveria de ser o atletismo. A prática de várias disciplinas, principalmente as de velocidade, dariam ao jovem desportista algumas das qualidades que o fariam destacar-se nos relvados. Nesse sentido, ele que entraria para as escolas do River Plate a meio da adolescência, a rapidez com que conseguia movimentar-se era a sua principal arma. À custa dessa característica haveria de ganhar o epíteto de “Hijo del Viento” (Filho do Vento). Contudo, essa não era a sua única habilidade e a maneira como trabalhava a bola com os pés, haveria de, igualmente, contribuir para o seu sucesso.
Na senda dos êxitos, também a subida aos seniores haveria de ser abençoada. Promovido em 1985, os primeiros anos que passaria na equipa principal, dariam um verdadeiro impulso à sua imberbe carreira. Campeão argentino, vencedor da Copa dos Libertadores e da Taça Intercontinental, isto tudo em 1986, os troféus ganhos pelo River Plate ajudá-lo-iam a lançar-se do outro lado do Atlântico.
Ora, é já com o estatuto de internacional que o avançado chega a Itália. No Verona, ainda na ressaca do título conseguido pelo clube uns anos antes, Caniggia apruma-se como uma das grandes estrelas. No entanto, essa sua época de estreia no “Calcio”, acabaria por ficar marcada por uma grave lesão e o jogador ficaria aquém das expectativas criadas.
Na temporada de 1989/90, sensivelmente um ano após a sua chegada a Itália, o atleta muda de emblema. No Atalanta, ainda que longe dos títulos, acabaria por viver o seu melhor período em termos clubísticos. Apesar de não ser um avançado com tendência para ocupar a grande-área, a sua capacidade de distribuir jogo, mormente, a habilidade de fazer o último passe, fortaleceriam, em muito, toda a equipa. Essa sua valia, só equiparada à de Glenn Strömberg (ex-Benfica), sustentariam o grupo de uma tal forma que, durante esses anos, os de Bérgamo passariam a marcar presença na luta pelos “lugares europeus”.
Todavia, a camisola que o haveria de tornar num dos jogadores mais mediáticos dos anos 90, acabaria por ser a “alvi-celeste”. Pela Argentina haveria de ser convocado para 3 Mundiais, tendo ficado afastado de um 4º (França 1998), pela recusa em cumprir as ordens de Daniel Passarela, o seleccionar que rejeitava convocar atletas com o cabelo comprido!!!
O mais engraçado é que também naqueles em que participaria, a sua presença acabaria por originar, ou estar envolta, nalgumas histórias curiosas. Tudo começa no Itália 90, quando o seu nome parecia não estar nos planos do técnico Carlos Bilardo. É então que Maradona entra em cena. Ao que consta, “El Pibe” terá dito ao seleccionador argentino que, ou incluía Caniggia na convocatória, ou, então, também ele não estaria presente no torneio. O “aviso” parece ter surtido efeito. Caniggia, não só seria chamado, como seria uma das principais figuras da equipa na caminhada até à final de Roma.
Nos Estados Unidos, quatro anos depois, é o castigo por consumo de cocaína que iria pôr em discussão a validade da sua presença. Tendo, ao serviço da Roma, acusado positivo num controlo anti-doping, o atleta acabaria por ficar suspenso durante toda a temporada de 1993/94. Contudo, com o aproximar de mais um Campeonato do Mundo, o seu nome volta a ser cogitado nos planos da selecção. Muitas vozes se levantariam contra a sua presença. No entanto, Caniggia provaria a todos o erro da sua avaliação e, mais uma vez, encheria os campos com brilhantes exibições.
Em 2002, já na fase descendente da sua carreira, Caniggia é convocado para disputar o certame organizado pelo Japão e Coreia do Sul. Tendo do seleccionador, como o próprio jogador haveria de afirmar, a garantia de ocupar um lugar no “onze” inicial, o atacante, devido a uma lesão sofrida na final da Taça da Escócia, acaba por nunca entrar em campo. O pior é que, para além de ter passado todos os jogos na condição de suplente, e de ter visto a sua equipa a ser eliminada na fase de grupos, Caniggia conseguiria ainda a proeza de, mesmo estando no “banco”, ter averbado um cartão vermelho.
Claro está que, nisto da “Equipa das Pampas”, nem só de Mundiais viveu a carreira de Caniggia. Aliás, seria noutras provas que o jogador conseguiria os maiores títulos do seu currículo. Na Copa América, igualmente com 3 participações, o atacante, numa equipa em que faziam parte Batistuta ou Simeone, venceria a edição de 1991. Também a Taça das Confederações faria parte do seu rol de triunfos e a edição de 1992, a primeira da história, contaria com a vitória da Argentina.
Voltando ao seu percurso clubístico, há ainda algumas coisas para contar. Logo a seguir ao Mundial de 1994, com a ajuda financeira da Parmalat, à altura o patrocinador do Benfica, Caniggia tem uma curta passagem pelo Estádio da “Luz”. Depois vem o regresso à Argentina, a camisola do Boca Juniors e o famoso beijo na boca de Maradona. É durante esse tempo que a desgraça se abate na sua vida. O suicídio da sua mãe, leva-o a um longo luto e a um afastamento das actividades desportivas, que o faria retirar-se durante um ano.
Em 1999 regressa à Europa e começa aí um périplo que o levaria a passar por alguns campeonatos. Depois de ajudar o Atalanta a regressar à Serie A (1999/00), ingressa na Liga escocesa, onde começa por vestir as cores de Dundee FC. As boas prestações conseguidas nessa temporada de 2000/01, fazem com que o Rangers aposte na sua contratação. A mudança para Glasgow acabaria por ser prolífera, com o jogador a acumular uma série de troféus.
Se depois de ter jogado no Qatar SC, muitos pensariam que de Caniggia nada mais se veria, então erraram. Em 2012, já com 45 anos de idade, o argentino ingressa nos amadores do Wembley FC. Numa jogada de promoção, financiada por um dos patrocinadores da Taça de Inglaterra – a cervejeira Budweiser –, o pequeno clube contrata antigas estrelas do futebol. Ao lado de Daniel Dichio, Martin Keown, Ray Parlour, Graeme Le Saux, Jaime Moreno ou Brian McBride, Caniggia faz a sua última aparição, participando nas primeiras rondas da já referida prova.

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