946 - KING

Chega a Portugal com a temporada de 1992/93. Vindo do modesto emblema brasileiro do Nordeste, o destino de King parecia estar ligado ao Belenenses. Porém, as negociações entre o atleta e o clube lisboeta haveriam de esbarrar num qualquer impasse e o defesa acabaria desviado para o Norte do país.
Já no Minho, é com o Sporting de Braga que o central assinaria um acordo. Possante, intrépido e de métodos pragmáticos, o jogador acabaria por conseguir afirmar-se com alguma naturalidade. A sua autenticidade faria com que, durante a época seguinte, King continuasse a ser visto como um dos esteios do conjunto bracarense. Titular absoluto, o atleta acabaria por tornar-se num dos defesas mais bem cotados do nosso Campeonato. Alvo de outras equipas, e com o conjunto minhoto longe das lutas pelos lugares cimeiros, seria no Farense que haveria de dar seguimento à sua carreira.
Com o mítico Paco Fortes no comando técnico, os “Os Leões de Faro” já há muito andavam a perseguir voos maiores. Na temporada de 1994/95, a da chegada de King ao Algarve, esse objectivo acabaria por ser atingido. Com o 5º posto alcançado na tabela classificativa, e a consequente classificação para as provas da UEFA, seria com alguma naturalidade que o Farense veria alguns dos seus pilares a serem cobiçados. Resultado dessa avidez, King e Hassan, que terminaria a campanha como o Melhor Marcador do Campeonato, haveriam de seguir para Lisboa. No Benfica, a sorte de ambos seria madrasta e vítima das enormes mudanças ocorridas no clube.
Com a “revolução” perpetrada por Artur Jorge, as “Águias” acabariam bem aquém do esperado. O avançado marroquino ainda conseguiria “dar um ar da sua graça”. Já no que ao defesa diz respeito, a sua temporada na “Luz” haveria de tornar-se numa autêntica desgraça. Primeiro viriam as lesões na pré-época, que acabariam por atrapalhar a sua integração. Já com Mário Wilson à frente da equipa, surge a única oportunidade de vestir a camisola “encarnada” em partidas oficiais. No entanto, essa metade de jogo frente ao Lierse (Taça UEFA) não teria continuidade. Por fim, o desastre de carro que o afastaria dos relvados por um longo período – “Estava a conduzir em direcção a Cascais, era Inverno e apanhei um lençol de água. O carro descontrolou-se e despistei-me. Estava uma ambulância parada na berma – eu acho que já era para mim –, eu desviei-me e acabei por bater de frente contra um poste. Fracturei o fémur direito e as minhas perspectivas no Benfica morreram aí”*.
No final dessa temporada de 1995/96, King deixa o Benfica. Decide tentar a sua sorte fora do nosso país e divide a campanha seguinte entre a Liga francesa e a espanhola. Tanto no Châteauroux como no Atlético de Madrid “B” as suas prestações ficam abaixo das espectativas criadas em seu redor. Em 1998 regressa a Portugal e ao Farense. No emblema onde mais tinha conseguido destacar-se, o defesa volta às boas exibições. Alia tudo o que aqui já foi dito a outras das suas grandes qualidades e, com seu o “pontapé canhão”, também ajuda os algarvios nos propósitos ofensivos.
A sua saída de Portugal, à qual se seguiria um “ano sabático”, levá-lo-ia, mais uma vez, a outras ligas. Depois de regressar a Espanha e dessa passagem pelo Algeciras, King radica-se na Grécia. Ionikos, Veria, Kavala e Thermaikos preencheriam o derradeiro terço do seu percurso como futebolista. Agradado com o país e com as oportunidades conseguidas, o antigo atleta aí abraçaria as tarefas de treinador. Com o seu currículo a ser preenchido por experiencias como adjunto no Panathinaikos e Veria, o ex-defesa ficaria ligado a esse último emblema em funções de bastidores.

*adaptado do artigo de Pedro Jorge da Cunha, publicado em https://maisfutebol.iol.pt, a 3 de Novembro de 2016.

945 - JANOVIC

A habilidade para o desporto haveria de despontar em Zeljko Janovic era ele muito novo. Por essa razão, ainda no tempo de escola, seria nas actividades físicas que mais conseguiria destacar-se. As competições escolares e os jogos organizados nesse mesmo contexto, acabariam por servir de trampolim para uma carreira profissional no futebol. Quem haveria de descobri-lo nos torneios disputados entre alunos, seria um dos emblemas mais representativos da sua cidade natal. Nesse sentido, o convite do Buducnost Titograd (actual Podgorica) seria o primeiro passo para uma longa caminhada como ponta-de-lança.
Com a entrada nas camadas jovens do novo clube, Janovic teria o prazer de conseguir sagrar-se campeão nacional da antiga Jugoslávia. Alguns anos mais tarde, a transição para o patamar sénior também seria acompanhada por alguns sucessos. A sua equipa, a disputar o escalão máximo da antiga Jugoslávia, seria uma enorme montra. A juntar a esse factor, e no que ao plano pessoal diz respeito, as exibições do jovem jogador fá-lo-iam destacar-se de forma excepcional. O resultado não demoraria muito tempo a aparecer e dois dos mais representativos emblemas daquele país acabariam por ir no seu encalço.
Ao contrário do que haveriam de fazer dois dos seus mais famosos colegas de balneário, Predrag Mijatovic e Dejan Savicevic, o atacante acabaria por nunca aceitar os convites recebidos – “Quando o meu primeiro contrato terminou, recebi propostas do Estrela Vermelha de Belgrado (…) e do Dínamo de Zagreb (…). Eu não aproveitei a oportunidade por causa do amor ao clube. Essa decisão, imatura, provavelmente afectou o curso da minha carreira que, em clubes grandes, seria certamente diferente”*. A decisão de manter a ligação ao Buducnost Titograd prolongar-se-ia, só no escalão sénior, por quase uma década. Tendo iniciado essa etapa na temporada de 1981/82, só em 1990 é que o avançado decidiria aventurar-se por outras paragens.
Com o antigo “Bloco de Leste” a mostrar uma maior abertura à saída dos seus atletas, Janovic parte para Espanha. No auge das suas capacidades físicas e desportivas é no Salamanca que o ponta-de-lança acabaria por encontrar uma oportunidade. Ainda que a disputar os patamares secundários espanhóis, o rumo escolhido daria um novo ímpeto à sua carreira. O entusiasmo tirado dessa sua primeira experiência no estrangeiro, levá-lo-ia a tentar novas ligas. Já depois de um par de campanhas passadas com as cores dos franceses do Istres, o atacante acabaria por escrever os derradeiros capítulos da sua caminhada desportiva em Portugal. Penafiel, Gil Vicente e Moreirense seriam, nas suas 3 últimas temporadas, os emblemas por si representados. Destaque para o conjunto de Barcelos e a passagem do atleta pelo principal escalão “luso”.
Depois de ter decidido retirar-se dos relvados, Janovic passaria a dedicar-se ao sindicalismo. Na defesa dos interesses dos atletas do Montenegro, o antigo jogador seria um dos fundadores do Sindicato dos Jogadores Profissionais de Futebol daquele país. Com provas dadas nessas funções, o ex-avançado continua, desde a sua criação, como o Presidente da referida entidade.

*adaptado da entrevista publicada em www.mozzartsport.com, a 22.02.2019

944 - RONALDO

Contratado ao Botafogo da Bahia, Ronaldo chegaria ao FC Porto rotulado como avançado. Porém, nessa temporada de 1969/70, talvez pela instabilidade causada pela mudança de treinadores, poucas oportunidades teria para mostrar as suas qualidades. As escassas partidas disputadas nessa época de estreia em Portugal, levariam a que os responsáveis técnicos portistas, liderados pela estrela escocesa Tommy Docherty, tomassem a decisão de ceder o atleta ao Boavista. A campanha passada no Estádio do Bessa, tal como a de regresso às Antas, seriam, em abono da verdade, uma nova desilusão. Sem mostrar a tão apregoada “veia goleadora”, o futebolista não conseguiria ser mais do que uma solução secundária.
É então que algo muda radicalmente a sua carreira. Já com Fernando Riera, mas, principalmente com a contratação de Béla Guttmann, o suposto atacante passa a jogar bastante mais recuado no terreno de jogo. Adaptado a defesa central, a mudança táctica rapidamente daria razão aos dois técnicos. A alteração levaria a que o atleta, logo na temporada de 1973/74, tomasse para si um lugar no “onze” inicial do FC Porto. No que aconteceu daí em diante, existem momentos de inteira sombra. Sem ter conseguido encontrar qualquer informação sobre o seu paradeiro na campanha de 1974/75 (talvez tenha estado lesionado!) a verdade é que o brasileiro volta a reaparecer em 1975/76.
Ainda de “Azul e Branco”, Ronaldo volta a perder a preponderância conquistada sob a alçada do já referido treinador húngaro. À procura de mais oportunidades para jogar, o atleta acabaria mesmo por ser transferido. Ao serviço do Sporting de Braga, e logo na época da sua chegada, o defesa abeira-se de conquistar o primeiro troféu em Portugal. Consigo a titular, o conjunto minhoto chega à derradeira partida da edição de 1976/77 da Taça de Portugal. No entanto, 1 golo de Fernando Gomes, seu antigo colega no FC Porto, acabaria por desviar o título para as Antas. Mesmo assim, não tardou muito até que o seu currículo ficasse mais colorido. Ainda durante essa temporada, os bracarenses voltam a chegar a uma final. A prova seria a Taça Federação Portuguesa de Futebol. Com a decisão a ser disputada frente ao Estoril-Praia, dessa feita a sorte sorriria aos minhotos.
No total que foram as 4 temporadas ao serviço do Sporting de Braga, pode dizer-se que a importância desportiva de Ronaldo foi maior do que no resto do tempo despendido em Portugal. Tendo conseguido assumir a titularidade em 3 delas, só na última, a que anteciparia a sua partida, é que o defesa passaria para segundo plano. Também em termos de popularidade, aquela que conquistou no Minho, só seria ultrapassada pela granjeada na sua terra natal. Ainda em 2017, por altura da reinauguração de um complexo desportivo, Ronaldo seria homenageado pela Prefeitura Municipal de Ituaçu.

943 - ARCONADA

Aos 16 anos, aquando da sua chegada à Real Sociedad, poucos apostariam que o nome de Arconada iria tornar-se numa lenda do clube. É bem verdade que não tardou muito até que os primeiros sinais começassem a surgir. A rapidez, os reflexos e, o que não é muito comum nos da sua posição, a habilidade que tinha com a bola nos pés, faziam dele uma enorme promessa. Na transição para o patamar sénior, onde começaria por representar a San Sebastián (equipa “b” da Real Sociedad), as convocatórias para as camadas jovens espanholas serviriam para sublinhar todas as esperanças nele depositadas. Depois, foi só esperar a oportunidade certa e, passados poucos anos após a sua estreia como profissional, o guardião conseguiria tornar-se no dono e senhor das balizas “Txuri-urdin” e espanhola.
Pela Real Sociedad, Arconada iria ficar associado às melhores campanhas da história da colectividade basca. Tendo, na equipa principal, chegado à titularidade na temporada de 1976/77, as suas exibições assegurar-lhe-iam um lugar no “onze” inicial durante anos a fio. Como um bastião de toda a estratégia táctica da equipa, muito dos títulos que estavam na calha dever-se-iam à segurança que passava aos seus colegas. A confiança que conseguia transmitir tinha como base, logicamente, todas as bolas que parava. Todavia, o guarda-redes, para além de exímio nas funções desportivas, também era uma voz de comando. Dentro de campo, o jogador era uma voz de incentivo, um grito de coragem, a alma de todo um conjunto.
Os títulos que conquistaria pela Real Sociedad tornar-se-iam num marco da sua carreira. No despontar da década de 80, o emblema basco conseguiria um feito único. Depois de na temporada anterior terem ameaçado a hegemonia dos seus rivais com um 2º posto na classificação final da “La Liga”, a época de 1980/81 traria o primeiro de dois títulos consecutivos de campeão nacional. A juntar a esses dois troféus, Arconada conseguiria ainda outras tantas conquistas para o seu palmarés. A Supercopa de 1982/83 e a edição de 1986/87 da Copa del Rey serviriam, desse modo, para reforçar o currículo do guardião.
Como já aqui foi dado a entender, também na selecção Arconada deixaria a sua marca. Após ser convocado para os Jogos Olímpicos de 1976 e para o Mundial de 1978, a sua presença no Europeu de 1980 já mostraria o atleta como um dos indiscutíveis nas convocatórias da “Roja”. Como jogador da equipa nacional espanhola, o guardião ainda acumularia a passagem por outros dois grandes torneios, o Mundial de 1982 e o Euro de 1984. Destacando-se em todos pela qualidade das suas exibições, o último certame aqui referido ficaria na memória de muitos pela pior das razões. Tendo a Espanha, nesse campeonato disputado em França, atingido o derradeiro jogo, a partida frente aos anfitriões ficaria manchada por um pequeno deslize do guarda-redes. Na sequência de um livre-directo assinalado à entrada da grande-área espanhola, Platini assume a marcação do castigo. A bola é rematada de forma a contornar a barreira feita pelos jogadores espanhóis. Arconada lança-se ao prejuízo e parece travá-lo. Porém, a fracção de segundo a seguir mostraria o contrário. A bola, caprichosamente, arranjaria maneira de escapar-se por entre o corpo do guardião e o relvado. Arconada ainda consegue virar-se e pular na direcção das redes. No entanto, o esforço de pouco serviria e, ingloriamente, acabaria a ver o esférico a entrar na sua baliza.

942 - CARVALHO

Formado nas escolas do Vitória de Guimarães, a subida à categoria principal na temporada de 1979/80, acabaria por não trazer grandes resultados. Apesar de também conseguir posicionar-se na esquerda da defesa, Carvalho utilizava o meio-campo como a sua área preferida. Nesse sentido, e tendo como colegas de sector nomes como Abreu, Festas, Nivaldo ou Ferreira da Costa, a sua falta de experiência acabaria por dar azo às poucas oportunidades conseguidas nessas primeiras épocas como sénior.
Ao fim de 2 temporadas, e com pouco mais de uma dezena de partidas disputadas, Carvalho acabaria por deixar o Municipal de Guimarães para dar seguimento ao seu percurso noutras paragens. Ainda que no 2º escalão, seguir-se-ia a Sanjoanense. Porém, a passagem pelos patamares secundários seria curta e, logo na temporada de 1982/83, já o médio estava de volta ao convívio dos “grandes”.
No Salgueiros seria dada ao médio uma nova chance para relançar a sua, ainda curta, carreira. A oportunidade seria agarrada com convicção e, essencialmente, serviria para reafirma-lo como um atleta primodivisionário. O estatuto alcançado nas duas campanhas ao serviço dos de Vidal Pinheiro viria a confirmar as esperanças que, durantes os anos passados nos escalões de formação, haviam sido criadas. Essas expectativas, que à altura o levariam aos sub-16 de Portugal, acabariam por, mais uma vez, pô-lo nas contas da Federação Portuguesa de Futebol.
Antes ainda de conseguir essas novas chamadas, Carvalho haveria de ter uma passagem bem interessante pelo Portimonense. Sendo personagem essencial numa das páginas históricas do conjunto algarvio, o atleta ajudaria a colectividade a atingir, pela primeira vez, as competições europeias de clubes. Depois do 5º posto conseguindo na temporada de 1984/85, seria já na época seguinte que o médio seria chamado à titularidade nas duas mãos frente ao Partizan de Belgrado.
Depois dessa estreia na Taça UEFA, seria no regresso ao Vitória de Guimarães que a selecção “A” chegaria ao seu currículo. Por entre algumas partidas com a equipa Olímpica, seria em Dezembro de 1987 que Carvalho conseguiria 2 internacionalizações pelo principal conjunto “luso”. A contar para a fase de qualificação do Euro 88, Juca haveria de convocar o centrocampista para as partidas frente a Malta e Itália.
Na ”Cidade Berço”, o médio jogaria grande parte do que sobraria do seu percurso profissional. Essas 5 temporadas, às quais haveria de juntar mais uma ao serviço do Paços de Ferreira, serviriam para um cúmulo de 12 campanhas no escalão primodivisionário. Como treinador, o antigo internacional ainda não teve a oportunidade de experimentar o patamar máximo português. Depois de curtas passagens por Moreirense e Juventude de Ronfe, e de anunciar o fim da sua carreira como futebolista em 1994, Carvalho decidir-se-ia pelas tarefas de técnico. Nessas funções, tendo começado nas camadas jovens do Vitória de Guimarães, Carvalho tem vogado, como treinador sénior, pelos escalões amadores.

941 - LULA

Como para tantos outros futebolistas brasileiros, o objectivo de Lula era jogar na Europa. A porta abrir-se-ia através do Famalicão. Contudo, aquilo que era um sonho acabaria por tornar-se numa situação deveras complicada.
Ainda que abordado por um emblema modesto, o defesa central haveria de aceitar o desafio proposto pelos dirigentes do Famalicão. Tendo em conta que o repto era uma porta aberta para possíveis voos maiores, Lula decide deixar o Santa Cruz e assinar contrato com a colectividade minhota. Contudo, o que era o primeiro passo para o lançar no futebol europeu, rapidamente passaria a ser um pesadelo. Com o rebentar do escândalo de um suposto suborno envolvendo o seu novo clube, o jogador vê-se desviado do escalão máximo para o terceiro patamar.
Mesmo refém de um tão grande castigo, Lula comprometer-se-ia em honrar a camisola do Famalicão até ao final dessa temporada de 1988/89. Com o fim da dita campanha, o regresso ao Brasil coloca-o no Sport Recife. Todavia, o “divórcio” não duraria muito tempo, pois, passados apenas alguns meses, o pedido de Abel Braga faz com que jogador regresse ao Norte de Portugal. Volta a envergar as cores do emblema que o tinha trazido para o nosso país e, com a absolvição do clube no já referido caso, os minhotos são recolocados na 1ª divisão.
É já no patamar máximo que as suas exibições transformam o atleta num dos mais cobiçados a actuar no nosso país. A procura pelos seus serviços seria de tal ordem que, até da Federação Portuguesa de Futebol, chega a proposta para que tentasse nacionalizar-se e vestisse a “Camisola das Quinas”. Tal nunca viria a concretizar-se, mas quem nunca haveria de esquecer o defesa seria Carlos Queiroz. Com a saída do treinador do comando da selecção e sua entrada no Sporting, o técnico tenta contratar o defesa. Por essa altura o central jogava no Brasil, onde já tinha passado por São Paulo, Santos e Coritiba. Chega a Alvalade, mas o limite de estrangeiros acabaria por afastá-lo dos relvados durante vários meses.
Impossibilitado de jogar pelos “Leões”, a solução para o impasse seria a sua ida para a União de Leiria. A passagem pela “Cidade do Lis” na temporada de 1994/95, tal como a campanha seguinte feita ao serviço do Belenenses, serviriam para catapultar a sua carreira. Com o lateral Fernando Mendes como companheiro de jornada, o atleta viaja para a cidade do Porto. Veste de “Azul e Branco” nas duas épocas seguintes, ajuda à conquista de 2 Campeonatos, 1 Taça de Portugal e 1 Supertaça, mas nunca consegue afirmar-se como um jogador do “onze” inicial.
A falta de titularidade levá-lo-ia a deixar o Estádio da Antas no final da temporada de 1997/98. O resto da sua carreira cumpri-la-ia em três capítulos. Após um regresso ao Brasil, onde jogaria pelo Vitória da Bahia, ainda voltaria a Portugal. O Paços de Ferreira e a Divisão de Honra antecederiam a sua derradeira aventura pelo estrangeiro. Na China defenderia as cores do Sichuan Guancheng e do Qingdao Jonoon até que, em 2003, decide ser a hora certa para a abandonar o futebol.

940 - TED SMITH

Fã do futebol desde muito novo, Ted Smith haveria de dar os primeiros passos na modalidade ao representar a equipa da sua escola, a Arthur Street School, em Grays (Essex). Mais tarde, continuando a alimentar essa paixão, passaria por alguns clubes locais, casos do Thames Mills, Grays Town, Grays Athletic e Barking. Seria por esta última colectividade que, após vencer a Athenian League de 1934-35, um dos escalões amadores em Inglaterra, despertaria a curiosidade de emblemas de maior monta.
Na sequência das qualidades demonstradas, é o Millwall que, na temporada de 1935-36, oferece ao atleta o seu primeiro contrato profissional. Ainda assim, e apesar do salto dado, o seu novo clube apenas militava no 3º patamar inglês. Por pouco tempo, é verdade! A equipa, impulsionada também pela sua inclusão no plantel, rapidamente começaria a dar sinais de grande ambição. Tendo Ted Smith como um dos esteios defensivos, a promoção em 1938 à Division Two, deixaria o escalão maior a apenas um passo de distância.
A corrida do Millwall seria, no entanto, interrompida pelo rebentar da 2ª Guerra Mundial. Como tantos outros atletas, o defesa seria destacado para servir o seu país no estrangeiro, acabando por ser colocado na Base das Lajes. Nos Açores, à frente das referidas instalações militares, estava João Tamagnini Barbosa. O Comandante, também ele grande adepto do futebol, haveria de tornar-se grande amigo do futebolista inglês. Quando em Janeiro de 1947 tomou posse como Presidente do Benfica, a sua prioridade tornar-se-iam os títulos que há muito escapavam ao clube. Depois de contratar Lippo Hertzca, o antigo Primeiro-ministro lembrar-se ia de Ted Smith que, desse modo, poria um ponto final à sua carreira de jogador para abraçar as tarefas de treinador.
No Benfica, os métodos revolucionários do inglês, muito mais do que o sucesso imediato, lançariam os alicerces para os sucessos vindouros. Algumas das mudanças perpetradas por Ted Smith incluiriam a alteração de táctica para um 3x2x5, marcações cerradas e o exaustivo estudo dos adversários. Os resultados não tardariam. Logo na primeira temporada, a de 1948/49, vence a Taça de Portugal. Depois, já na campanha seguinte, viriam o Campeonato e a memorável conquista da Taça Latina. Ainda comandaria as “Águias” em mais uma vitória na “prova rainha”. Para além de tudo isso, o seu contributo para evolução do clube teria ainda outras curiosidades. Por exemplo, seria ele que, durante uma tournée por África, descobriria aquele que haveria de tornar-se num dos maiores símbolos dos “Encarnados”, o avançado José Águas.
A sua derradeira temporada no Benfica ficaria marcada, por razões que nunca ficaram muito bem esclarecidas, pela sua partiria para Inglaterra a meio da época e pelo regresso já bem perto do fim. A verdade é que Ted Smith, depois dessa campanha de 1951/52 acabaria mesmo por voltar ao seu país. Desligando-se do futebol acabaria por dedicar-se ao negócio dos “pubs”. Excepcionalmente, e apenas por alguns meses em 1967, aceitaria orientar os amadores do Lancaster City. Talvez espicaçado por essa experiência, aceitaria regressar a Portugal para comandar o Atlético. Contudo, o desafio acabaria numa situação deveras triste, com o treinador a ser despedido e a acabar por ter que viver numa “roulotte”.
Foi então que recebeu o convite do Presidente da Associação de Futebol de Ponta Delgada. Para lá viajaria com o intuito de estimular o futebol jovem nos Açores. Regressaria a Lisboa a custo de uma grave doença que acabaria mesmo por derrotá-lo. Seria sepultado no Cemitério dos Ingleses, na Estrela.

939 - JORGE MARTINS

Numa altura em que a cidade do Barreiro, através dos seus dois principais emblemas, era um enorme viveiro de craques, Jorge Martins haveria de emergir das escolas do Barreirense. Após a promoção à categoria principal na temporada de 1973/74, e com o clube a atravessar uma fase menos boa da sua história, só na época de 1977/78 é que o guardião conseguiria estrear-se no maior escalão português. Essas partidas, feitas numa curta passagem pelo Vitória de Setúbal, serviriam de tónico para o seu regresso ao Estádio D. Manuel de Mello.
A segunda passagem pelo Barreirense haveria de começar na 1ª divisão. Contudo, aquilo que parecia ser uma nova oportunidade, uma nova chance para conseguir catapultar-se no emblema que o tinha lançado, haveria de tornar-se numa curiosa decepção. Com duas descidas consecutivas a empurrar o atleta em direcção ao 3º escalão, as suas prestações acabariam por salvá-lo de tal destino. Surpreendentemente, muito mais que um mero resgate, o “salto” que daria em 1980 seria bem maior do que a mais optimista das previsões. Acreditando nas suas qualidades, o Benfica decide contratá-lo onde, já antes, tinha encontrado um dos melhores guarda-redes da sua história. O pior é que, para Jorge Martins, seria mesmo a presença de Manuel Bento que o afastaria das fichas de jogo.
Duas temporadas volvidas após a sua chegada ao Estádio “da Luz”, e com apenas duas partidas disputadas, o guardião ver-se-ia fora do plantel “encarnado”. O Farense e, mais uma vez, a 2ª divisão seriam a “nova casa” de Jorge Martins. Todavia, e como já tinha conseguido anteriormente, o guarda-redes aproveitaria a oportunidade para relançar a sua carreira. Com os algarvios a conseguirem a promoção, a sua cotação também subiria. Quem aproveitaria essa sua evolução acabaria por ser o Vitória de Setúbal. O regresso a uma colectividade que conhecia bem, levá-lo-iam a fazer uma temporada excepcional. Tão boas seriam as suas prestações que, no final da primeira temporada, Jorge Martins seria incluído no grupo que, por Portugal, disputaria o Euro 84.
Apesar de nunca ter conseguido uma internacionalização “A”, Jorge Martins seria também convocado para o México 86. Essa presença no Campeonato do Mundo de selecções coincidiria com aquela que, provavelmente, foi a melhor fase do seu percurso profissional. Estando, por essa altura, a representar o Belenenses, a titularidade que mantinha nos da “Cruz de Cristo” também contribuiria para os sucessos do clube. Com os do “Restelo” a disputar os lugares cimeiros da tabela classificativa, a presença do grupo nas competições europeias seria um prémio mais do que merecido. A vitória frente ao Barcelona em 1987/88 e a eliminação do Bayer Leverkusen em 1988/89 tornar-se-iam em dois apogeus dessas campanhas. Para além desses feitos, outros dois momentos tornar-se-iam inesquecíveis para o jogador. As duas finais da Taça de Portugal, ambas disputadas frente ao Benfica, ficariam na sua memória. Claro está que a de 1988/89, com o guarda-redes a rubricar uma excelsa exibição, tornar-se-ia na sua favorita… ou não fosse essa vitória por 2-1 um dos grandes triunfos da sua carreira!
Após deixar o Belenenses em 1989 e de completar mais 3 campanhas com as cores do Vitória de Setúbal, Jorge Martins decidira deixar a competição profissional. Apesar de afastado dos “grandes palcos”, a verdade é que o antigo internacional sub-21 nunca deixaria esmorecer a sua paixão pela modalidade. A disputar o Campeonato de Veteranos, o guardião, alguns anos após encetar a “reforma” resolve aceitar o convite de Joaquim Meirim. Volta a calçar as luvas e, passada a barreira dos 40 anos, passa a defender a baliza da Quimigal (antiga CUF).