433 - PLATINI

Associar Michel Platini a um clube tão modesto quanto o AS Joeuf parece, hoje que conhecemos a sua carreira, um pouco surpreendente. Contudo, seria no emblema da terra onde cresceu que o médio haveria de dar os primeiros passos no mundo do futebol. Nesse modesto contexto, após cumprida toda a formação, o atleta, por razão de um torneio para jovens, revelar-se-ia de uma habilidade bem acima da média. A aludida exibição, frente ao Metz, faria com que os responsáveis pelo emblema sediado no nordeste gaulês convidassem o jogador a realizar alguns testes. No entanto, combinada a data, a oportunidade sairia gorada, com o criativo centrocampista a lesionar-se uns dias antes. Já a chance seguinte também não correria de feição, com Platini, durante os testes físicos, a perder os sentidos e a ver o médico a diagnosticar-lhe uma debilidade cardio-respiratória.
Não seria o Metz, acabaria por ser o Nancy a apostar nele para a temporada de 1972/73. Ora, por razão do seu pai, Aldo Platini, ali ter feito grande parte da carreira futebolística, o dito clube já não era um lugar estranho para Michel. Provavelmente, o tal “passado familiar” até terá tido algum peso na sua contratação. A verdade é que, com um “hat-trick” na estreia pelas “reservas”, o jovem intérprete rapidamente demonstraria o valor que tinha para acrescentar ao grupo principal. Infelizmente para si, os primeiros anos com o novo clube arrastá-lo-iam por diversas lesões. O resultado seriam épocas em que intercalaria bons períodos com outros mais discretos. Apesar de tudo, as suas qualidades ficariam bem patentes, com Platini a revelar-se um executante cerebral, com uma técnica superior à média e imbatível na marcação livres-directos.
Tanta classe, a 27 de Março de 1976, levá-lo-ia à estreia na principal selecção gaulesa. Quase um par de anos após essa partida frente à Checoslováquia, numa altura em que já era um dos nomes habituais nas convocatórias da equipa francesa, Michel Platini, num episódio peculiar, haveria de sublinhar toda a sua classe. A partida, agendada para Nápoles, no contexto de um encontro de preparação para o Mundial de 1978, jogava-se frente a Itália. Na sequência de uma falta, é assinalado um livre. O médio tomaria para si a responsabilidade da marcação e, com Dino Zoff na baliza adversária, remata e faz golo. Todavia, o árbitro diria que não tinha apitado e mandaria repetir o castigo. Sem deixar atemorizar-se pelo contratempo, Platini prepararia novamente o esférico e… outra vez golo!
Seriam histórias como a relatada no parágrafo anterior, tal como o golo que marcaria contra a Bulgária e que haveria de selar o apuramento para o Mundial de 1978, que fariam com que Platini continuasse a garantir a presença nas convocatórias dos "Bleus". Com a chamada para o Campeonato do Mundo de selecções a projectar-se como a oportunidade certa para o “10” gaulês conseguir sublinhar-se no futebol como um intérprete de cariz superior, Platini, que umas semanas antes, com um golo seu, tinha ajudado o Nancy a erguer a Coupe de France de 1977/78, veria no certame realizado na Argentina uma boa parte dos focos apontados para si. No entanto, a verdade é que as prestações individuais do atleta, em consonância com as colectivas, seriam auferidas como paupérrimas, ao ponto da França não ter passado da Fase de Grupos.
Depois de defraudadas tão grandes expectativas, muitos dedos acabariam apontados ao atleta. Pior ainda, seriam os críticos a indicarem-no como inapto para a modalidade, quando, na temporada seguinte, outra lesão deixaria o médio de fora da campanha europeia do Nancy. Apesar de tudo, das mazelas e dos apupos que passou a ouvir com frequência, os grandes emblemas não deixariam as aferições feitas às suas exibições serem afectadas por tais protestos. Assim, no Verão de 1979, o Saint-Étienne, à altura uma das mais importantes colectividades de França e da Europa, haveria de contratá-lo. As 3 épocas passadas nos “Verts”, para além da conquista da Ligue 1 de 1980/81, confirmariam um jogador fenomenal, facto que viria a ser vincado pela brilhante exibição de Platini no Campeonato do Mundo de 1982.
Os anos vindouros na carreira do atleta seriam, em tudo, radiosos. Bem, talvez não tenha sido assim. É verdade, houve uma pequena excepção que, mesmo sendo insignificante, quase deitaria tudo a perder. Como sabemos, o defeso de 1982 marcaria a transferência de Platini para a Juventus. Porém, num plantel cheio de craques, muitos deles consagrados como campeões do mundo de selecções, a sua chegada não seria consensual. Pior ainda, acabariam por ser as exigências da imprensa, que passariam a cobrar a Platini “mundos e fundos”. Não admitindo que o atleta pudesse necessitar de um período de adaptação, o coro de protestos seria de tal forma grande que o médio-ofensivo começaria a equacionar o regresso ao país natal. Ainda bem que tal não aconteceu, pois, daí em diante, o jogador pouco mais saborearia do que o sucesso. Nesse campo, tanto a nível individual, como por equipas, os troféus suceder-se-iam. O rol é espantoso! A saber-se: 1 Taça dos Clubes Campeões Europeus (1984/85); 1 Taça dos Vencedores das Taças (frente ao FC Porto, em 1983/84); 1 Supertaça Europeia (1984/85); 1 Taça Intercontinental (1985/86); 2 “Scudettos” (1983/84 e 1985/86); 1 Coppa Italia (1982/83); 3 Ballon d’Or (1983, 1984 e 1985); 3 Capocannoniere (prémio de Melhor Marcador da Serie A, em 1982/83, 1984/85 e 1985/86). Para finalizar, há ainda que fazer referência à vitória, pela selecção francesa, do Euro 84, de onde também sairia consagrado como o goleador máximo e como o melhor jogador do torneio.
Depois de terminar a carreira nos relvados, Platini, entre 1988 e 1992, ainda teria uma passagem pelo comando técnico da principal equipa dos “Bleus”. Contudo, o seu perfil, pretensiosamente intelectual, ambicionaria a muito mais. Por essa razão, em 2007, com alguma naturalidade, o antigo médio assumiria o papel de Presidente da UEFA, cargo que, juntamente com polémicas quanto baste, ainda mantem até aos dias de hoje (Janeiro de 2014).

2 comentários:

Fred disse...

Bem, que currículo! Nunca o vi jogar, mas dá para perceber que foi um dos melhor da sua geração. 3 bolas de ouro não é para qualquer um :)

cromosemcaderneta@gmail.com disse...

É verdade!!! E só de pensar que a sua carreira até teve um começo atríbulado, ainda dá mais valor à coisa!!!