1258 - OLAVO


Nascido no seio de uma família com fortes tradições no futebol, com destaque para o avô Alexandre Rodrigues – antigo futebolista, treinador e dirigente do Marítimo –, a Olavo pouco restaria senão dar seguimento ao legado desportivo dos seus antepassados.
No início da carreira sénior, ele que já tinha a estaleca de jogar com as cores dos juvenis e juniores da selecção de Portugal, logo faria parte de um dos mais importantes episódios da história maritimista. Com o emblema insular há muito a tentar estrear-se no escalão máximo do Campeonato Nacional, seria a temporada de 1976/77, com Olavo bem integrado na equipa principal verde-rubra, a selar esse objectivo.
Ao contar 18 anos apenas, a idade não seria impeditiva de, aos olhos do treinador Pedro Gomes, dar ao jovem atleta a responsabilidade de entrar nas partidas mais decisivas dessa gloriosa campanha. Ao lado dos seus ídolos Eduardinho e Noémio, também eles figuras marcantes da colectividade madeirense, as exibições do defesa mereceriam rasgados elogios e como prova do seu valor, acabaria escalonado para o “onze” inicial que, após uma vitória caseira frente ao Olhanense, confirmaria a tão almejada promoção.
A estreia do lateral na 1ª divisão, apesar de mais tarde conseguir afirmar-se como titular, não aconteceria logo no começo da campanha de 1977/78. Ainda assim, da 8ª jornada em diante, tirando algumas excepções, Olavo garantiria o posto na direita do sector mais recuado. Aliás, a regularidade de presenças na equipa do Marítimo, estendida à época seguinte, empurrá-lo-ia novamente para os trabalhos dos colectivos sob a alçada da Federação Portuguesa de Futebol. Após ter jogado, como aqui já foi feita referência, pelos agora designados sub-16 e sub-18, seriam as chamadas aos “esperanças” que adicionariam ao seu currículo outras partidas com a “camisola das quinas”. Nessa caminhada, com o arranque nos sub-21 a ocorrer em Outubro de 1978 numa partida referente ao apuramento para o Europeu da categoria, o contexto de selecções, num cômputo feito pelos diferentes escalões lusos, levá-lo-ia a acumular um total de 7 internacionalizações.
Com o Marítimo ainda a procurar estabilizar-se como um emblema indubitavelmente primodivisionário, as descidas de escalão ainda fariam Olavo retornar às lides dos patamares inferiores. Contudo, numa carreira exclusivamente dedicada à agremiação sediada na cidade do Funchal, o defesa conseguiria disputar várias temporadas no patamar maior. Com a curiosidade de, numa dessas despromoções, ter acrescentado ao palmarés pessoal a vitória na edição de 1981/82 do Campeonato Nacional da 2ª divisão, a carreira do lateral-direito ficaria colorida pela meia-dúzia de campanhas na montra principal do futebol português.
Seria também no degrau máximo que, de forma precoce, viria a despedir-se dos campos da bola. Ao contar 27 anos apenas e depois de integrar o plantel dos “Verde-rubros” durante uma dezena de épocas, o atleta, no final da temporada de 1985/86, decidir-se-ia a “pendurar as chuteiras”.

1257 - HUMBERTO FERNANDES

Saído dos escalões formativos do Sport Lisboa e Benfica, Humberto Fernandes transitaria para o patamar sénior na temporada de 1957/58. Tido como um defesa seguro e dotado de uma técnica não tão usual para os futebolistas da sua posição, o atleta, inicialmente inserido na equipa de “reservas”, chegaria ao conjunto principal das “Águias”, lançado pelo treinador Otto Glória, na campanha de 1958/59.
Essa partida a contar para o Campeonato Nacional acabaria por não ter continuidade. Aliás, a sua carreira, aferida aos olhos de hoje, erguer-se-ia numa caminhada bem peculiar. Apesar de, como sénior, ter cumprido mais de uma década de “Águia” ao peito, a verdade é que Humberto Fernandes raramente sairia da sombra de outros colegas. Mesmo tendo em conta um total de partidas oficiais disputadas pelo Benfica pouco condizente com o já referido número de temporadas passadas na “Luz”, também não é menos certo dizer-se que tamanha dedicação traria ao palmarés do jogador um importantíssimo rol de títulos.
Com 6 Campeonatos Nacionais e 4 Taças de Portugal a embelezarem o seu currículo, a ajuda dada em ambas as mãos da eliminatória frente ao Áustria de Viena, dar-lhe-ia a honra de figurar na lista de vencedores da Taça dos Clubes Campeões Europeus de 1961/62. Todavia, para além das distinções relatadas no início deste parágrafo, o atleta participaria ainda em diversos momentos de monta. Mesmo não tendo conseguido auxiliar o clube na conquista de nenhuma das edições, Humberto Fernandes entraria em campo nas duas participações do Benfica na Taça Intercontinental. Já esses jogos frente ao Peñarol e ao Santos, não seriam as únicas finais disputadas pelo jogador. No contexto de desafios decisivos, mais uma vez assombrados os momentos pelas derrotas dos “Encarnados”, o defesa também seria chamado à ficha de jogo contra o Inter de Milão e o Manchester United, respectivamente nas participações do emblema português nas derradeiras partidas da Taça dos Clubes Campeões Europeus de 1962/63 e de 1967/68.
Sem nunca ter marcado um único golo em jogos oficiais pelas “Águias”, as 88 partidas feitas nesses preceitos, também seriam um parco número para quem tanto tempo dedicou ao mesmo clube. Ainda assim, é incontornável continuar a frisar que Humberto Fernandes teve a capacidade de, anos a fio, alimentar um lugar em diferentes grupos de trabalho que, ao disputarem as maiores provas a nível mundial, escreveram com letras de ouro as mais importantes páginas da história desportiva do futebol benfiquista.
Reconhecida sua entrega e tido como um grande exemplo para todos os colegas, o atleta acabaria por envergar no seu braço a faixa de “capitão”. Com tudo o que já foi dito, ainda assim, a sua ligação ao Benfica também haveria de conhecer o fim. Ao deixar os “Encarnados” com o terminar da temporada de 1969/70, Humberto ainda prolongaria a caminhada futebolística por mais uns anos. Para além da passagem pelo Estrela de Portalegre, onde voltaria a trabalhar ao lado de Mário Coluna, há registos que veiculam, sem que tenha conseguido confirmar fidedignamente as fontes, a sua posterior ligação ao Sport Lisboa e Cartaxo.

1256 - ARMANDO

Com o percurso formativo dividido entre o Palmense e o Benfica, seria na “Luz” que Armando Gonçalves cumpriria a transição para o escalão sénior. Com a subida de patamar, mesmo sendo um intérprete com capacidade para ocupar diversos lugares no terreno de jogo, a verdade é que a presença de elementos de muito gabarito inviabilizaria a presença do jovem futebolista na equipa principal das “Águias”.
Vetado ao conjunto de “reservas” dos “Encarnados”, Armando optaria por prosseguir a carreira noutro dos mais figurativos emblemas “alfacinhas”. À beira de completar 20 anos de idade, o atleta veria o Clube Oriental de Lisboa a abrir-lhe as portas. Com a chegada à Azinhaga dos Alfinetes a acontecer na temporada de 1970/71, seriam as lides competitivas da 2ª divisão a acolhê-lo. Aferido como um elemento de características polivalentes, a sua combatividade e técnica razoável, muito para além de compensar a falta de rapidez, dar-lhe-iam um lugar de destaque no plantel e, depois de 6 temporadas a defender as cores da colectividade, inscrevê-lo-iam na história da agremiação nascida em Marvila.
Maior parte das vezes escalonado como lateral-direito, mas ao poder posicionar-se também no centro do sector mais recuado ou até como médio, o jogador, como um dos elementos do plantel com maior relevância no desenho táctico, acabaria por juntar o seu nome aos principais episódios vividos pelo Oriental durante a primeira metade dos anos de 1970. Claro está que a página mais importante, escrita durante a referida década, seria o regresso do clube, após 16 anos de ausência, ao patamar máximo do futebol português. Nesse propósito, para selar tal momento e depois de, com a 2ª posição na Zona Sul, conquistarem um lugar na Liguilha da temporada de 1972/73, seria a vitória por 1-0 frente à União de Coimbra a confirmar a subida.
A campanha de 1973/74 empurraria Armando para a estreia no principal degrau das competições lusas. Novo no convívio com os “grandes”, o atleta não deixaria atemorizar-se pelo acréscimo de responsabilidade. Com Pedro Gomes como treinador, ciente o técnico da importância do futebolista para o grupo de trabalho, o jogador manter-se-ia como um dos elementos mais chamados ao “onze” e grande contribuinte para a continuidade do Estádio Engenheiro Carlos Salema nos cenários da 1ª divisão. Na época seguinte, mesmo com o corrupio de “timoneiros”, a sua titularidade alimentar-se-ia com exibições plenas de bravura e abnegação. No entanto, colectivamente os desempenhos não correriam como esperado e, no final da temporada, o Oriental e o atleta ver-se-iam retornados ao 2º escalão.
Ao acompanhar o Oriental na descida à 2ª divisão, a época de 1975/76 marcaria o final da ligação entre o jogador e o emblema da capital. Cotado como um atleta capaz de desafios de maior monta, Armando, para a temporada de 1976/77, acabaria contratado pelo primodivisionário Atlético. No extremo oposto da cidade de Lisboa, a sua entrada na Tapadinha não revelaria os mesmos índices de anos anteriores. Talvez por essa razão, a campanha a jogar pelo conjunto do bairro de Alcântara tornar-se-ia na última do jogador na 1ª divisão. Suceder-se-iam, numa senda um pouco mais errante e que quase duraria uma década, as passagens por diversos emblemas. Amora, União de Santarém, Cova da Piedade, Rio Maior e Torreense, precederiam a experiência no Atlético do Cacém, já como treinador-jogador.
Após deixar as lides de futebolista em 1986 e ao serviço da aludida formação sediada na Linha de Sintra, Armando, ao pertencer há largos anos aos quadros do Montepio, manter-se-ia a trabalhar como funcionário bancário.

1255 - MURÇA

Mano mais novo do defesa internacional Alfredo Murça, Joaquim, para além de partilhar o sector posicional com o irmão, haveria também de dar os primeiros passos no Grupo Desportivo dos Pescadores da Costa da Caparica.
No emblema do Concelho de Almada, o jovem lateral, depois de terminada a formação, subiria aos seniores. Como um elemento dotado de boa técnica, velocidade e igualmente aguerrido, as suas qualidades permitir-lhe-iam, com idêntica competência, participar nas acções defensivas e ofensivas. Terão sido esses predicados que levariam os responsáveis do Barreirense a ver nele um bom elemento. Contratado para reforçar o plantel de 1976/77, nem mesmo a disputar o 2º escalão, Murça conseguiria esconder-se de emblemas de maior monta. Nesse sentido, no final da temporada de entrada no Estádio D. Manuel de Mello, avaliadas em alta as suas prestações, seria o Sporting a requisitar os serviços do defesa.
A passagem por Alvalade, apesar das boas expectativas, resultaria num ingrato ocaso. Sem grandes oportunidades conquistadas durante as 2 temporadas de “verde e branco”, a solução encontrada para a sua carreira acabaria por ser a saída. Todavia, a dispensa, ao contrário de negativa, empurraria o atleta para a melhor fase da caminhada profissional. Depois de, pelo Sporting ter ajudado a vencer a Taça de Portugal de 1977/78, as distinções alcançadas no Sul do país elevá-lo-iam para um patamar superior.
Como membro do Portimonense a partir da campanha de 1979/80, Joaquim Murça cruzar-se-ia com Artur Jorge. Ao ser um dos habituais titulares da equipa, a entrada do referido treinador à 11ª jornada do Campeonato Nacional de 1981/82, perpetraria uma mudança no posicionamento do jogador. Aferindo-o como um praticante capaz de desempenhar outras funções, o defesa-lateral passaria a jogar mais adiantado no terreno. Como médio-ala, as suas exibições cresceriam em qualidade. Esse acréscimo de rendimento levá-lo-ia a ser equacionado para as futuras pelejas da selecção nacional. Com a principal “camisola das quinas”, estrear-se-ia pela mão de Juca, a 05 de Maio de 1982. Depois desse “amigável” frente ao Brasil, seguir-se-iam no seu trajecto mais 1 internacionalização “A” e 4 partidas com as cores do conjunto olímpico.
Depois de terminada a experiência no Algarve, seguir-se-ia a passagem de uma temporada pelo Vitória Sport Clube. Em Guimarães, ao partilhar o balneário de 1983/84,encontrar-se-ia com o seu irmão Alfredo. Outro dos destaques dessa campanha acabaria por ser a sua participação, como estreante nas provas europeias, na Taça UEFA. Contudo, apesar de utilizado com boa frequência, a verdade é que, finda a temporada, Murça transferir-se-ia para o Belenenses.
No regresso a Lisboa, o atleta encontrar-se-ia com Jimmy Melia. Com o técnico inglês a escaloná-lo, preferencialmente, para o sector mais recuado, o jogador continuaria a manter-se relevante no desenho táctico do conjunto do Restelo. Tido pelos treinadores seguintes como um elemento igualmente preponderante, a maior prova dessa importância emergiria com a chegada dos “Azuis” ao derradeiro desafio da edição de 1985/86 da Taça de Portugal. Na final frente ao Benfica, seria chamado pelo belga Henri Depireux ao “onze” inicial. Contudo, a alegria de participar em tão importante jogo seria diluída pelo 2-0 final, a indicar a vitória das “Águias”.
Às 4 temporadas com a “Cruz de Cristo” ao peito, já nos patamares inferiores, suceder-se-iam a época no Gil Vicente o derradeiro capítulo enquanto jogador, com a camisola de 1989/90 do Loures. Porém, o “pendurar das chuteiras” não significaria o afastamento da modalidade. Como técnico, destaque para o seu regresso ao Belenenses no começo da década de 1990 e para o trabalho realizado como treinador de guarda-redes.

1254 - IMBELLONI

De quando em vez aparecem-me antigos jogadores cuja informação disponível sobre a sua carreira, muito mais do que qualquer esclarecimento, só faz emergir uma série de dúvidas! Um desses quebra-cabeças dá pelo nome completo de Antonio Mario Imbelloni di Leo!
Sobre este extremo-direito – pelo menos na posição parece não haver grandes dúvidas – há a certeza, tendo em conta as inumeráveis fontes, que terá vivido os anos mais brilhantes da carreira sénior ao serviço do San Lorenzo. Porém, com a estreia a apontar para um duelo frente ao Rosario Central, essa partida, disputada a 20 de Maio de 1945, leva-me a outra questão. Sendo a data de nascimento do avançado o 25 de Agosto de 1924, Imbelloni terá disputado o tal jogo com 20 anos de idade. A pergunta é bem mais fácil de adivinhar do que construir a resposta! Por onde terá andado o atleta, até aí? Há quem diga que terá passado pelo Dock Sud. Por outro lado, há também os que garantem a sua transição dos escalões de formações do emblema sediado no bairro de Almagro para o patamar sénior do clube. Quem está correcto? Fiquei sem saber!
Voltando ao San Lorenzo, Imbelloni faria parte de uma linha de avançados muito famosa. Ao partilhar as funções ofensivas com craques como Armando Farro, René Pontoni (o favorito do Papa Francisco), Rinaldo Martino ou Oscar Silva, o extremo acabaria por contribuir para a vitória do seu emblema no Campeonato Argentino de 1946. Ainda nesse ano, o clube, com o atleta na comitiva, cumpriria uma digressão pela Península Ibérica, onde também defrontaria o FC Porto e um seleccionado de jogadores portugueses. Faço alusão a esta “tournée”, pois terá sido nela, ou numa semelhante, que o Real Madrid terá ficado fascinado com as suas habilidades. Mas, mais uma vez, no caminho entre a saída da agremiação argentina e a chegada aos “Merengues” existem, pelo menos para mim, uma série de dúvidas por esclarecer. A primeira prende-se com o fim da ligação entre o atacante e a colectividade de Buenos Aires. Terá sido em 1948 ou em 1949? A segunda surge com o ocorrido durante a transição. Pondo já de parte os que afirmam como directa a sua transferência dos “Cuervos” para os madridistas, há ainda que escrutinar as veiculadas passagens pelo Banfield (quase certa) ou pelo Almirante Brown (muito contestável).
O que é verdade, pelo menos afigurar-se como tal, é a sua integração no plantel do Real Madrid, com a temporada de 1950/51 a decorrer. No entanto, apesar de bem cotado pelos responsáveis técnicos da equipa, a sua condição de estrangeiro, pelo limite de vagas adjudicadas a elementos vindos de fora do país, dificultar-lhe-ia a vida. Ainda assim, participaria em algumas pelejas no resto da campanha de chegada, mas, já depois do arranque da época seguinte, acabaria por ser dispensado e encaminhado para o Córdoba.
Terá sido com a partida de Espanha que Imbelloni tomou a decisão de dirigir-se a Portugal? Não é certo! Há quem o ponha, regressado à Argentina, no Deportivo Morón. Já o correcto, é dizer-se que o primeiro emblema do avançado no nosso país foi o Atlético. Porém, a dúvida subsiste! Na temporada de 1953/54, sem sombra de dúvida, o argentino fez parte do colectivo de Alcântara e desempenhou o papel de treinador-jogador. E na campanha de 1951/52, também marcou presença em Lisboa?
A mesma função cumprida na capital levá-lo-ia, nas temporadas de 1954/55 e 1955/56, ao Sporting de Braga. No fim da segunda campanha, numa prática comum desses tempos, seria cedido ao Sporting para, na inauguração do Estádio José de Alvalade, defrontar os brasileiros do Vasco da Gama. Diz-se também que, por altura desse “amigável”, já tinha rubricado um contrato com os “Leões”. Contam os mesmos que, por razão de um convite irrecusável vindo do México, terá pedido a anulação do compromisso. Verdade? Mais uma que fica por apurar!
Para não tornar ainda mais maçadora a história que tenho tentado relatar, vou, dentro do que for mais fidedigno, resumir a vida nos “bancos” de Mario Imbelloni. Nesse sentido, de regresso a Portugal e a trabalhar, em exclusivo, como treinador, o argentino acabaria por representar um leque largo de emblemas. Sporting, Académica de Coimbra, Barreirense e Atlético transformar-se-iam, divididas entre a década de 1950 e a de 1960, as suas experiências primodivisionárias. Anos mais tarde, e depois de voltar a trabalhar na América do Sul, o antigo avançado retornaria às colectividades lusas e, no escalão máximo dos anos de 1970 e 1980, orientaria Sporting de Braga, Famalicão e Vitória Sport Clube.

1253 - AMÉRICO

Natural de Santa Maria de Lamas e portista por influência paterna, Américo, ainda em idade júnior, dirigir-se-ia às captações do FC Porto para prestar provas. Agradados com os seus predicados, os responsáveis técnicos anuiriam à sua integração e o jovem guarda-redes passaria a fazer parte das “escolas” dos “Dragões”. Rapidamente, as suas exibições haveriam de pô-lo na direcção da equipa principal e a temporada de 1952/53 marcaria o arranque da sua caminhada profissional. Porém, num plantel onde, para a baliza, perfilavam-se nomes como Barrigana ou Manuel Pinho, as oportunidades apareceriam a conta-gotas. Para piorar a sua situação desportiva, surgiria o Serviço Militar Obrigatório e, entre a “tropa” e o empréstimo ao Boavista, o regresso do guardião às Antas, depois de envergar o “azul e branco” nas duas primeiras épocas como sénior, dar-se-ia apenas na campanha de 1958/59.
De volta ao FC Porto, Américo teria de esperar mais uns anos até conseguir afirmar-se no “onze” titular. Com o internacional Acúrsio como o preferido de Béla Guttmann no escalonamento da equipa, ainda assim, a sua participação numa das jornadas do Campeonato Nacional de 1958/59 dar-lhe-ia o direito de figurar na lista dos vencedores da referida prova. Todavia, para além dessa distinção, os seus jogos seriam feitos, quase na totalidade, no desenrolar das competições agendadas para a equipa de “reservas”. Só na temporada de 1960/61 é que o guardião começaria a contrariar essa tendência, para, na campanha subsequente, de uma vez por todas, assumir a titularidade da baliza portista.
Daí em diante, tirando algumas excepções, o contexto competitivo de Américo alicerçar-se-ia no lugar conquistado à baliza do FC Porto. Nesse sentido, também da Federação Portuguesa de Futebol começariam a olhar para os seus préstimos como úteis às cores nacionais. Pela selecção nacional, sob a alçada de José Maria Antunes, estrear-se-ia num “particular” frente à Suíça. Seguir-se-iam outras internacionalizações com a principal “camisola das quinas”, num total que atingiria as 15 internacionalizações “A”. Pelo meio, a chamada ao grupo que disputaria o Mundial de 1966 e o “azedo de boca” por não ter entrado em campo – “Não quero parecer vaidoso, mas era muito superior ao Zé Pereira e ao Carvalho. Comigo na baliza, acho que Portugal podia ter sido campeão mundial. O selecionador Luz Afonso nunca me deu qualquer explicação, era de poucas palavras. E o Otto Glória… mandava pouco”*.
Já com outro dos nomes míticos da história do FC Porto aos comandos da equipa, Américo voltaria a erguer um troféu. Depois de ter estado presente na final de 1963/64, a convocatória para a derradeira partida da edição de 1967/68 da “Prova Rainha”, dar-lhe-ia a vitória, por 2-1, frente ao Vitória Futebol Clube. No entanto, nem a aludida conquista facilitaria a relação com o técnico – “Com o Pedroto foi complicadíssima. Ele foi muito melhor jogador do que treinador (…). Era um ditador na relação com o plantel. Já faleceu, não está aqui para se defender, mas ele sabe o que eu achava. Porque lhe disse. Eu era um dos mais velhos e fui ter com o Pedroto. «Fomos colegas de equipa, conheces-me bem e sabes que aturo tudo. Mas não admito que fales comigo dessa maneira em frente aos putos.»”*.
Depois da vitória na referida Taça de Portugal, a carreira de Américo já não duraria muito mais. Com as mazelas de uma antiga lesão no menisco a ameaçar deixá-lo permanentemente aleijado, no final da temporada de 1968/69, o guarda-redes, após cumprir 255 jogos oficiais com a camisola do FC Porto, decidir-se-ia a “pendurar as luvas”.
 
*retirado da entrevista conduzida por Pedro Jorge da Cunha, publicada a 01/12/2017, em https://maisfutebol.iol.pt

1252 - MOURINHO FÉLIX

Com a chegada à equipa principal do Vitória Futebol Clube na temporada de 1955/56 e com a baliza entregue a Francisco Baptista ou a José Graça, o jovem Mourinho Félix poucas oportunidades conseguiria arrancar do técnico italiano Rino Martini. As épocas seguintes, umas de forma mais vincada do que outras, continuariam a trazer ao guarda-redes as mesmas dificuldades. Ainda assim, a árdua luta por um lugar no “onze” não deixaria de proporcionar-lhe momentos inolvidáveis. Para além da estreia no escalão maior, frente ao Atlético, em Março de 1956, o guardião viveria outros embates míticos. Logo na campanha seguinte, naquele que viria a ser o seu segundo jogo no Campeonato Nacional, agarraria uma bola rematada da marca das grandes penalidades, por Matateu. Anos mais tarde, a 1 de Junho de 1961, apadrinharia a entrada de Eusébio nas lides futebolísticas portuguesas e, nessa mesma partida, defenderia um “penalty” marcado pelo “Pantera Negra”.
Mesmo com épocas em que jogaria com maior frequência, só a partir de 1962/63 é que Mourinho conseguiria afirmar-se, categoricamente, como o “dono” das balizas sadinas. Como titular, contribuiria para algumas das mais importantes conquistas do Vitória, nomeadamente na apelidada “Prova Rainha”. Na edição de 1964/65 da Taça de Portugal, seria chamado pelo treinador Fernando Vaz à disputa da final. No Estádio do Jamor, alinhado no “onze” inicial, o guarda-redes ampararia o resultado de 3-1 e ajudaria a carregar o almejado troféu até aos escaparates do Bonfim. Já no ano seguinte, voltaria a marcar presença no derradeiro encontro da prova, mas, dessa feita, não conseguiria evitar o triunfo do Sporting de Braga.
Para além dos marcos referidos, Mourinho também faria parte dos elencos que, pelo Vitória Futebol Clube, conquistariam a Taça Ribeiro dos Reis de 1962/63 e a Taça de Portugal de 1966/67. Já no contexto competitivo continental, participaria igualmente nas pelejas agendadas no âmbito da Taça dos Vencedores das Taças. Porém, seriam os anos passados em Lisboa que trariam ao atleta outros voos. Integrado no plantel do Belenenses, onde chegaria para a temporada de 1968/69, o guarda-redes, de forma quase indiscutível, conseguiria afirmar-se no alinhamento inicial. Essa evidência levá-lo-ia a entrar nas contas dos responsáveis técnicos da Federação Portuguesa de Futebol e a ser chamado à “Mini Copa” de 1972. No Brasil, no Estádio José Rego Maciel, o guardião, no decorrer da partida frente à Republica da Irlanda, seria chamado a substituir José Henrique. Com a escolha do treinador José Augusto, o atleta alcançaria a sua internacionalização “A” e contribuiria para o 2º lugar de Portugal no mítico torneio.
Ao “pendurar as luvas” no final da temporada de 1973/74, ele que, na condição de treinador-jogador, já tinha tido orientado os “Azuis”, daí em diante seria nas funções de técnico que manteria a ligação ao futebol. Com uma longa carreira nos “bancos”, durante a qual viveria diversas passagens pela 1ª divisão e por diferentes emblemas, o destaque terá de ser feito aos anos passados com o Rio Ave. Ao serviço dos de Vila do Conde, Mourinho Félix atingiria os maiores feitos. Nas várias passagens pela colectividade, para além do 5º posto no final do Campeonato Nacional de 1981/82, também encaminharia o clube para o derradeiro encontro da edição de 1983/84 da Taça de Portugal. Infelizmente para si e para os seus comandados, no Jamor, frente ao FC Porto seria incapaz de delinear uma táctica que levasse os adversários ao engano e teria de assistir aos “Dragões” a erguer o troféu.

1251 - MASSANO

Manuel Massano, natural da histórica cidade raiana, cresceria para a prática do desporto numa das mais representativas colectividades da sua terra natal. No Sport Lisboa e Elvas, filial nº6 do Benfica, o jovem atleta cumpriria a formação. Contudo, com a equipa sénior a militar nos escalões mais baixos, a procura por agremiações com metas mais ambiciosas e condizentes com as suas capacidades futebolísticas, levá-lo-ia até à capital de distrito.
No Grupo Desportivo Portalegrense, onde venceria algumas edições do “regional”, Massano apuraria as suas qualidades. Tecnicamente dotado, o jogador destacar-se-ia na linha ofensiva, como um elemento capaz de carregar a bola, de municiar os colegas e, dono de uma boa finalização, com a habilidade para também marcar muitos golos. A extremo-direito, mas preferencialmente a interior do mesmo lado, depressa começaria a desenhar-se como um verdadeiro craque. A disputar a 2ª divisão, ganharia o traquejo suficiente para ambicionar outros voos e, já com algumas épocas de experiência nos seniores, dar-se-ia o seu regresso às “Águias” alentejanas.
De volta ao Sport Lisboa e Elvas na temporada de 1944/45, o jogador encontrar-se-ia, como é o exemplo de Demétrio Patalino, com um numeroso leque de craques. Com o clube a crescer vigorosamente, logo nessa campanha de entrada do interior-direito, o emblema elvense conquistaria o Campeonato Regional de Portalegre, o primeiro da sua história. Nessa mesma época registar-se-ia outro marco importantíssimo. Com Massano visto como um dos grandes nomes do colectivo, as prestações dos “Encarnados” levá-lo-iam a alcançar os lugares de promoção e, com isso, a conseguirem empurrar a agremiação para a estreia no escalão máximo do futebol português.
O encetar dos episódios primodivisionários na carreira de Massano, ocorreria num embate caseiro frente ao Boavista e com um golo por si concretizado a carimbar a vitória por 6-3. Como um dos mais utilizados no plantel, o atleta cevaria o estatuto de titular nessa temporada de 1945/46, tal como nos anos vindouros. Com a fusão do Sport Lisboa e Elvas com o Sporting Clube Elvense a dar origem ao “O Elvas” Clube Alentejano de Desportos, o jogador, a partir da campanha de 1947/48 e sem descurar as exibições, prosseguiria a caminhada competitiva com o “azul e ouro” das recém-criadas camisolas. Aliás, seria sob a alçada da nova divisa que cumpriria as melhores temporadas. Tido como um dos grandes intérpretes das provas nacionais, o atacante marcaria presença em todos as partidas agendadas para as três primeiras épocas da agremiação na 1ª divisão. Essas 78 pelejas transformá-lo-iam, ainda hoje está assim o registo, no elemento com mais jogos disputados pelo emblema no patamar máximo. Paralelamente ao referido número, o avançado seria chamado aos trabalhos da Federação Portuguesa de Futebol. Infelizmente, apesar de bem cotado, o futebolista não teria a honra de envergar as “quinas” em eventos oficiais.
Com a descida do “O Elvas” à 2ª divisão de 1950/51, a carreira de Massano entraria igualmente numa fase descendente. Depois de 3 temporadas em que apenas dedicaria o tempo às actividades de atleta, a época de 1953/54, sem deixar o emblema alentejano, serviria de transição para outras tarefas. Ainda durante alguns anos a apresentar-se como treinador-jogador, o avançado também representaria o Marinhense, o Ginásio de Alcobaça e “Os Nazarenos”. De seguida, em exclusivo nas funções de técnico, passaria por Tramagal, Alferrarede, Campomaiorense e ainda regressaria ao mais popular emblema da sua cidade.

1250 - ZINHO

Celso Santiago de Souza, “nome de guerra” Zinho, descoberto no Vasco da Gama no início dos anos de 1980, seria apresentado pelo Sporting de Braga como reforço para a temporada de 1982/83. Depois de ajudar o conjunto do Rio de Janeiro a vencer o Campeonato Carioca de 1982, no Minho, ao contrário do que o currículo dava a entender, o jogador teria imensas dificuldades em adaptar-se à nova realidade competitiva. Bem, para ser correcto, bastaria um ano de adaptação e a chegada de Quinito ao comando técnico da equipa bracarense para que tudo mudasse. Como um jogador de cariz ofensivo, com toque de bola acima da média e um remate potente, o jovem atleta acabaria por conquistar a titularidade e ganhar a preferência da massa adepta.
À sua valorização não podemos deixar de associar as boas prestações colectivas. Nesse sentido, o Sporting de Braga, no final da primeira metade da década de 1980, conseguiria algumas prestações dignas de registo. A 4ª posição no Campeonato Nacional de 1983/84, àquela data a melhor classificação de sempre do clube, daria o direito aos minhotos de disputarem a Taça UEFA do ano seguinte. Apesar do desaire frente aos ingleses do Tottenham Hotspurs, com o cômputo das duas mãos a ditar uma derrota volumosa (10-0) para o conjunto português, Zinho, durante o decorrer da temporada, manter-se-ia como uma das figuras dos “Guerreiros”. Esse estatuto faria com que emblemas de outra monta começassem a olhar para o médio criativo como um elemento capaz de acrescentar qualidade aos respectivos planteis e, com o dito propósito, seria o Sporting ganhar a corrida pela sua contratação.
Em Alvalade para a campanha de 1986/87, Zinho acabaria como um dos eleitos do treinador Manuel José para preencher um lugar no “onze” inicial. Contudo, a chegada do inglês Keith Burkinshaw à 20ª jornada, mudaria todo o cenário. A partir desse momento, o médio, titular indiscutível, passaria a não contar para os planos do novo técnico. Essa quase ausência de chamadas até ao final da época, levaria o jogador a equacionar um novo rumo para a carreira. A solução, posta em marcha para a temporada de 1987/88, conduzi-lo-ia de novo ao Sporting de Braga. O regresso ao Minho, a discreta passagem pelo Penafiel e, ainda, a experiência nos espanhóis do Racing Santander, anteporiam o ingresso no Sporting de Espinho e o reencontro com pessoas importantes no desenrolar da sua caminhada desportiva.
Integrado no plantel de 1990/91 dos “Tigres da Costa Verde”, Zinho, depois das experiências em Alvalade e durante a segunda passagem pela “Cidade dos Arcebispos”, voltaria a trabalhar com Manuel José. No entanto, seria com o final da temporada seguinte, sob a alçada de Quinito e asseverado o título de campeão da divisão de Honra, que o médio asseguraria o regresso ao escalão máximo. Aliás, a época de 1992/93 tornar-se-ia, num total de 8 campanhas disputadas no maior patamar português, na última do centrocampista entre os “grandes”. Já no que diz respeito à derradeira temporada em Portugal, a despedida aconteceria em 1994. Seguir-se-ia o Brasil e as camisolas do América e do Madureira. Já com as “chuteiras penduradas”, o antigo atleta encetaria uma caminhada pelas tarefas de treinador. Nesse contexto, destaque para as prestações no Sporting de Espinho e no Olhanense.