996 - CAIADO

Se a habilidade técnica impelia Fernando Caiado para zonas mais avançadas do terreno de jogo, já a sua compleição física, não muito propensa a choques titânicos, haveria de puxá-lo um pouco mais para trás. Tal equilíbrio, polido quando já vestia de “axadrezado”, transformá-lo-ia num grande futebolista. Tão bom mostraria ser que, mesmo a jogar num Boavista bem distante daquele a que estamos habituados, a selecção de Portugal acabaria por surgir no seu percurso como um passo lógico e bem merecido.
A estreia com a principal “camisola das quinas”, sob a alçada do seleccionador Tavares da Silva, aconteceria já no final da temporada de 1945/46. Essa chamada, a rematar a sua primeira época no patamar maior do nosso futebol, serviria para sublinhar a rápida valorização do jogador. Com o começo ainda ali bem perto, a noção de que os capítulos iniciais da sua carreira tinham sido escritos no segundo escalão, ainda mais enalteceriam a ascensão de Caiado. Porém, a internacionalização conseguida frente à República da Irlanda, acabaria por trazer resultados aquém do esperado. Mesmo tendo em conta as qualidades do interior esquerdo, a verdade é que a falta de interesse de outros clubes seria difícil de explicar.
A relutância na sua contratação acabaria mesmo por conhecer um fim. Mantendo-se, durante mais alguns anos, como a maior estrela do Boavista, só para a campanha de 1952/53 é que um emblema de outra monta decidiria ir no seu encalço. Com mais 5 internacionalizações a colorir o seu currículo, seria o Benfica a comprometer-se com o atleta. A mudança para Lisboa, de forma definitiva, catapultá-lo-ia para os anais do desporto português. Nos anos ao serviço das “Águias”, acabaria por fixar-se na selecção como um dos grandes estrategas do conjunto luso. Também no clube, a sua presença ajudaria a sublinhar a ideia de um conjunto de natureza universal. Ao lado de José Bastos, Félix Antunes, Francisco Moreira, Julinho ou Rogério de Carvalho, todos eles presentes na conquista da Taça Latina de 1950, Fernando Caiado seria uma das peças na ligação entre esse grupo e os bicampeões europeus.
Em 1959, Caiado resolveria ser a altura certa para terminar a carreira como futebolista. Com um palmarés rico, no qual exibia a glória em 2 Campeonatos e 4 Taças de Portugal, o antigo médio decidiria manter-se ligado à modalidade. De forma quase imediata, e aproveitando a inteligência que sempre havia mostrado em campo, o Benfica endereçar-lhe-ia um convite para integrar a sua equipa técnica. Como adjunto, tornar-se-ia no principal ajudante de Béla Guttmann nas campanhas vitoriosas da Taça dos Clubes Campeões Europeus.
Nas funções de técnico, manter-se-ia na “Luz” por mais alguns anos. Chegaria, em substituição do referido treinador húngaro, a liderar o Benfica na final da Taça de Portugal de 1961/62. Depois dessa vitória frente ao Vitória de Setúbal, só voltaria ao leme de uma equipa aquando da sua saída para o Sporting de Braga. Antes ainda, a presença como adjunto de Otto Glória no Mundial de 1966. Depois dar-se-ia o regresso a Lisboa, dessa feita para comandar o Sporting Clube de Portugal. No seu trajecto como técnico, caminhada feita por mais de duas décadas, tempo ainda para trabalhar na 1ª divisão com Boavista, CUF, Vitória de Guimarães ou Sporting de Espinho.

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