456 - HUMBERTO COELHO

Não sendo um grande fã de comparações, e, por certo, também não o serão aqueles das quais são alvo, há algumas que têm o condão de nos deixar orgulhosos. Nesse sentido, um central conseguir ostentar o epiteto de "Beckenbauer Português" é, sem sombra de dúvidas, um desses bons exemplos. A alcunha é pertença de Humberto Coelho e, só por si, dá logo para aferir da qualidade da sua carreira.
Começou bem novo, e, desde cedo, mostrou características de um central imponente, daqueles que, só o nome, faz tremer qualquer avançado. Aos 18 anos já se estreava com a camisola principal das "Águias". Incrivelmente, num plantel que apresentava a maioria dos jogadores que haviam disputado as 5 finais europeias pelo Benfica, o jovem Humberto conseguiria impor-se como titular. Ainda nessa temporada de 1968/69, a tal da estreia, o seu brilhante desempenho valer-lhe-ia a primeira chamada à Selecção Nacional. Os sucessos como profissional sucediam-se-lhe. A cada partida, Humberto crescia mais, tornava-se maior. O seu jogo aéreo era impressionante; o seu sentido posicional era um estrondo; a maneira como tomava consciência de tudo o que corria à sua volta era só para os predestinados; e depois, tinha algumas coisas que faltavam à maioria dos da sua posição: sabia jogar com os pés e marcava muitos golos.
Todos estes predicados deram ao Benfica a segurança para a conquista de muitos títulos. Pelos "Encarnados" venceria, no cômputo das suas duas passagens (14 temporadas), 14 títulos: 8 Campeonatos, 5 Taças de Portugal e 1 Supertaça.
Já em 1975 surge-lhe uma proposta do PSG. Para Paris, abalava da "Luz" aquele que, no distante Verão de 1968, numa tournée pelo Brasil, Otto Glória tinha incumbido de "anular" Pelé - "Eu marquei-o e ele não marcou nenhum golo". Contudo, na capital francesa, o desempenho da sua equipa, acabaria por não ser condizente com a sua qualidade. A somar ao desaire colectivo, uma grave lesão num joelho, já no decorrer da sua segunda época, põe Humberto Coelho à margem das escolhas para o "onze". Pensa em sair. Mas ao contrário dos seus intentos, a direcção do clube parisiense tenta vendê-lo para o Internacional de Porto Alegre. Para Humberto, a ideia de tal transferência está longe do conceito de idílico. Ainda assim viaja para o Brasil. Na bagagem leva o intuito de arruinar as negociações. Consegue-o, exigindo um salário astronómico.
Regressa a Lisboa, mas pelo meio faz ainda uma, habitual naqueles tempos, passagem pelos EUA (Las Vegas Quicksilver). Assim, para a temporada de 1977/78 estava de volta um dos grandes símbolos do Benfica. Humberto era grande. No entanto, não o era somente pelas suas capacidades futebolísticas. Quem com ele partilhou os relvados, sabe, melhor do que ninguém, que o antigo defesa era, também ele, um líder; Humberto Coelho era a voz de comando, o indivíduo certo para lidar fosse que grupo fosse. Por essa razão exibiu a braçadeira de capitão, tanto no Benfica, como por Portugal. Com a "Camisola das Quinas" conseguiu ainda outro feito: o de igualar Eusébio no recorde de jogos internacionais. Mas se o orgulho de representar o seu país foi sempre inegável, seria também com as nossas cores que veria o precipitar do fim da carreira. Malfadada, não só essa partida entre Portugal e Finlândia resultou numa grave lesão, como fez com que Humberto Coelho perdesse a oportunidade de disputar um grande certame de selecções, o Euro 84.
Já depois de "penduradas as chuteiras", Humberto Coelho passou à condição de treinador. Começou no Sp.Braga, passou pelo Salgueiros, mas o grande momento nessas funções vivê-lo-ia por Portugal. Em jeito de compensação, apurou a nossa selecção para o Euro 2000. Na Holanda e Bélgica conseguiria o brilharete de, no "Grupo da Morte" (Inglaterra; Alemanha; Roménia), conseguir passar em primeiro. Conduziu-nos às meias-finais e só não chegámos à derradeira partida, como todos temos na memória, por causa de um controverso penalty.

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