689 - NUNO AFONSO

Se a ideia que temos de um defesa central, é a de alguém que nada mais faz do que destruir jogadas, então não vamos conseguir falar de Nuno Afonso!
Desde muito cedo, deu a entender que a sua técnica era bem superior à dos seus colegas de posição. Bom a jogar com os pés, o jovem defesa era incapaz de, sem nexo, pontapear uma bola. Esse seu trejeito, já depois de um longo percurso nas “escolas” do Benfica, valer-lhe-ia um lugar no plantel principal. No entanto, numa equipa que, em 1993/94, contava com Mozer, Hélder ou William, as chances para Nuno Afonso acabariam por não ser muitas.
Sem fugir a essa realidade, a verdade é que a sua oportunidade lá chegaria. É deste modo que aos 19 anos, e pela primeira vez, é chamado ao “onze” inicial das “Águias”. Se a situação, só por si, já seria motivo para alguns nervos, então, a derrota sofrida na jornada anterior, ainda poria mais pressão sobre o atleta. Todavia, já em campo, o jovem central em nada parecia amedrontado. Nuno Afonso faria uma exibição impar. Irrepreensível nas funções defensivas, o defesa teria ainda tempo para, numa jogada de impecável recorte técnico, centrar para a grande área adversária e assistir Mozer, para um dos golos da tarde.
Se essa vitória sobre o Belenenses, como muitos o reconheceriam, sublinhava um futuro brilhante para Nuno Afonso, o que haveria de acontecer seria um pouco diferente. Com uma carreira cimentada pelas presenças nas jovens selecções portuguesas, ao atleta eram reconhecidas qualidades suficientes para singrar no mundo do futebol. Contudo, no “defeso” de 1994, e com o título de campeão nacional a abrilhantar o seu currículo, a saída de Toni e a revolução perpetrada pela chegada de Artur Jorge, poriam o jogador na porta de saída.
Dispensado da “Luz”, as duas épocas que se seguiriam voltariam a mostrar Nuno Afonso como um jogador a ter em conta. Belenenses e Campomaiorense, sempre na 1ª divisão, seriam os emblemas que se seguiriam na sua carreira. As exibições que conseguiria, mormente ao serviço do clube alentejano, levá-lo-iam a ser chamado aos Jogos Olímpicos de 1996. Depois de, numa primeira listagem, ter ficado de fora, a lesão de Litos faz com o defesa, já com o torneio a decorrer, seja repescado na convocatória.
A participação de Portugal nas Olimpíadas, onde atingiria o 4º posto, faria com que a cotação dos atletas presentes em Atlanta, começasse a subir. Esse facto, levaria a que de Espanha, num Salamanca orientado por João Alves e recheado de nomes bem conhecidos do futebol português, surgisse uma nova proposta de contrato.
Contudo, a passagem pelo 2º escalão espanhol, muito para além de ajudar o atleta a catapultar-se, haveria de marcar uma mudança de paradigma. Sem conseguir um lugar seguro no plantel, Nuno Afonso, com o regresso a Portugal no ano seguinte, entraria numa fase menos produtiva. Jogando, ainda assim, quase sempre no escalão máximo, o defesa, excepção feita à passagem pela Vila das Aves, raramente atingiria o nível exibicional dos seus primeiros anos de sénior.
Vitória de Setúbal, Paços de Ferreira, Marítimo, o já referido Desportivo das Aves, Oliveirense e, ainda em Espanha, o modesto Díter Zafra, seriam os restantes clubes da sua carreira. Nisto, e talvez desapontado pelo rumo que o seu trajecto profissional estaria a tomar, Nuno Afonso, ainda longe de completar 30 anos de idade, decide abandonar os relvados. Hoje em dia, a residir em Salamanca, é instrutor e dono de dois clubes de padel. A modalidade, com origem no ténis, encontra-se em franca ascensão no país de “nuestros hermanos“, e tem no antigo futebolista um dos maiores fãs e impulsionadores!

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