266 - BENFICA 2011/12


Apesar da conquista do título por parte do FC Porto, o Campeonato Nacional deste ano afigurou-se, aos olhos de quem o segue do lado de fora, os adeptos, de uma forma um pouco mais contestável quanto, por exemplo, foi o da temporada transacta. Para isso contribuíram, essencialmente, dois factores. O primeiro, uma espectacular reviravolta, com a qual os "Dragões" recuperaram, já no derradeiro terço da prova, de um atraso de 5 pontos para o Benfica, acabando a competição com um avanço de 6 pontos sobre os "Encarnados". A segunda causa, bem mais controversa, prende-se com aquela que, muitos jornalistas, comentadores da especialidade e, principalmente alguns dirigentes, classificaram como uma das mais mal arbitradas épocas de que há memória.
Não querendo alimentar grandes polémicas e tendo em atenção que este tipo de sufrágios públicos vivem, em grande percentagem, do fervor clubístico dos votantes, o que daqui podemos retirar é que poderá ter havido também um outro aspecto a empurrar a equipa do Benfica para a vitória do "Cromo d' Ouro". É que as "Águias", independentemente de terem ficado na segunda posição da tabela classificativa, apresentaram, se não o mais consistente, pelo menos o futebol mais bonito da Liga Zon Sagres. Jorge Jesus, como é seu apanágio, gosta de fazer entrar em campo os atletas sempre com a ideia de que a bola é para jogar para a frente. Essa tendência ofensiva que, a meu ver, devia ser mais partilhada pelos seus colegas de profissão, tem trazido aos estádios nacionais uma estética apreciada pelos adeptos da modalidade. Não fossem as teimosias a que já estamos habituados no técnico benfiquista, como a que manteve, no lado esquerdo da defesa, Emerson como titular indiscutível e, talvez, as contas finais do Campeonato tivessem sido ligeiramente diferentes.

265 - LIMA

Para a escolha do avançado do ano, talvez a opção mais lógica seja o nome que venceu a disputa para o Melhor Marcador do Campeonato. Contudo, os leitores deste “blog” disseram que tal não é certo e a sua escolha apontou para o brasileiro Lima.
Não sei se posso dizê-lo, mas acho que foi com toda a justiça que tal distinção acabou atribuída ao avançado do Sporting de Braga. Ora vejamos: os golos que concretizou foram, em número, idênticos aos do vencedor do referido troféu. Esses 20 remates certeiros do "Guerreiro do Minho" só não serviram para conquistar o lugar cimeiro da tabela, pois, no factor de desempate estipulado pela Liga Portuguesa de Futebol Profissional, Lima, nas jornadas que completaram o Campeonato Nacional, participou em mais partidas do que o seu oponente directo, o paraguaio Óscar Cardozo.
Por essa razão ou no motivo que levou os leitores do "Cromo Sem Caderneta" a eleger Lima, com certeza que foram tidos em conta outros factores, também eles de grande importância. Um dos que logo há a destacar é o facto das equipas onde estão inseridos os dois jogadores, serem diferentes. Sem desprimor para o Sporting de Braga, muito menos para aqueles que compõem o grupo de trabalho minhoto, o Benfica é sempre tido como, potencialmente, superior, o que, para o caso da disputa dos goleadores, faz com que o esforço de Lima para atingir a marca dos 20 golos seja aferida com maior louvor. Se a esta circunstância ainda adicionarmos a dianteira que Cardozo chegou a levar sobre os oponentes, então ainda mais valor merece o mérito do atleta bracarense.

264 - HULK

Hulk, cada vez mais, tem vindo a assumir-se como o fiel depositário das esperanças e, por consequência das suas habilidades futebolísticas, figura de proa nas conquistas do FC Porto. Numa época em que os "Dragões" começaram muito longe daquilo que têm vindo a habituar-nos, a recuperação que encetaram já na segunda volta da Liga, bem podem agradece-la ao internacional brasileiro.
Para além de um dos golos que permitiu aos portistas festejarem mais uma vitória no Estádio do Sport Lisboa e Benfica, foi do extremo que emergiu a força necessária para colmatar as falhas dos companheiros. Arrancada após arrancada, empurrou o resto do grupo para a liderança de um Campeonato que, ao fim de 5 pontos de atraso, começou a parecer irremediavelmente perdido. A falta de Falcao e, principalmente, a saída de André Villas-Boas, assemelharam-se a um arrastão que levou toda a equipa para um marasmo incompreensível. No entanto, quando mais ninguém parecia acreditar na recuperação, Hulk não quis afastar-se desse objectivo. Com os seus 16 tremates certeiros, o que fizeram dele o melhor marcador do FC Porto e 3º na lista dos goleadores da Liga, ajudou com que o ataque da sua equipa acabasse como o mais concretizador. Também as suas inúmeras assistências souberam moldar os 69 golos do colectivo e se contabilizarmos as ofensivas que comandou, concluímos que, na temporada de 2011/12, o avançado foi, para os "Azuis e Brancos", um "Incrível" líder.

263 - WITSEL


Não olhamos para um pilar como sendo algo de uma beleza estética inestimável. No entanto, todos entendemos o seu valor primordial, o seu propósito de sustentação. Com Witsel passa-se isso mesmo. Pode ele fugir à beleza das jogadas acrobáticas; pode ele não ter o brilho de algumas estrelas; mas o que todos sabemos é que são jogadores como o internacional belga que seguram toda uma equipa.
Foi isso que o médio, durante o decorrer desta época, fez no centro do terreno benfiquista. Como ninguém, ora a recuperar bolas, ora transportando-as avante, Witsel, sem grandes alaridos, soube aparecer na hora certa, para, tão discretamente como havia surgido, sair de cena. Sem sombra de dúvida, fez o papel de anti-herói do jogo “encarnado”. O centrocampista foi aquele elemento que, ao carregar todo um grupo, esquivou-se ao recolher dos louros e preferiu dar esse mérito aos companheiros.
Porém, ao contrário dos seus movimentos em campo, o saber do jogador não passou despercebido. Por essa razão, é hoje um dos mais cobiçados atletas do Benfica. Muitos têm sido os anunciados assédios e não será nada fácil ao emblema da "Águia" resistir aos milhões que os milionários clubes europeus, como Chelsea, Real Madrid e outros, preparam para o ataque final. Ainda assim, a esperança dos adeptos “encarnados” reside num último esforço da direcção benfiquista para conseguir manter aquele que foi um dos, se não o maior, esteio do clube na já finda temporada de 2011/12.

262 - GARAY

Mesmo ao não ser titular absoluto no Real Madrid, dificilmente Garay teria sido uma má escolha para o centro da defesa do Benfica. Se para comprovar isso, sabendo também da  excepção que foi Balboa, não bastasse o facto de o argentino fazer parte do plantel principal "Merengue", então tínhamos as chamadas regulares à selecção alvi-celeste para dissipar qualquer dúvida.
Ainda assim, fazer esquecer David Luiz, que meio ano antes tinha deixado Lisboa para rumar a Londres e ao Chelsea, não foi tarefa fácil para o alcunhado "El Negro". Contudo, com a naturalidade de um grande jogador, Ezequiel Garay, tomou, ao lado do capitão Luisão, o seu lugar como central. Conquistou-o, não porque tivesse vindo daquele que é considerado o maior emblema da história do futebol mundial, nem sequer por José Mourinho ter apregoado o seu nome como muito bom, mas por mérito, por direito próprio. Por isso jogou praticamente em todas as partidas da Liga portuguesa; fê-lo também nos desafios da "Champions"; e a sua presença só não roçou a totalidade porque uma lesão, no início de Março deste ano, afastou-o dos relvados por um mês.
Mais uma evidência do seu real valor, é que, mesmo depois do eclipse sofrido na capital espanhola, bastou apenas uma temporada no Benfica, para que, devido às suas seguras exibições, começassem os jornais desportivos a veicular notícias sobre um eventual interesse de emblemas a disputar os mais importantes campeonatos europeus.

261 - MAXI PEREIRA

Quando, nos fins de Agosto de 2007, aterrou no Aeroporto da Portela, com os responsáveis “encarnados” a fazer crer à massa associativa benfiquista que o defesa era um dos grandes reforços para temporada, muitos foram os que ficaram de pé atrás. Mesmo tendo em conta que por, essa altura, já Maxi Pereira era internacional e que tinha, maioritariamente no seu país, mas também no resto da América do Sul, algum crédito como jogador, a verdade é que para o público europeu o jogador era um verdadeiro desconhecido. Se a isto juntarmos a imagem de molengões que gozam muitos futebolistas dessa zona do globo – para ser correcto, os uruguaios até são a excepção –, então justifica-se a desconfiança com que os seguidores das “Águias” assumiram a sua contratação.
A realidade é que de preguiçoso Maxi Pereira nada tem. Muito pelo contrário, se há imagem de marca a colar-se na perfeição ao defesa-direito é a da entrega. Tem sido sempre assim desde que chegou e esta temporada, que ainda há pouco terminou, voltou a servir de montra para a sua exemplar garra.
Para o atleta não há cansaço possível que justifique a falta de empenho. Por isso, é vê-lo, jornada após jornada, a galgar o corredor direito como se, naquele dia, tudo fosse para ganhar ou para perder. Aliás, é todo esse entusiasmo que, para além de permitir ao atleta disfarçar as pechas a nível técnico, faz dele, hoje em dia, um dos retratos mais fortes daquilo que qualquer fã de futebol gosta de ver em campo, isto é, a luta e a vontade de vencer.

260 - ARTUR MORAES


Depois do ano passado, na época de estreia em Portugal, inexplicavelmente ter estado a primeira metade da campanha à sombra do seu conterrâneo e colega de equipa, Felipe, foi só na volta final da temporada que Artur Moraes teve a oportunidade de mostrar os predicados que, tempos idos, tinham levado o guardião até ao "Calcio".
As fenomenais exibições por si conseguidas, tanto a nível das competições domésticas e principalmente na campanha europeia que levou o Sporting de Braga à final da Liga Europa, fizeram com que outros clubes vissem nele uma aposta segura. Ao terminar o vínculo com a AS Roma, emblema detentor do seu “passe” por altura do “empréstimo” aos “Guerreiros do Minho”, a mudança do guardião brasileiro para as “Águias” trouxe às redes benfiquistas a segurança que faltava.
Com todo o mérito, rapidamente conseguiu impor-se na Luz e tornar-se no dono incontestável da posição. Nas 30 rondas da Liga Zon Sagres 2011/12, participou em 29 partidas. É certo que os números nem sempre são sinónimos de qualidade, mas quem acompanhou os encontros dos “Encarnados”, pôde confirmar que a frieza com que o tínhamos visto derrotar muitas vezes o intento de tantos avançados, dificilmente ficou abalada pelo peso das responsabilidades que os crescentes desafios ao longo da época foram trazendo. A conclusão é simples, Artur Moraes é um enorme guarda-redes e, sem réstia de dúvidas, um dos melhores a actuar no nosso país.

259 - TIAGO

Ao falarmos na relação entre Sporting Clube de Portugal e Sporting Clube Lourinhanense, por este último ter sido, durante alguns anos, emblema “satélite” do primeiro, o que vem logo à cabeça é a cedência de jogadores da equipa lisboeta ao emblema do Oeste. No entanto, houve nomes a quebrar essa regra, fazendo o caminho inverso. Foi assim que Tiago, aos 20 anos, chegou a Alvalade, encetando uma aliança de 17 anos que, ao invés de ter terminado no final desta época de 2011/12, apenas assumiu outros contornos.
É verdade, a vida de praticante de futebol profissional para Tiago, chegou mesmo ao fim. Ainda assim, a paixão do recém-reformado guarda-redes pelos "Verde e Branco" é grande demais para que pudesse ser interrompida de forma brusca. Foi isso que a direcção do Sporting também facilmente constatou. O prémio pela enorme entrega aos “Leões” é mais do que merecido, e desse modo, o antigo guardião passa a ser agora o treinador dos juniores para a posição a que sempre se dedicou.
Pelo meio, a contar com o interregno de dois anos em que esteve “emprestado” ao Estrela da Amadora, ficam as tais 17 temporadas. Foi mesmo por estar ao serviço da colectividade da Linha de Sintra, que não conseguiu sagrar-se campeão em 2000. Já passados dois anos, o cenário foi diferente, e ao partilhar a baliza com Nélson, Tiago transformou-se num dos pilares da "dobradinha", juntando, desse modo, a conquista do Campeonato Nacional à da Taça de Portugal. Aliás, 2002 teve para o guarda-redes um sabor especial. É que para além dos títulos vencidos, foi em Janeiro desse ano que, pela única vez na sua carreira, teve o prazer de ver o seu nome associado à convocatória de uma das selecções seniores portuguesas, a equipa "B".
Apesar de poucas terem sido as vezes em que, daí em diante, a titularidade foi posta nas mãos de Tiago, a sua preponderância no seio plantel foi sempre incontestável. Só assim é justificada a longevidade do seu percurso de "Leão" ao peito, e acima de tudo, o facto de ter feito parte do lote dos capitães leoninos. É certo que o peso desta união não cresceu num sentido só. Para o antigo atleta esse laço também se revestiu de importância vital para a sua vida – "O Sporting deu-me tudo. Deu-me vida, experiências novas, hipótese de fazer outras coisas, de viajar. Venho de uma família humilde e, sinceramente, se não fosse o Sporting, não sei onde estava"*.

*retirado do artigo publicado em https://maisfutebol.iol.pt, a 25/06/2012

CROMOS d'OURO 2012

Todos querem ganhá-los ou, pelo menos, terem a honra de serem nomeados. Mas no "Cromo Sem Caderneta" quem mais ordena são os leitores. Por isso, pelo segundo ano consecutivo, foram eles quem elegeram os melhores da temporada nacional.
Com alguma liberal discussão à mistura, guarda-redes, defesas, médios e avançados foram a escrutino. Encerradas as mesas e contados o votos, o que se seguirá neste mês de Julho é o consagrar das estrelas do nosso futebol, o desfilar dos "Cromos d'Ouro 2012".

P.S. - Não se esqueça de, num dos quadrados à sua direita, visitar a rubrica "Cromos d'Ouro" e conferir todos os vencedores deste ano!!!