536 - JOSÉ COUCEIRO

Quando, dentro do contexto futebolístico, usamos a palavra "polivalência", imediatamente pensamos num jogador que tanto joga numa posição, como noutra. Contudo, para José Couceiro esse conceito de "homem dos sete ofícios" acabaria por ter um horizonte bem mais largo...
No futebol entrou como praticante. Às costas levava um apelido de respeito e, por que não dizê-lo, uma grande cruz! Talvez, por não querer comparações com aquele que no desporto mais avante levou o nome Peyroteo, José couceiro nunca utilizou como identidade futebolística o nome do seu tio-avô. Diferenças entre os dois, muitas haveria para apontar. No entanto, em comum estava a paixão pelo "verde e branco" das listadas camisolas do Sporting. Seria, então, por Alvalade, já depois de também ter feito caminho ao serviço do Belenenses, que José Couceiro termina a sua formação como jogador. Estávamos em 1981 e nos "Leões", para a posição de defesa central, pontuavam nomes como os de Eurico, Bastos ou Zezinho. Como é lógico, com tão forte concorrência, não teve ele outra escolha se não a de  evoluir no seio de outro plantel.
O passo seguinte levá-lo-ia ao Montijo, sendo que a equipa da margem Sul do Rio Tejo militava, por essa altura, na 2ª Divisão. Um ano passado sobre a sua estreia no universo dos seniores, Couceiro muda de camisola, passando a envergar as cores do Barreirense. Mas ao contrário do que, provavelmente, seria o seu objectivo, José Couceiro continuaria a desenvolver o seu futebol no escalão secundário. Aliás, seria sempre nesse patamar que haveria de traçar o seu trajecto enquanto jogador.
Seguiram-se Atlético, Torreense, Oriental e Estrela da Amadora, até que, com apenas 29 anos decide pôr um ponto final na sua passagem pelos relvados. Por esta altura, 1992, a sua ligação com o Sindicato de Jogadores Profissionais de Futebol já durava há alguns anos. Tendo tido diferentes funções em direcções anteriores, é em 1993 que Couceiro decide candidatar-se à Presidência do organismo em questão. Vence o sufrágio e pelo cargo, com duas novas reeleições, mantem-se até Janeiro de 1998.
Mais uma vez, o rumo do antigo atleta volta a mudar de direcção. Desta feita, vai de encontro ao desafio lançado por José Roquette, e é nomeado para Director do futebol do Sporting. A ligação ao clube acaba por não durar muito tempo, mas, logo de seguida (Abril de 1999), tomado pelo "bichinho" da gestão, aceita a proposta de Luís Filipe Viera para, no Alverca, ocupar cargo idêntico.
É já no emblema ribatejano que a vida de José Couceiro tem novo volte-face. Em 2002/03 decide-se, então, pela carreira de treinador. Começa, como já o disse, pelo Alverca e, em pouco mais de 2 anos, depois de uma passagem brilhante pelo Vitória de Setúbal, vê a porta do Estádio do Dragão a abrir-se para si. Mas se a sua ascensão acaba por ser espantosa e, de alguma forma, igualmente promissora, já a sua chegada ao FC Porto coincide com a ressaca da vitória na Liga dos Campeões.
Se bem se lembram essa foi uma altura conturbada no clube, em que, na dita época (2004/05), por lá passaram três treinadores. Ora, a instabilidade vivida nos "Azuis e Brancos " acabaria por prejudicar o trabalho de José Couceiro. 

Daí em diante começa um longo périplo que o levaria a diversos países, clubes e selecções. Após orientar a selecção Lituana, os turcos do Gaziantepspor, o Sporting, o Lokomotiv de Moscovo, entre mais alguns, chega esta temporada (2014/15), ao Estoril-Praia. Pela frente terá o fardo de suceder a Marco Silva que, indubitavelmente, foi o melhor treinador da história da equipa da Linha de Cascais. Por outro lado, chega numa altura em que o clube tem uma estrutura sólida, permitindo um trabalho sustentado e com óptimas condições para trilhar um caminho de sucesso.

535 - NASCIMENTO

Tendo começado a prática do futebol em França, país para onde os pais tinham emigrado, o seu regresso a Portugal dar-se-ia pelas portas do Benfica. Contudo, tal como acontece com tantos outros jovens saídos das escolas "encarnadas", Nascimento, na transição para sénior, acabaria por não conseguir garantir um lugar no plantel principal.
Na União de Leiria, o médio faria o seu baptismo na Primeira Divisão (1979/80). Acontece que a prestação da equipa nesse ano, haveria de ficar aquém daquilo que, por certo, seria o esperado pelos seus responsáveis, acabando por cair na despromoção. A descida, negativa como sempre, acabaria, no entanto, por dar um empurrão na carreira de Nascimento. Pouco utilizado nessa sua temporada de estreia, o médio, com a busca de novas soluções desportivas para a equipa, acaba ter um papel importante na recuperação da mesma.
Seria já como o motor do meio-campo leiriense que Nascimento regressa aos maiores palcos do nosso futebol. Possante, combativo e com uma resistência inesgotável, o atleta afirma-se como um dos jogadores mais interessantes do nosso Campeonato. Apesar de mostrar algumas debilidades a nível técnico, a sua postura dentro das quatro linhas permitia disfarçar outro tipo de fraquezas. Ora, essas suas qualidades acabariam por ser determinantes, visto que a União de Leiria voltaria a fazer uma campanha desastrosa (1981/82), para que Nascimento conseguisse manter o seu lugar nos maiores palcos do desporto nacional.
Quem viria a apostar no jovem centrocampista, acabaria por ser o Vitória de Setúbal. No seio de uma equipa que juntava jogadores consagrados (Octávio Machado; Jorge Martins; Jorge Jesus; Baltemar Brito) com um grupo de jovens muito promissores (Edmundo; Sobrinho; Hernâni; Jorge Plácido; Nunes), Nascimento haveria de se mostrar, como para o resto da sua vida desportiva, como uma das peças mais importantes dos "Sadinos".
E se foi na "Cidade do Sado" que Nascimento recebeu o reconhecimento dos seus pares, seria sobre a égide de outro Vitória que atingiria a consagração como futebolista. De malas aviadas para Guimarães, o trajecto do jogador haveria de alcançar os melhores momentos. Seria, então, pelos minhotos que se estrearia nas competições da UEFA; seria, também, durante o tempo que envergou o emblema de D.Afonso Henriques que haveria de ser chamado à selecção "A" portuguesa.
Mas apesar da admiração que conseguiria alcançar entre colegas de equipa e massa adepta, a sua saída acabaria por ficar ensombrada pela polémica. Ora, ao fim de quatro anos como um dos melhores do clube e, ainda por cima, tendo nessa época de 1988/89 envergado a braçadeira de capitão, era lógico que a renovação era uma prioridade para a direcção. O pior é que o atleta, até à data do fim do seu contrato, recusar-se-ia a assinar um novo contrato. Pimenta Machado, o Presidente, considerando tal acto como uma traição ao clube, e acabaria por pô-lo na lista das "personae non gratae" e proibir o seu regresso ao Vitória.
A explicação para este episódio revelar-se-ia pouco tempo depois, quando Nascimento assina pelo FC Porto (1989/90). Mas numa equipa que ainda vivia do brilho da Taça dos Campeões Europeus de 1987, ganhar um lugar no "onze" inicial, não era tarefa fácil. Para Nascimento estas dificuldades reflectir-se-iam na pouca quantidade de jogos em que seria utilizado. Já no final da temporada, o desfecho foi o esperado, com o jogador a ser incluído na lista de dispensas.
Já com 30 anos feitos, e depois da saída das Antas como campeão nacional, Nascimento preparava-se para a última fase da sua vida nos relvados. Ainda na 1ª Divisão, faz ao serviço do Tirsense uma época de bom nível. De seguida vem o escalão secundário, primeiro ainda ao serviço dos "Jesuítas" e, por fim, como uma derradeira "perninha" pelos do Amora.
Foi um curto interregno que separou a sua vida de futebolista com um novo papel no futebol. Daí em diante faria carreira como adjunto. No entanto, ao fim de cerca de duas décadas ao lado de Manuel Cajuda, Nascimento decidiu ser a hora de seguir o seu próprio caminho. Começou nos escalões secundários e, esta temporada (2014/15) abraçou o projecto do Atlético. Na Liga 2, tenta recuperar o emblema lisboeta de uma fase complicada. A nível desportivo, os de Alcântara têm a cabeça à tona da água. Contudo, numa competição tão aguerrida, antevêem-se dificuldades para o antigo internacional.

534 - VÍTOR OLIVEIRA


Nascido em Matosinhos, seria no clube da terra que, depois de terminada a sua formação, Vítor Oliveira fez a estreia nos seniores. A presença do Leixões pela Primeira Divisão, fez com os três primeiros anos da carreira do médio fossem passados entre os grandes palcos do futebol nacional. Durante esse tempo, apesar de contar com um número satisfatório de presenças, o seu lugar no "onze" dos do Estádio do Mar não era algo garantido. Talvez à procura de outra sorte, para a temporada de 1974/75 decide arriscar numa mudança de emblema. A dita transferência acaba por o levar ao segundo escalão do nosso futebol, e a envergar a camisola do Paredes. "Sol de pouca dura", visto que, passado um ano, já Vítor Oliveira defendia as cores do Famalicão.
No novo clube, este com objectivos desportivos ligeiramente diferentes, Vítor Oliveira acabaria por assumir um papel preponderante. A sua importância no seio do plantel seria tal que, nessa mesma temporada de regresso (1978/79), tanto para o atleta como para o clube, àquele que é o patamar máximo do nosso futebol, o centrocampista seria escolhido para, dentro das quatro linhas, capitanear os seus colegas.
Aliás, essa sua veia de líder foi algo que sempre o caracterizou. Ser uma voz de comando durante um jogo, muito mais do que uma necessidade inerente à posição que ocupava, era, acima de tudo, algo de visceral em si. Foi assim na sua passagem pelo Sp.Espinho, foi assim aquando da sua presença em Braga (clube pelo qual disputaria a final da Taça de Portugal de 1981/82) e acabaria por assim ser já no Portimonense.
Seria também no Algarve que Vítor Oliveira viveria, a par da já referida contenta no Estádio do Jamor, um dos momentos mais importantes da sua carreira. Ora, a temporada de 1984/85, acabaria por marcar a primeira qualificação do Portimonense para as competições europeias. Curioso é que, tendo sido Vítor Oliveira um dos atletas utilizados por Manuel José durante essa campanha, é ele próprio que, na época seguinte, toma as rédeas da equipa do Barlavento algarvio e a leva a disputar os jogos da Taça UEFA, frente ao Partizan de Belgrado.
Como já entenderam, é por esta altura que Vítor Oliveira faz a transição entre os relvados e o banco de suplentes. A carreira que aí encetou, levá-lo-ia aos mais diversos clubes nacionais. E se isto nem é para grande destaque, já outro facto acabaria por o caracterizar nestas suas andanças! Ainda não adivinharam? Pois bem!!! Então, e se vos disser que Vítor Oliveira já subiu seis equipas à Primeira Divisão!!! Pois é, durante estes longos anos que já leva como técnico, o antigo jogador parece ter-se especializado na promoção de clubes. A última na lista, que inclui nomes como os do Paços de Ferreira, Académica, Leixões, União de Leiria e Belenenses, foi, na época de 2012/13, com a equipa do Arouca.
Independentemente deste episódios, a verdade é que o trabalho de Vítor Oliveira é caracterizado, pela maioria dos que com ele privaram, como sendo de um profissionalismo inexcedível e, em todos os aspectos, procurando sempre respeitar todos os que o rodeiam. Assim sendo, apraz-me levantar nova questão! Então, porque nunca se terá conseguido afirmar como um treinador de Primeira Divisão???!!!
Dúvidas à parte, Vítor Oliveira assumiu este ano (2014/15) o comando do União da Madeira. Mais uma vez, decorridas que estão 15 rondas do Campeonato da 2ª Liga, a sua equipa posiciona-se nos lugares cimeiros da tabela. A classificação, um 5º posto, e tendo em conta que estão duas equipas "bb" à sua frente, seria mais do que suficiente para promover os madeirenses. Será que se mantêm assim até ao fim??? Será que esta será a sétima para Vítor Oliveira???

533 - BARÃO

Com os amigos do Prior Velho, zona na periferia da cidade de Lisboa, Francisco Barão começa a jogar à bola. Sobre a égide de "Os Guadianas" e treinado pelo seu pai, é numa dessas partidas que acaba por ser descoberto pelos "olheiros" do Sporting. Entra para as camadas jovens do clube de Alvalade e ainda com a idade de júnior, faz a sua estreia pela equipa principal.
É esse jogo da Taça de Portugal (1975/76), frente ao Sesimbra, que acaba por marcar o início de um percurso inesquecível de "Leão" ao peito. Contudo, e apesar de todos os adeptos o recordarem como um bom jogador, a sua vida no Sporting vestir-se-ia de alguma irregularidade. Alternando algumas temporadas de muita utilização, com outras em que parecia vetado ao esquecimento, ainda assim, Barão era um elemento importante dentro do plantel. Uma das características que lhe assegurava esse estatuto, para além da forma incansável como disputava cada lance, era a sua polivalência. Tanto no meio campo, onde começou a ser mais utilizado, como nas laterias da defesa, posições onde se consagraria, Barão era, como já o mencionei, um símbolo de combatividade. Essa sua grande arma acabaria por ser uma mais-valia para o Sporting, entre os finais dos anos 70 e o começo dos anos 80. 2 Campeonatos Nacionais (1979/80; 1981/82), 2 Taças de Portugal (1977/78; 1981/82) e 1 Supertaça (1982/83) seriam o saldo, no que a títulos diz respeito, da ligação de Barão com emblema leonino.
Apesar da sua, aqui referida, inconstante utilização, o começo da época de 1983/84, não deixaria de trazer uma pequena surpresa, quando o defesa decide trocar de clube - "Com a entrada do Manuel José como treinador, no Portimonense foi elaborada uma lista de jogadores como possíveis reforços, dessa lista constava o meu nome. Após várias reuniões chegámos a acordo"*. No Algarve encontrar-se-ia com atletas como Cadorin, Vítor Damas, Skoda, Simões, Coelho, Rui Águas, entre outros. Ora, num grupo tão forte, onde pontuavam tantos internacionais, o triunfo da equipa era algo inevitável. Esse mesmo sucesso acabaria por ser conquistado na temporada de 1984/85, quando o Portimonense, depois de atingir o 5º lugar na tabela classificativa, consegue a qualificação para as provas organizadas pela UEFA. Ironicamente, e se para a equipa tudo corria de feição, para o jogador, principalmente no plano físico, algo havia de assombrar este êxito. Uma grave lesão nos ligamentos e, depois de esta estar sanada, uma outra a nível do menisco, haveriam de o manter afastado dos relvados, nessa mesma temporada de 1984/85, por mais de um ano.
Recuperaria ainda a tempo de, na época seguinte, disputar as duas partidas da eliminatória frente ao Partizan de Belgrado. No entanto, as marcas deixadas por este episódio, fariam com que o atleta, no Verão de 1988, e com apenas 31 anos, acabasse por "pendurar as chuteiras".
Seguiu-se, ainda no Portimonense, a passagem para a vida de treinador. Hoje em dia, já com uma longa carreira na função, feita, essencialmente, de passagens por equipas dos escalões secundários, tem no trabalho o seu maior valor. Apesar de apresentar um trajecto discreto, o reconhecimento como técnico acabaria por no ano passado (2013/14), garantir o regresso ao seu clube de sempre - "Voltar ao Sporting era algo que há muito estava no meu pensamento, pois o meu coração é verde"**. Foi também pela porta dos "bb" leoninos que Barão, já esta temporada, acabaria por se assumir como o timoneiro principal da dita equipa. Contudo, e apesar da inegável paixão com que se entregou à tarefa, o atribulado começo do Campeonato, valeu-lhe nova "despromoção", ocupando, mais uma vez, as funções de adjunto.


* retirado da entrevista ao "Blog do Portimonense" (http://blogdoportimonense.blogspot.com/)
** retirado do "Jornal do Sporting"; a 31/10/2013

532 - RUI VITÓRIA

Rui Vitória foi um médio de carreira modesta. Tão modesta foi que, pouco me admiraria que, mesmo aqueles que acompanham com regularidade o desporto, não tivessem sobre este facto qualquer conhecimento. Rui Vitória nunca jogou em grandes clubes; nunca foi destaque, enquanto elemento de campo, em nenhum pasquim desportivo nacional ou internacional; nunca chegou a passar da 2ª divisão "b".
Fanhões, Vilafranquense, Seixal, Casa Pia e Alcochotense, são os emblemas que representou e que ajudam a sublinhar o quão discreta acabaria por ser a sua vida dentro das quatro linhas. É verdade que posta desta maneira redutora, nada nesta sua caminhada parece interessar para aquilo que é hoje o seu estatuto, e real valia, no seio do futebol português. Claro que só mostrei o seu caminho desta maneira, tentando dar-lhe alguns traços caricaturais, para que agora, de alguma forma, pudesse pegar naquela velha questão de "quanto importa uma carreira como futebolista, para se fazer um bom treinador?". Ora, se a ideia de "grande carreira" é feita, obrigatoriamente, com passagens pelos grandes clubes ou, na melhor das hipóteses, com experiência comprovada nos maiores escalões do futebol, então, digo-vos já que... nada interessa nesse trilho!
Os exemplos disso mesmo são inúmeros, o que, desde já, me assegura algum descanso, perante uma possível contestação a estes meus parágrafos iniciais. No entanto, e sem deixar de assumir o que acabei de escrever, é inegável que todo o trajecto percorrido acaba, de uma maneira ou de outra, por nos influenciar os passos futuros ou, se quiserem, por nos vincar o carácter. É aí que entra aquilo que, para mim, é o mais importante no definir de uma carreira como técnico, ou seja, a postura do mesmo.
Entendermos como se chega a certos pontos ou sabermos como é que, afinal, nos moldámos, pode ser muito difícil. Contudo, é mais fácil constatar que certas pessoas têm determinadas características. No que diz respeito a Rui Vitória, uma que salta à vista de todos é a sua habilidade para comandar Homens. Essa mesma, já vêm em si (lá está!!!) desde os seus tempos de jogador. No emblema de Vila Franca de Xira, onde fez grande parte do seu trajecto enquanto futebolista, a sua capacidade de liderança levá-lo-ia a assumir o posto de "capitão de equipa". Ora, sem sombra de dúvida, este seu capítulo era já o sinal de que Rui Vitória era talhado para outras andanças. Nessas ditas, onde, também no Vilafranquense, deu os seus primeiros passos, acabaria por ser no Benfica, ainda que como treinador das camadas jovens, que o seu nome começaria a ser mais ouvido. Depois veio a emancipação e os anos no Fátima. As promoções do clube à 2ª Liga, levariam o Paços Ferreira a arriscar a sua contratação. Um ano na Primeira Divisão bastou para que a Rui Vitória fosse lançado novo desafio: o de comandar o Vitória de Guimarães. O pior é que o clube, um dos históricos do nosso futebol, assemelhava-se, por razão da grave crise financeira em que estava metido, a um presente envenenado. Se muitos se deixariam atemorizar por tal facto, para Rui Vitória nada disso foi entrave para assumir tamanho risco. Desde então, "sucesso" tem sido a única palavra capaz de descrever aquilo que o treinador tem feito à frente do emblema vimaranense. Se dúvidas houvesse, a conquista da Taça de Portugal de 2012/13, ou as boas classificações na Liga, serviriam de prova.
Por outro lado, maior ainda é o feito, se tivermos em conta que o orçamento do Vitória pouco tem a ver com o daqueles que consegue ombrear. Ora, é por esta razão que o destaque que Rui Vitória tem merecido vai já para além fronteiras; e é por isto tudo que o italiano “Gazzetta dello Sport”, merecidamente, o apelidou de "mágico"!!!

531 - HÉLDER

Se foi no Estoril-Praia que se estreou nos seniores, seria também pelos da Linha de Cascais que Hélder atingiria o patamar internacional. Corria a temporada de 1991/92, a sua primeira no escalão máximo do nosso futebol e a sua terceira como profissional, quando, para um particular frente à Holanda, Carlos Queiroz o leva à estreia na selecção nacional.
Ora, a sua primeira internacionalização acabaria por servir de mote para que, logo na época seguinte, os "Grandes" de Lisboa encetassem uma luta pelo seu concurso. O Benfica acabaria por levar avante esta corrida, e juntaria ao seu grupo de trabalho um dos defesas centrais mais promissores da altura. Forte fisicamente, com um sentido posicional superior, Hélder tinha ainda a vantagem de, ao contrário de muitos dos seus colegas de posição, conseguir tratar a bola com um cuidado excepcional. Estas suas características fizeram com que, rapidamente, conseguisse ganhar um lugar no "onze" das "Águias". Importante na conquista da Taça de Portugal de 1992/93 e no Campeonato Nacional do ano seguinte, o estatuto de Hélder ia ganhando maior destaque com o avançar dos anos. Considerado, com toda a justiça, como um dos melhores centrais portugueses nos anos 90, a importância que tinha no seio da defesa "encarnada" e da "Equipa das Quinas" era fulcral. Por Portugal, ao lado de Fernando Couto, faria parte do grupo que, comandado por António Oliveira, devolveria o nosso país aos principais cenários competitivos. Em Inglaterra, no Euro de 1996, jogaria todas as partidas do torneio. Tais exibições, de portentosas que seriam, acabariam por o pôr nas bocas do mundo.
Com tudo isto, adivinhava-se que a sua passagem pelo Benfica teria, para bem próximo, um fim certo. Com os da "Luz", por razão de severas dificuldades financeiras, a atravessarem uma grave crise, a saída de Hélder para o Deportivo acabaria por ser, muito mais do que um merecido prémio para o atleta, um importante encaixe para o clube. Chegaria a meio da temporada de 1996/97, e em Espanha, sem ser um dos mais preponderantes na manobra da equipa, conseguiria ser um membro muito importante. Contudo, nesta caminhada, uma grave lesão acabaria por arruinar a sua progressão.
Aleijado num joelho, Hélder, por consequência da tal mazela, ficaria afastado dos relvados por um longo período de tempo. Já depois da recuperação, o seu espaço na equipa galega ficaria bastante reduzido. No entanto, a certeza que as suas qualidades ainda estariam intactas, levariam com que outro conhecido do futebol português, ele que na Galiza já havia sido treinado por Carlos Alberto Silva e John Toshack, o escolhesse para reforço do seu grupo. No Newcastle, às ordens de Bobby Robson, faria, por empréstimo, uma temporada. Acabaria por falhar a vitória na "La Liga", arrecadada nesse ano pelos de La Coruña. No entanto, finda essa cedência, acabaria por garantir um lugar no plantel, dos anos vindouros.
Depois de mais duas temporadas no "Depor", deu-se o regresso ao Benfica. Os da "Luz", ainda não refeitos da pior fase da sua longa história, já caminhavam para um lugar mais solarengo. Com Camacho ao leme da equipa, e com Hélder a envergar a braçadeira de Capitão, o Benfica regressaria aos tão almejados títulos. Incrivelmente, essa vitória na Taça de Portugal de 2003/04, precederia nova saída de Hélder.
Sem a renovação do contrato, o defesa acabaria por prosseguir a sua carreira por outras paragens. Depois de defender as cores do PSG e de um "último suspiro" ao serviço do gregos do Larissa, Hélder, em 2006, poria um ponto final na sua vida de futebolista.
Hoje é o timoneiro da equipa "b" das "Águias". Os resultados, num clube que andou, durante demasiado tempo, afastado da sua "formação", são francamente animadores. A equipa secundária do Benfica é uma das mais fortes na Liga 2 (2014/15). Encontra-se nos lugares cimeiros e, com um terço do Campeonato realizado, enche de esperança todos os adeptos "encarnados".

530 - LITO

Falar do nome de Lito é, mais uma vez, ir buscar o nome de uma das famílias que mais representatividade teve (e tem) na história do futebol nacional. Vidigal de apelido, Lito, tal como alguns dos seus irmãos, nasceria ainda em Angola. No entanto, e depois de ainda miúdo ter viajado para Portugal, seria já na sua cidade adoptiva que daria os primeiros pontapés na bola. Ora, por tal razão, foi no "O Elvas" que o antigo médio deu início a um périplo que o faria andar, durante mais de 15 anos, pelos campos da bola. Raçudo, incapaz de virar as costas a uma disputa, logo desde o começo da sua carreira deu a entender que a vontade que entregava a cada desafio, era a sua maior força. Talvez sem os recursos técnicos de alguns dos seus companheiros, o poderio físico que apresentava em campo fazia com que zombasse de muitos que, à partida, se viam melhores do que ele. Sempre nesse estilo de "gladiador", Lito acabaria por trilhar o seu caminho, o mesmo que, alguns anos após ter terminado a formação no "O Elvas", fez com que os "vizinhos" do Campomaiorense olhassem para ele como um belo reforço.
Depois de nesses primeiros anos, ter vogado por algumas equipas alentejanas de ambições mais modestas, Lito via-se agora, com a mudança para os "Galgos", num projecto (não esquecer que foi nos início dos anos 90 que o Campomaiorense começou a sua jornada em direcção à 1ª Divisão) bem mais ambicioso.
Com esta sua mudança, Lito acabaria por merecer, por parte de outros intervenientes no futebol, uma maior atenção. Com a chegada do seu clube aos escalões profissionais, essa projecção tornar-se-ia mais evidente. É então, começava a preparar-se a temporada de 1995/96, que surge o convite de um dos históricos do futebol luso, o Belenenses. Já no Restelo, a sua vida profissional atingira o apogeu. Foram 7 anos com a camisola da "Cruz de Cristo", em que respeito que os adversários ganhariam pelo seu nome, seria equivalente à força do seu futebol.
Com tais exibições, os responsáveis pela  equipa nacional angolana acabariam por endereçar-lhe o convite para que vestisse a camisola do seu país de nascença. Com os "Palancas Negras", o médio defensivo acabaria por chegar aos palcos internacionais quando, em 1998, vê o Prof. Neca a incluir o seu nome na lista dos convocados parar disputar a Taça de África das Nações.
A esta competição internacional, ainda que noutras funções, voltaria 14 anos depois. Depois de ter posto um ponto final na sua vida de futebolista com uma derradeira época ao serviço do Santa Clara (2002/03), a vida de Lito acabaria por encaminhar-se para os "bancos". Como treinador, ainda antes de ter conduzido Angola à CAN 2012, a sua carreira haveria de passar pelo comando de diversas equipas portugueses.
Com fugazes passagens pela 1ª Liga, Estrela da Amadora (onde treinou o seu irmão Vidigal) e pela União de Leiria, o seu currículo como técnico ainda não é dos mais ricos. Contudo, o ano passado (2013/14), o convite de Belenenses devolveu Lito às manchetes dos desportivos nacionais. Após uma bela campanha, em que salvou os seus pupilos de uma descida quase certa, Lito, para a temporada que agora começa, apresenta-se com outro traquejo. Como uma das incontornáveis figuras do Belenenses, nele está reunida toda uma mística, que interessa passar a uma nova geração de jogadores. Interventivo, à imagem daquilo que foi como desportista, Lito tem conseguido dar a força necessária aos seus atletas, decorrido quase um terço do Campeonato, para que a sua equipa se encontre numa das primeiras posições da tabela classificativa.

529 - MARCO SILVA

Apesar de uma carreira bastante longa, Marco Silva nunca chegaria à ribalta do futebol nacional. Com passagens por alguns emblemas com tradição em Portugal, essas mesmas acabariam quase sempre por coincidir com uma fase menos boa desses clubes e, desse modo, longe dos palcos primodivisionários. As únicas excepções nesse seu trajecto, acabariam por ser ao serviço do Belenenses (1996/97) e, anos mais tarde, em representação do Campomaiorense (1999/00).
Se durante esses anos, o seu currículo raramente o mostrou fora de uma segunda linha, seria nesses mesmos escalões que a história de Marco Silva começaria a mudar. Depois de envergar, para além das já referidas, as cores de clubes como o Atlético, Trofense, Rio Ave, Sp. Braga (nunca saiu da equipa "b"), Salgueiros e Odivelas, chega a vez do amarelo do Estoril-Praia. É nos "Canarinhos", clube que representou por mais anos seguidos, que outra característica começa a destacar-se no antigo lateral-direito. Muito para além daquilo que era dentro de campo, Marco Silva mostrava-se, igualmente, como um grande parceiro dentro do balneário. Essa sua camaradagem, a maneira como apaziguava os anseios dos seus colegas, ou, se quiserem, a sua capacidade de liderança, levá-lo-ia a envergar a braçadeira de capitão. Muitas responsabilidades se ergueram nesse novo desafio. Há que ter em conta que o Estoril-Praia, por essa altura, atravessava uma grave crise financeira. Salários em atraso e o descontentamento daqueles com quem partilhava o dia-a-dia, acabariam por ser algumas das dificuldades que haveria de enfrentar.
Mas tão bom foi o seu desempenho como "líder do balneário" que, finda a sua carreira nos relvados, Marco Silva seria convidado pelos da "Linha de Cascais", para assumir um cargo como Director-Desportivo. Pouco tempo duraria nessa posição, pois o despedimento do treinador Vinícius Eutrópio, levá-lo-ia a enfrentar novo desafio. Já como o máximo responsável técnico pela equipa, Marco Silva começa a sair do (relativo) anonimato. Conduz os seus pupilos, nessa temporada de 2011/12, a uma campanha magnífica na 2ª Liga, onde, para além da promoção, conseguiria levar o Estoril-Praia a terminar no primeiro posto da tabela classificativa.
Ano seguinte, novo desafio!!! Ora, para a temporada de 2012/13, aquilo que a lógica ditava, ou seja, a luta por um dos lugares da manutenção, acabaria por se tornar num momento singular para o clube e para si. Ao atingir o 5º lugar, Marco Silva conseguiria garantir o seu lugar na história, como o primeiro treinador a levar os "Canarinhos" a uma prova organizada pela UEFA.
Mais uma época e, mais uma vez, o Estoril-Praia repete o feito, qualificando-se para as provas europeias. Por essa altura, o seu nome já não era o de alguém que, a escassos intervalos, era ouvido. Se havia vaticínios, mormente na comunicação social, era agora para alvitrar qual dos "Grandes" garantiria o seu concurso.
Quem ganharia essa tal “corrida” acabaria por ser o Sporting. Hoje em dia nos "Leões", os desafios que se lhe apresentam são enormes. Primeiro, o de dar continuidade ao excelente trabalho feito por Leonardo Jardim. Segundo, não claudicar perante a ansiedade dos adeptos que, tendo visto o seu clube a atravessar uma fase terrível, querem agora sentir, erguidos que estão de novo, o "sabor" dos títulos.

528 - LOPETEGUI


Promissoras exibições no seu percurso de formação, fariam com que o Real Madrid visse nele uma boa aposta para a construção dos seus próximos planteis. Do País Basco para a capital espanhola, a viagem de Lopetegui levá-lo-ia, já que apenas tinha 19 anos, para a equipa "b" dos "Merengues". Mas se o futuro parecia sorrir-lhe, a verdade é que as oportunidades que se lhe perspectivavam ao início, esfumar-se-iam, acabando, pouco ou nada, por aparecer.
Com escassas chamadas à equipa principal "madridista", e já depois de um empréstimo ao Las Palmas, na carreira do jovem guardião urgia a necessidade de jogar ao mais alto nível, e com uma regularidade diferente da, até então, conseguida. A oportunidade de se relançar surgir-lhe-ia vinda do modesto Logroñés. É correcto dizer-se que esta mudança, apesar do clube estar na 1ª divisão, poderia ter sido vista como um passo atrás na sua evolução. Contudo, a qualidade exibicional que acabaria por mostrar, devolvê-lo-ia à ribalta do futebol espanhol. Ora, esta sua ascensão, acabaria por ter reflexo nas chamadas para a selecção. Seria, então, já na campanha de qualificação para o Mundial de 1994, que Lopetegui faria a sua estreia com a camisola do seu país. Faria, também, na sequência dessa sua chamada, parte do lote de atletas que, nesse ano e com o intuito de disputar o já referido torneio, viajaria para os Estados Unidos.
Com o regresso a Espanha, surgir-lhe-ia nova oportunidade de vingar num dos colossos do futebol mundial. Se da primeira vez a chance tinha aparecido de Madrid, já esta segunda, falando de rivalidades desportivas, viria do sentido oposto. Mas, mais uma vez, a história repetir-se-ia. No Barcelona, desta feita na sombra de Busquets, e, mais tarde, na de Vítor Baía, Lopetegui pouco seria utilizado. Apesar de tudo, o guarda-redes, tal como recorda o antigo "nº 1" de Portugal, mostrava-se uma peça fundamental na dinâmica da equipa - "Além de bom colega, transmitia uma boa energia. Apesar de ser o terceiro guarda-redes, que é uma posição sombra, notava-se que tinha espírito de liderança e peso junto da equipa"*.
Terá sido esta sua característica, isto já depois de, em 2002, ter terminado a sua carreira no Rayo Vallecano, que levaria Lopetegui a decidir-se pela vida de treinador. Curiosamente, a sua primeira experiência com técnico seria um autêntico desastre. Depois deste episódio de apenas 10 jogos, ao comando da equipa onde tinha "pendurado as luvas", seguiu-se, 5 anos depois, a passagem pelo Real Madrid Castilla. O sexto lugar aí conseguido, seria suficiente, com um ano de interregno pelo meio, para que a Real Federación Española de Fútbol visse nele um valor seguro para comandar os destinos dos escalões jovens das suas equipas. Apesar do risco que o seu parco currículo apresentava, a verdade é que Lopetegui mostrou-se como uma aposta segura. Os resultados, esses, vieram com as vitórias, primeiro em 2011, do Campeonato Europeu de Sub-19, e depois com a conquista Campeonato da Europa de Sub-21, em 2013.
É com este percurso que Lopetegui chegou, durante este defeso, ao Estádio do Dragão. É certo, muito devido à sua falta de traquejo com equipas seniores, que o antigo internacional espanhol, tem sido visto com alguma desconfiança. No entanto, há também que assumir que o FC Porto atravessa uma fase de renovação. Esta implica a entrada de muitos jogadores, que, com o habitual "poderio" financeiro dos emblemas portugueses, é feito há custa de atletas jovens. Ora, nesse campo, Lopetegui poderá ser visto como o Homem ideal para a função. E se era uma revolução que pretendiam os responsáveis "Azuis e Brancos", então, essa, o técnico espanhol já pôs em marcha. Os resultados??? O tempo logo o dirá...


* Retirado do artigo do "Expresso" (06/05/14), por Isabel Cabral.

TREINADORES 2014

Nova temporada: esperança renovada, muitas caras desconhecidas... e novos "timoneiros". Esta é uma das receitas que, todos os anos, apimenta o começo de mais uma época futebolística.
É certo que os reforços de campo são importantes. No entanto, quando olhamos para os "bancos", há um tipo de previsão que, recorrentemente, se arrisca. Ao "Quanto tempo se aguentarão?", não vamos dar resposta! Contudo, este Novembro será deles! Por isso, estejam preparados para mais um mês de "Treinadores"!!!