999 - SAMBINHA

Jogava nos juniores do Lusitano do Lobito quando um antigo atleta do Belenenses assiste a uma das suas partidas. Sambinha, alcunha posta por outro adepto do emblema angolano, é de imediato recomendado ao clube lisboeta. Contudo, os da “Cruz de Cristo” não aceitariam prontamente a sugestão. Com uma digressão marcada para o país africano, os responsáveis da colectividade sediada em Belém, tomariam a decisão de estudar o jovem jogador por essa altura. Porém, e no dia de fazerem a tal aferição, o lateral direito não é chamado a jogo. Mesmo perdida a oportunidade, os dirigentes “azuis” decidiriam arriscar na avaliação do fortuito “observador” e a transferência acabaria acordada.
A sua chegada a Lisboa dá-se no seu último ano de júnior. As dificuldades de adaptação a uma realidade completamente diferente fariam com que o atleta pensasse, muitas vezes, em desistir. No entanto, as suas qualidades futebolísticas apontariam em sentido contrário. Sorrateiro e rápido nos movimentos, Sambinha era um jogador que, sem ter um grande físico, conseguia cumprir as tarefas defensivas muito pelo poder de antecipação e marcação. Com tais características, que agradariam aos responsáveis técnicos do Belenenses, ser-lhe-ia oferecida a oportunidade de, na equipa principal, dar seguimento ao seu percurso desportivo. Para sua surpresa, que recorrentemente subavaliava as suas exibições, ao lateral é oferecido novo contrato. O acordo, sem que na altura fosse possível sabê-lo, transformar-se-ia num dos primeiros passos para fazer de Raúl Ferreira dos Santos um dos históricos da “Cruz de Cristo”.
Seriam 13 as épocas que o lateral cumpriria ao serviço dos seniores do Belenenses. Em tão grande número de temporadas, muitos também seriam os momentos vivenciados pelo atleta. A sua participação nas provas nacionais, com mais de 200 jogos disputados só na 1ª divisão, seria apenas superada pela importância das competições continentais. O ponto alto nessa parte da sua carreira seria passado na campanha de 1976/77. Depois de, na temporada anterior, o 3º lugar na tabela classificativa ter posto o clube na senda da Taça UEFA, o sorteio levaria os “Azuis” até Camp Nou. Depois do surpreendente empate a 2 bolas no Estádio do Restelo, a viagem até à Catalunha serviria para exaltar Sambinha. Mesmo tendo perdido por 3-2, os portugueses seriam louvados pelo empenho posto na eliminatória. Destaque maior acabaria por merecer o lateral direito do conjunto nacional, que, segundo os relatos da altura, tornar-se-ia numa dor de cabeça para Johan Cruijff.
A verdade é que a relação que o jogador haveria de construir com o clube extravasaria os deveres desportivos. Sambinha assumiria um compromisso com o Belenenses que iria muito além daquilo que seriam as suas exibições. Se dentro de campo a sua postura, brava e arrebatadora, seria tida como exemplar, também fora do rectângulo de jogo a gratidão que mostrava pelo emblema seria vista como fora do vulgar. Um bom exemplo passar-se-ia com a presença na 2ª divisão, a primeira na história dos “Azuis”, na temporada de 1982/83. Para além de nunca ter querido sair do clube, apesar dos convites de Sporting, ou dos espanhóis Sporting de Gijon e Racing de Santander, o amor por aquele que era o emblema da sua infância, levá-lo-ia a ter uma postura abnegada. Perante o infortúnio da descida de escalão, o lateral, na altura de renovar o contracto, exigiria uma verba bem abaixo do espectável. Contrariamente ao pedido, a direcção recusaria tal proposta e, tendo em conta o que o jogador representava, oferecer-lhe-ia muito mais.
Com o fim da carreira a aproximar-se, Sambinha acabaria por exaltar duas mágoas. A primeira, e mesmo tendo jogado nos “BB” e sub-21, o facto de nunca ter vestido a principal camisola da selecção portuguesa. A outra teria a ver com o Belenenses. Dispensado no final da temporada de 1985/86, o defesa veria esfumar-se o desejo de terminar a sua caminhada de futebolista com a “Cruz de Cristo” ao peito. Na sequência da separação e, antes ainda de em 1989 tomar a decisão de aposentar-se, o lateral passaria por Trofense e Valenciano.

998 - MIGUEL LOURENÇO

Consta, em alguns registos, que terá chegado ao Benfica vindo do modesto Atlético de Reguengos. Tendo como certa essa transferência, a verdade é que Miguel Lourenço não terá deixado intimidar-se pela diferente grandeza das duas colectividades. Já ao serviço das “Águias”, o extremo, mesmo sem ser titular absoluto, conseguiria mostrar boas qualidades. Bastante utilizado nessa temporada de 1939/40, o atacante, nas duas campanhas seguintes, começaria a perder algum espaço. Ainda assim, o seu contributo serviria para que os “Encarnados” vencessem alguns títulos. Nesses 3 anos em que jogaria pela categoria principal, o atleta amealharia 1 Campeonato de Lisboa, 1 Taça de Portugal e, mesmo sem nunca ter sido chamado a jogo, faria parte do grupo que venceria o Campeonato Nacional de 1941/42.
Depois de um hiato de 2 anos, cujo seu paradeiro não consegui apurar, Miguel Lourenço aparece nos quadros do Estoril-Praia. A partir dessa temporada de 1944/45 e até ao fim da sua carreira como futebolista, o extremo passaria a envergar o amarelo dos da Linha de Cascais. Porém, e ao contrário daquilo que poderíamos concluir, a mudança de clube acabaria por não ser um revés na caminhada desportiva do atacante. Aliás, a sua passagem pelos “Canarinhos”, muito mais do que manter o atleta a disputar a 1ª divisão, serviria para que conseguisse atingir o patamar internacional.
Com as cores de Portugal, incluindo uma partida pelos “BB”, o avançado jogaria em 3 diferentes ocasiões. Tendo, pela mão do seleccionador Tavares da Silva, feito a estreia em Junho de 1946, Miguel Lourenço só voltaria a representar os “AA” do nosso país passados quase 3 anos. Depois da vitória por 3-1 no particular frente à República da Irlanda, o extremo regressaria aos trabalhos da principal equipa nacional em Fevereiro de 1949. No desafio frente à congénere italiana, e já sob a alçada de Armando Sampaio, a ajuda do atacante não evitaria a derrota por 4-1. No entanto, na ficha de jogo ficaria inscrito o seu nome, como o autor do golo português.
Apesar de não ser um dos grandes ícones do desporto nacional, a conclusão a que facilmente podem chegar, é que Miguel Lourenço conseguiu edificar uma carreira muito acima da média. Tendo chegado a internacional, também os seus números no Campeonato são de relevo. Com 10 temporadas disputadas no escalão máximo do futebol português, os registos do extremo leva-nos para a sua presença em mais de uma centena e meia de contendas. Também nos remates certeiros, os números são espantosos. Se tivermos em conta que a sua posição não era a que mais favorecia a marcação de golos, os 84 tentos, só naquela que é a principal prova nacional, também é uma marca de respeito.

997 - STOSIC

Vlada Stosic acabaria por surgir no plantel sénior do Estrela Vermelha, onde já brilhava Tomislav Ivkovic, em meados da década de 80. No entanto, ao enfrentar uma forte concorrência, as oportunidades conquistadas nas duas primeiras temporadas acabariam por ser poucas. Sem grandes chances para conseguir agarrar um lugar na equipa, o extremo direito encetaria um pequeno périplo de empréstimos. Mesmo não tendo ficado afastado do clube por mais de 2 anos, ainda assim, e durante esse período, o jovem jogador passaria por 3 equipas diferentes.
Depois de representar os australianos do Footscray Just e, de volta ao seu país, após ter envergado as cores do Rad Belgrado e do Radnicki Nis, o seu regresso ao Estrela Vermelha dar-se-ia na temporada de 1988/89. A estaleca ganha durante as referidas cedências, faria com que o paradigma dessa segunda passagem pelo emblema jugoslavo fosse bem diferente. Ao merecer a titularidade em boa parte dos jogos disputados, Stosic ajudaria a criar os alicerces que, passados apenas alguns anos, trariam a glória europeia ao clube.
Ao lado de craques como Prosinecki, Savicevic, Pancev, Jugovic ou Mihajlovic, o atacante faria parte de um grupo que, para além de dominar o futebol na antiga Jugoslávia, também daria cartas nas competições continentais. Com o tricampeonato ganho nas suas 3 últimas temporadas e ainda 1 Taça da Jugoslávia vencida, o currículo de Stosic tornar-se-ia ainda mais rico com a sua presença nas provas europeias de clubes. Nesse sentido, ficaria para a história a participação do Estrela Vermelha na edição de 1990/91 da Taça dos Clubes Campeões Europeus. Durante a competição, na qual eliminariam o Bayern de Munique nas meias-finais, os de Belgrado chegariam à final. Como adversário, apresentar-se-ia no derradeiro jogo um poderosíssimo Marseille. O que poucos contavam é que, para defrontar Papin, Mozer, Chris Waddle, Abedi Pelé e companhia estava um conjunto extremamente motivado. Tendo começado no banco de suplentes, Stosic entraria em campo já no final do tempo regulamentar. Ajudaria os seus colegas a ultrapassar o prolongamento e, após o desempate por penalties, somaria ao seu palmarés o tão prestigiado troféu.
A meio da temporada seguinte, e após ter vencido a Taça Intercontinental frente aos chilenos do Colo-Colo, Stosic mudar-se-ia para Espanha. Tanto no Mallorca, como no Real Betis, o extremo conseguiria destacar-se. Sendo um dos atletas de realce na “La Liga”, a única curiosidade acabaria por ser a falta de chamadas à selecção nacional. O jogador que tinha conseguido a única internacionalização em Setembro de 1990, nunca mais seria convocado a jogar pela equipa do seu país. Tal circunstância tomaria dimensões ainda mais estranhas pelo facto do atleta participar numa das mais credenciadas ligas mundiais.
Ao fim de 5 anos em Espanha, e com a carreira de desportista a dar os últimos passos, Stosic transferir-se-ia para o México. No Atlante encontrar-se-ia com o antigo colega de balneário no Estrela Vermelha, o romeno Belodedici. Antes ainda de terminar a vida de futebolista, tempo para uma passagem por Portugal. A experiência no Vitória de Setúbal, com o atleta já distante dos desempenhos áureos, seria curta. No final da temporada de 1997/98 chegaria então o tempo de “pendurar as chuteiras”. Todavia, a sua história no futebol ainda não estava completa. Em 2010 o antigo internacional regressaria à Andaluzia e, como Director Desportivo, voltaria a juntar-se ao Real Betis.

996 - CAIADO

Se a habilidade técnica impelia Fernando Caiado para zonas mais avançadas do terreno de jogo, já a sua compleição física, não muito propensa a choques titânicos, haveria de puxá-lo um pouco mais para trás. Tal equilíbrio, polido quando já vestia de “axadrezado”, transformá-lo-ia num grande futebolista. Tão bom mostraria ser que, mesmo a jogar num Boavista bem distante daquele a que estamos habituados, a selecção de Portugal acabaria por surgir no seu percurso como um passo lógico e bem merecido.
A estreia com a principal “camisola das quinas”, sob a alçada do seleccionador Tavares da Silva, aconteceria já no final da temporada de 1945/46. Essa chamada, a rematar a sua primeira época no patamar maior do nosso futebol, serviria para sublinhar a rápida valorização do jogador. Com o começo ainda ali bem perto, a noção de que os capítulos iniciais da sua carreira tinham sido escritos no segundo escalão, ainda mais enalteceriam a ascensão de Caiado. Porém, a internacionalização conseguida frente à República da Irlanda, acabaria por trazer resultados aquém do esperado. Mesmo tendo em conta as qualidades do interior esquerdo, a verdade é que a falta de interesse de outros clubes seria difícil de explicar.
A relutância na sua contratação acabaria mesmo por conhecer um fim. Mantendo-se, durante mais alguns anos, como a maior estrela do Boavista, só para a campanha de 1952/53 é que um emblema de outra monta decidiria ir no seu encalço. Com mais 5 internacionalizações a colorir o seu currículo, seria o Benfica a comprometer-se com o atleta. A mudança para Lisboa, de forma definitiva, catapultá-lo-ia para os anais do desporto português. Nos anos ao serviço das “Águias”, acabaria por fixar-se na selecção como um dos grandes estrategas do conjunto luso. Também no clube, a sua presença ajudaria a sublinhar a ideia de um conjunto de natureza universal. Ao lado de José Bastos, Félix Antunes, Francisco Moreira, Julinho ou Rogério de Carvalho, todos eles presentes na conquista da Taça Latina de 1950, Fernando Caiado seria uma das peças na ligação entre esse grupo e os bicampeões europeus.
Em 1959, Caiado resolveria ser a altura certa para terminar a carreira como futebolista. Com um palmarés rico, no qual exibia a glória em 2 Campeonatos e 4 Taças de Portugal, o antigo médio decidiria manter-se ligado à modalidade. De forma quase imediata, e aproveitando a inteligência que sempre havia mostrado em campo, o Benfica endereçar-lhe-ia um convite para integrar a sua equipa técnica. Como adjunto, tornar-se-ia no principal ajudante de Béla Guttmann nas campanhas vitoriosas da Taça dos Clubes Campeões Europeus.
Nas funções de técnico, manter-se-ia na “Luz” por mais alguns anos. Chegaria, em substituição do referido treinador húngaro, a liderar o Benfica na final da Taça de Portugal de 1961/62. Depois dessa vitória frente ao Vitória de Setúbal, só voltaria ao leme de uma equipa aquando da sua saída para o Sporting de Braga. Antes ainda, a presença como adjunto de Otto Glória no Mundial de 1966. Depois dar-se-ia o regresso a Lisboa, dessa feita para comandar o Sporting Clube de Portugal. No seu trajecto como técnico, caminhada feita por mais de duas décadas, tempo ainda para trabalhar na 1ª divisão com Boavista, CUF, Vitória de Guimarães ou Sporting de Espinho.

995 - ELDON

Contratado ao Vasco da Gama a meio da temporada de 1978/79, Eldon chegaria à Académica como um dos reforços capaz de inverter a má posição do clube na tabela classificativa. Infelizmente para os “Estudantes”, a tendência demonstrada na primeira metade da referida campanha manter-se-ia como uma constante. Com o fim do Campeonato, o emblema conimbricense acabaria despromovido. No entanto, e mesmo com a descida de escalão a assumir um papel negativo, algo de grande haveria de retirar-se de tamanho insucesso. Nessa perspectiva, o ganho de um avançado de referência transformar-se-ia num dado indiscutível.
Foi por ser tido como bom modelo que a sua continuidade nunca chegaria a sofrer qualquer contestação. Oportunista e bom no jogo aéreo, a sua generosidade física era mais um dos seus atributos de sucesso. Tais qualidades, muito mais do que colocarem o avançado na linha da frente, mantê-lo-iam como um dos melhores atletas no plantel “estudantil”. O seu estatuto, ainda hoje recordado com saudade, seria alicerçado na sua vontade e no que o número de golos conseguiria testemunhar. Essa aferição contabilística teria um dos momentos altos aquando de mais uma passagem da Académica pela 2ª divisão. Mesmo tendo em conta o contexto competitivo, é impossível não louvar a quase meia centena de remates certeiros conseguidos por Eldon no decorrer da temporada de 1982/83.
Seria esse pragmatismo numérico que catapultaria o avançado para outro patamar. Uma campanha com as cores do Vitória de Guimarães e logo um dos “3 grandes” seguiria no seu encalço. A proposta do Sporting seria aceite e Eldon, passado apenas um ano sobre a sua chegada à cidade minhota, mudar-se-ia para a capital. Porém, a sua integração no plantel leonino, que à partida já se adivinhava árdua, tornar-se-ia numa luta ingrata. Com Jordão e Manuel Fernandes a assumirem a dianteira, também as presenças somadas de Saucedo, Forbs, Fernando Cruz e, na sua segunda temporada de “Leão” ao peito, de Ralph Meade tornariam a afirmação do ponta-de-lança brasileiro num trabalho deveras difícil.
Ainda assim, a primeira campanha em Alvalade até terminaria com um saldo positivo. Pior seria a época de 1985/86. Nessa segunda temporada, Eldon já não conseguiria esgrimir argumentos para, com alguma regularidade, justificar a sua presença em campo. Nesse contexto, a sua saída de Alvalade acabaria por fazer algum sentido. O Marítimo seria o emblema seguinte na sua caminhada profissional. Apesar de positiva, a aposta não sustentaria o jogador por muito tempo na Madeira. A Académica, como uma paixão incontornável, voltaria a chamar por si. O apelo para o seu regresso surgiria como algo inegável. O avançado retornaria a Coimbra para fechar um ciclo que, nas margens do Mondego, conheceria os melhores momentos.
Com o seu falecimento em 2017, a memória do antigo atleta renovar-se-ia. Da Académica surgiria uma mensagem de pesar, na qual ficaria bem patente a grande admiração e seu peso na narrativa da instituição – “Hoje é, definitivamente, um dia triste para a Académica. Faleceu esta quinta-feira Eldon, um dos grandes jogadores da História da Briosa (…). Em 219 jogos, Eldon marcou 134 golos com a camisola da Académica. É o terceiro melhor marcador da nossa história. Grande e eterno jogador da Briosa, ainda melhor nos valores humanos e na alegria com que sempre vestiu a nossa camisola. Um verdadeiro exemplo e um ícone da Académica”*.

*retirado do artigo publicado em www.ojogo.pt, a 22/09/2017

994 - PAILLE

Seriam os anos passados no FC Sochaux que elevariam o avançado à condição de internacional. A estreia como sénior, feita na temporada de 1981/82, depressa transformaria o atleta numa das grandes promessas do futebol francês. Claro que o referido estatuto seria também alicerçado pela sua presença nas jovens selecções gaulesas. Nesse sentido, a vitória no Euro sub-18 de 1983 constituiria um dos principais pilares da sua futura carreira.
Tendo, durante as campanhas iniciais na primeira categoria do Sochaux, representado muitas vezes a equipa “b”, Stéphane Paille, logo na época de 1984/85, revelar-se-ia já bem consolidado no seio do plantel principal. Daí em diante, o número de partidas disputadas e, principalmente, a regularidade dos seus golos, fariam dele um dos craques do conjunto. Nessa evolução, a selecção francesa, mais uma vez, teria um papel importante no seu crescimento. Em Setembro de 1986, sob a batuta de Henri Michel, o ponta-de-lança conseguiria estrear-se na equipa “A” dos “Bleus”. O encontro frente à Islândia, disputado no contexto do apuramento para o Euro 88, seria o ponto de partida para mais 7 internacionalizações.
Antes ainda da sua transferência para o Montpellier, Stéphane Paille somaria à sua trajectória profissional alguns episódios importantes. Numa altura em que o seu emblema lutava por regressar ao patamar maior do futebol gaulês, a presença do conjunto na final da Taça de França seria um grande prémio. No derradeiro jogo da competição, o avançado conseguiria marcar um golo. Porém, com a disputa a não ficar resolvida no “jogo jogado”, o desempate por penalties acabaria por esfumar a esperança de uma vitória e o troféu de 1987/88 seria entregue ao Metz.
A verdade é que 1988 seria um ano pródigo para Paille. Apesar da já referida derrota, o avançado acabaria por conquistar outros títulos. Para além de conseguir sagrar-se como o Melhor Marcador da “Ligue 2”, o atleta ajudaria a França a vencer o Euro sub-21. Um pouco mais à frente, mais uma distinção. Pela mão da “France Football”, prestigiada revista dedicada ao universo futebolístico, seria aclamado com o prémio de Melhor Jogador Francês do ano.
A narrada mudança para o Montpellier, onde passaria a fazer dupla com Eric Cantona, daria começo à segunda parte do seu percurso como futebolista. Muito mais errante e não tão brilhante quanto o da primeira metade, o trajecto iniciado em 1989 levá-lo-ia a representar diversos emblemas e, também, a jogar em diferentes ligas. Seria nesse contexto que Paille teria a sua passagem por Portugal. Artur Jorge, que já tinha orientado o Matra Racing de Paris, conhecia o jogador do campeonato gaulês. A aferição do treinador fá-lo-ia olhar para o avançado como um bom reforço para o FC Porto de 1990/91. Essa temporada, mesmo sem conseguir afirmar-se como um dos elementos principais do grupo de trabalho, serviria para acrescentar mais alguns troféus ao seu palmarés. No regresso a França, o ponta-de-lança, para além dos 27 jogos e 10 golos, levaria na bagagem 1 Taça de Portugal e 1 Supertaça.
Caen, Bordeaux, Lyon, Mulhouse, Servette e Hearts seriam os clubes que também teriam lugar na sua carreira. Após “pendurar as chuteiras” em 1997, Stéphane Paille passaria a debruçar-se sobre outras actividades, dentro da modalidade. Mormente como treinador, mas também como “olheiro” do Real Madrid, o antigo avançado continuaria ligado ao futebol. Tendo trilhado o seu caminho maioritariamente em França, ainda teria uma experiência na Argélia.

993 - JOÃO ALVES

A subida aos seniores do Desportivo de Chaves iria, de forma quase imediata, dar um grande empurrão à sua, ainda curta, carreira desportiva. Com o emblema flaviense, nessa temporada de 1998/99, a disputar a 1ª divisão, a visibilidade que auferiria abrir-lhe-ia as portas das selecções jovens portuguesas. Mesmo não sendo muito utilizado, as exibições que conseguiria fazer pelo clube seriam suficientes para o lançar internacionalmente. Pelos sub-18, no final da já referida campanha, haveria de ser chamado ao Europeu da categoria. Convocado por Agostinho Oliveira, João Alves seria um dos atletas que, tendo também jogado a final frente à França, ajudaria à vitória de Portugal.
Com o Desportivo de Chaves a cair na 2ª divisão, o jovem atleta acabaria entregue a uma espécie de ocaso forçado. Porém, o médio ofensivo não ficaria esquecido. Clubes de maior monta continuariam a acompanhar a sua evolução e testemunhariam as boas prestações por si esgrimidas. Vincando-se como um jogador de boa técnica e excelente leitura de jogo, João Alves, ao fim de 5 temporadas, acabaria por ser resgatado dos escalões secundários. Os responsáveis do Sporting de Braga, agradados com as suas habilidades, decidiriam apostar na sua contratação. O centrocampista acabaria por viajar para o Minho e, em 2004/05, dar-se-ia o seu regresso aos maiores palcos do futebol nacional.
A sua passagem pelo Sporting de Braga serviria, acima de tudo, para sublinhar aquilo que já há alguns anos vinha a demonstrar. Para reforçar a ideia de que era um praticante de topo, a constância no “onze” arsenalista transformá-lo-ia num dos elementos mais valiosos do plantel. Nas competições nacionais, João Alves passaria a ser visto como um dos melhores a actuar no sector intermédio. No entanto, e se dúvidas ainda restassem relativas à sua qualidade, então, passada pouco mais de 1 época após a sua chegada à “Cidade dos Arcebispos”, apareceria o interesse de um dos “3 grandes”.
Com José Peseiro à frente do Sporting, o pedido do treinador para trazer dois jogadores do conjunto “arsenalista” seria aceite. João Alves, fazendo uma viagem semelhante à do extremo Wender, chegaria a Alvalade já depois do arranque da temporada de 2005/06. Tendo, na referida campanha, feito algumas partidas pela equipa bracarense, o que sobraria da época traria resultados bem positivos à carreira do atleta. Como prémio pelos seus bons desempenhos, Luiz Felipe Scolari decidiria trazê-lo aos trabalhos da selecção principal. Com as cores de Portugal, naquela que seria a caminhada para o Mundial de 2006, o médio acabaria por participar em 3 particulares.
Ainda de “Leão” ao peito, a troca de Peseiro por Paulo Bento tornar-se-ia num revés para o jogador. Tendo perdido, quase por completo, o espaço que tinha conquistado na temporada anterior, o médio acabaria classificado como excedentário. A solução encontrada passaria pela sua transferência. De regresso ao Minho, dessa feita para envergar a camisola do Vitória de Guimarães, João Alves voltaria às exibições que dele tinham feito um dos grandes centrocampistas portugueses. Os 5 anos em que defenderia os vimaranenses, tornariam o conjunto no mais representativo da sua vivência primodivisionária.
Por falar em experiências, há também que referir a sua passagem pelo estrangeiro. O ano vivido nos cipriotas do Omonia como que marcaria, na sua caminhada profissional, o início da recta final. Académico de Viseu e Freamunde também fariam parte dessa etapa. Contudo, a caminhada ficaria incompleta e o jogador a lamentaria a falha num regresso muito desejado – “Faltou-me apenas terminar a carreira no Desportivo de Chaves, foi a maior tristeza que tive nesta recta final. Felizmente, ainda tive a oportunidade de jogar pelo Chaves na Liga. Recentemente, chegou a haver interesse dos dirigentes do clube mas infelizmente as coisas não se proporcionaram”*.

*retirado do artigo de Vítor Hugo Alvarenga, publicado 18/02/2016, em https://maisfutebol.iol.pt

992 - JOSÉ ALBANO


Com um percurso feito, na sua maioria, pelos escalões secundários do futebol nacional, as excepções a essa conjuntura resultariam em alguns episódios curiosos. Ora, sendo José Albano natural de Sesimbra, seria no emblema local que o avançado começaria a carreira. Mesmo tendo terminado a formação no Vitória de Setúbal, o emblema sesimbrense acabaria por apadrinhar a sua estreia como sénior. Depois dessa campanha inicial, ocorrida em 1979/80, duas temporadas mais, com mais uma de interregno ao serviço do Paio Pires, catapultariam o atleta para outros patamares. Com o Sesimbra entretanto a disputar a 2ª divisão, aparece o Desportivo de Chaves interessado na sua contratação. Naquilo que podemos classificar como um crescimento exponencial, bastaria uma temporada em Trás-os-Montes para que surgisse uma oportunidade no nosso principal Campeonato.
A sua estreia na 1ª divisão, para surpresa de muitos, ocorreria num dos “3 grandes” do futebol português. A boa campanha realizada com o “blaugrana” flaviense terminaria, para a temporada de 1985/86, com a sua transferência para o FC Porto. Porém, já nas “Antas”, as oportunidades conseguidas pelo avançado seriam poucas. Pelos comandados de Artur Jorge, que, para a sua posição, tinha como preferido o argelino Madjer, ainda conseguiria participar numa das partidas do Campeonato. Nessa 8ª jornada, o extremo-direito seria escalonado frente ao Belenenses, para entrar no “onze” inicial. Todavia, com os “Dragões” a perder após os primeiros 45 minutos, José Albano, ao intervalo, acabaria substituído por Vermelhinho.
Esse encontro isolado, disputado no Estádio do Restelo, acabaria por consagrar José Albano como campeão nacional. No entanto, nem aquele que acabaria por ser o maior título da sua carreira como futebolista, seria suficiente para, nos anos seguintes, manter o atleta no maior escalão nacional. Sporting de Espinho e Tirsense transformar-se-iam nos capítulos imediatos de um percurso que, em 1988/89, voltaria à 1ª divisão. O regresso inscrevê-lo-ia na história de outro clube. Ao representar a AD Fafe na já referida época, o avançado faria parte do único grupo que jogaria pela equipa minhota no patamar máximo do futebol português. Para além desse marco, a sua passagem pelo conjunto do distrito de Braga acabaria, ao estar presente na maioria das partidas, por ser também a sua melhor temporada profissional.
José Albano ainda teria mais duas aparições na 1ª divisão. Numa carreira um tanto ou quanto errática, com o Louletano também fazer parte dessa caminhada, seriam o Estrela da Amadora e o Campomaiorense que o devolveriam aos maiores palcos. Sem grandes resultados nessas campanhas, e falta de oportunidades daí em diante, o avançado acabaria por regressar ao Sesimbra. No emblema da terra natal viveria a última parte da sua carreira. Os anos que aí passaria consagrariam o clube como o mais representativo da sua caminhada desportiva. Também por parte dos dirigentes da colectividade o reconhecimento não tardaria e em 1999, o atacante, ainda em actividade, seria premiado pela sua dedicação.

991 - THERN

Tendo começado nas divisões secundárias e ao serviço do IFK Värnamo, Jonas Thern rubricaria o seu primeiro contrato profissional com o Malmö. A mudança, para aquele que é um dos emblemas com maior tradição no país escandinavo, traduzir-se-ia em resultados muito positivos. A sua integração, com o jogador a tornar-se numa das pedras basilares da equipa, ocorreria de forma muito célere. Para o médio, tal como para o clube, a transferência seria bem proveitosa e, logo nesse ano de 1985, os títulos entrariam na caminhada do centrocampista.
Ainda que tendo em conta o contexto competitivo, os anos que Thern passaria com as cores do Malmö seriam, de certo modo, faustosos. A constante participação nas competições europeias, os 5 Campeonatos e 2 Taças da Suécia ganhos pela sua equipa seriam, em boa parte, resultado da importância que conseguiria manter no seio do grupo. Esse peso, rapidamente o levaria a ser chamado à selecção principal do seu país e aos certames mais importantes. Com a estreia pelos “AA” a acontecer em Outubro de 1987, seria pelo conjunto olímpico que, em 1988, disputaria o primeiro grande torneio internacional.
Já o ano em que chegaria ao Benfica, 1989, coincidiria com a conquista do prémio de Melhor Jogador Sueco. Depois de uma curta experiência ao serviço do FC Zürich (1987/88), seria o regresso de Sven-Göran Eriksson à “Luz” que patrocinaria a segunda mudança do atleta para um país estrangeiro. Tendo reencontrado Mats Magnusson, contratado ao Malmö um ano antes, o médio, tal como já antes tinha ocorrido, transformar-se-ia num dos elementos mais importantes na estratégia montada.
Não sendo um portento técnico, a verdade é que Thern tinha no rigor táctico e qualidade batalhadora as suas maiores armas. A abnegação com que sempre entrava em campo seria tida como um exemplo a seguir. Tendo isso em conta, o atleta passaria a ser visto como um líder. O seu percurso na selecção seria o melhor exemplo disso. Com a braçadeira a ser-lhe entregue pela primeira vez em 1989, de 1991 até à sua última internacionalização, o médio seria incumbido de capitanear as cores do país. Nessas funções lideraria a Suécia em 2 importantes torneios. Depois de ter sido convocado para o Mundial de 1990 em Itália, o centrocampista, já na condição de “capitão”, participaria no Euro 92 e Campeonato do Mundo de 1994.
Tendo como grande marco na selecção o 3º lugar no Mundial disputado nos Estados Unidos da América, o seu palmarés clubístico seria mais rico. Depois do que conquistou pelo Malmö, também no Benfica conseguiria amealhar alguns troféus. Contudo, para além do Campeonato de 1990/91 e da Supertaça de 1989/90, Thern haveria de viver o seu melhor momento nas competições europeias. A edição de 1989/90 da Taça dos Clubes Campeões Europeus levaria os “Encarnados” à final da competição. Na partida marcada para o Praterstadion, à equipa portuguesa calharia defrontar o AC Milan. Mesmo sendo escalonado para entrar de início, a prestação do médio seria insuficiente para evitar que um golo de Frank Rijkaard entregasse o título aos italianos.
Seria em Itália que, depois de deixar Lisboa, Jonas Thern daria continuidade à sua carreira. Napoli e Roma seriam os emblemas em que, durante as 5 épocas seguintes, o sueco jogaria. Apesar de estar naquela que, à altura, era a liga europeia mais bem cotada, a sua passagem pelo “Calcio” não seria proveitosa em termos de troféus conquistados. Vitórias só as voltaria a saborear aquando da sua mudança para a Escócia. No Rangers ajudaria a vencer a Scottish Premier League de 1998/99. Essa campanha, em que pouco participaria, tornar-se-ia na derradeira como futebolista. Uma grave lesão acabaria por acelerar o final da sua carreira. Mesmo afastado dos relvados, o antigo internacional não deixaria a modalidade. Pouco tempo após a sua aposentação como atleta, daria início ao seu percurso de treinador. O regresso ao IFK Värnamo dar-lhe-ia o ensejo para, alguns anos mais tarde, dar um novo passo aos comandos do Halmstads BK. Paralelamente, vive também dos seus investimentos na hotelaria, como comentador desportivo e até como professor.

990 - ANTÓNIO MEDEIROS

Antes ainda da estreia pela equipa principal do Belenenses, António Medeiros passaria pelos juniores do Restelo. Nessa temporada de 1948/49, antevendo os passos preludiais na primeira categoria, o médio jogaria também pelas “reservas”. Já a sua integração no plantel sénior aconteceria na campanha de 1953/54. Ao lado de nomes como Serafim Neves, António Feliciano, José Pereira, Vicente Lucas ou Matateu, o jovem atleta veria a sua tenra experiência alimentada com a luta pelos lugares cimeiros da tabela classificativa e a presença do conjunto lisboeta na Taça Latina.
Mesmo com a passagem pelo Restelo a ter um grande peso na sua evolução, os momentos mais importantes na sua caminhada como futebolista vivê-los-ia transposto alguns anos. Após ter vestido as cores do Oriental, a sua chegada ao Leixões acabaria por empurrá-lo para um dos episódios mais importantes na história do clube. O período de 5 temporadas que viveria ao serviço do emblema de Matosinhos, conheceria o seu apogeu na época de 1960/61. Num conjunto que tinha como estrelas maiores os brasileiros Osvaldo Silva e Jaburú, Medeiros, que também era um dos atletas mais utilizados, ajudaria o seu grupo a chegar à final da Taça de Portugal. Numa partida marcada para as Antas, o médio seria escolhido pelo treinador Filipo Núñez para iniciar o encontro. Mesmo tendo em conta o poderio dos adversários, a verdade é que os “Bebés do Mar” acabariam por zombar do favoritismo dos “Azuis e Brancos” e venceriam a peleja por 2-0.
Ainda com uma passagem pelo Feirense, a sua carreira de atleta esfumar-se-ia rapidamente. No entanto, António Medeiros recuperaria a sua importância no futebol português já noutras funções. Como treinador, o seu percurso far-se-ia, maioritariamente, durante as décadas de 70 e 80. Tendo sido visto como um dos melhores técnicos da altura, o seu regresso ao Belenenses transformar-se-ia num dos momentos áureos desse trajecto. Antes ainda, um episódio caricato vivido ao serviço do Estoril-Praia. Ora, existem coisas que hoje em dia são tão corriqueiras que até nos esquecemos que, em tempos idos, já foram grandes excentricidades. A 12 de Setembro de 1976, os “Canarinhos” haveriam de entrar em campo com algo bem diferente nos seus equipamentos. Sem que tal fosse usual, a equipa da Linha de Cascais, com o entusiasmo do seu timoneiro, apresentar-se-ia no Restelo com os nomes dos jogadores “estampados” nas respectivas camisolas.
Todavia, e como já aqui referi, o seu momento dourado seria vivido à frente do Belenenses. No Restelo, devolveria a equipa à luta pelos lugares de topo da tabela classificativa. Com o 5º posto conseguido na temporada de 1977/78, quase que devolvia o clube à senda das competições europeias. Ainda assim, não seria só com a “Cruz de Cristo” e com o Estoril-Praia que António Medeiros preencheria a sua caminhada como treinador. Só naquilo que é o nosso patamar principal também Leixões, União de Tomar, Tirsense, Marítimo, Portimonense, Penafiel, Amora, e “O Elvas” fariam parte desse percurso primodivisionário. Porém, e mesmo tendo em conta a riqueza do seu currículo, faltar-lhe-ia algo muito importante. Como um sonho que ficaria por concretizar, o técnico nunca chegaria ao cargo de seleccionador nacional.