1322 - FRANCISCO GOMES

Com a estreia na equipa principal do Olhanense a acontecer na temporada de 1931/32, contava o jogador somente 15 anos de idade, Francisco Gomes começaria, desde muito cedo, a demonstrar um enorme valor futebolístico. Inserido num plantel onde teria como colegas nomes como o do internacional José Delfim, os anos seguintes seriam de enorme aprendizagem. Com o Campeonato de Portugal como a principal prova nacional e o Campeonato da Primeira Liga a trazer o emblema do Sotavento fora do escalão maior, o primeiro título do médio-centro surgiria com a vitória dos “Rubro-negros” na edição de 1932/33 do “regional” algarvio.
Ainda que afastado dos grandes palcos, a verdade é que o atleta começaria a despertar a atenção de clubes de outra monta e com o Benfica, o Sporting, o FC Porto e o Boavista no seu encalço, a palavra dada a Augusto Silva fá-lo-ia ingressar no Belenenses. Em Lisboa a partir da campanha de 1938/39, apesar do salto dado na carreira, Francisco Gomes não acusaria a responsabilidade e depressa passaria a assegurar um lugar como titular. Num conjunto habituado a lutar por troféus, o primeiro grande título a entrar no palmarés do médio surgiria com a vitória na Taça de Portugal de 1941/42. Na derradeira partida da prova, disputada no Lumiar, seria chamado pelo treinador Rodolfo Faroleiro para alinhar no “onze” inicial. A peleja frente ao Vitória Sport Clube, com a sorte, como já desvendado, a sorrir ao agremiado do Restelo, terminaria com o “placard” a assinalar 2-0 e com o centrocampista a ser louvado pela ímpar exibição.
Também as conquistas de 3 Campeonatos de Lisboa fariam parte do currículo do jogador. Porém, a maior honra alcançada na caminhada competitiva do médio emergiria na última fase da sua carreira como desportista. Titular na grande maioria das jornadas referentes ao Campeonato Nacional de 1945/46, Francisco Gomes, num grupo de trabalho comandado pelo já aludido Augusto Silva e recheado de internacionais, assumir-se-ia, no miolo do terreno, como um dos esteios da equipa. Com a vitória do Belenenses na referida edição da mais importante prova do calendário luso de futebol, o atleta inscreveria o seu nome na história da colectividade do Restelo. Para além desse feito, há ainda que referir as 13 temporadas com a “cruz de cristo” ao peito e, acima de tudo, a valentia e esforço demonstradas em todas as chamadas a campo.
Com todos os louvores possíveis, faltou algo à carreira do centrocampista. Apesar do inquestionável valor desportivo, Francisco Gomes não conseguiu jogar pela selecção nacional. Mesmo tendo sido chamado por diversas vezes aos trabalhos da Federação Portuguesa de Futebol, o jogador, de forma injusta, acabaria por nunca entrar no terreno de jogo com a “camisola das quinas” e, por consequência dessa injustiça, não veria acrescentada ao seu currículo a tão almejada internacionalização por Portugal.
Depois de “penduradas as chuteiras”, o antigo médio ficaria ligado à modalidade. No papel de treinador orientaria algumas equipas mais modestas, tais como o Piedense, Ginásio do Sul ou “Os Bairronovenses”.

1321 - HERNÂNI

Começaria por bilhar nos escalões de formação do Recreio de Águeda, de onde iria prestar provas ao Benfica e à Académica de Coimbra. Em ambos os emblemas, inclusive na colectividade lisboeta de quem se diz ter sido adepto, seria recusado. Algum tempo depois, muito por custa da habilidade com a bola, velocidade, passos certeiros e fintas estonteantes, acabaria por ingressar nos seniores do FC Porto. A estreia na equipa principal, na temporada de 1950/51, aconteceria à 19ª jornada do Campeonato Nacional e já depois da substituição do romeno Anton Vogel pelo treinador húngaro Gencsi Deseo. Daí em diante, Hernâni dedicar-se-ia de corpo e alma à formação da “Cidade Invicta” e por raras vezes vestiria as cores de outras agremiações.
Uma dessas excepções ocorreria por razão do Serviço Militar Obrigatório, o que levaria o atleta até Lisboa e ao cumprimento da época de 1952/53 com as cores do Estoril Praia. As outras ocasiões surgiriam nas habituais, à altura, cedências a outros emblemas por altura das digressões ao estrangeiro ou em particulares disputados com emblemas forasteiros. Nesse sentido, Hernâni acabaria por vestir as camisolas do Sporting e a do Nacional da Madeira, respectivamente numa tournée ao Brasil em Junho de 1953 e num “amigável” frente ao Deportivo Las Palmas.
Obviamente, Hernâni também brilhou com as cores de Portugal. Para além da presença na equipa “B” ou a ilustre passagem pela Selecção Militar, na qual seria de fulcral importância para a vitória lusa no Torneio Internacional Militar de 1958, o atacante viria a representar o conjunto principal. A estreia do atleta com a mais importante “camisola das quinas” aconteceria, pela mão de Salvador do Carmo, a 22 de Novembro de 1953. Esse “particular” frente à África do Sul, durante o qual um golo seu ajudaria à vitória por 3-1, encetaria uma longa caminhada e que coloriria a sua carreira com um somatório de 28 internacionalizações “A”.
Claro está que os maiores louvores, conseguidos durante o percurso competitivo, recebê-los-ia ao serviço dos “Dragões”. Muito para além das 332 partidas oficiais e dos 187 golos concretizados, por si bem demonstrativos do seu valor, houve outros momentos a sublinhar a sua importância. Tendo começado a jogar como interior-direito ou extremo para, numa fase mais adiantada da carreira, passar a actuar no miolo do terreno de jogo, Hernâni seria um dos pilares na conquista da “dobradinha” de 1955/56, na vitória na Taça de Portugal de 1957/58 e no triunfo da edição de 1958/59 do Campeonato Nacional. Por tudo isso, assumir-se-ia, ao lado de José Maria Pedroto, como um dos melhores elementos do plantel “azul e branco”, durante as décadas de 1950 e no início dos anos de 1960. A melhor prova dessa monta chegaria com o respeito dos colegas, com a inquestionável admiração dos adeptos e pela entrega da braçadeira de capitão ao seu cuidado.
Depois de retirado das actividades de futebolista, Hernâni Ferreira da Silva passaria a dedicar-se a dinamismos noutras áreas de ocupação. Apesar de ainda ter regressado ao FC Porto na condição de dirigente, seria à frente dos seus negócios como industrial e no comércio que o antigo desportista abraçaria o sucesso.

1320 - JOSÉ ANTONIO REYES

José Antonio Reyes destacar-se-ia como um dos melhores elementos a evoluir nas “escolas” do Sevilla e o seu notável crescimento levá-lo-ia, no conjunto “b” do emblema andaluz, a estrear-se como sénior, com apenas 16 anos de idade. Ainda nessa temporada de 1999/00, os desempenhos conseguidos pelo jovem extremo fariam com que fosse chamado à equipa principal, onde chegaria a partilhar o balneário com o português Bakero. No que diz respeito à sua completa afirmação, o passo, com a titularidade assegurada, seria dado na campanha de 2001/02 e já com o internacional luso José Taira como companheiro de equipa.
Também nas jovens selecções espanholas a sua aprovação sublinharia a visibilidade merecida ao serviço do clube. Nesse percurso formativo, onde passaria por vários escalões, o maior destaque surgiria na discussão da edição de 2002 do Europeu de sub-19. Para o torneio organizado na Noruega, seria chamado pelo treinador Iñaki Sáez à disputa de todas as partidas do certame e na final, titular tal como em todas as rondas anteriores, ajudaria a derrotar a congénere alemã e a entregar o troféu aos escaparates da Real Federación Española de Fútbol.
Os louvores merecidos durante a primeira fase da carreira empurrá-lo-iam para as cogitações de outros emblemas. Na linha da frente dessas colectividades apareceria o Arsenal. Com a chegada aos londrinos a acontecer a meio da campanha de 2003/04 e depois de, meses antes, ter conquistado a primeira internacionalização “A” num “particular” frente a Portugal, Reyes assumir-se-ia como um dos principais elementos do conjunto britânico. Na disputa das provas inglesas, rapidamente conquistaria um lugar no “onze” dos “Gunners”. Nesse sentido, seria de fulcral importância nos títulos conseguidos pelo clube e em destaque surgiriam as vitórias na Premier League de 2003/04 e, na época de 2004/05, as conquistas da FA Cup e do Community Shield.
O regresso do atacante a Espanha dar-se-ia na temporada de 2006/07 e através de um empréstimo ao Real Madrid. Depois da conquista da La Liga nesse ano de regresso ao seu país natal, Reyes mudar-se-ia para o Atlético de Madrid. A transferência, já a título definitivo, não afastaria o avançado dos sucessos colectivos. Mesmo com uma cedência ao Benfica de 2008/09, onde seria orientado por Quique Flores e durante a qual venceria a Taça da Liga, os 3 anos e meio ao serviço dos “Colchoneros” seriam bastante proveitosos para o currículo individual do jogador e as vitórias na Liga Europa de 2009/10 e de 2011/12 e na Supertaça da UEFA de 2010/11 viriam a frisar isso mesmo.
Também o retorno ao Sevilla, consumado a meio da temporada de 2011/12, manteria o atleta na senda dos grandes troféus. Com o emblema andaluz, durante a nova ligação do avançado ao clube onde tinha cumprido toda a formação, a brilhar nas provas europeias, José Antonio Reyes teria a sorte de acrescentar ao palmarés as conquistas consecutivas de 3 outras edições da Liga Europa, nesse caso as disputadas durante as campanhas de 2013/14, 2014/15 e 2015/16.
Já numa fase descendente da carreira, o atacante acabaria a envergar as cores do Espanyol, do Córdoba, dos chineses do Xinjiang Tianshan Leopard e do Extremadura. Seria durante a sua estadia em Almendralejo que jogador sofreria um terrível acidente de viação que, para além de pôr termo à sua carreira como futebolista, tragicamente viria também a ceifar-lhe a vida.

1319 - SÉRGIO CHINA

Formado no Santa Cruz, seria também no emblema sediado na cidade brasileira do Recife que o criativo médio, na temporada de 1986, faria a transição para o patamar sénior. Na equipa principal do conjunto nordestino, Sérgio China não demoraria muito até conseguir destacar-se como um dos elementos mais importantes nas manobras tácticas dos diferentes treinadores. Nesse sentido, o atleta tornar-se-ia numa das figuras das várias conquistas da agremiação e como principal destaque podem ser citadas as vitórias no Campeonato Pernambucano de 1986, 1987 e 1993.
Apesar do Santa Cruz ter sido o emblema mais representativo da metade inicial da carreira de Sérgio China, o médio, ainda a disputar as provas brasileiras, vestiria também outras camisolas. A primeira colectividade a romper a longa ligação à colectividade “tricolor”, seria o Internacional. Contudo, a passagem por Porto Alegre, para além de curta, acabaria igualmente discreta. Já a experiência no ABC seria bastante mais prolífera e a vitória na edição de 1993 do Campeonato Potiguar serviria de rampa ao centrocampista.
Na proximidade da conquista referida no parágrafo anterior, viria a primeira experiência de Sérgio China na Europa. Contratado pela União de Leira para a temporada de 1993/94, a chegada do médio a Portugal coincidiria com o emblema da “Cidade do Lis” a disputar a divisão de Honra. Apesar de não ser um dos titulares indiscutíveis da equipa, o jogador, como um dos elementos mais utilizados do plantel, acabaria por ser de vital importância para a colectividade beirã na subida de divisão. Curiosamente, o passo seguinte da sua carreira levá-lo-ia de volta ao Brasil, inicialmente para um regresso ao Santa Cruz e posteriormente para envergar as cores do Bahia.
O Rio Ave entraria na caminhada do atleta, mais uma vez na disputa do segundo escalão português, na temporada de 1995/96. Tal como da passagem anterior pelas provas lusas, Sérgio China ajudaria o seu clube à subida de divisão. Todavia, ao contrário da época em Leiria, o médio, desde cedo, conseguiria afirmar-se como um dos pilares do “onze” vilacondense. A mesma importância manter-se-ia durante a sua campanha de estreia na 1ª divisão e também nas subsequentes. Tal preponderância levá-lo-ia a acumular muitas presenças no escalão máximo e as 125 partidas disputadas empurrá-lo-iam para a história da agremiação nortenha.
Após cumprir 5 épocas com a camisola do Rio Ave e depois de um interregno no trajecto competitivo, o médio, já ao serviço dos brasileiros do Confiança decidiria, de uma vez por todas, ser a hora certa para “pendurar as chuteiras”. No entanto, apesar de retirado dos relvados, o antigo futebolista não abandonaria a modalidade. Como treinador, após várias ´temporadas ligado às “escolas” do Náutico, Sérgio China encetaria a caminhada como técnico-principal. Nessas funções, com a anuência dada a vários convites, a sua carreira tem sido caracterizada por alguma errância.

1318 - ALBANO

Dividiria a formação entre o emblema da terra natal e o Barreirense. Terminadas as etapas nas camadas jovens, Albano voltaria ao Seixal na temporada de 1941/42, onde daria os primeiros passos no universo sénior. Encetadas as actividades na equipa principal da colectividade sediada na Margem Sul do Rio Tejo, nem o facto de o clube estar afastado dos principais palcos do desporto nacional impediria que as qualidades do “pequeno” atacante começassem a chamar a atenção. Ainda que dono de uma estampa pouco impressionante, a verdade é que a habilidade com bola nos pés servira, em grandes doses, para superar qualquer inferioridade física. Aferido como um grande promessa, um par épocas sobre o aludido regresso tornar-se-iam suficientes para que uma enorme oportunidade surgisse na carreira do jogador e no seu encalço surgiria um dos maiores nomes do futebol luso.
Contratado pelo Sporting para reforçar o plantel de 1943/44, Albano entraria no Estádio do Lumiar ao lado do irmão, também adquirido ao Seixal, o avançado Manuel Narciso Pereira. Ainda a alguns anos de estar completa a linha ofensiva que ficaria conhecida como os “Cinco Violinos”, o jovem extremo-esquerdo conquistaria um lugar de destaque no esquema táctico idealizado pelo treinador Joseph Szabo. O acréscimo de qualidade trazido pela sua inclusão no grupo de trabalho leonino, logo começaria a dar frutos e o jogador, na campanha da chegada aos “Verde e Brancos”, tornar-se-ia num dos principais intérpretes da conquista da principal prova portuguesa. Nesse contexto de vitórias, os anos vindouros seriam de igual importância para a glória colectiva. Com o clube a dominar o cenário futebolístico nacional, o jogador, nos 14 anos de ligação ao “Leões”, rechearia o palmarés com 8 Campeonatos Nacionais, 4 Taças de Portugal, 1 Taça Império e 3 Campeonatos de Lisboa.
Curiosamente, apesar da rápida ascensão de Albano com as cores do Sporting, a chegada do atacante à selecção nacional portuguesa ainda demoraria alguns anos. A estreia, sob a alçada de Tavares Silva, aconteceria num embate frente à Suíça, a 05 de Janeiro de 1947. A partida frente aos helvéticos, num empate 2-2 desenrodilhado no Estádio Nacional, para além da curiosidade de ter decorrido sob uma forte chuvada, abriria ao jogador uma boa série de partidas com a “camisola das quinas”. Nesse sentido, a somar ao jogo feito pelos “BB” lusos, o extremo canhoto arrecadaria para a caminhada competitiva um total de 15 internacionalizações feitas pelo principal conjunto da Federação Portuguesa de Futebol.
Muito apreciado entre os adeptos pela forma intrépida como avançava para cima de oponentes bem mais apetrechados fisicamente, os números que apresentaria ao longo da carreira ajudariam também a sublinhá-lo como um dos maiores nomes da história do Sporting Clube de Portugal. Os 335 jogos e os 161 golos concretizados ao serviço dos “Leões” transformar-se-iam em mais uma prova do valor do jogador. Outras facetas igualmente admiráveis acabariam por ser o bom humor e a humildade patente em vários aspectos da vida do atleta. No que diz respeito à modéstia, um dos melhores exemplos dessa qualidade emergiria já bem perto do fim da sua carreira e, mesmo sendo um nome consagrado do desporto português, Albano, já pouco utilizado na equipa principal, não mostraria qualquer vergonha em jogar pelas “reservas” do emblema lisboeta.