152 - JOÃO ALVES

Como neto de Carlos Alves, antigo internacional português, herdou dele as luvas pretas. Não as ditas propriamente, mas o hábito de usar um amuleto igual ao que um dia uma rapariga entregara ao seu avô antes de uma partida frente ao Benfica, jogava ele no Carcavelinhos.
Provavelmente, quando começou a usar as luvas nunca interessou a João Alves a fortuna que tal poderia trazer. O importante era homenagear o homem que, falecido dois dias antes, o tinha acompanhado a vida toda e com o qual tinha feito a viagem a Lisboa, para ir prestar testes nos juniores do Benfica. Já como elemento das “escolas encarnadas”, rapidamente mostrou as qualidades que viriam a confirmá-lo como um craque. Inteligente, João Alves sabia pensar o jogo de forma brilhante, sempre um passo à frente dos seus adversários e, por vezes, adiante até dos seus colegas de equipa. Tais características, fizeram dele um pensador de jogo e o resultado traduzir-se-ia num rol infinito de jogadas construídas para que os seus companheiros, ou até mesmo ele, pudessem concluir em golo.
Terminada a formação e depois de uma passagem pelas “reservas”, João Alves seria emprestado ao Varzim. Passada a época nos seniores do emblema poveiro, o seu regresso às "Águias" parecia mais que confirmado. No entanto, o impensável aconteceria! Resultado de um desentendimento com António Simões, num jogo de pré-época em homenagem a Santana, o jovem jogador viria o seu estatuto passar de “grande promessa” a “excedentário”. Acabaria transferido para o Montijo, mas com tão bons desempenhos, uma temporada bastaria para que um dos nomes míticos do futebol português nele reparasse.
Agradado com as suas qualidades, José Maria Pedroto, à frente do Boavista de 1974/75, pediria a sua contratação. Em 2 anos no Bessa, o médio ajudaria a ganhar 2 Taças de Portugal. Na primeira final, frente ao Benfica, ironicamente marcaria o golo que ditaria a vitória e no final da partida, ainda magoado com o episódio da referida contenda, João Alves desabafaria com os jornalistas – “Provei aos dirigentes do Benfica que não me quiseram no clube que, afinal, sabia jogar futebol”*. Todavia, muito mais do que a confirmação das suas qualidades, a certeza de que ali estava um executante excepcional, levaria à cobiça de outros emblemas. De Espanha chegaria a proposta que faria o centrocampista emigrar. Ao serviço do Salamanca, daria continuidade às boas exibições e, principalmente, conseguiria aquilo que muitos considerariam impossível e terminaria a temporada de 1977/78, à frente de nomes como Cruijff, Neeskens e Kempes, eleito o melhor estrangeiro a actuar na La Liga.
Já a sua segunda aventura no estrangeiro não correria tão bem. Após o regresso a Portugal para jogar a época de 1978/79 ao serviço do Benfica, surgiria a oportunidade para representar o Paris Saint-Germain. Na capital francesa, dessa feita, a sorte ser-lhe-ia madrasta e uma grave lesão, contraída logo nas jornadas iniciais, afastá-lo-ia dos relvados por grande parte da referida campanha. Acabaria por voltar ao emblema do seu coração, para, no "Estádio da Luz", sofrer mais uma das grandes desilusões da sua carreira e não marcar presença na final da Taça UEFA de 1983, frente ao Anderlecht- “Só Eriksson poderia dizer porque não me pôs na equipa, depois de uma época inteira a jogar e a fazer grandes exibições. Mas se foi só por ter chegado atrasado a um treino, pareceu-me injusto de mais…”**.
Mais uma vez com as cores do Boavista, o médio encetaria nova etapa no futebol. Depois de ter entrado no Bessa no Verão de 1983 e de ter começado a temporada de 1984/85 ainda como atleta, a saída de Mário Wilson do comando técnico "axadrezado", abriria a João Alves a oportunidade para iniciar a sua vida "nos bancos". Como treinador, passado alguns anos e à frente do Estrela da Amadora de 1989/90, levantaria a 5ª Taça de Portugal do seu currículo e conseguiria, atrás do seu antigo “mestre” José Maria Pedroto, alcançar a 2ª posição das figuras mais condecoradas na referida competição.
Mesmo ao saber que essa vitória na “Prova Rainha” continua a ser o seu único título como treinador e de isso parecer pouco no desenhar do seu palmarés, a verdade é que João Alves pode orgulhar-se de outras marcas dignas de registo. Uma delas, indesmentível, é o “olho” que possui para detectar novas “estrelas”, fazendo parte das suas descobertas craques como Paulo Bento, Pedro Barbosa, Abel Xavier, Catanha e Pauleta. Para além desse facto, nessa sua caminhada como técnico conta com diversas passagens por emblemas da 1ª divisão portuguesa. Contudo, actualmente está à frente dos destinos do Servette, onde, após ter conseguido a subida ao principal escalão do Campeonato suíço, vai tentar esta temporada, com a ajuda do seu filho Carlos Alves (adjunto) e de Costinha (director-desportivo), a conquista de novas metas para o emblema helvético.

*retirado da biografia publicada em https://sjogadores.pt/
**retirado de https://serbenfiquista.com/forum/index.php?topic=22362.90, publicado por “Ednilson” a 28/02/2008

2 comentários:

Gabriel Guerreiro (artista fotográfico) disse...

Então Senhor Cromo..e a passagem deste treinador pelo Farense durante 2 épocas?!?! :P Imperdoável, imperdoável!!!

cromosemcaderneta@gmail.com disse...

A carreira deste senhor no futebol é bem longa e com muitos marcos dignos de registo! Não querendo tornar o "post" muito maçudo, dei mais destaque à sua carreira de jogador, fazendo também uma chamada de atenção para os episódios mais importantes enquanto treinador... como a referida vitória na Taça em que derrotou o Farense!!! :D