457 - CARLOS MANUEL

Começaria bem cedo a mostrar imensa habilidade para a prática do desporto. Acabaria a experimentar o hóquei em patins, o ténis de mesa, mas o futebol emergiria como a paixão maior e os internacionais Vítor Damas e Peres como os seus grandes ídolos. Tentou o FC Barreirense. Disseram-lhe para vir na semana seguinte. Então, decidiu-se pela CUF. Nos treinos de captação chamaria à atenção dos responsáveis técnicos. Entre tantos jovens a tentarem a sorte e a acabarem preteridos (Chalana, um deles!), Carlos Manuel seria aceite e, alguns anos depois, a temporada de 1975/76 viria a marcar a sua estreia na primeira categoria da equipa “fabril”.
Com um jogo musculado, por certo reflexo da vida como metalúrgico da CP, mas cheio de técnica, rapidez e visão de jogo, Carlos Manuel facilmente conseguiria um lugar de destaque no “onze” da CUF. Depois da estreia na 1ª divisão e de outras duas épocas passadas no segundo escalão, um impasse nas negociações para a renovação do seu contrato, levá-lo-ia a aceitar o convite de Manuel Oliveira, treinador dos rivais do FC Barreirense. A verdade é que a qualidade do jogo por si apresentado durante a campanha de 1978/79, depressa faria com o que o Estádio D. Manuel de Mello viesse a transformar-se num palco pequeno demais para o médio. A prova de tal aferição surgiria um ano depois, com FC Porto e o Sporting já na corrida, com a transferência para o Benfica. Na Luz, logo no ano da sua chegada, a constância exibicional levá-lo-ia a chegar à principal selecção lusa. Seguir-se-iam, nas épocas seguintes, as conquistas de 4 Campeonatos Nacionais, 5 Taças de Portugal e 2 Supertaças. Faltar-lhe-ia o troféu a consagrar de toda uma geração nas “Águias”, a Taça UEFA de 1982/83, perdida na final para o Anderlecht. Ainda assim, teria o mérito de atingir outras metas. Marcaria presença no Euro 84 e repetiria a convocatória para o Mundial de 1986. Aliás, o grande momento da qualificação a si ficaria directamente relacionado quando, na última jornada dessa campanha, em Estugarda, o jogador concretizaria um golo espectacular, a selar a vitória frente à Republica Federal da Alemanha. Já no certame realizado no México, a história seria bem diferente. Assombrada pelo "Caso Saltillo", a prestação de Portugal ficaria, também no campo desportivo, manchada. Nesse contexto, o centrocampista transformar-se-ia num das principais caras pelas revindicações feitas pelos atletas e após a chegada a Lisboa, tal como tinha prometido, não mais envergaria a “camisola das quinas”.
Estranha seria também a história da sua saída do Benfica, com o jogador, a meio da temporada de 1987/88 a transferir-se para o FC Sion. Muita controvérsia emergiria da partida do médio, com o nome de Gaspar Ramos a ser indicado como o principal responsável pela ruptura entre o atleta e o emblema lisboeta. Dir-se-ia muito mais, com o referido dirigente benfiquista hipoteticamente a oferecer 5000 contos ao médio, para que não mais regressasse aos “Encarnados”. Voltaria a Portugal para, na temporada de 1988/89, passar a representar o Sporting. Apresentado como um dos principais trunfos conseguidos pelo Presidente Jorge Gonçalves, a qualidade das suas exibições transformá-lo-iam num dos melhores jogadores da época. Tais prestações dar-lhe-iam um prémio, com Manuel José, no ano seguinte ao da sua entrada em Alvalade, a nomeá-lo capitão. Ganharia também o Prémio Stromp. Todavia, o termo da sua ligação com os “Leões” chegaria com a contratação de um novo técnico – "Com Raul Águas só jogavam os amigos"*. Já resto da carreira fá-la-ia de passagens pelo Boavista e pelo Estoril Praia. Aliás, seria no clube da "Linha de Cascais" que Carlos Manuel faria a transição para a carreira de treinador. Nessas funções passaria por inúmeros emblemas nacionais, tais como Salgueiros, Sporting, Sporting de Braga, Campomaiorense ou Santa Clara. Também teria experiências em África, onde assumiria as funções de técnico no 1º de Agosto de Angola e de seleccionador nacional da Guiné-Bissau.

*retirado de de “100 figuras do futebol português”, de António Simões e Homero Serpa, A Bola, 1996

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