693 - ANTÓNIO ROQUETE

Nascido em Salvaterra de Magos, no seio de uma família muito pobre, António Roquete entraria para a Casa Pia. Seria na dita instituição, que o antigo internacional português se revelaria um desportista de nomeada. Natação, basquetebol, pólo-aquático e até basebol, fariam parte da sua lista de modalidades praticadas. Contudo, e apesar de ser um atleta multifacetado, o futebol era a sua grande paixão. Tendo começado nas equipas “escolares” casapianas, António Roquete prosseguiria a sua carreira no denominado Casa Pia Atlético Clube. A destreza que demonstrava, a bravura, mas, principalmente, as técnicas próprias de um bom guarda-redes, rapidamente fariam dele um dos melhores a actuar na sua posição.
Mesmo sem pertencer a um dos mais carismáticos emblemas nacionais, o seu nome, a partir de 1926, começa a fazer parte dos convocados para as partidas da selecção nacional. Com as cores de Portugal, num particular contra a França, faz a sua estreia em Toulouse. Esse jogo, já incluído na caminhada para os Jogos Olímpicos de 1928, era o reconhecimento, e merecido prémio, para a sua habilidade na defesa das balizas. A essa primeira internacionalização seguir-se-iam outras e, nessa senda, a sua presença no certame realizado em Amesterdão estava garantida.
Levado às olimpíadas pela mão do seleccionador nacional Cândido de Oliveira, António Roquete seria titular em todas as partidas disputadas. Portugal chegaria aos quartos-de-final e, mesmo a falta de uma medalha, não inibiria o povo de sair à rua para festejar o regresso dos seus heróis. Nisto, e como é fácil de compreender, a popularidade do guardião subiria em flecha. Alto e espadaúdo, e reflexo daquilo que o futebol já representava nessa altura, até a imagem de António Roquete seria alvo de cobiça e comparada com a dos mais afamados galãs do cinema. 

Também no campo desportivo, o futebolista continuaria a gozar dos maiores louvores. Apesar de apenas ter representado o Casa Pia, por diversas vezes seria cedido a outros emblemas, como o Vitória de Setúbal, o Sporting ou o Benfica, para a disputa de particulares ou como integrante nas digressões realizadas no estrangeiro.
Deste modo, foi com grande surpresa que, no início da década de 30, António Roquete desaparece da cena desportiva. Sem ainda ter completado 30 anos de idade, aquele que era tido como um dos melhores atletas da modalidade, retirava-se dos campos sem, ao que dava a entender, deixar grande rasto!

A verdade, no entanto, era outra. António Roquete abandonaria o futebol para ingressar na Polícia Internacional Portuguesa! Destacado no Minho, aquele que era um ídolo para as massas, tornar-se-ia num temido agente. Reconhecido pela sua faceta violenta e impiedosa, a sua imagem, passados alguns anos, ficaria ainda mais denegrida. É já como elemento da PVDE (Polícia de Vigilância e Defesa do Estado), onde chegaria a subinspector, que António Roquete se envolve em dois casos muito badalados. Na morte do Dr. António Ferreira Soares, contam alguns relatos que terá tido parte activa na cilada perpetrada ao militante do Partido Comunista Português. Nela, e no mesmo consultório onde tantas vezes terá ajudado os mais desfavorecidos, o conhecido “médico dos pobres” terá sido interpelado por uma brigada e atingido a rajadas de metralhadora. Ainda vivo, mas já inanimado, seria arrastado para o interior de um carro da polícia, vindo a morrer pouco depois.
Já no caso da prisão de Cândido de Oliveira, também muito se especulou sobre o seu envolvimento. Pelo que se sabe, o treinador teria tido um papel proeminente no decorrer da 2ª Guerra Mundial, ao ajudar os Serviços Secretos Britânicos em acções de espionagem. Por essa razão haveria de ser levado para o forte de Caxias, onde seria sujeito às mais diversas torturas e privações, para depois ser deportado para o campo de concentração do Tarrafal. Dir-se-ia que o próprio Roquete havia participado nos espancamentos a que Cândido de Oliveira teria sido sujeito. Todavia, esta versão seria posteriormente desmentida pela sobrinha do antigo seleccionador nacional – “Era um rapaz muito pobre, o Roquete, o meu tio protegeu-o, garantiu-lhe refeições, ajudou-o a vestir-se, enfim fez com ele o que fazia com todos os casapianos que precisavam do que fosse... É verdade, que apesar disso, não se portou bem quando Cândido foi preso. Mas bater-lhe parece que não bateu. De qualquer forma, posteriormente, Roquete tentou uma aproximação, mas o Cândido recusou”*.

 
*retirado de  http://oindefectivel.blogspot.co.uk/

692- JOÃO DOS SANTOS


Na temporada de 1923/24, aquando do primeiro triunfo no “regional alfacinha”, já João dos Santos era um dos mais afamados futebolistas “Sadinos”. Interior-esquerdo, o jogador do Vitória de Setúbal sobressaía por ter uma técnica aprimorada e bem acima do que, para a época, era normal. O controlo da bola e a maneira como conseguia construir as jogadas, eram as suas melhores virtudes. Essas suas características, por altura de uma digressão realizada em Espanha, haveriam de merecer o louvor da imprensa local. João dos Santos, para surpresa de “nuestros hermanos”, seria eleito como um dos melhores atletas da comitiva setubalense e acabaria como o grande destaque dos periódicos desportivos – “João dos Santos e Casaca conduziram três ou quatro avançadas que foram um primor de execução. A bola em suave zig-zag ia de um para o outro, sem que ao fazer a passagem perdessem a elegância das suas figuras”*.
Dois anos passados sobre o primeiro brilharete e o Vitória de Setúbal consegue novo triunfo no Campeonato de Lisboa. Para João dos Santos, um dos pilares de tão importante conquista, a época de 1925/26, também no plano pessoal, haveria de ser de consagração. O merecido reconhecimento chegaria com a primeira chamada à selecção nacional. O particular contra a antiga Checoslováquia, onde também faria a estreia o seu colega Armando Martins, muito mais do que o primeiro jogo com a “Camisola das Quinas”, introduziria o atacante no grupo que acabaria por estar presente nos Jogos Olímpicos de Amesterdão.
Todavia, João dos Santos não era apenas um bom atleta. Era, igualmente, um modelo de integridade e cavalheirismo. Como bom exemplo, a rondar os 20 anos de idade, já envergava a braçadeira de capitão do clube para, alguns anos mais tarde, também de ostentar a da selecção nacional. Depois, e já após ter-se retirado dos campos, seria nomeado para treinar a equipa principal do Vitória de Setúbal. Ora, é por todas essas razões que o antigo internacional português é apontado com um dos grandes símbolos da história do clube. Se mais provas fossem necessárias, então a inauguração do Estádio do Bonfim poria um fim a qualquer dúvida mesquinha. É que, a 16 de Setembro de 1962 haveria de ser ele o chamado para, nas festas de abertura do recém-construído recinto, ter a honra de transportar o estandarte do clube.

 
*retirado de http://viiiexercito.com/, citando o “El Mundo Desportivo”

691 - BETO

A terminar a formação no Sporting, o trajecto que também já levava nas selecções jovens, deixava a entender que Beto era um jogador com o futuro assegurado. Se mais provas fossem necessárias, então, a vitória no Euro sub-18, título conquistado por Portugal em 1994, serviria para aferir que o defesa fazia parte de um núcleo de atletas com inquestionáveis dotes.
Já depois da vitória no Europeu, Beto é cedido ao União de Lamas. A época passada na Divisão de Honra, a sua primeira como sénior, sublinharia tudo aquilo que se conhecia do jogador. Seguro a defender, também na construção de jogadas, o atleta mostrava ter alguma habilidade. Ainda assim, e apesar das provas dadas, o seu regresso a Alvalade acabaria por não acontecer e um novo empréstimo, desta feita ao Campomaiorense, seguir-se-ia.
O traquejo conseguido ao serviço do emblema alentejano, daria um sinal precioso aos responsáveis leoninos. Esse ano de 1ª divisão, e com a experiência aí adquirida, faria com que Beto, para a temporada de 1996/97, fosse integrado no plantel principal do Sporting. Ora, e já depois de ter participado nos Jogos Olímpicos de Atlanta, é às ordens do belga Robert Waseige que o defesa, bem depressa, haveria de conseguir conquistar um lugar no sector mais recuado dos “Leões”.
A caminhada de “verde e branco”, que duraria cerca de uma década, cimentaria o atleta como um dos melhores centrais a actuar em Portugal. O reflexo disso mesmo, acabaria por ser a constância com que o seu nome apareceria nas convocatórias para a selecção. Com a estreia a acontecer ainda na fase de qualificação para o Mundial de 1998, Beto mereceria por estar presente em 3 grandes torneios.
Tendo feito parte das comitivas nacionais que disputaram o Mundial de 2002 e os Euros de 2000 e 2004, Beto, também no seu clube, viveria momentos de grande glória. Pelo Sporting, faria parte do grupo que, ao fim de 18 anos de jejum, voltaria a vencer o Campeonato Nacional. 2 anos depois, novas conquistas. Desta feita seria a “dobradinha” de 2001/02 a colorir o seu currículo.
Mesmo tendo conseguido uma boa série de títulos, onde ainda deverão ser incluídas 2 Supertaças (2000/01; 2002/2003), à carreira do jogador faltaria um troféu europeu. A dita oportunidade, acabaria por ser desperdiçada na final da Taça UEFA de 2004/05. Como o próprio já afirmou, essa “falha”, que haveria de transformar-se numa das maiores frustrações da sua carreira, aconteceria em Lisboa. Na final disputada em pleno Estádio de Alvalade, onde Beto faria parte do “onze” inicial, o Sporting, que até inauguraria o marcador, acabaria por não conseguir derrotar o CSKA de Moscovo. Ao golo do brasileiro Rogério, os russos responderiam com mais 3 remates certeiros e o título acabaria por escapar à equipa portuguesa.
Com a chegada de Paulo Bento, Beto, que já era o “capitão” de equipa, acabaria por perder alguma preponderância. Esse afastamento faria com que o jogador pensasse em prosseguir a sua carreira noutro campeonato. O convite acabaria por surgir de França e o atleta assinaria pelo Bordeaux. No entanto, a sua passagem pelos “girondinos” haveria de ser bem curta. Depois de ter chegado a meio da época 2005/06, e sem que nunca ter conseguido afirmar-se como titular, Beto, passados alguns meses, mudar-se-ia para Espanha.
No Recreativo de Huelva, onde voltaria a encontrar-se com Silvestre Varela e Carlos Martins, o defesa acabaria por passar 3 temporadas. Tendo tido, nos dois primeiros anos, exibições de bom nível, alguns problemas físicos levariam ao seu afastamento dos relvados. Essas mesmas lesões marcariam o que restaria da sua carreira e a passagem pelo Belenenses (2009/10) acabaria por, de igual modo, ficar condicionada.
Seria após uma incursão pelos escalões secundários espanhóis, que Beto, depois de vestir as cores do UD Alzira (2010/11), poria um ponto final na sua carreira de futebolista. Contudo, o antigo jogador manteria a sua ligação à modalidade. Primeiro, regressaria ao Sporting para, durante o mandato de Godinho Lopes, desempenhar o cargo de “Director de Relações Públicas e Internacionais”. Depois, daria seguimento a um sonho antigo e, nas camadas jovens do Cova da Piedade (2016/17), é o actual treinador da equipa de Juniores.

690 - ARMANDO MARTINS

Tendo, nos meados da década de 20, surgido na equipa principal do Vitória de Setúbal, Armando Martins, cumpridos apenas alguns meses na dita categoria, faria por merecer a chamada à selecção nacional portuguesa. O jogo com a antiga Checoslováquia, de carácter particular, como que marcaria o ponto de partida para uma carreira que, desde o seu começo, alcançaria enorme realce.
É já depois do primeiro jogo por Portugal, disputado em Janeiro de 1926, que o extremo direito conseguiria um dos mais importantes títulos da sua vida desportiva. Ora, como ainda não havia sido formada a Associação de Futebol de Setúbal, os “Sadinos”, à altura, estavam incluídos nas provas sediadas na capital. Nesse sentido, a temporada de 1926/27 haveria de ter, para o Vitória, uma primeira metade de excelência. Conseguindo sobrepor-se aos favoritos Benfica, Sporting e Belenenses, e com Armando Martins a auferir de um grande destaque, os setubalenses sagrar-se-iam vencedores do Campeonato Regional de Lisboa.
Também no Campeonato de Portugal, na já referida época, os de Setúbal embarcariam em mais uma campanha memorável. Armando Martins, como um dos mais chamados ao “onze” inicial, assumiria novamente um papel de grande importância. Ao lado de nomes como os de Octávio Cambalacho, João dos Santos, Francisco Silva ou Artur Camolas (todos eles chegariam a internacionais) o atleta ajudaria o clube, pela primeira vez na sua história, a chegar à final daquela que era a prova maior do calendário nacional. Na derradeira partida, o Vitória acabaria por claudicar frente ao Belenenses, perdendo por 2-0.
Sensivelmente 1 ano após esta final, Armando Martins, que, de forma continuada, via o seu nome a ser incluído nas convocatórias da selecção portuguesa, é mais uma vez chamado por Cândido de Oliveira. Desta a feita, ao invés dos habituais particulares, a ocasião levaria o jogador a vestir a “camisola das quinas” naquele que era, à altura, o certame de maior importância no universo do futebol. Nos Jogos Olímpicos de Amesterdão, o atleta, com entrada em duas das partidas disputadas, ajudaria Portugal a alcançar os quartos-de-final.
Não foi só como praticante que Armando Martins viveu a sua relação com o futebol. Também na função de técnico, o internacional “luso” haveria de deixar o seu legado. Aos comandos do Vitória de Setúbal, levaria os seus pupilos à primeira final da Taça de Portugal, na história do clube. Mesmo tendo perdido essa edição de 1943/44 para o Benfica, o seu nome é um dos que mais estima merece a estima por parte dos adeptos “sadinos”. No percurso do emblema setubalense, o valor da sua figura é incalculável. Tendo sido um dos melhores futebolistas nas primeiras décadas de vida do clube, também a ele se deve o lançamento de outros atletas. Como exemplo, pode referir-se o nome de um outro craque do futebol português, Emídio Graça.

689 - NUNO AFONSO

Se a ideia que temos de um defesa central, é a de alguém que nada mais faz do que destruir jogadas, então não vamos conseguir falar de Nuno Afonso!
Desde muito cedo, deu a entender que a sua técnica era bem superior à dos seus colegas de posição. Bom a jogar com os pés, o jovem defesa era incapaz de, sem nexo, pontapear uma bola. Esse seu trejeito, já depois de um longo percurso nas “escolas” do Benfica, valer-lhe-ia um lugar no plantel principal. No entanto, numa equipa que, em 1993/94, contava com Mozer, Hélder ou William, as chances para Nuno Afonso acabariam por não ser muitas.
Sem fugir a essa realidade, a verdade é que a sua oportunidade lá chegaria. É deste modo que aos 19 anos, e pela primeira vez, é chamado ao “onze” inicial das “Águias”. Se a situação, só por si, já seria motivo para alguns nervos, então, a derrota sofrida na jornada anterior, ainda poria mais pressão sobre o atleta. Todavia, já em campo, o jovem central em nada parecia amedrontado. Nuno Afonso faria uma exibição impar. Irrepreensível nas funções defensivas, o defesa teria ainda tempo para, numa jogada de impecável recorte técnico, centrar para a grande área adversária e assistir Mozer, para um dos golos da tarde.
Se essa vitória sobre o Belenenses, como muitos o reconheceriam, sublinhava um futuro brilhante para Nuno Afonso, o que haveria de acontecer seria um pouco diferente. Com uma carreira cimentada pelas presenças nas jovens selecções portuguesas, ao atleta eram reconhecidas qualidades suficientes para singrar no mundo do futebol. Contudo, no “defeso” de 1994, e com o título de campeão nacional a abrilhantar o seu currículo, a saída de Toni e a revolução perpetrada pela chegada de Artur Jorge, poriam o jogador na porta de saída.
Dispensado da “Luz”, as duas épocas que se seguiriam voltariam a mostrar Nuno Afonso como um jogador a ter em conta. Belenenses e Campomaiorense, sempre na 1ª divisão, seriam os emblemas que se seguiriam na sua carreira. As exibições que conseguiria, mormente ao serviço do clube alentejano, levá-lo-iam a ser chamado aos Jogos Olímpicos de 1996. Depois de, numa primeira listagem, ter ficado de fora, a lesão de Litos faz com o defesa, já com o torneio a decorrer, seja repescado na convocatória.
A participação de Portugal nas Olimpíadas, onde atingiria o 4º posto, faria com que a cotação dos atletas presentes em Atlanta, começasse a subir. Esse facto, levaria a que de Espanha, num Salamanca orientado por João Alves e recheado de nomes bem conhecidos do futebol português, surgisse uma nova proposta de contrato.
Contudo, a passagem pelo 2º escalão espanhol, muito para além de ajudar o atleta a catapultar-se, haveria de marcar uma mudança de paradigma. Sem conseguir um lugar seguro no plantel, Nuno Afonso, com o regresso a Portugal no ano seguinte, entraria numa fase menos produtiva. Jogando, ainda assim, quase sempre no escalão máximo, o defesa, excepção feita à passagem pela Vila das Aves, raramente atingiria o nível exibicional dos seus primeiros anos de sénior.
Vitória de Setúbal, Paços de Ferreira, Marítimo, o já referido Desportivo das Aves, Oliveirense e, ainda em Espanha, o modesto Díter Zafra, seriam os restantes clubes da sua carreira. Nisto, e talvez desapontado pelo rumo que o seu trajecto profissional estaria a tomar, Nuno Afonso, ainda longe de completar 30 anos de idade, decide abandonar os relvados. Hoje em dia, a residir em Salamanca, é instrutor e dono de dois clubes de padel. A modalidade, com origem no ténis, encontra-se em franca ascensão no país de “nuestros hermanos“, e tem no antigo futebolista um dos maiores fãs e impulsionadores!

688 - CIPRIANO SANTOS


Tendo entrado para as categorias inferiores do Sporting perto de atingir a maioridade, Cipriano Santos rapidamente começaria a demonstrar características que o destacariam dos demais. Sendo considerado um dos primeiros guarda-redes que, em Portugal, mostraria verdadeiras aptidões para a defesa da baliza, o jovem atleta saltaria directamente da 4º categoria e, sem passar por qualquer um dos restantes patamares, passaria para a equipa principal.
Coincidência, ou não, com a promoção do jovem atleta, o Sporting daria início a um ciclo de vitórias que, logo na sua temporada de estreia, culminaria com a vitória do clube tanto no Campeonato de Lisboa, como no Campeonato de Portugal. Essa época de 1922/23, num grupo onde pontuavam atletas como o mítico Francisco Stromp, seria o ponto de partida para uma carreira que elevaria Cipriano Santos a um dos grandes ídolos dos “verde e branco”.
Não conseguindo mais nenhum título nacional, mas acrescentando ao seu currículo mais 3 “regionais alfacinha”, também pela selecção nacional Cipriano Santos deixaria a sua marca. Numa altura em que o “rei e senhor” das redes portuguesas era o casapiano António Roquete, o guardião leonino era o segundo nas contas da equipa nacional. Ainda assim, o atleta natural de Almada, por duas vezes, conseguiria furar a hegemonia do seu colega. Tendo a sua estreia acontecido num particular frente à antiga Checoslováquia, a segunda dessas internacionalizações chegaria uns meses antes da presença de Portugal nos Jogos Olímpicos de 1928.
Na cidade holandesa de Amesterdão, Cipriano Santos, ao lado dos seus colegas de equipa Jorge Vieira e José Manuel Martins, acabaria por não participar em qualquer uma das partidas que levariam a “Equipa das Quinas” a atingir os quartos-de-final da competição. Mesmo sem conseguir qualquer presença em campo, nessas que seriam as primeiras Olimpíadas para o futebol do nosso país, nada na sua reputação sairia beliscado.
No que restaria da sua carreira, o guarda-redes dos “Leões”, manter-se-ia no topo do futebol português. Para além da consideração que conseguiria entre adversários e tantos outros amantes da modalidade, seria entre os associados sportinguistas que lograria os maiores louvores. Ora, já depois de deixar o clube e de, após representar Académica de Coimbra e Boavista, ter posto um ponto final na sua carreira de desportista, os préstimos do antigo guardião continuariam a ser reconhecidos no seu antigo clube. A prova de toda essa gratidão, passados alguns anos, viria aquando das bodas de ouro do clube, com a agraciação pela Medalha de Mérito e Dedicação.

687 - CÉSAR DE MATOS

Foi, sem sombra de dúvida, um dos grandes ídolos do futebol “luso”, entre os anos 20 e os anos 30. Já no Belenenses, a sua história é ainda de maior importância, sendo, ainda nos dias que correm, um dos jogadores com mais internacionalizações, na história do clube.
Ora, depois deste pequeno parágrafo introdutório, que mais haverá para dizer sobre César de Matos? Bem, nesse bastante, e naquelas que viriam a ser as décadas seguintes à fundação do clube da “Cruz de Cristo”, o antigo médio constituir-se-ia como um dos pilares do sucesso do Belenenses. Nesse sentido, e tendo os de “Azul” vencido o Campeonato de Portugal nas temporadas de 1926/27, 1928/29 e 1932/33, se houve, entre outras coisas, algo de comum a esses três títulos, então, o nome de César de Matos foi uma delas.
Sendo um jogador aguerrido, ágil e atlético, características que o levariam a ser apelidado como o “médio voador”, César de Matos era um dos esteios nas manobras de Artur José Pereira. A rapidez com que haveria de conseguir impor-se no plantel principal, levá-lo-iam, logo no primeiro ano a trabalhar com a dita categoria, a ser visto como um bom elemento para integrar os planos da selecção.
A sua estreia com a “Camisola das Quinas”, pela mão do seleccionador Ribeiro dos Reis, aconteceria a 17 de Maio de 1925. Essa partida frente à Espanha, acabaria por marcar o início de uma relação que, muito mais rica do que o normal para a época, traduzir-se-ia em 8 anos de ligação e 17 internacionalizações. Por entre essas chamadas, grande maioria para contendas “amigáveis”, a presença naquela que era a maior competição para selecções.
Sem Mundial ou Europeu para disputar, os Jogos Olímpicos afiguravam-se como o grande certame para as equipas nacionais. Tendo isto em mente, e na hora de organizar a lista dos que haveriam de marcar presença no certame disputado em Amesterdão, a mão de Cândido de Oliveira, por certo, não terá tremido no momento de inscrever o nome de César de Matos. A presença do atleta acabaria por ficar registada, traduzindo a sua importância no seio do grupo, em todos os jogos do nosso país. Portugal apenas chegaria aos quartos-de-final da competição. Ainda assim, e nesse longínquo ano de 1928, a comitiva, já no seu regresso, seria recebida com grandes louvores. César de Matos seria um dos mais acarinhados, momento que serviria, ainda mais, para elevar o seu estatuto de estrela do desporto português.
A primeira época do Campeonato da Liga (1934/35) marcaria o fim da carreira de César de Matos. Numa vida de futebolista, antagónica àquilo que hoje temos como certa, o centrocampista haveria de conciliar aquele que era um mero entretém, com a sua profissão de Torneiro Mecânico. Ainda assim, nesses tempos de “amadorismo”, o jogador conseguiu, fruto da sua paixão pela modalidade, acumular um incrível rol de conquistas. Para além do que aqui já foi referido, ainda falta listar 4 Campeonatos de Lisboa e várias presenças com a camisola da selecção regional “alfacinha”.

686 - ANDRADE

Produto das escolas leoninas, Andrade, tal como tantos outros jovens, faria a sua estreia nos seniores, numa equipa de menor monta. Ora, terminada a sua formação no Sporting, o atleta, na temporada de 1992/93, acabaria por rumar ao Estoril-Praia. Sem lugar em Alvalade, os anos que passaria com os da “Linha de Cascais”, serviriam para provar que as suas qualidades eram um valor que não estava perdido.
Com presenças nos diversos escalões jovens da selecção portuguesa, pela qual disputaria os mais importantes certames desportivos, o médio defensivo continuaria nos planos daqueles que o tinham acompanhado até aí. Em 1996, no mesmo Verão em que faria a transição do Estrela da Amadora para o Belenenses, Andrade é chamado a disputar os Jogos Olímpicos de Atlanta. Sendo um dos principais peões na manobra do seleccionador Nelo Vingada, o atleta haveria de marcar presença na maioria das partidas. Titular em 4 desses jogos, Andrade ajudaria, e muito, na caminhada até ao 4º posto.
Não só a presença nas Olimpíadas, mas, principalmente, as 2 temporadas que, de seguida, faria no Restelo, encaminhariam Andrade para a linha-da-frente do futebol nacional. Mais uma vez cobiçado pelos emblemas maiores em Portugal, o jogador, na época de 1998/99, acabaria por mudar-se para o Benfica.
Numa altura em que o futebol “encarnado” vivia com bastantes problemas, a atitude que Andrade mostrava no relvado, era tida como o tónico para melhores desempenhos colectivos. Podendo, tanto na defesa, como no centro do terreno, actuar em diversas posições, o atleta era conhecido pela maneira aguerrida como disputava cada lance. Todavia, essa sua bravura acabaria por nunca ser entendida como suficiente. Com algumas expulsões a atrapalhar a sua afirmação no seio do plantel, o jogador não seria capaz de, em definitivo, segurar um lugar no “onze” inicial. Ainda assim, com um empréstimo ao Sporting de Braga pelo meio, o atleta passaria 4 temporadas ao serviço das “Águias”.
Tenerife, no segundo escalão espanhol, a Académica de Coimbra e uma curta passagem pelos cipriotas do AEP, serviriam para antecipar aquela que viria a ser a sua derradeira etapa como futebolista. Já de regresso a Portugal, Andrade encetaria um périplo considerável e que o levaria a cirandar por clubes dos escalões ditos amadores.
Já bem à vista dos 40 anos de idade, e a jogar nos “regionais” de Lisboa, Andrade decide que era a hora certa para “pendurar as chuteiras”. Tendo, ainda nos últimos anos como futebolista, dado os primeiros passos nas funções de técnico, foi com naturalidade que, após retirar-se dos relvados, o antigo jogador deu continuidade à nova carreira. Nesse sentido, e aos comandos do Damaiense, teria na época transacta (2015/16), isto numa equipa sénior, a sua primeira experiência como treinador principal.

685 - RAÚL FIGUEIREDO

Por vezes, dada a distância que nos separa dos anos em que determinado jogador marcou presença nos campos de futebol, não é fácil construir uma imagem daquilo que a sua carreira terá sido. No caso de Raúl Figueiredo, essa tarefa também não foi fácil. No entanto, o que se afigurou bem claro é que o antigo internacional português foi, à altura, um dos grandes craques da modalidade.
Havendo alguma discussão quanto à sua naturalidade, variando o local do seu nascimento, segundo diferentes autores, entre as cidades de Setúbal e Lisboa, o que é quase certo é que as origens de Raúl Figueiredo estarão na grande região da capital. Nesse sentido, não é de estranhar que os primeiros pontapés na bola tenham sido dados nas já referidas localidades. Vitória de Setúbal, Sporting e Carcavelinhos, parecem constar, sem grande certeza na cronologia, como os emblemas da sua adolescência. Já o Avenida FC, emblema sediado na cidade sadina, aparenta constar como o primeiro clube sénior da sua carreira.
No meio de tantas dúvidas, o que é certo é que Raúl Figueiredo chegaria à ribalta do desporto português, envergando as cores do Olhanense. Também conhecido como “Tamanqueiro”, alcunha dada por razão das artes do seu pai, o atleta era dado a funções mais defensivas. Ora como defesa, ora no centro do terreno, a segurança que dava à equipa, permitia aos companheiros mais avançados outras veleidades. Seria esta certeza que permitiria aos de Olhão a maior façanha da sua história. Para a temporada de 1923/24, o Olhanense, num plantel onde também constava o internacional José Delfim, consegue bater todos os adversários que, nas eliminatórias do Campeonato de Portugal, foram aparecendo pela frente. Na final disputada com o FC Porto, mais uma vitória e a conquista daquela que, à altura, era a prova de maior importância disputada no nosso país.
Depois deste êxito, não faltou muito para que da Selecção Nacional recebesse a sua primeira chamada. Ribeiro dos Reis, o seleccionador de então, convocaria o jogador para um particular frente a Espanha. A 17 de Maio de 1925, dando início a uma ligação que duraria cerca de 5 anos, Raúl Figueiredo daria o primeiro passo para averbar um total de 17 internacionalizações.
Quem, igualmente, não deixaria escapar o futebolista, seria o Benfica. Afastados dos títulos havia alguns anos, os “Encarnados” veriam no atleta uma boa oportunidade para atacar tanto os troféus regionais, como os de âmbito nacional. Regressado a Lisboa, e, numa altura em que o futebol não era suficiente para subsistir, Raúl Figueiredo também trocaria a venda de peixe pela condução de um Táxi. Já no que às conquistas pertence, a aposta acabaria por não ser de grande proveito. No entanto, mesmo sem grandes vitórias, as suas exibições no Benfica valer-lhe-iam um valente acréscimo de fama.
Ora, para toda essa reputação, também haveria de contribuir, e muito, a presença naquela que, por esses tempos, era a maior competição mundial para selecções. Em 1928, na cidade holandesa de Amesterdão, Raúl Figueiredo, desta feita comandado por Cândido de Oliveira, faria parte da comitiva que, no que ao futebol diz respeito, pela primeira vez disputaria os Jogos Olímpicos.
 Pouco tempo passado sobre a participação nas Olimpíadas, Raúl Figueiredo desvincula-se do Benfica. Alternado o Olhanense com o Recreativo de Huelva, onde desempenharia a função de treinador/jogador, o internacional “luso” encetaria um périplo que o levaria a representar ainda mais alguns clubes. Que se conheça, também passaria pelo Académico do Porto e, voltando a cumprir tarefas tanto de técnico, como dentro do campo, o Sporting de Braga, União de Coimbra e Recreio Desportivo de Braga.
Na vida, teria um fim muito precoce. Faleceria, vítima de doença oncológica, com apenas 38 anos. Como herança, brindaria a memória dos que o viram em campo, com a imagem de alguém atlético e batalhador. Àqueles de quem era mais próximo, mais precisamente na ideia do seu filho, deixaria a vontade de prosseguir um legado. É desta maneira que, Raúl Figueiredo e o homónimo, seu descendente, originariam a primeira dupla pai/filho a vestir as cores de Portugal.

OLÍMPICOS, parte II

Com os Jogos Olímpicos de 2016 a começar dentro de dias, que melhor oportunidade para recordar aqueles que fizeram história nesta competição? Com o futebol português, agora na cidade do Rio de Janeiro, a averbar a sua 4ª participação, o mês de Agosto será dedicado àqueles que, noutras edições, também ajudaram a carregar o estandarte nacional.