938 - BLOKHIN

Terá sido, provavelmente, o melhor jogador saído do antigo bloco soviético. É certo que em termos de popularidade teremos que o comparar com Belanov ou com o incontornável Yashin. Todavia, e perdoem-me o abuso, mas Blokhin foi o maior génio em termos técnicos saído da URSS.
Formado nas escolas do Dínamo de Kiev, Blokhin chegaria à categoria principal pelas mãos do técnico Victor Maslov. Chamado quando ainda era adolescente, os primeiros anos com os seniores serviriam para que o avançado conseguisse adaptar-se a uma realidade competitiva mais exigente. É lógico que tão precoce convocatória era o reflexo de todas as esperanças que, desde cedo, começariam a depositar-se no avançado. Excelente com a bola nos pés, a maneira como lia o jogo e a capacidade que tinha para finalizar jogadas de ataque, completavam-se com harmonia na sua pessoa. Todas essas características vincar-se-iam com maior enfase passados alguns anos e, mormente, sob o comando do mítico Valeriy Lobanovskiy.
A partir de 1972, Blokhin começa a ganhar uma preponderância enorme no seio do plantel. No final dessa campanha, orientado ainda por Aleksandr Sevidov, os 14 golos que concretizaria dar-lhe-iam o troféu de Melhor Marcador do Campeonato Soviético. Esse prémio, a juntar ao título de campeão conquistado um ano antes, serviriam de prelúdio para uma carreira recheada de vitórias. Com o referido Valeriy Lobanovskiy já como treinador, mais conquistas entrariam no seu palmarés. É certo que inserido num plantel recheado craques, mas sendo o grande esteio de toda uma dinâmica, o avançado voltaria ser a principal figura nas campanhas seguintes.
Para além das 8 conquistas no Campeonato Soviético, das 5 na Taça da URSS e mais 3 na Supertaça, seriam as competições europeias que transformariam o avançado num fenómeno global. Para tal muito contribuiriam as brilhantes vitórias na Taça dos Vencedores das Taças de 1974/75 e de 1985/86 e na Supertaça da UEFA de 1975/76. No entanto, e sem tirar valor aos outros 2 triunfos, há um momento que ficaria na memória de todos os adeptos do futebol. Numa Supertaça da UEFA ainda disputada a 2 mãos, os 3-0 do cômputo final contariam com 3 golos de Blokhin. Ainda assim, um dos golos mereceria um maior destaque do que os restantes. No primeiro embate frente ao Bayern de Munique, uma bola recuperada à saída da grande-área, acabaria nos pés do atacante. Sem que nada o intimidasse, nem o facto de estar a jogar na casa do adversário, o avançado arranca pelo campo fora. Um a um, “dribla” os adversários que se atravessam no seu caminho e, depois de deixar Franz Beckenbauer para trás, bate o guardião Sepp Maier.
Além-fronteiras, também as cores do seu país serviriam para aumentar a sua reputação. Com a estreia pela principal equipa da URSS a acontecer em 1972, esse particular frente à Finlândia daria início a uma caminhada de 112 internacionalizações e 42 golos. Os números aqui apresentados fariam do avançado o atleta com mais jogos e remates certeiros na história da selecção soviética. No contexto da equipa nacional, e mesmo sem conseguir vencer os grandes torneios em que participaria, as disputas dos Mundiais de 1982 e 1986 seriam os palcos certos para sublinhar o seu valor. Claro está, e muito à imagem da sua nação, seriam os Jogos Olímpicos a laureá-lo. Duas medalhas, ambas de bronze, seriam o rescaldo da sua participação nas edições de 1972 e 1976.
Para entender melhor a grandeza do seu futebol há que falar nos prémios individuais que, durante mais de duas décadas como futebolista, conseguiria amealhar. Já aqui foi referido o primeiro prémio que ganhou como Melhor Marcador do Campeonato. A esse teremos ainda que adicionar uma longa lista. Nesse rol de troféus há que incluir mais 4 como o goleador máximo soviético. Depois, vêm ainda os 3 galardões de Jogador Soviético do Ano, de Melhor Marcador na edição de 1985/86 da Taça das Taças, o recorde de presenças e golos no Campeonato Soviético e, como a cereja no “topo do bolo”, o Ballon d’Or de 1975.
Faltou-lhe, se analisarmos a sua carreira aos olhos de hoje, uma mudança para uma das principais ligas europeias. Curiosamente, tal esteve à beira de acontecer! O Real Madrid, após as primeiras conquistas europeias do avançado, chegaria a apresentar uma proposta pela aquisição dos seus serviços. Consta que tudo chegou a estar acordado entre os dois emblemas. No entanto, prevaleceria a lei que impedia atletas de deixar a URSS antes de completarem 29 anos de idade. Blokhin acabaria por manter-se com as cores do Dínamo de Kiev quase até ao fim do seu trajecto como futebolista. Sairia em 1988, quando já contava 35 anos, para os austríacos do Vorwärts Steyr.
No que à sua relação com a modalidade diz respeito, Blokhin acabaria também por desempenhar outras funções. Após, em 1990 e ao serviço do Aris Limassol, ter posto um ponto final na sua caminhada como atleta, o antigo atacante abraçaria as obrigações de treinador. Nessas tarefas passaria mais de uma década a orientar clubes gregos, entre os quais o Olympiacos e o AEK. No regresso ao seu país, tomaria conta da selecção e, com a Ucrânia, participaria no Mundial de 2006 e no Euro 2012. Destaque também para a sua passagem pelo Dínamo Kiev e, como dirigente, pelo Chornomorets.

937 - COELHO

Ao terminar o percurso formativo no Atlético, seria ao serviço do emblema lisboeta que, na época de 1972/73, Carlos Coelho faria a primeira partida no escalão sénior. Apesar da felicidade da estreia, o final da referida temporada acabaria por trazer a descida do emblema de Alcântara e, para o atleta, um período de 2 anos em que estaria afastado dos grandes palcos do futebol nacional.
O interregno a que ficaria sujeito após a despromoção do seu clube, com a passagem pelos patamares secundários, faria com o defesa ganhasse algum traquejo. A experiência adquirida daria ao lateral direito a vantagem necessária para que, logo na temporada de 1975/76, conseguisse assegurar um lugar no “onze” inicial do Atlético. Com essa conquista, e as boas exibições daí resultantes, Coelho passaria a ser visto como um futebolista de calibre primodivisionário.
Voluntarioso, bom a defender, mas sem ser muito exuberante na hora de atacar, o prestígio do jogador começaria a crescer. Com o Atlético a sofrer nova despromoção no final de 1976/77, não foi muito difícil para que surgissem interessados na sua contratação. Sem deixar a 1ª divisão, seria no Sporting de Espinho que o defesa daria continuidade ao seu percurso profissional. Nos “Tigres da Costa Verde”, e apesar de ainda ter vivido o calvário da descida, o lateral acabaria por cimentar a condição de atleta de topo. A evolução demonstrada nessas 4 campanhas, acabaria por levar a que outro clube apostasse na sua contratação. O Portimonense, em franca ascensão, acabaria por ser o seu destino.
No Algarve, principalmente após a chegada de Artur Jorge ao comandado técnico, o conjunto em que estava integrado começa a fabricar excelsas exibições. As prestações colectivas, das quais Coelho era um dos principais pilares, acabariam por empurrar o defesa para outros horizontes. Da Federação Portuguesa de Futebol, logo na 1ª temporada com os “alvinegros”, chega a chamada para a estreia na principal selecção portuguesa. O lateral, que por essa altura já era internacional “Olímpico”, seria escalonado por Juca para defrontar a Grécia. Titular nesse amigável disputado em Janeiro de 1982, o atleta, mantendo sempre o lugar no “onze” inicial, ainda conseguiria somar mais 2 partidas com a “camisola das quinas”.
Após deixar Portimão no defeso de 1984, o atleta passaria a disputar os escalões secundários. Numa altura em que já tinha ultrapassado a barreira dos 30 anos de idade, Estrela da Amadora e Cova da Piedade completariam o seu percurso como futebolista profissional. Depois de “pendurar as chuteiras”, Coelho enveredaria pela carreira de treinador. Nessas funções orientaria algumas equipas, com principal destaque para Estrela da Amadora, Casa Pia, Atlético ou Real de Massamá.

936 - BOLOTA

Chico Bolota, ou simplesmente Bolota, foi um atleta que brilhou nos maiores palcos do futebol nacional. Avançado possante, seria durante a década de 70 que mais conseguiria destacar-se. Intrépido, a forma “musculada” como enfrentava todos os lances valer-lhe-ia a passagem pelos planteis primodivisionários do Barreirense, União de Tomar e Montijo.
Ainda que tendo conseguido maior destaque ao serviço dos da “Cidade Templária”, seria na Margem Sul do Rio Tejo que faria a estreia entre os “grandes” do futebol português. Contratado ao Alcochotense, seria no Barreirense comandado por Vieirinha que, em 1967/68, o ponta-de-lança encetaria o seu percurso no escalão máximo. Depois dessa estreia na temporada de 1967/68, Bolota voltaria a aparecer na 1ª divisão na época de 1969/70. Ambas as campanhas, em termos individuais, ficariam abaixo do esperado para um atleta cuja esperança nele depositada era grande.
O contrário aconteceria aquando da sua transferência para o União de Tomar. Nas Margens do Rio Nabão, Bolota conseguiria alcançar aquilo que tinha perseguido nas anteriores passagens pela 1ª divisão. Ao conquistar a titularidade logo na temporada de 1971/72, o atacante tornar-se-ia numa das referências do conjunto ribatejano. Para esse estatuto muito contribuiria a entrega mostrada dentro de campo. Para além disso, os golos que concretizaria nessas 5 épocas (uma delas na 2ª divisão), fariam dele o goleador máximo da equipa nas aventuras primodivisionárias.
A notoriedade conseguida no futebol português, ainda que sem ter conseguido chegar a uma equipa de topo, faria com que de outros lados as suas habilidades fossem cobiçadas. Nos Estados Unidos da América, numa “North American Soccer League” cada vez mais bem cotada, o atleta contaria com algumas passagens. Com o destaque para as suas exibições ao serviço dos Rochester Lancers, onde partilharia o balneário com o também “luso” Ibraim Silva (ex-Benfica) e com Ratko Svilar (pai do benfiquista Mile Svilar), os capítulos americanos seriam testemunhos de uma qualidade que, asseverada por muitos, não saberia ser devidamente aproveitada.
Também o Montijo faria parte da sua história na 1ª divisão portuguesa. Curiosamente seria o regresso ao emblema da Margem Sul que, em 1984/85, poria um ponto final no seu percurso como futebolista. Entretanto, outras camisolas completariam a sua caminhada. A jogar exclusivamente nos escalões secundários a partir do final dos anos 70, Juventude de Évora, Lusitano de Évora e mais umas voltas no União de Tomar, acabariam por colorir o resto de uma carreira que chegaria ao fim com o atleta já perto de completar 40 anos de idade.

935 - FERRO


Seria da UD Oliveirense, à altura a disputar a 3ª divisão nacional, que, no Verão de 1969, o guarda-redes chegaria para reforçar o Belenenses. Todavia, e com um concorrente de peso como era Mourinho Félix, poucas seriam as oportunidades que conseguiria conquistar nas balizas do Restelo.
Tapado pelo internacional português, a sua saída no final da temporada de 1973/74 ditaria uma ausência de 2 anos sem jogos disputados no nosso maior escalão. O regresso, já ao serviço do Estoril-Praia, mostraria um atleta muito mais preparado para os desafios primodivisionários. Nesse sentido, e mesmo sem conseguir agarrar um lugar como titular absoluto, o maior número de presenças nas fichas de jogo daria o sinal de uma evolução positiva. Seria também durante esse período com os da “Linha de Cascais”, que o guardião viveria uma das melhores campanhas de sempre. Na última dessas 3 temporadas, e com a saída de Rui Paulino para o Belenenses, José Bastos (e mais tardar José Torres) dar-lhe-ia a responsabilidade de tomar conta das redes “canarinhas”. Com Celestino Ruas, também seu colega no Restelo, a ser relegado para o banco de suplentes, Ferro seria elevado à condição de titular.
Há também uma história particularmente engraçada e que haveria de marcar a sua passagem pelo Estoril-Praia. A 12 de Setembro de 1976, com a equipa a ser comandada por António Medeiros, os “Canarinhos” apresentar-se-iam no Restelo para defrontar o Belenenses. Nada de anormal, até porque esse era um dos jogos calendarizados para a 2ª jornada do Campeonato Nacional da 1ª divisão! Contudo, e o que tornaria curioso o dito embate, seriam os equipamentos dos visitantes. Se nas cores das vestimentas nada havia de extraordinário, já nas costas das camisolas apareceria algo que, para a época e por estas bandas, não era nada normal. Todos os jogadores do conjunto da “Linha”, com Ferro a ocupar um lugar à baliza, espantariam todos os espectadores ao entrar em campo com os nomes estampados no equipamento!
Após esse período passado com o Estoril-Praia apareceria na sua carreira o Marítimo. No conjunto do Funchal voltaria a encontrar-se com António Medeiros. Aliás, no que a reencontros diz respeito, a sua passagem pela Madeira também contaria com outros antigos colegas seus. Fernando Santos e Fernando Martins seriam outros dos nomes que, vindos dos “Canarinhos” acabariam por partilhar o balneário maritimista com o guardião.
Seria o final dessas 3 temporadas ao serviço dos “rubro-verdes” que marcaria a derradeira campanha de Ferro no escalão principal. Alternando a titularidade com períodos passados no banco, a temporada de 1980/81 terminaria com a despromoção da equipa insular. A descida do Marítimo levaria a que o atleta procurasse dar novo rumo ao seu trajecto profissional. A solução encontrá-la-ia no Sul do país. O contracto assinado com o Farense assinalaria o começo do seu ocaso. Numa carreira que terminaria com o futebolista à beira de completar 40 anos de idade, Silves, Vitória de Lisboa (clube que faria parte do seu percurso formativo) e Almada seriam algumas das cores que completariam a sua caminhada desportiva.

934 - SKUHRAVÝ

Descoberto pelo Sparta de Praga nas “escolas” do modesto Prerov Nad Labem, seria no histórico emblema da capital que Skuhravý terminaria a sua formação como jogador. A transição feita na época de 1982/83, e tendo em conta que o atacante era visto como uma das maiores promessas do clube, acabaria por desapontar algumas pessoas. No entanto, os responsáveis da equipa sabiam que as suas qualidades não tinham desaparecido. A aposta na sua progressão manter-se-ia e, depois de 2 temporadas em que pouco seria utilizado, a solução encontrada levá-lo-ia a um empréstimo de 2 anos.
A evolução demonstrada no Rudá Hvezda Cheb surpreenderia até os mais cépticos. Dono de um físico imponente, o seu “faro” para o golo também o asseveraria como um dos bons avançados a actuar no país. Tal seria a qualidade das suas exibições que, antes de voltar ao Sparta, Skuhravý seria chamado à principal selecção da Checoslováquia. Esse particular disputado frente à Polónia em Setembro de 1985, serviria para reforçar a ideia que não tardaria muito até que o emblema titular do seu “passe” desse instruções para o seu regresso.
De volta ao emblema de origem, as 4 temporadas seguintes serviriam para a sua consagração. O ponta-de-lança, que pelo clube já contava com a vitória no Campeonato e Taça de 1983/84, viria o seu palmarés crescer imenso. Num grupo recheado de internacionais, como Chovanec, Jirí Novotny, Jan Stejskal, Nemecek, Bilek, entre tantos outros, os sucessos chegariam em catadupa. Mais 4 Campeonatos e 2 Taças acabariam por ser o saldo desse seu regresso.
Mesmo tendo em conta todas essas vitórias, o momento que realmente lançaria o atleta para os escaparates do futebol seria o Campeonato do Mundo de 1990. Com o Sparta a não conseguir ir muito além nas provas continentais, o torneio disputado em Itália seria a oportunidade para Skuhravý demonstrar que as suas qualidades mereciam outros desafios. Com 5 golos concretizados durante o torneio, só o italiano Salvatore Schillaci conseguiria ultrapassar o avançado checo. Esse 2º posto na tabela dos Melhores Marcadores, levaria a que alguns emblemas das principais ligas europeias o arrolassem como prioridade na lista de contratações. Não tardou muito a que os convites tomassem corpo e seria no “Calcio” que, a partir desse capítulo, o atleta daria continuidade à sua carreira.
As portas abertas pelo Genoa elevá-lo-iam à condição de estrela. Para isso muito contribuiriam as boas exibições do colectivo onde, no ataque, faria dupla com o uruguaio Carlos Aguilera. Essa parceria seria um dos principais pilares para o 4º lugar alcançado na temporada de 1990/91. A classificação para as provas europeias levaria o conjunto a mais uma bela campanha. Na Taça UEFA do ano seguinte, os “Rossoblu” encetariam uma caminhada que levaria o conjunto a atingir as meias-finais. Nessa aventura, também os golos de Skuhravý contribuiriam para que equipa progredisse na prova e ultrapassasse Real Oviedo, Dínamo de Bucareste, Steaua de Bucareste e até o Liverpool. Contudo, tal como noutros cenários competitivos, a maior contribuição do avançado viria do seu físico. Capaz de, no alto do seu 1,93m e quase 100kg, dar cabo de uma defesa, o cansaço que impunha aos adversários eram uma porta aberta para as rápidas ofensivas do companheiro sul-americano.
A dupla manter-se-ia apenas durante essas duas primeiras temporadas. Outros chegariam como o holandês John van’t Schip ou o nipónico Kazu Miura. Ainda assim, os resultados acabariam por não ser tão prolíferos quanto aqueles alcançados pelo consórcio checo/uruguaio. O reflexo ver-se-ia também nas prestações colectivas. O Genoa passaria os anos seguintes a lutar pela permanência. Skuhravý, parecendo acompanhar a descida de rendimento do clube, também entra em declínio. Aos poucos, o avançado começa a aparecer nos jornais mais por aquilo que fazia fora dos campos, do que dentro deles. As manchetes referentes às noitadas ou aos acidentes rodoviários seriam mais frequentes que aquelas que noticiavam as boas exibições do atleta. A descida do clube à “Serie B” pioraria todo esse cenário e, já no decorrer da temporada de 1994/95, é negociada a sua saída.
É Pedro Santana Lopes, à altura o Presidente do Sporting, que abençoaria as negociações que conduziriam o ponta-de-lança ao Sporting. Em Alvalade, Skuhravý continuaria na senda das exibições discretas. Bem longe dos tempos que o haviam notabilizado, a meia época feita ao serviço dos “Leões” resultaria apenas em 4 partidas disputadas. Na verdade, o maior destaque que conseguiria da imprensa nacional seria, mais uma vez, a notícia de outro carro espatifado.
A mudança para o Viktoria Zizkov em 1997/98, selaria o fim da sua carreira como futebolista. Ainda que ligado à modalidade, as suas aparições no futebol têm estado mais relacionadas com o comentário desportivo. Paralelamente, tem dado a sua ajuda a discretos emblemas italianos. No Ischia Isolaverde ficaria encarregue pelas camadas jovens; no Real Vicenza seria consultor técnico; e no Varazze seria contratado para “manager”.

933 - GOMES

De quando em vez aparece-nos um desafio que, em muitos aspectos, o torna mais difícil que os demais. Como será simples de entender, a pouca informação encontrada sobre Gomes tornou este “post” num repto diferente da maioria. Para muitos daqueles que visitam o nosso “blog”, também não será fácil perceber o porquê da escolha do atleta para número 933. No entanto, e como poderão asseverar nas próximas linhas, o médio até conseguiria desenhar uma carreira desportiva com diversos pontos de interesse.
Tendo terminado a sua formação nos juniores da AD Fafe, seria no começo da década de 80 que Gomes faria as suas primeiras aparições na categoria principal do conjunto minhoto. Ainda que promovido numa altura em que o clube andava entre o segundo e terceiro escalão nacionais, os anos seguintes mostrariam uma equipa que, estando mais estável nas suas ambições, começava a sonhar com outros objectivos.
O culminar dessa ambição começaria a tomar forma, ainda que com algumas peripécias, na temporada de 1987/88. O grupo, então comandado pelo técnico José Rachão, muito mais do que conseguir atingir os quartos-de-final da Taça de Portugal, haveria de classificar-se na 3ª posição da 2ª divisão – Zona Norte. A posição alcançada, como é fácil de constatar, não dava lugar à tão almejada promoção. É então que, com a época de 1988/89 prestes a começar, rebenta um escândalo de suposta corrupção. Os campeonatos ainda dão os primeiros passos. Entretanto, a sentença saída do processo que envolvia o alegado aliciamento do Famalicão ao Macedo de Cavaleiros, pune os minhotos*. Tudo muda! O Famalicão, que tinha conseguido a promoção à 1ª divisão, é castigado com a descida à 3ª divisão. Como resultado, e para substituir os condenados, a AD Fafe é chamada à disputa do escalão máximo.
Com a inesperada convocatória, Gomes torna-se também numa das boas surpresas do Campeonato Nacional. Tanto nos planos do já referido José Rachão como, depois da 16ª jornada, nas fichas de jogo preenchidas por Manuel de Oliveira, o médio tornar-se-ia num dos atletas com mais presenças em campo. Ao lado de Rogério Leite, com quem faria dupla no miolo fafense, o centrocampista acabaria por ver o conjunto falhar a meta da manutenção. Após essa curta aventura primodivisionária, seria no regresso aos patamares secundários que o jogador daria seguimento ao seu percurso profissional.
Depois de mais de uma década a representar a AD Fafe, a descida significaria o divórcio entre o clube e o futebolista. Para esse facto muito contribuiria o convite de Manuel de Oliveira que, logo na temporada seguinte, o levaria para o Varzim. Curiosamente, alguns anos depois também voltaria a reencontrar-se com um dos treinadores que o haviam acompanhado no escalão maior do futebol português. Como que a asseverar a qualidade das suas exibições e entrega, um dos seus antigos técnicos lembra-se do velho discípulo. Após deixar os poveiros e de ter passado uma campanha com as cores do Louletano, é na histórica Académica de Coimbra que Gomes voltaria a trabalhar com José Rachão.
O que restou da sua carreira, mantendo sempre a preponderância de épocas anteriores, seria passada em emblemas mais modestos. Num percurso que ainda duraria muitos anos, destaque para o regresso ao Varzim em 1992/93 e para as diversas campanhas com as cores do Lixa. A sua caminhada sénior, de quase duas décadas e meia, terminaria nos “distritais” de Braga e com Gomes a ultrapassar a barreira dos 40 anos de idade.

*Sensivelmente um ano depois, o caso sofreria um “volte-face”. Tendo-se provado que tudo era mentira o Famalicão voltaria à 1ª divisão em 1990/91

932 - STRÖMBERG

É em 1979, com a chegada de Sven-Göran Eriksson ao comando técnico do IFK Göteborg, que Strömberg passa a ter um papel de extrema importância no desenhar táctico da equipa sueca. Ainda que muito novo, daí em diante o seu nome passa a ter um lugar cativo no meio-campo. Com um físico possante, passada larga e um estilo intrépido, ao jovem atleta também não faltava qualidade técnica. A sua visão de jogo e capacidade de passe eram, bem acima do que emprestava ao conjunto em termos defensivos, a sua mais-valia.
A sua evolução haveria de alcançar um dos maiores picos já em 1982. Numa temporada histórica para o emblema escandinavo, a campanha na Taça UEFA acabaria por tornar-se memorável. Após conseguirem eliminar diversos candidatos à vitória na prova, os suecos acabariam por, na final, defrontar os alemães do Hamburger. Em ambas as partidas, Strömberg seria escolhido para ocupar um lugar no meio-campo. A sua contribuição para a conquista do título europeu seria inegável e o seu prestígio sairia deveras valorizado.
Curiosamente, só após a dita vitória nas competições internacionais é que Glenn Strömberg seria chamado à selecção “A” da Suécia. Todavia, e apesar de tardia, essa primeira convocatória ajudaria também para valorizar o seu currículo. Com a estreia a acontecer num amigável disputado em Junho de 1982, essa partida frente à antiga União Soviética serviria de preâmbulo para uma história que o conduziria à presença no Mundial de 1990. No torneio disputado em Itália, o seu país, sem conseguir pontuar, não passaria da fase de grupos. Ainda assim, ao lado dos benfiquistas Mats Magnusson e Jonas Thern, o médio acabaria por ser um dos que melhores exibições conseguiria cerzir.
Aliás, seria com as cores do Benfica que Strömberg, em definitivo, lançaria a carreira. Trazido para a “Luz” a meio da temporada de 1982/83, pelo já referido Sven-Göran Eriksson, a sua estreia de “Águia” ao peito aconteceria em Fevereiro de 1983. Apesar de tapado por outros colegas durante a primeira campanha, esse período de adaptação precederia uma segunda época de total consagração. Tendo, pelo meio, ajudado à conquista do Campeonato, da Taça de Portugal e à chegada do clube à final da Taça UEFA, o sueco tornar-se-ia num dos elementos mais preponderantes nos êxitos vindouros.
O protagonismo ganho no nosso país, faria com que o seu valor voltasse a disparar. Já com mais 1 Campeonato no seu currículo, seria do “Calcio” que surgiria um novo desafio. A irrecusável proposta vinda da Atalanta, levaria o atleta a experimentar a “Serie A”. Com as cores do emblema de Bergamo, o centrocampista tornar-se num dos principais craques do campeonato italiano. Mesmo tendo passado pela infelicidade da despromoção, a passagem pelo 2º escalão daria, no entanto, a responsabilidade do jogador passar a envergar a braçadeira de “capitão”. É nessa condição que, já de regresso à principal divisão, conduziria o clube a uma das melhores fases da sua história.
Já depois de ajudar a Atalanta a conseguir diversas qualificações para as competições europeias, é em 1992 que o médio decide ser a altura certa para pôr um ponto final na sua carreira de futebolista. Desde então, a sua relação com a modalidade mudou. Sem nunca ter abraçado as funções de técnico, Strömberg é um consagrado comentador desportivo. Paralelamente, o antigo internacional sueco é também consultor para “sites” de apostas e gere uma página electrónica dedicada ao futebol.

931 - JOSÉ CARLOS

Antes de chegar a Portugal, já José Carlos tinha conseguido construir um belíssimo percurso no futebol brasileiro. Nesse trajecto de 7 temporadas, seria a campanha de 1983 que levaria o central à estreia na equipa principal do Flamengo. Num conjunto que, durante os anos da sua presença, contaria com imensas estrelas, nem sempre a sua chamada ao “onze” seria uma constante. Ainda assim, nomes como os internacionais Mozer, Leandro ou Aldair acabariam por não ser um entrave à sua progressiva afirmação. Nesse sentido, as últimas 3 épocas com o “Mengão” seriam fulcrais para o seu catapultar. Chamado à equipa com bastante frequência, o defesa acabaria por tornar-se num dos mais importantes elementos do plantel.
Em 1989 chegaria à sua carreira o momento com que tantos jogadores sul-americanos sonham. Contratado pelo FC Porto numa altura em que o seu palmarés contava com 1 “Estadual” Carioca, 3 Taças Guanabara, 3 Taças do Rio e 1 “Brasileirão”, José Carlos faria a sua estreia no futebol europeu em Agosto do já referido ano. Com um golo marcado nessa partida frente ao Nacional, tudo apontava para que a sua ambientação fosse fácil. Todavia, as coisas não correriam como o esperado – “A adaptação foi complicada. O futebol era muito diferente. Estava habituado ao estilo do Brasil, um futebol mais tranquilo em que pediam mais qualidade. Em Portugal era muito mais disputado cada lance. Era mais à base da força, principalmente para os defesas. Tínhamos de ser mais bruscos”*.
Artur Jorge, à altura no comando dos “Azuis e Brancos”, acabaria por empurrar o atleta para um empréstimo. A temporada de 1990/91, ao serviço do recém-promovido Gil Vicente, faria com o treinador português mudasse de opinião sobre o jogador e ordenasse o seu regresso. De volta ao antigo Estádio das Antas, José Carlos já não encontraria o referido técnico, mas o brasileiro Carlos Alberto Silva. Ainda que sem conseguir ser um dos indiscutíveis no “onze” portista, o defesa, daí em diante, passaria a ocupar um lugar de maior relevância no seio do plantel. Essa importância daria mais força ao grupo e acabaria por ser fulcral nos troféus alcançados pelo clube durante os anos 90. Para além do óbvio “Penta”, essas 5 vitórias consecutivas no Campeonato Nacional seriam rematadas por mais 1 Taça de Portugal e 3 Supertaças.
Após sair do FC Porto, com a curiosidade dos seus 26 golos o terem transformado no defesa com mais remates certeiros conseguidos pelo clube, Vasco da Gama e o regresso a Portugal para vestir as cores do Marítimo, marcariam o fim da sua carreira. Depois de 1997, José Carlos afastar-se-ia, de certo modo, da modalidade que, durante cerca de década e meia, praticaria. Continua ligado ao Flamengo, no qual joga pelos “veteranos”. Profissionalmente, gere um quiosque na mundialmente famosa Praia de Copacabana.

*retirado do artigo de João Tiago Figueiredo e Pedro Jorge da Cunha, publicado a 05/05/2016, em https://maisfutebol.iol.pt