477 - ALEXANDRE BAPTISTA

Muito mais do que um adepto da modalidade, Alexandre Baptista, talvez por razão do seu tio, também ele jogador, parecia ter o futebol no sangue. Mas ao contrário de Raúl Baptista, que envergou as camisolas do Barreirense, Benfica e Carcavelinhos, a paixão do antigo defesa foi só uma, o Sporting. Foi, então, em 1960, vindo das escolas do clube, que chega à primeira categoria leonina. Atleta multifacetado, ou um ecléctico do ténis, basquetebol e ténis de mesa, Alexandre Baptista acabaria por se decidir em definitivo pelo "jogo da bola". É verdade que de início, apesar das suas qualidades inegáveis, o central não era um dos mais requisitados dentro do plantel. Categoria, como já o afirmei, não lhe faltava. Tinha um bom físico, sabia colocar-se e era eficaz no momento do desarme. Então, o que lhe faltava? Pois, não o sei!!! E tal como eu não o sei, também admirados andavam os seus colegas de equipa com o seu afastamento! Por esse motivo, conta-se que foram os próprios que começaram a pressionar a equipa técnica, para que Alexandre Baptista começasse a ser mais utilizado. Correcta, ou não, esta versão, o que é certo é que a conquista da sua titularidade coincide com bela campanha do Sporting na Taça dos Vencedores das Taças de 1963/64. Podem dizer que um jogador não faz uma equipa! E, até, terei que vos dar toda razão! Mas há algo que é inegável, e isso é a importância que Alexandre Baptista teve na conquista do já referido troféu europeu e que, até hoje, é o único que consta na história dos "Leões".
Preponderância havia também de a ter na selecção. No Mundial de 1966, haveria de ser um dos mais utilizados (só não jogou uma partida) e um dos reconhecidos esteios defensivos dos "Magriços", na caminhada para o terceiro lugar. Contudo, e apesar daquilo que já aqui foi dito a seu respeito, o antigo internacional português, não foi, ao longo da sua carreira, um jogador muito regular. Como, então, se justifica isto? Indisciplina; falta de entrega? Não! Diz quem com ele de perto lidou que a sua personalidade estava bem reflectida naquilo que ele era dentro de campo. Alexandre Baptista era conhecido, dentro e fora dos relvados, como um homem de uma elegância, educação e lealdade inabaláveis. Ora, já a sua intermitência desportiva pode ser justificada pelo seguinte. É que muito para além da prática do futebol, o homem por trás do desportista não se esgotava apenas no desporto. O rapaz, que também sabia brilhar dentro de campo, também tinha outros interesses, outros horizontes, e esses levá-lo-iam a concluir, em paralelo com a sua carreira desportiva, a Licenciatura em Economia.
Retirou-se cedo dos relvados, quando ainda contava apenas com 30 anos. No currículo levou a vitória, para além da Taça das Taças de 1964, em 3 Campeonatos Nacionais e 2 Taças de Portugal. No entanto, não se afastou do futebol e muito menos do seu Sporting. Passou a desempenhar funções directivas que, entre outros cargos, o levaram à vice-presidência, no mandato do mítico João Rocha.

476 - JOSÉ CARLOS

Na temporada de 1960/61 a C.U.F. estreava na sua equipa principal um jovem jogador, de seu nome José Carlos. O sector mais recuado da equipa do Barreiro passava, então, a contar com um atleta que, desde início, mostraria qualidades inegáveis. Concentração, posicionamento, desarme e abnegação eram, e continuam a ser, algumas das características que faziam um bom central. O tal José Carlos parecia tê-las todas e de tal maneira estavam presentes nele que, logo nesse ano de estreia na 1ª Divisão, o tal rapaz de 19 anos, haveria de ser chamado aos trabalhos Selecção Nacional "A". Como é lógico, tal ascensão não deixaria indiferente os "grandes" do futebol português. Por isso mesmo, bastou mais uma época, e mais duas internacionalizações, para que o Sporting se convencesse que o jovem atleta preenchia todos os requisitos para merecer um lugar no seu plantel.
Depois de atravessar o Rio Tejo e como reforço que era, José Carlos, à chegada a Alvalade fez aquilo que lhe competia. Não defraudou nenhuma expectativa e, desde o primeiro instante de "Verde e Branco", insistiu em ser um dos jogadores mais influentes na equipa. Ao lado de Alexandre Baptista, imediatamente, ganhou um lugar no "onze" inicial. Manteve esse estatuto, excepção feita à última temporada, durante quase todos os 12 anos no Sporting. Ajudou a conquistar títulos (3 Campeonatos; 4 Taças de Portugal; 1 Taça das Taças), mas acima de tudo deu ao grupo uma voz de comando. Sim, José Carlos pertence à história do Sporting também pelo número de jogos, também pelos troféus conquistados. Contudo, foi pela sua postura integra, sacrifício e capacidade de encorajar os seus companheiros que ficou na memória de todos os que com ele jogaram, e na de todos os que o viram jogar. Bem, com tudo isto a conclusão é fácil de se fazer, José Carlos foi um dos maiores capitães que os "Leões" tiveram... esse é o seu merecido lugar, um enorme exemplo e legado.
Tal como em Alvalade, também com a "Camisola das Quinas", José Carlos foi preponderante. No prelúdio da campanha dos "Magriços", nessas partidas que serviriam de qualificação para a fase final disputada em Inglaterra, haveria de estar presente em todas elas. Surpreendentemente, já no Mundial, haveria de ser preterido, jogando apenas em dois encontros. Ainda assim, a sua escolha para estas duas partidas haveria de mostrar a sua importância. É certo que só jogou frente à Inglaterra e contra a U.R.S.S., mas também não é menos verdade que estes seriam os desafios de maior responsabilidade para Portugal e que acabariam por nos dar o 3º lugar no dito certame.
Depois de deixar o Sporting no Verão de 1974, José Carlos ainda vestiu, por mais um ano, a camisola do Sp. Braga. Foi também aí que deu início à sua actividade como treinador, a qual, sem grande destaque, teve algumas passagens pela Primeira Divisão. Uma delas acabaria por o pôr, também, na história de outro emblema português, ou não fosse ele o responsável pela única subida ao escalão máximo do Recreativo de Águeda.

475 - HILÁRIO

Aos 14 anos de idade o Atlético de Lourenço Marques vai buscá-lo às fileiras do emblema de bairro, FC Arsenal. Por esta altura, o menino Hilário, de origens muito humildes, mal tinha visto um par de sapatos na sua vida, quanto mais conseguir jogar de chuteiras. A solução foi passar dois anos a adaptar-se ao uso de calçado... jogando de sapatilhas e na prática do basquetebol!!! Findo este período, dá-se a sua estreia no futebol do emblema da capital moçambicana. Já na modalidade certa, ainda assim, para Hilário faltavam acertar algumas arestas na sua definição como jogador de futebol. Habilidade não lhe faltava, mas quando umas vezes, entre outras posições, se joga no meio campo, outras no centro da defesa e outras, ainda, na direita do sector mais recuado, há sempre algo que fica por aprender.
Este dito acerto aconteceria já em Lisboa, ao serviço do Sporting, e quando os responsáveis pela equipa decidiram que ele haveria de ser o substituto do internacional Joaquim Pacheco. Logo na temporada em que chegou a Portugal, 1958/59, Hilário mostrou os seus dotes de futebolista. Veloz, de reflexos rápidos e de uma bravura excepcional na disputas dos lances, o, agora em definitivo, lateral esquerdo, já prometia vir a ser um sucesso dentro do plantel leonino. Foi muito mais do que isso! Hilário, nas 15 temporadas que passou de "Leão" ao peito, acabaria por se tornar, não só num dos maiores símbolos do clube, como num dos melhores da sua posição, na história do futebol português. Para provar esta justa distinção, bastariam os números de que foi feita a sua carreira. Contudo, nada há melhor do que as palavras de um dos seus pares, José Augusto, e por sinal um dos seus maiores rívais dentro de campo, para ilustrar aquilo que acabei de afirmar - "O Hilário foi o defesa-esquerdo que melhor se adaptou à minha maneira de jogar. Era muito forte a manter posição e recuperava com muita facilidade (...). O Hilário, de quem continuei amigo pela vida fora e ao lado de quem vivi a epopeia dos Magriços, foi o adversário mais difícil que apanhei pela frente - mais ainda que o alemão Schnellinger e o italiano Facchetti(...)"*.
No entanto, nem tudo foi um mar de rosas para o antigo internacional português. Um dos episódios mais desgostosos da sua carreira prende-se, ironicamente, com um dos momentos mais gloriosos do seu Sporting. Parece impossível?! Mas é fácil de explicar. Ora, uns dias antes da partida para a Bélgica, onde se iria disputar a última etapa da Taça dos Vencedores das Taças de 1964, o Sporting haveria de defrontar o Vitória de Setúbal. Num lance fortuito, o choque entre Hilário e José Maria, resulta na lesão do atleta leonino. O pior prognóstico confirmar-se-ia, com Hilário a ser retirado da convocatória para a final frente ao MTK de Budapeste, devido à fractura que havia contraído na perna direita. Apesar de afastado desses dois desafios (final e finalíssima) que deram a vitória aos "Leões", Hilário viu reconhecido toda a sua paixão, quando os seus colegas o visitaram no recobro e lhe deram a beijar o troféu conquistado.
Outro dos momentos altos da sua carreira e que lhe valeu a consagração internacional da sua carreira, foi o Mundial de 1966. Em Inglaterra, Hilário, muito para além de ter sido uma das pedras fundamentais no 3º lugar de Portugal, acabaria, pelas suas fenomenais exibições, por ser considerado como o melhor defesa esquerdo da competição e, por acréscimo, um dos melhores do mundo da altura no cumprimento de tais funções.


* retirado de "Os 100 magníficos", por Rui Dias

474 - OSVALDO SILVA

Sem descrédito para nenhum dos outros atletas, pode dizer-se que Osvaldo Silva foi, dentro de campo, o grande mestre da vitória da Taça dos Vencedores das Taças de 1964. Claro está que, por altura dessa vitoriosa campanha, já o médio brasileiro tinha uma bela carreira. Ora, essa mesma começou no seu país natal, o Brasil, onde no Pompeia FC começou a despontar. No entanto, seria já a representar o América Mineiro que Osvaldo Silva conheceria a pessoa que mudaria o rumo da sua vida. Falo do treinador Dorival Yustrich, o responsável pela sua vinda para Portugal e para o... FC Porto. Sim, foi para "Cidade Invicta" que o antigo interior veio jogar. Também aí, a sua excelente técnica individual, velocidade e visão de jogo, fizeram com que, facilmente, conseguisse impor-se dentro do plantel "Azul e Branco". Ajudou a vencer a Taça de Portugal em 1957/58 e o Campeonato Nacional do ano seguinte. Contudo, a sua relação com a direcção portista já se vinha deteriorando desde a sua temporada de estreia, e por razão do despedimento de Yustrich. Como Osvaldo Silva nunca havia escondido o seu descontentamento, pela forma como o seu compatriota havia sido trocado pelo húngaro Bella Guttmann, também acabaria por dispensado.
Não perdeu tempo e logo arranjou quem, ali bem perto, lhe abrisse as portas para que desse continuidade à sua vida de profissional. No Leixões, quase em modo de vingança, escreveria uma das páginas mais brilhantes do emblema de Matosinhos. O episódio, para quem ainda não adivinhou, refere-se à conquista da Taça de Portugal de 1960/61, onde o brasileiro marcaria um dos golos, na vitória por 2-0. Este marco, por si só e para um clube modesto como é o Leixões, já é algo de notável. Agora se a isto juntarmos o facto de a derradeira partida ter sido disputada frente ao FC Porto, e em pleno Estádio das Antas, então o caso toma contornos de história épica!!!
Foi já depois deste feito e ao fim de 3 temporadas a representar os "Homens do Mar", que Osvaldo Silva ruma a Lisboa. O destino era o Sporting e mais uma vez Osvaldo Silva parecia carregar com ele a essência do sucesso. Depois da conquista da Taça de Portugal de 1962/63, segue-se, então, a famosa campanha europeia que terminaria na Bélgica, com a consagração dos "Leões". Mas se estes últimos desafios (final e finalíssima), pelo desfecho que tiveram, serão sempre tidos como inolvidáveis, também houve outros, principalmente para o médio leonino, que mereceram o devido destaque. O primeiro desses jogos foi o 5-0 sobre o Manchester United, onde, depois da derrota por 4-1 em Inglaterra, 3 golos de Osvaldo Silva acabariam por dar o mote para a reviravolta na eliminatória. A outra partida seria o desempate das meias-finais frente ao Lyon, onde mais um tento de médio brasileiro carimbaria em definitivo a passagem para a último estágio da competição.
Com mais um Campeonato no seu currículo, o de 1965/66, Osvaldo Silva deixa o Sporting nesse mesmo final de época. Ruma ao Olhanense, e na temporada seguinte para o Ac. Viseu, acabando, em ambos os clubes, por acumular as funções de jogador e treinador. Também como técnico, a antiga estrela do futebol leonino haveria de regressar a Alvalade, onde trabalharia na formação de novos craques, no auxílio de outros treinadores como Di Stefano, ou mesmo ao leme do plantel principal.

473 - MORAIS

Aos 14 anos de idade, Morais, com o jeito que mostrava para a prática do futebol, vê-se integrado na equipa principal da sua terra, o Sporting de Alcabideche. Mesmo tendo em conta a tenra idade e os confrontos com jogadores, na maioria das vezes, bem mais velhos que ele, o "miúdo" parecia conseguir zombar de todos os que com ele se confrontavam dentro de campo. A evidência da sua qualidade era tal, que o Estoril-Praia não duvidou das suas capacidades, acabando por o contratar para os seus quadros. Mudado que estava para o emblema "vizinho", também aí, é certo que a jogar já na devida categoria, Morais continuaria a mostrar os seus dotes futebolísticos. Foi então que o Caldas apresenta uma proposta ao atleta que, deslumbrado com a ideia de um estatuto profissional, não recusa em assinar contrato. O pior é que, paralelamente, também o Benfica já tinha chegado a um acordo com o seu clube. Morais, ainda jovem, e, certamente bastante pressionado, acabaria por celebrar novo acordo agora com as "Águias". Resultado: um ano de suspensão para o atleta.
Terminado o castigo, entretanto reduzido para metade, Morais chega a um acordo com o Torreense. Estreia-se assim na primeira divisão em 1955/56, e nas 3 temporadas que passaria em Torres Vedras veria o seu estatuto de excelente jogador, cada vez mais cimentado. Ao fim das ditas épocas, o Sporting assegura o seu concurso e o extremo-esquerdo muda-se para Alvalade. Apesar de ser um jogador que estava sempre na primeira linha das convocatórias, houve temporadas que, pela concorrência a que estava sujeito, haveria de ser menos utilizado. Foi então que começou a experimentar as funções de lateral. A verdade é que o atleta nunca escondeu o desagrado por esta adaptação e conta-se que um dia, sabendo que iria ser utilizado na defesa, inventa uma desculpa para não jogar. Contudo, ironicamente, seria à custa deste lugar que Morais viveria o momento mais bonito da sua carreira e aquele que o imortalizou para a história, não só do Sporting, como do desporto nacional - "Eu não estava convocado. Mas no jogo antes dessa competição, o Hilário magoou-se. Eu estava no estádio e ouvi a convocação pelo altifalante, avisando-me para estar no dia seguinte no estádio que iria partir com a delegação". Foi deste modo, por infelicidade daquele que era o dono da posição, que Morais parte para a Bélgica. Joga a partida da Final no sector mais recuado da equipa e, na finalíssima de Antuérpia, devido a lesão do brasileiro Bé, acaba por regressar a posição que tanto gostava. Então, próximo do minuto 19, um canto é assinalado a favor dos "Verde e Branco". Morais agarra no esférico e… "na hora do golo, eu beijei a bola e falei com ela. Pedi para que ela entrasse. Graças a Deus deu certo e o Sporting foi campeão". Para a memória ficará para sempre o seu tento, marcado de canto directo e que daria a Taça dos Vencedores das Taças de 1964, aos "Leões". Depois vieram as homenagens, as recepções e a cantiga de Maria José Valério que o poria nas "bocas do mundo" com o seu "Cantinho do Morais".
Outro momento alto da sua vida de desportista, haveria de ser o Mundial de 1966. Em Inglaterra, deixando para trás congéneres como o Brasil ou a Rússia, Portugal chegaria ao 3º lugar. Mérito dos seus jogadores, sem dúvida... principalmente para uma selecção estreante. Mas para Morais, com muita mágoa sua, o torneio ficaria marcado por um outro lance - "A falta que fiz no Pelé foi igual a muitas outras. Foi um lance normal de jogo. Ele mesmo já disse isso, uma vez que fomos juntos a uma entrevista na BBC de Londres. Contra a Bulgária (no primeiro jogo da primeira fase), ele já tinha apanhado muito e já se tinha lesionado. Tanto, que não enfrentou a Hungria no jogo seguinte. Infelizmente, as pessoas sempre só se lembram desse lance".
Sensivelmente 3 anos após este episódio, sem que uma coisa tenha a ver com a outra, Morais deixa o Sporting. No seu currículo leva 3 Campeonatos Nacionais, 1 Taça de Portugal e a já referida competição europeia. Parte em direcção a uma nova fase da sua vida, que o levaria a jogar na África do Sul e, já no regresso a Portugal, no Rio Ave. É aí, em Vila do Conde, que termina a sua carreira e que começa uma outra etapa que, sem grande expressão, o leva a cumprir as funções de treinador. Afasta-se do futebol pouco tempo depois, acabando por se tornar num dos funcionares desse município do Norte do país.

472 - GÉO


Apesar de ter dados os primeiros chutos na bola nas escolas do Náutico, Géo acabaria por se tornar num dos ídolos do principal rival. Foi, então, no Sport Recife, também este um clube da sua cidade natal, que o atacante começou por ganhar destaque no futebol brasileiro. Ajudou o seu emblema a vencer os "Estaduais" de Pernambuco de 1955 e 1956, acabando por se tornar numa das estrelas do conjunto.
Por esta altura, o Sport Recife usufruía de uma fama excelente, o que resultaria numa série de convites para uma "tournée" na Europa. Se este "passeio" teve, ou não, influência directa na carreira de Géo, não o sei. O que é certo é que, em jeito de premonição, o jogo inaugural do mesmo, o qual haveria de ter uma passagem pelo Santiago Barnabéu (inauguração da iluminação artificial), haveria de ser em Lisboa e frente ao Sporting.
Ora, a todo este sucesso do jogador não ficaram indiferentes os responsáveis do Palmeiras, que pretendendo formar uma equipa que rivalizasse com o Santos de Pelé, andavam à procura de novos craques. Géo haveria de ser um dos escolhidos para compor a linha ofensiva da equipa de São Paulo. Os resultados, esses, apareceriam uns anos mais tarde, quando em 1959, o grupo, onde pontuavam nomes como Djalma Santos ou Chinesinho, traria o tão almejado Campeonato Paulista para o Palestra Itália.
Foi já depois desta proeza que Géo acabaria por tentar a sua sorte do lado de cá do Atlântico. O destino, como já o desvendámos há pouco, haveria de ser o Estádio de Alvalade. Dono de uma técnica soberba técnica, a sua qualidade futebolística valeu-lhe, imediatamente, um lugar no onze inicial dos "Leões". Na esquerda, tanto a extremo como a interior, Géo faria as delícias dos adeptos leoninos e acabaria por ajudar o Sporting, numa altura em que o Benfica se afirmava como uma potência tanto a nível nacional como internacional, na conquista de uma série de troféus. Tendo vencido o Campeonato Nacional de 1961/62 e a Taça de Portugal do ano seguinte, houve, no entanto, e como relembra o seu filho, um título que o orgulhou ainda mais - “O meu pai sempre guardou com carinho sua passagem pelo Sporting. Para ele, a época em que conquistou a Recopa [Taça dos Vencedores das Taças] sempre foi a maior lembrança de todas. Em especial o jogo contra o Manchester United, em que ele marcou o terceiro golo da goleada de 5 a 0”*.
Após esta campanha, por razões que apontam para uma lesão mais grave, Géo acabaria por deixar o futebol dito de topo. Contudo, isto não foi o fim da sua carreira, pois de Lisboa partiria para a Bélgica, onde, ainda durante uns largos anos, daria continuidade à sua paixão desportiva. Vestiu, assim, as camisolas do Racing White, Cercle Brugge e Racing Jet de Bruxelles.

* retirado de http://www.superesportes.com.br/app/18,98/2013/05/22/noticia_nautico,24157/o-pai-dele-e-idolo-do-sporting.shtml

471 - FIGUEIREDO

Umas semanas após a derrota do Benfica na final da Taça dos Campeões Europeus de 1962/63 - dois golos de Altafini (Milan) -, logo o Sporting, ainda por cima em pleno "Estádio da Luz", forçaria o Benfica a sair da Taça de Portugal. O principal responsável pela eliminação das "Águias", seria um atleta leonino, de seu nome Figueiredo. Dois golos do dito atacante, valeriam, para além da posterior vitória no troféu, um lugar no derradeiro jogo da competição. Mas claro, a "oportunidade faz o ladrão", e que melhor momento haveria para rebaptizar o autor desses dois tentos?! Nenhum!!! Então, a partir desse momento, Ernesto Figueiredo ficou conhecido como o "Altafini de Cernache" (terra onde cresceu)!!!
Ora, por altura desta história, já o avançado, depois das passagens pelo Matrena, União de Tomar e Cernache, cumpria no plantel do Sporting a sua 3ª temporada. Desde essa sua época de estreia, 1960/61, que Figueiredo, pela combatividade apresentada dentro de campo, força, sentido de baliza e, como é lógico, pelos golos que marcava, era uma peça fulcral no escalonamento do "onze" inicial. Por essa razão, acabaria por ser umas das figuras centrais na conquista, tal como da já referida Taça de Portugal, do Campeonato Nacional de 1961/62. Contudo, seria na época 1963/64 que Figueiredo gravaria o seu nome a ouro, naquela que é a página mais importante da história do Sporting. Começou frente ao Atalanta, sendo dele o primeiro tento na vitoriosa campanha da Taça dos Vencedores das Taças desse ano; já na Final, meteria mais duas bolas nas redes do MTK de Budapeste, o que adiaria a decisão para a derradeira Finalíssima.
Mas tendo os golos como a sua maior alegria, ele que até tinha começado a carreira a guarda-redes, houve um que o trouxe bem “aziado”. Numa das partidas para o Campeonato de 1965/66, contra o Lusitano de Évora, um dos seus golos ser-lhe-ia retirado. Golo anulado?!!! Não!!! Apenas considerado como "na própria baliza" - "Os jornais desportivos escreveram que foi autogolo do guarda-redes Vital, mas como, se eu rematei à baliza?!". Claro que este momento poderia não ter tido peso algum. No entanto, terminada a temporada, no topo da lista dos goleadores, tal episódio, acabaria por colocar Eusébio e Figueiredo, par a par. Ora, como o benfiquista tinha menos partidas jogadas, acabaria por ser ele, em detrimento do avançado do Sporting, o vencedor do prémio para o "Melhor Marcador"!
Figueiredo penduraria as chuteiras em 1969/70, ao serviço do Vitória de Setúbal. Já após o fim da sua carreira de profissional, aquele que foi um dos "Magriços" no Mundial de 1966, decidiu deixar o futebol para dar lugar às memórias. Depois, foi passar a vê-lo pelas ruas de Lisboa... mas agora nas funções de taxista!!!

470 - PEDRO GOMES

"Os Cinco Violinos" não foram apenas a linha avançada mais famosa do Sporting! Foram, também eles, a inspiração de muitos jovens que, adeptos da prática desportiva, acabariam por escolher o futebol como a sua modalidade de eleição. Um deles foi Pedro Gomes, que assim, contava 15 anos, decide ir prestar provas ao clube do seu coração. Foi aceite; entrou para as camadas de formação "Verde e Branca" e com isso deu início a uma relação onde, como atleta, não conheceria outras cores.
Foram 17 anos entre as diferentes categorias - tempo mais que suficiente para que, já como sénior, conseguisse ficar na história, como o 8º jogador com mais partidas realizadas pelo clube. Tanto tempo ao mais alto nível, haveria de lhe trazer uma série de conquistas que nem todos podem gabar-se. 2 Campeonatos Nacionais e 3 Taças de Portugal, fazem parte do rol de títulos que conseguiu. Contudo, há um especial que todos os adeptos recordarão e que transformaria Pedro Gomes num dos melhores laterais dos anos 60, tanto em Portugal com a nível da Europa. Claro que falo da conquista da Taça dos Vencedores das Taças de 1963/64. Nessa temporada, o defesa haveria de ter um papel importantíssimo nessa caminhada de glória. Não só se mostrou preponderante na manobra defensiva dos "Leões", como, com as suas corridas pelo meio campo adversário, ajudou imenso os intentos dos seus companheiros do ataque. Aliás, essa sua propensão atacante era uma das suas imagens de marca. Faceta que, para a altura, não era muito usual num futebolista da sua posição e que, apesar de louvável, ainda lhe trouxe um ou outro dissabor - "(...) posso dizer que fui dos primeiros laterais ofensivos. (...) uma vez, o Sporting multou-me, pelo facto de me ter adiantado muito no terreno num jogo com a Académica".
Na selecção nacional, desde cedo, também começou a mostrar-se como um jogador influente. Ainda júnior participou no Europeu de 1960, onde Portugal conseguiria atingir o terceiro lugar do pódio. No entanto, a maior façanha que conseguiria com a "Camisola das Quinas", seria a qualificação para o Mundial de 1966. Mas se a felicidade de ter participado no apuramento para o primeiro Campeonato do Mundo onde Portugal participou, foi enorme, já a tristeza que sentiu por não poder participar no mesmo, deverá ter sido de igual grandeza - "Fiz parte dos Magriços na fase de qualificação. Na vitória contra a Turquia por 5-1, fui considerado o melhor jogador em campo. Entretanto partiram-me uma perna e por isso não fui à fase final".
No final da temporada de 1972/73, quando ainda não havia completado os 32 anos, decidir-se-ia pelo fim da carreira. Apesar de afastado dos relvados, continuou bem próximo do futebol, agora a desempenhar as funções de treinador. Neste aspecto, pode dizer-se que Pedro Gomes, o técnico, não terá conseguido atingir a glória que conseguiu enquanto jogador. Por falta de capacidade? Não! Mas por não querer alinhar, como o próprio sempre o reconheceu, em jogos de bastidores e afins - "Eu sou um treinador sem empresário e por isso considero-me um «outsider», um desalinhado". Ainda assim, Pedro Gomes sempre deu aos seus grupos o cunho com que sempre foi reconhecido dentro das "quatro linhas". Disciplinadas e batalhadoras, as equipas orientadas pelo antigo internacional português sempre tiveram a imagem da entrega que lhe era exigida. Por essa razão, Pedro Gomes ficou conhecido como um treinador capaz de salvar equipas em situações bastante difíceis.
Há ainda outro episódio de que se orgulha especialmente e prende-se com a descoberta de outro dos símbolos e capitão leonino, o médio Oceano - "O Oceano jogava no Odivelas e eu quando estava desempregado ia ver os jogos na região e na periferia de Lisboa. Gostei da forma como ele se aplicava e entregava aos jogos e por isso quando fui contratado pelo Nacional levei-o comigo. Entretanto o Sporting voltou a contactar-me para trabalhar com um treinador estrangeiro [Jonh Toshack]. (...) falei com o Oceano e disse-lhe que o levaria para o Sporting".

469 - MASCARENHAS

Chega de Angola, após longa viagem de barco, para jogar num Benfica onde, para o ataque, pontuavam nomes como o de José Águas ou o de Palmeiro. Má fortuna a do jovem jogador que, apesar das qualidades que demonstrava, não conseguia impor-se perante tamanhas estrelas. Seguiu para o Barreirense à procura de nova oportunidade e aí a história foi outra. Nas três temporadas que passou no emblema da Margem Sul do Tejo, Mascarenhas começa a mostrar-se: marca golos atrás de golos e ajuda o seu clube a regressar ao escalão máximo. De volta aos "grandes palcos", consegue ser o melhor marcador da equipa, no entanto, os seus 10 golos acabam por não ser suficientes para evitar a despromoção do Barreirense. Novamente na 2ª Divisão, convicto de que a sua qualidade futebolística merecia muito mais, o ponta-de-lança consegue o feito de ser o jogador que, na totalidade dos campeonatos europeus, mais golos marcaria na época de 1961/62. O prémio para tal não poderia ser o melhor, com o Sporting, clube do seu coração, a elegê-lo como uma das contratações para a temporada vindoura.
Como jogador, a sua história em Alvalade, não se pode dizer que tenha sido comprida. Começou no dia em que, juntamente com o brasileiro Osvaldo Silva, assina o seu contrato e terminaria 3 anos depois. Contudo, esse tempo foi mais que suficiente para que as suas proezas ficassem tanto na história do clube, como na do desporto nacional. A isto que acabo de escrever, como é óbvio para alguém que jogou no ataque, não é indiferente a quantidade de golos que marcou. Mas se os seus tentos o tornaram famoso, houve uns quantos que, marcados que foram em certas ocasiões, deram ao ponta-de-lança um dos recordes do futebol europeu. Por ventura já terão adivinhado a qual episódio me refiro, mas para aqueles que desconhecem a tal façanha, falo dos 6 golos que Mascarenhas marcou num só jogo, frente ao APOEL de Nicósia, e que ainda hoje é se mantêm como marca intransponível nas competições europeias. Ora bem, recorde também, foram os 16-1 dessa goleada imposta em Lisboa. Mais sabor têm tantos golos quando os mesmos representam um dos passos dados pelos "Leões", nessa caminhada que os levou à conquista da Taça dos Vencedores das Taças de 1963/64 e onde Mascarenhas, naturalmente, se sagraria o melhor marcador da competição - "(...) a determinada altura já perguntávamos uns aos outros, «isto está 7 ou 8-0?» Foi nesse altura que começámos a pensar em bater o recorde de golos numa competição europeia. Passou a ser a nossa grande motivação para não deixar adormecer o jogo".
Apesar de aplicado nos treinos (diziam que subia as bancadas do estádio a correr e com Osvaldo Silva às costas), incansável durante todos os encontros e com um jogo aéreo implacável, a temporada de 1964/65 mostra um Mascarenhas bem longe dos números a que havia habituado os adeptos. No ano seguinte regressa ao Barreiro o homem que dizia ser "fácil elevar-se, mas que depois demorava eternidades até pousar os pés na relva" - como um dia recordou a sua esposa. A partir daqui, Mascarenhas começa um périplo por clubes de menor monta que rapidamente o leva a militar nas divisões inferiores do nosso futebol.
Já depois de, ao serviço do Paços de Ferreira, terminar a sua carreira, Mascarenhas começa a passar por algumas dificuldades financeiras. Em Janeiro de 1982, uma reportagem da "Gazeta dos Desportos" expõem as condições miseráveis a que o antigo craque, a viver num bairro degradado do Porto, à altura se sujeitava. O apelo vinha logo na capa e em jeito de "slogan", o "Vamos arranjar-lhe um emprego no futebol" chegou ao presidente leonino, na altura João Rocha. Rapidamente, do departamento de futebol do Sporting, chega a proposta para a antiga estrela do clube e assim começou nova etapa na vida de Mascarenhas que duraria mais de duas décadas.

468 - CARVALHO

Nascido no Barreiro, foi nos clubes da sua cidade que Carvalho começou na prática do futebol. Primeiro nas camadas jovens do Operário e, já com idade de sénior, no Luso, o guarda-redes começou logo por dar nas vistas com as suas exibições de gabarito superior. Tendo ali um potencial jogador de classe, logo outros emblemas começaram a sondá-lo para uma possível transferência. Na linha da frente partia o Benfica, mas, incrivelmente, o jovem atleta, nos treinos a que seria chamado, acabaria por não agradar aos responsáveis técnicos das "Águias", acabando por regressar à margem Sul do Rio Tejo. Claro está, sendo um jogador de tanta qualidade, não faltariam oportunidades para conseguir catapultar a sua carreira. A verdadeira chance apareceria, num particular frente ao Sporting, por ocasião do aniversário do emblema barreirense que representava.
É deste modo, contava Carvalho com 21 anos, que, no Verão de 1958, chega a Alvalade um guardião destemido, muito seguro entre os postes e com um físico imponente (há que concordar que um 1,80m não era muito usual num jogador daquela altura!). Apesar dos incontestáveis predicados, a sua vida nos primeiros tempos de "verde e branco" não foi tão fácil quanto se suporia. Ainda assim, logo na partida de arranque desse Campeonato de 1958/59, consegue, frente ao Barreirense, estrear-se como titular. Faz mais uma jornada no "onze" inicial e, a partir desse momento, acaba por perder o lugar para Octávio de Sá. A titularidade só a volta a agarrar umas épocas depois. Coincidência, ou não, essa temporada de 1961/62 marcaria o seu primeiro título de Campeão Nacional. Repetiria o feito por mais duas vezes - 1965/66 e 1969/70 - e venceria, também, a Taça de Portugal de 1962/63. Contudo, o troféu que marcaria a sua carreira seria, sem qualquer sombra de dúvida, a edição de 1963/64 da Taça dos Vencedores das Taças. Pode dizer que Carvalho foi um dos principais obreiros dessa monumental campanha europeia. E se o facto de ter sido totalista já, por si só, é prova disso mesmo, a sua presença em campo representava, para todos os seus colegas, muito mais. Como é sabido, Carvalho era um Homem de convicções fortes, conhecido pelo seu carácter determinado e valentia. Um dos episódios que se conta a esse respeito, passou-se no jogo que daria a vitória na competição. Então, nesse desafio da finalíssima, frente ao MTK de Budapeste, Pérides, num lance disputado a meio campo, acaba por se "encolher" na luta pela bola. O resultado seria uma jogada perigosíssima dos húngaros... e um par de estalos para o médio, para que ele perdesse os nervos, dados pelo próprio guarda-redes!!! Outro episódio que demonstra a sua personalidade, e vontade de dizer sempre o que pensava, ocorreu já no Mundial de 1966. Em Inglaterra, o jogo de partida para Portugal seria frente à Bulgária. No alinhamento inicial constava o nome de Carvalho. O pior é que, para o seguinte, o seu nome seria substituído pelo de José Pereira. Carvalho, indignado com a situação, acusaria o seleccionador Manuel da Luz Afonso (não confundir com o treinador, Otto Glória) de ser anti-sportinguista, acabando, por vontade própria, por abandonar a selecção nacional, logo após o dito certame.
Polémicas à parte, Carvalho, por todos estes episódios relatados e por muito mais, acabaria por se tornar numa figura mítica do futebol nacional. Entre os "Leões", as suas 13 temporadas como jogador, mais umas quantas como treinador de guarda-redes, acabariam por o pôr na categoria dos notáveis, acabando mesmo por, em 2011, ser distinguido com o Prémio Stromp.

CANTINHO DO MORAIS

Depois do 3-3 verificado na final em Bruxelas, o Sporting, com um golo de Figueiredo a 10 minutos do fim, consegue levar a decisão para um novo jogo. A finalíssima é então marcada para 15 de Maio de 1964, dois dias após o primeiro jogo. Desta feita em Antuérpia, novamente os Leões medem forças com os húngaros do MTK de Budapeste, mas desta vez, Morais, na marcação de um pontapé de canto, fez com a história se escrevesse a favor dos portugueses. É por essa razão que, no mês do 50º aniversário da conquista de Taça das Taças de 1963/64, homenageamos aqueles que por ela lutaram, num mês de Abril a que chamámos de "Cantinho do Morais".

Ver também: Fernando Mendes