1107 - MACHAIRIDIS

Com um percurso que, progressivamente, iria aproximar o jogador dos patamares cimeiros do futebol grego, o Pandramaikos, após aí terminar a formação, tornar-se-ia no primeiro emblema da sua caminhada como sénior. Depois de 3 temporadas a militar nos escalões secundários, as exibições ao serviço do referido emblema levá-lo-iam a merecer a confiança do Xanthi. Já a disputar o escalão máximo helénico, as suas prestações, sempre em crescendo de qualidade, acabariam por elevá-lo ao estatuto de bom intérprete. Como um médio-defensivo de boa compleição física e com uma capacidade de luta bem acima da média, Machairidis (ou Macheridis) depressa entraria na rota dos mais importantes clubes da Grécia.
O passo seguinte encaminhá-lo-ia até à capital do seu país. No AEK de Atenas, muito para além de sublinhar o que vinha a fazer, o “trinco” conseguiria enriquecer o currículo com o primeiro título de cariz nacional. Ao assegurar um lugar de destaque na nova equipa, Machairidis em muito contribuiria para os sucessos do colectivo. Com a bela campanha na Taça dos Vencedores das Taças a levar o clube aos quartos-de-final, a vitória na edição de 1996/97 da Taça da Grécia acabaria por embelezar a época da sua chegada aos “Dikéfalos Aetós”.
Outro dos grandes saltos da sua carreira ocorreria com a mudança para o Benfica. Numa altura em que já representava as cores do PAOK, o médio tornar-se-ia numa das figuras de destaque na disputa que, na Taça UEFA de 1999/00, oporia as duas equipas. Surpreendidos com a sua exibição, os responsáveis das “Águias” rapidamente fariam chegar ao emblema sediado em Salónica uma proposta pela aquisição do seu “passe”. Cerca de dois meses depois, Machairidis, num pacote que também envolveria a chegada do egípcio Abdel Sabry, entraria na “Luz” como um dos reforços de Inverno. Mesmo não tendo agradado à grande maioria dos adeptos “encarnados”, a verdade é que o médio grego seria, daí em diante, uma das principais apostas do treinador germânico Jupp Heynckes. Esse facto tornaria ainda mais surpreendente o que viria a passar-se no começo da temporada seguinte. Sem que nada o fizesse prever, o atleta faltaria ao arranque dos trabalhos e daria jus a um diferendo que acabaria por arrastar-se durante largos dias.
Com regresso ao país natal, a sua carreira como que entraria numa espiral descendente. Depois de um empréstimo ao Kalamata, a mudança para os cipriotas do Alki Larnaca e as subsequentes passagens por emblemas de menor monta na Grécia, assinalariam os derradeiros capítulos do seu percurso desportivo. Após vestir a camisola do Doxa Dramas e de um interregno competitivo, seriam as cores do Xania que, em 2005/06, apadrinhariam o fim da sua caminhada no futebol.

1106 - TEIXEIRINHA

Ao destacar-se nos juniores do Estoril Praia, Teixeirinha acabaria incluído nos trabalhos das jovens selecções portuguesas. Para além do prémio das chamadas aos escalões de formação da Federação Portuguesa de Futebol, nessa mesma temporada de 1977/78, a qualidade dos seus desempenhos seria reconhecido com a estreia na equipa sénior dos “Canarinhos”. Com tão célere escalada, seria o Benfica que rapidamente iria no seu encalço. Porém, a mudança de emblema não traria os resultados esperados e mesmo ao manter-se como um dos arrolados dos sub-18 da “equipa das quinas”, a dificuldade apresentada durante o período passado com as “Águias” levaria a que o defesa-lateral nunca conseguisse uma oportunidade no conjunto principal “encarnado”.
Depois da temporada passada na “Luz”, o regresso ao conjunto sediado na Linha de Cascais, devolveria o jogador ao normal caminho evolutivo. No seu crescimento e de forma progressiva, Teixeirinha acabaria por conquistar um lugar no “onze” do Estoril Praia. Todavia, e tendo voltado numa altura em que o clube disputava a 1ª divisão, seria a época seguinte e a descida de escalão que levariam o jogador a assumir uma posição na equipa inicial. O final dessa campanha de 1980/81, com nova promoção ao patamar máximo, serviria também para que o defesa começasse a alicerçar-se como um atleta de cariz primodivisionário. Esse estatuto vincar-se-ia ao ponto do lateral começar a ser visto como um dos melhores intérpretes a jogar na sua posição. Após 3 anos de bom nível exibicional, nova oportunidade surgiria na sua caminhada e a mudança para o Algarve traria novos desafios à sua carreira.
A transferência para o Portimonense, no começo da temporada de 1984/85, entregá-lo-ia a outras metas. Com o conjunto do Barlavento em franco crescimento, o defesa tornar-se-ia numa das mais importantes peças da equipa. Ao assumir a titularidade, o lateral, logo no ano da chegada, seria um dos principais nomes na excelente caminhada do emblema algarvio no Campeonato Nacional. Com o 5º posto da tabela classificativa a ficar assegurado no final da já referida campanha, o ano seguinte levaria o clube, e o jogador, à estreia nas competições europeias. Nesse sentido, na edição de 1985/86 da Taça UEFA, calharia em sorte o Partizan de Belgrado. Com Teixeirinha a ser chamado ao “onze” em ambos os embates, a vitória caseira por 1-0 encheria o coração de todos com a perspectiva de uma possível qualificação para a ronda seguinte. No entanto, a 2ª mão, disputada na antiga Jugoslávia, seria madrasta para os portugueses. Ainda assim, nem a derrota por 4-0, nem a subsequente eliminação, haveria de tirar o nome do futebolista dos anais da colectividade.
Curiosamente, o fim da ligação ao Portimonense transformar-se-ia também no derradeiro capítulo de Teixeirinha no escalão máximo nacional. Sem nunca ter perdido a preponderância no seio do plantel “alvinegro” e ainda numa idade a pouco justificar a falta de oportunidades, a verdade é que a carreira do defesa, daí em diante, passaria a trilhar os caminhos dos patamares secundárias. Depois de, em 1988/89, ter assinado pelo Louletano, as escolhas que faria nos anos seguintes também não contribuiriam para o seu regresso à 1ª divisão. Seguir-se-iam o Sporting de Espinho, Alba e Machico e, seguida a um largo interregno, a sua experiência nos “amadores” do Passil.
Após, em definitivo, ter posto um ponto final na caminhada como praticante, fica também o registo da sua experiência como técnico. No papel de adjunto da equipa principal e também como timoneiro em alguns escalões de formação, destaque para a sua passagem pelo Samouquence.

1105 - MÁRIO JORGE

Produto das “escolas” leoninas, Mário Jorge cedo conseguiria destacar-se pelo apurado sentido técnico, rapidez de execução e entendimento táctico de todo o jogo. Ao ser visto como um dos elementos com maior potencial nos patamares de formação “verde e branco”, a sua convocação aos seniores, numa altura em que ainda tinha idade de júnior, serviria também para demonstrar toda a crença que nele estava depositada. Com a primeira chamada a acontecer na temporada de 1979/80, a estreia permitiria ao jovem praticante somar ao seu currículo a vitória no Campeonato Nacional.
Ainda que na época seguinte continuasse a ser visto como um elemento de segunda linha, daí em diante a sua presença no “onze” inicial tornar-se-ia numa constante. Atleta canhoto, a excelsa aptidão para a modalidade rapidamente destacaria o jovem atleta como um intérprete capaz de desempenhar vários papéis. Tendo crescido como extremo-esquerdo, o primeiro treinador a fazer uso da sua polivalência seria o inglês Malcolm Allisson. No entanto, ao alinhar na defesa, Mário Jorge, ainda que sem jogar mal, nunca atingiria os mesmos níveis exibicionais. Mais tarde, já com Manuel José aos comandos do “Leão”, passaria para o meio-campo. Nessas funções, ao conseguir compilar tudo o que de melhor tinha aprendido nas diferentes posições de campo experimentadas por si, esgrimiria os mais bem conseguidos desempenhos pessoais e, provavelmente, acabaria por viver os melhores anos da carreira.
Seria também por essa altura que a selecção voltaria ao seu percurso. Com a única presença na principal “equipa das quinas” a remontar a 8 de Junho de 1983, esse regresso acabaria por sublinhar a ideia de justiça feita aos seus desempenhos. Depois da passagem por vários escalões de formação e de, inclusive, ter sido chamado ao Torneio Internacional de Juniores da UEFA de 1980 e de ter participado na edição de 1981 do Torneio de Toulon, o interregno de mais de 2 anos com as cores portuguesas conheceria o seu fim no derradeiro jogo de qualificação para o Mundial de 1986. Numa partida de boa memória, em que Portugal carimbaria o passaporte para a fase final do certame com a vitória na República Federal Alemã, Mário Jorge seria uma dos nomes arrolados por José Torres para entrar de início na fria noite de Estugarda. Após esse momento inolvidável, o jogador ainda participaria em alguns “amigáveis” de preparação para o Campeonato do Mundo. Mesmo sem ter sido incluído na lista de futebolistas a viajar para o México, as exibições conseguidas durante os referidos jogos mantê-lo-iam no conjunto de seleccionáveis. No rescaldo do “caso Saltillo”, o médio sublinharia ainda mais o seu estatuto, somando outras 5 partidas com a camisola do nosso país e atingindo as 9 internacionalizações.
No Sporting, o final dos anos 80 significariam para Mário Jorge a perda de alguma preponderância nas manobras leoninas. Após um período menos conseguido, durante o qual ainda passaria por um empréstimo ao Beira-Mar, o atleta, em 1991, tomaria a decisão de sair de Alvalade. Após 17 anos de “verde e branco”, em que as 11 temporadas no plantel sénior trariam ao seu palmarés 2 Campeonatos Nacionais, 1 Taça de Portugal e 2 Supertaças, o jogador passaria a vestir as cores do Estrela da Amadora para, alguns anos mais tarde, terminar a carreira ao serviço do Estoril Praia.
Já em 2018, depois de uma curiosa experiência como co-fundador e director-desportivo do conjunto cabo-verdiano Grupo Desportivo Oásis, Sousa Cintra acabaria por apadrinhar o seu regresso ao Sporting, convidando o antigo atleta para desempenhar funções como director-geral da Academia de Alcochete.

1104 - MOINHOS

Com um salto directo dos “regionais” para a 1ª divisão nacional, a mudança de Moinhos do Vilanovense para o Boavista acabaria acompanhada por uma boa dose de espanto. Para alimentar, ainda mais, a surpresa da transferência ocorrida no Verão de 1969, a relativa facilidade com o atleta conseguiria afirmar-se no seio da equipa “axadrezada”, reforçaria o espanto de toda a operação. Por certo, nem mesmo os mais atentos e conhecedores das suas qualidades adivinhariam a naturalidade com que o extremo, sem experiência alguma no contexto competitivo mais elevado, conseguiria impor o seu futebol. Veloz e com uma capacidade de drible tremenda, a maneira destemida como partia para cima dos seus adversários rapidamente contribuiria para cimentar a sua importância nas estratégias colectivas. O crescer da sua preponderância, levaria outros emblemas a mostrar interesse na contratação do jogador e, nesse sentido, a sua partida para Lisboa ocorreria em 1973.
A sua entrada no Estádio da “Luz”, ao contrário do que tinha acontecido com a chegada ao Bessa, já tinha o avançado como um praticante consagrado. Ainda assim, a sua integração não seria fácil e o extremo, na temporada de estreia, pouco mais conseguiria do que participar em meia-dúzia de partidas oficiais. Já na campanha seguinte, tudo mudaria de figura. Com a contratação de Milorad Pavic para o comando técnico dos “Encarnados”, Moinhos começaria a assumir um peso maior no esquema táctico da equipa. Como reflexo desse crescimento, também da selecção nacional surgiria o momento para o jogador conseguir a primeira oportunidade. A estreia aconteceria a 26 de Abril de 1975 e pela mão de José Maria Pedroto, o atacante somaria a primeira de 7 internacionalizações por Portugal.
No tempo passado com as cores do Benfica, não seriam só as chamadas à “equipa das quinas” que serviriam para recompensar as boas exibições. Nesse sentido, também os títulos dariam ao seu percurso um brilho especial. As 3 conquistas consecutivas do Campeonato Nacional, ganhos entre 1975 e 1977, tornar-se-iam nos pontos mais altos da sua caminhada clubística. No entanto, a última dessas vitórias coincidiria com a sua despedida do clube. Depois de, com John Mortimore, voltar a perder espaço no seio do plantel benfiquista, Moinhos decidir-se-ia pelo regresso ao Boavista. De volta ao Bessa, o atleta recuperaria o elã perdido no derradeiro ano de “Águia” ao peito. Novamente titular, a qualidade das suas exibições continuariam a projectá-lo como um dos bons intérpretes da modalidade. Mesmo com a barreira dos 30 anos de idade ultrapassada, o avançado manter-se-ia em boa forma e prosseguiria a somar temporadas no patamar máximo do futebol luso.
O seu terceiro e último emblema no mais alto escalão competitivo nacional, acabaria por ser o Sporting de Espinho. Ao serviço dos “Tigres da Costa Verde”, depois da transferência consumada para a temporada de 1980/81, o extremo completaria mais 4 campanhas. Ao notabilizar-se como um atleta de topo, esses derradeiros anos do seu trajecto profissional serviriam para dar ainda mais força aos números que haveriam de compor um trajecto invejável. As 15 temporadas cumpridas por Moinhos na 1ª divisão, desembocariam num total de mais de 350 partidas disputadas e, ainda que longe de ser um goleador nato, num cômputo de 77 golos concretizados naquela que é a mais importante prova do universo português.

1103 - FORBS

Ao exibir-se nas camadas de formação do Ténis Clube de Bissau como um atleta veloz e dotado de uma boa técnica, Forbs rapidamente mostraria estar talhado para tarefas de maior monta. Nesse sentido, a sua transferência para a equipa principal da União de Bissau, daria ao jovem praticante a visibilidade necessária para sonhar com contextos competitivos bem mais ambiciosos. Pouco tempo depois da sua estreia como sénior e ainda sem clubes de grande calibre no seu encalce, a oportunidade para dar outro salto emergiria de um convite nascido na 3ª divisão portuguesa. Porém, o Bombarralense depressa revelaria ser modesto demais para a qualidade do avançado. Pequeno tornar-se-ia também o 2º escalão e o Peniche. Surgiria o Sporting e a estreia, 2 anos após a sua chegada a Portugal, no mais importante patamar do futebol luso.
Apesar dos inegáveis atributos, a sua integração no plantel leonino de 1984/85 cobrir-se-ia de grandes dificuldades. Sem surpresa, a presença de atletas como Jordão, Manuel Fernandes, Saucedo ou Eldon, acabariam por dificultar a vida do atacante. Com poucos jogos disputados nas 2 primeiras campanhas de “verde e branco”, a solução para o crescimento de Forbs seria encontrada na cedência dos seus préstimos a outro emblema. A passagem por Portimão, sem retirar o atleta do escalão máximo, entregá-lo-ia a temporadas de grande valor. Ao sublinhar-se como um dos elementos de maior destaque no conjunto algarvio, o avançado tornar-se-ia determinante nos desempenhos colectivos. Essa afirmação pessoal levá-lo-ia a carimbar o regresso a Lisboa e ao contrário do que tinha acontecido anteriormente, o avançado conseguiria jogar com bastante regularidade. No entanto, a qualidade das suas exibições acabariam por não agradar a todos e no final da época de retorno à “casa-mãe”, a sua dispensa empurrá-lo-ia, em definitivo, para fora do Sporting.
O ingresso no Boavista na temporada de 1989/90 serviria de ponte para a entrada no emblema que viria a tornar-se no mais representativo da sua carreira. Nos 5 anos ao serviço do Sporting de Braga, o atleta prosseguiria o seu trajecto como um futebolista de boas características. Não sendo um avançado muito prolífero em termos de golos, o entendimento que tinha do jogo assegurá-lo-ia como um elemento de grande aptidão no desenho dos movimentos atacantes. A competência revelada no municiamento dos colegas do sector ofensivo, serviria também para alimentar a sua importância. Mesmo com a passagem de vários treinadores pelo comando técnico da equipa minhota, Forbs manter-se-ia como uma das peças mais preponderantes do plantel “arsenalista”. Para consolidar tal valor, os números revelados durante a sua caminhada desportiva, serviriam para desmentir qualquer classificação medíocre. Com 11 épocas cumpridas na 1ª divisão, 260 partidas disputadas e mais de meia centena de remates certeiros no patamar máximo do Campeonato Nacional, o avançado ficaria para a história do desporto luso como um elemento valioso.
 Após deixar o Minho e antes de pôr termo à caminhada competitiva, Forbs teria ainda tempo para cumprir mais algumas temporadas. Penafiel e Tirsense, já longe dos principais palcos, serviriam as 3 últimas campanhas da sua carreira e precederiam a sua retirada em 1998.

1102 - FRANCISCO MOREIRA

Descoberto numa altura em que representava os Leões do Barreiro, Francisco Moreira, ainda em idade adolescente, acabaria transferido para um dos históricos do futebol português. Com a entrada no Barreirense a acontecer na temporada de 1932/33 e numa altura em que Campeonato de Portugal e as provas regionais assumiam o papel principal no cenário competitivo nacional, o médio transformar-se-ia numa das figuras de proa do emblema da Margem Sul.
Atleta de pendor defensivo, as presenças em campo dá-lo-iam a conhecer como um praticante aguerrido e com uma enorme capacidade para desarmar os adversários. No entanto, e mesmo ao conseguir destacar-se como um dos melhores praticantes do conjunto alvi-rubro, a verdade é que o centrocampista demoraria vários anos até chegar a um dos maiores emblemas nacionais. Porém, esse suposto atraso acabaria por dar a Moreira o traquejo necessário para que, desde a época de estreia no Benfica, conseguisse ocupar um lugar de destaque na equipa “encarnada”. Com a mudança para Lisboa a acontecer na época de 1944/45, a titularidade imediatamente conquistada colocá-lo-ia a jogar ao lado do “capitão” Francisco Ferreira. Numa altura em que os 29 anos já indicavam a proximidade do fim de carreira, o atleta decidiria fazer da referida idade um número sem grande significado. Aliás, seria a partir desse momento que viveria os melhores anos da sua caminhada futebolística.
Com um dos elementos mais equilibradores da manobra táctica benfiquista, o médio começaria a acrescentar títulos ao currículo. Logo na campanha de chegada ao Benfica, tornar-se-ia num dos principais intérpretes da caminhada triunfante das “Águias” no Campeonato Nacional. A vitória na maior prova portuguesa voltaria a repeti-la em 1949/50. Também a Taça de Portugal viria a fazer parte do seu palmarés, com as 4 conquistas consecutivas entre 1948/49 e 1952/53, a tornarem-se num dos grandes marcos do seu percurso desportivo. Contudo, um troféu conseguiria destacar-se dos demais. Na edição de 1950 da Taça Latina, o treinador inglês Ted Smith escolheria Moreira para alinhar em todas as 3 partidas jogadas pelo clube na competição. Depois de ajudar a eliminar os italianos da Lazio na meia-final, também contra o Bordeaux seria chamado à peleja. Após um empate na final e com o jogo da finalíssima já em prolongamento, seria dele a assistência para o golo que resolveria a disputa da prova europeia.
Mas numa carreira que passou dos 40 anos, não foi só com os supracitados emblemas que Francisco Moreira brilhou. Também no trajecto da selecção nacional, o jogador conseguiria inscrever o seu nome. Numa altura em que os jogos internacionais escasseavam, o atleta, ainda assim, participaria em 7 partidas com a principal “camisola das quinas”. Sob a alçada de Tavares da Silva, encetaria a caminhada por Portugal a 6 de Maio de 1945, num encontro frente à Espanha. Porém, os dois maiores destaques da sua caminhada com as cores lusas viriam alguns anos após o desafio inicial. Um deles, em Janeiro de 1947, surgiria com um novo confronto ibério e com a primeira vitória frente à congénere de “nuestros hermanos”. Alguns meses passados sobre esse brilharete, emergiria o segundo desses inolvidáveis momentos. Numa viagem à República da Irlanda, o médio faria parte do conjunto que ficaria para a história como a equipa lusa a estrear-se em triunfos além-fronteiras.

1101 - AILTON

Sem ter encontrado uma fonte que, de forma fidedigna, contasse o seu percurso desportivo no Brasil, certo é que Ailton Ballesteros chegaria a Portugal na campanha de 1974/75 e vindo do maranhense Sampaio Corrêa.
Já no FC Porto e tendo sido apresentado como um reforço sonante, a sua integração acabaria por ficar aquém dos resultados projectados com a sua contratação. Com o seu conterrâneo Aimoré Moreira a liderar os “Azuis e Brancos” no primeiro terço da referida temporada, as oportunidades dadas ao médio seriam quase nulas. Porém, com entrada de Monteiro da Costa para o comando técnico, a realidade do jogador iria alterar-se um pouco. Ainda assim e tendo em conta a sua utilização, a verdade é que Ailton demoraria a impor-se como um elemento de uma preponderância indiscutível. Essa realidade reverter-se-ia na última campanha no Estádio das Antas e como um elemento capaz de produzir um pouco mais do que o suficiente, o atleta tornar-se-ia num nome relevante no plantel e uma peça importante na vitória da Taça de Portugal de 1976/77.
No Verão de 1977, à procura de melhores condições contratuais, Ailton aceitaria a proposta do Presidente João Rocha e tomaria a decisão de trocar o FC Porto pelo Sporting. Em Alvalade continuaria a manter-se como um atleta, mesmo longe do virtuosismo de alguns colegas, capaz de conseguir ser relevante para o equilíbrio do grupo de trabalho. De “Leão” ao peito também venceria a Taça de Portugal. Logo na campanha de chegada ao emblema de Lisboa, o esquerdino seria chamado a disputar a final e a finalíssima da “Prova Rainha” e frente à antiga equipa, entraria de início na partida que entregaria o troféu às estantes leoninas.
A 3ª conquista em Portugal aconteceria ao serviço do Boavista. Aliás, o seu regresso à cidade do Porto e a entrada no Estádio do Bessa entregariam Ailton, em termos individuais, às melhores épocas passadas em terras lusas. Sob a alçada de Mário Lino, começaria logo por vencer a Supertaça de 1979/80. Contribuiria também para as boas prestações no Campeonato Nacional e para a qualificação e participação dos “Axadrezados” nas provas europeias. Seguir-se-ia, já no ocaso da sua carreira, o Varzim. Com o emblema poveiro, o médio brasileiro cumpriria a 9ª campanha no escalão máximo luso e chegaria às 163 partidas primodivisionárias.

1100 - GUTO

Num percurso formativo que transportaria o jogador por diferentes emblemas, seria a entrada no XV de Jaú que, em 1981, proporcionaria ao atleta o primeiro grande salto na sua caminhada. No emblema paulista, duas semanas após a integração nos juniores, a qualidade do trabalho por si apresentado faria com que a promoção ao conjunto principal fosse inevitável. Dando jus a uma rápida ascensão, os anos seguintes levá-lo-iam ao radar da Confederação Brasileira de Futebol (CBF) e às convocatórias para as jovens selecções. Ainda sob a alçada do emblema do Estado de São Paulo, participaria na edição de 1983 do Campeonato sul-americano sub-20 e ajudaria à vitória do “Escrete” na competição.
Depois da glória dessa primeira conquista internacional, os responsáveis do Flamengo, ainda em 1983, decidir-se-iam pela sua contratação. Passado pouco tempo, mais uma vez com as cores dos sub-20 “canarinhos”, Guto acrescentaria outro troféu ao palmarés pessoal. No Mundial da categoria, seria chamado pelo técnico Jair Pereira para disputar o torneio organizado no México. O Brasil voltaria a sair vitorioso e, ao lado de nomes conhecidos do futebol português, casos do lateral Heitor ou do guarda-redes Hugo, o central começaria a alicerçar a sua fama.
Para o crescimento da sua popularidade também contribuiriam as prestações conseguidas com as cores do Flamengo. Mesmo não sendo um dos titulares indiscutíveis, a sua presença no plantel seria bastante importante para a glória do conjunto “carioca”. As vitórias na Taça Guanabara de 1984, no Estadual do Rio de Janeiro de 1986 e no “Brasileirão” de 1987, tornar-se-iam em importantes marcos da sua carreira. Outros números, como as 126 partidas disputadas pelo “Mengão”, seriam igualmente relevantes para cimentar o defesa na memória colectiva dos “rubro-negros”. Tudo combinado, traria ao jogador a almejada oportunidade de jogar na Europa. Curiosamente, a sua mudança seria para um clube que, tendo em conta o seu currículo, acabaria por afigurar-se um pouco modesto.
Com o “O Elvas” a disputar o patamar máximo do futebol luso, a época de 1987/88 permitiria a Guto a estreia na 1ª divisão. Mesmo ao destacar-se como um dos elementos mais importantes da colectividade alentejana, a despromoção da equipa no final da referida temporada arrastaria também o defesa para os escalões inferiores. Continuaria no clube por mais 3 anos para, em 1991/92, chegar a um acordo com o Belenenses. A transferência para o Restelo, ainda que dentro do mesmo patamar competitivo, permitiria ao defesa sonhar com o regresso ao convívio dos “grandes”. A subida aconteceria 1 ano após a mudança para Lisboa e tal facto como que relançaria a sua carreira. Já com a “Cruz de Cristo” ao peito, o central consagrar-se-ia como um dos bons intérpretes do Campeonato Nacional. Igualmente forte no desarme, no sentido posicional e na marcação homem-a-homem, a constância das suas exibições levariam o brasileiro a ser visto como um dos melhores jogadores das nossas competições. Manteria esse estatuto no ano seguinte, mas, de forma surpreendente, o Verão de 1994 traria o fim da sua ligação a Portugal.
De volta ao Brasil, o defesa passaria a representar o Vitória Bahia, para posteriormente ainda vestir a camisola do Paraná Clube e do Rio Branco de Andradas. Em 1996, depois de pôr um ponto final na sua carreira, Guto deixaria o futebol e passaria a gerir o investimento feito por si, no ramo imobiliário.

1099 - JAIME ALVES

Depois de um empréstimo em 1982/83 ao Cortegaça, emblema onde faria a estreia como sénior, Jaime Alves acabaria por voltar ao clube onde tinha terminado o percurso formativo. Após a cedência de um ano, o regresso ao Sporting de Espinho permitiria ao atleta cumprir os primeiros jogos no escalão máximo do futebol português. Ainda que pouco utilizado, essas partidas possibilitariam ao jovem praticante perfilar-se como um elemento válido para um futuro próximo. Tal aconteceria logo na época seguinte e com a descida dos “Tigres” à 2ª divisão, o jogador passaria a ocupar um lugar no “onze” inicial.
Ainda que longe dos principais escaparates, bastaria uma temporada para que os serviços de Jaime Alves fossem requisitados por um emblema de outra monta. Mesmo sem grande traquejo primodivisionário, os responsáveis do Boavista tomariam a decisão de juntá-lo ao plantel “axadrezado”. A aferir a qualidade da contratação, ao contrário do esperado num atleta recém-chegado, logo à partida o jogador conquistaria a titularidade. Porém, com a saída do treinador João Alves no final dessa campanha de 1985/86, a sua condição alterar-se-ia substancialmente e o atleta deixaria de jogar com tanta regularidade.
Perdido o lugar no “onze”, demoraria algum tempo até conseguir voltar a ser um dos indiscutíveis na ficha de jogo. Tal aconteceria em 1988/89. Como reflexo dessa afirmação, também da Federação Portuguesa de Futebol surgiria o aval para a sua integração nos trabalhos da selecção principal. Após ter vestido a camisola dos sub-21 e com as cores de Portugal ter participado na edição de 1986 do Torneio Internacional de Toulon, o dia 16 de Novembro de 1988 marcaria a estreia de Jaime Alves pelo conjunto “A”. Numa partida disputada no Estádio do Bessa, Juca escolheria o lateral para entrar de início na peleja a contar para a fase de apuramento do Mundial de 1990. Depois desse jogo com o Luxemburgo, seguir-se-iam mais algumas chamadas. Nesses “amigáveis”, marcados já na 2ª metade da temporada de 1988/89, o defesa, frente a Angola e ao Brasil, conquistaria outras 2 internacionalizações que, num cômputo de 3 partidas, abrilhantariam a sua carreira.
Depois das convocatórias pela selecção portuguesa, Jaime Alves continuaria a mostrar a sua importância no seio do plantel boavisteiro. Fosse no sector mais recuado ou no meio-campo, os anos seguintes serviriam para sublinhá-lo como um dos pilares da estratégia montada pelos diversos treinadores. No Bessa voltaria também a trabalhar com João Alves e desse “rendez-vous”, sairia uma das poucas excepções à sua caminhada com as “Panteras”. Ao seguir na peugada do referido treinador, o jogador passaria a temporada de 1991/92 com as cores do Vitória Sport Clube. Porém, a experiência em Guimarães demoraria pouco tempo e com um ano volvido sobre a partida para o Minho, o defesa tornaria a envergar a camisola do Boavista.
No regresso ao emblema da “Cidade Invicta”, Jaime Alves encontraria Manuel José no comando técnico do grupo. Mesmo ao perder alguma da preponderância conquistada antes da saída, o jogador nunca deixaria de ser importante para o equilíbrio do grupo. Todavia, essa perda acabaria por acarretar algumas frustrações na sua caminhada. Sem marcar presença em várias provas, o seu nome ficaria excluído do rol de atletas vencedores das Supertaças de 1992/93 e 1997/98 e da Taça de Portugal de 1996/97. Ainda assim, é impossível falar do defesa sem incluí-lo na lista de históricos do Boavista. As 12 épocas passadas no Bessa dar-lhe-iam, só com a camisola “axadrezada”, 221 jogos na 1ª divisão. Tal número empurrá-lo-ia para o “Top 10” dos atletas com mais partidas disputadas pelas “Panteras”, no escalão máximo.

1098 - ANSELMO FERNANDEZ

Multifacetado, Anselmo Fernandez transformar-se-ia num homem de mil-ofícios. Aos “Leões”, uma das maiores paixões da sua vida, encetaria a longa ligação no dever de futebolista. Subiria pelos diversos escalões de formação, chegaria a sénior pelas “reservas” e quando o treinador “verde e branco” quis promovê-lo à equipa principal, um problema de saúde acabaria por adiar a estreia – “Começara a jogar futebol no Sporting aos 14 anos, aos 20, Szabo quis lançar-me na primeira categoria, disse-lhe que seria operado a uma apendicite, que só depois disso valeria a pena apostar em mim”*.
Terminado o longo recobro, ainda voltaria a tempo de dar o contributo ao futebol leonino. Ao maioritariamente ter jogado nos conjuntos secundários do clube, Anselmo Fernandez, médio-ofensivo, caracterizar-se-ia por ser um atleta com boa técnica e uma grande resistência física. Ainda assim, apesar dos reconhecidos predicados, passados alguns anos sobre o regresso tomaria a decisão de deixar a modalidade. De seguida, o seu eclecticismo levá-lo-ia a dedicar-se ao Rugby, com a mesma abnegação que já tinha posto no basquetebol e no ténis de mesa. Em paralelo, cresceria também na sua profissão, numa carreira que, com obras emblemáticas, haveria de notabilizá-lo como arquitecto. Nesse campo, seriam dele os desenhos da Reitoria da Universidade de Lisboa, da Faculdade de Direito, da Faculdade de Letras e do Hotel Tivoli. Todavia, o seu maior projecto, em parceria com Sá da Costa, viria a ser o Estádio de Alvalade.
A verdade é que, a ligação ao Sporting, transformá-lo-ia em muito mais do que um praticante. Já retirado de qualquer actividade desportiva, um convite da direcção fá-lo-ia regressar ao futebol, mas na condição de Supervisor Técnico. No entanto, seria como treinador que, em definitivo, ganharia um lugar na história do clube. Ao substituir Gentil Martins no comando dos “Leões”, um dos primeiros grandes desafios enfrentá-lo-ia na 2ª mão dos quartos-de-final da Taça dos Vencedores das Taças de 1963/64. Depois de uma copiosa derrota por 4-1 em Inglaterra, seria de Anselmo Fernandez o plano para a recepção ao Manchester United. Em Alvalade, quase sem hipótese de apuramento, os “Verde e Brancos” dariam corpo a uma recuperação memorável e venceriam a partida de Lisboa por 5-0. Seguir-se-iam os franceses do Olympique de Lyon, igualmente derrotados pelo conjunto português. Finalmente, da vitória na finalíssima frente ao MTK Budapeste, emergiria a inédita conquista da referida competição.
Voltaria ao banco do Sporting no decorrer da época seguinte e, mais uma vez, após a passagem de outros treinadores. “Sol de pouca dura”, pois um desentendimento com a direcção fá-lo-ia abandonar a posição pouco tempo depois. Ainda como técnico, abraçaria um desafio lançado pela CUF e à frente do conjunto do Lavradio chegaria às provas europeias, nomeadamente à Taça das Cidades com Feira. Tragicamente, a sua carreira no futebol terminaria de forma abrupta, num acidente de viação. A caminho dos treinos, ao atravessar a ponte sobre o Tejo, Anselmo Fernandez embateria noutro veículo e tendo estado à beira da morte, recuperaria apenas com algumas mazelas numa das pernas.

*retirado de “100 figuras do futebol português”, de António Simões e Homero Serpa; A Bola (1995)

1097 - KIKI

As passagens pelo Pailense, Académica da Praia, Sporting da Praia e a estreia na selecção cabo-verdiana aos 17 anos, transformar-se-iam no primeiro “cartão de visitas” do jovem praticante. Com seu o percurso a revelar-se numa emergência de qualidades acima da média, outros emblemas começariam a acercar-se do jogador. Surgiria então, sob a perspicácia de José Maria Pedroto, o interesse do Vitória Sport Clube. Porém, com a mudança para a cidade de Guimarães a concretizar-se em 1982/83, o confronto com uma realidade competitiva bem mais exigente, acabaria por ser penoso para Kiki. Depois de passar 2 temporadas sem praticamente jogar, a solução para o atleta passaria pela transferência para o Desportivo de Chaves. Em Trás-Os-Montes tudo começaria a mudar para o “trinco”. Ao destacar-se como um atleta possante, lutador e com um bom trato de bola, o médio transformar-se-ia num dos pilares da equipa. Com prestações valorosas, a sua ajuda seria preciosa para, nos anos seguintes, o clube escrever várias das mais importantes páginas da sua história. Depois de, logo na campanha de 1984/85, fazer parte da inédita promoção à 1ª divisão, a participação na Taça UEFA revelar-se-ia como o apogeu dessa sua passagem pelos flavienses.
Após uma época mais discreta em Chaves, a mudança de Kiki para o Sporting de Braga serviria para relançar a carreira. Aliás, ao suplantar o referido propósito, os 2 anos no Minho conseguiriam catapultá-lo para um patamar superior. Com o veiculado interesse dos “3 grandes”, primeiro surgiria o Sporting. Mais tarde, depois da nega dada aos “Leões”, viria o especulado interesse do Benfica e a “ultrapassagem” do FC Porto. Com o intuito de passar à frente do rival lisboeta, os responsáveis portistas poriam em marcha uma missão secreta. Ao abordar o atleta antes ainda do final da temporada de 1988/89, tudo ficaria acordado entre as duas partes. Contudo, o secretismo da reunião, à revelia do emblema bracarense, resultaria numa enorme polémica. Ainda assim, e com um severo castigo aplicado pela entidade patronal, a mudança para a “Cidade Invicta” acabaria mesmo por concretizar-se.
Nas Antas voltaria a encontrar-se com o treinador-adjunto por altura da sua estadia em Guimarães. Curiosamente, seria à custa do aludido técnico que acabaria por viver uma situação deveras caricata – “Num dos primeiros dias de folga no FC Porto fui dar uma volta ao shopping. Estava a ver umas montras quando, de repente, me cruzo com o Artur Jorge (…).Aproximei-me do mister para cumprimentá-lo, claro. Ele virou a cara e seguiu em frente. Fez como se eu não estivesse lá (…).No dia seguinte fui contar este episódio a alguns colegas. Disseram-me logo: já nos aconteceu a todos. Fora daqui não existimos para ele. Percebi que era uma forma de ele manter uma distância grande para os jogadores e impor uma certa cultura de temor”*. Graças à parte, seria nos “Azuis e Brancos” que Kiki viveria, em termos de troféus, a fase mais prolífera. Mesmo sem conseguir ser um dos elementos indiscutíveis do “onze”, as temporadas disputadas entre 1989/90 e 1991/92 trariam para o seu palmarés as vitórias em 2 Campeonatos Nacionais e 1 Taça de Portugal.
Já depois de deixar os “Dragões”, pouco mais restaria da sua carreira. O regresso ao Sporting de Braga e mais uma temporada no Paços de Ferreira selariam o fim do seu percurso como futebolista. No regresso a Cabo Verde, começaria por dedicar-se aos ramos da construção e da restauração. Recentemente regressaria ao futebol, para abraçar o papel de dirigente. Como Presidente da Académica da Praia, o seu trabalho levaria a colectividade à conquista de diversos títulos nacionais.

*retirado do artigo de Pedro Jorge da Cunha, publicado a 22/03/2013, https://maisfutebol.iol.pt

1096 - RUI ALBERTO

Filho do avançado Carlos Manuel, atleta com carreira firmada no FC Porto, Tirsense e Desportivo das Aves, Rui Alberto não conseguiria fugir às passadas do pai. Dividiria a formação pelos emblemas de Santo Tirso e da Vila das Aves e, para que desvio não fosse muito acentuado, acabaria também a jogar como avançado.
Já a temporada de 1984/85 daria a Rui Alberto a ocasião para conseguir a promoção ao conjunto principal dos avenses. Apesar de não ter sido muito utilizado durante a referida época, ainda assim, a chegada ao escalão sénior faria com que o seu nome ficasse para sempre ligado à história do clube. Com a subida de patamar a acontecer nessa mesma campanha, a consequente estreia na 1ª divisão arrolaria o atleta como um dos elementos de tão importante capítulo. Na sequência do referido momento, o atacante começaria a cimentar a sua carreira e a frequência com que passaria a aparecer em campo, dar-lhe-ia os alicerces para, daí em diante, ser visto como um futebolista de muito valor.
A descida de patamar, logo no final da campanha de 1985/86, acabaria por ser, de um certo modo, bem aproveitada pelo jogador. Com o traquejo ganho a traduzir-se numa boa qualidade exibicional, a regularidade apresentada dentro de campo revelar-se-ia nos golos por si concretizados. Com a “veia goleadora” como principal apanágio, os seus números começariam a revelar-lhe horizontes bem mais apetecíveis. No entanto, o tal salto ainda demoraria algum tempo a concretizar-se e com o Desportivo das Aves a perpetuar-se pelo escalão secundário, o seu regresso ao degrau maior do futebol luso parecia estar, ano após ano, a adiar-se.
O fim desse paradigma surgiria pela mão do Salgueiros. Com a oportunidade a surgir na época de 1991/92, não seria só o retorno à 1ª divisão a marcar a temporada. Com a colectividade sediada no bairro de Paranhos a participar nas competições continentais de clubes, o avançado estrear-se-ia na Taça UEFA. Convocado pelo técnico Zoran Filipovic, o atleta, em ambas as mãos, começaria as partidas como suplente. Ainda assim, conseguiria entrar em jogo e, ao saltar do banco, disputaria as duas metades da eliminatória frente aos franceses do Cannes.
Depois do Salgueiros, também o Desportivo de Chaves e o Varzim dariam cor à sua passagem pelo escalão máximo português. Numa carreira com 18 anos de sénior, os números conseguidos na 1ª divisão, traduzir-se-iam em 6 temporadas, quase centena e meia de aparições e 25 golos. Já no final do percurso como futebolista, regressaria aos emblemas onde fez a formação. Desportivo das Aves e Tirsense e, pelo meio, uma passagem pelo Moreirense, marcariam desse modo, os derradeiros capítulos da sua caminhada desportiva. O término surgiria em 2002 e depois de uma curta experiência no Maria da Fonte
.

1095 - BASTOS

Com o aproximar do final da temporada de 1949/50, da lesão do titular Mário Rosa, emergiria a necessidade de eleger um novo guarda-redes para o que restava da referida campanha e Ted Smith, o treinador inglês do Benfica, decidir-se-ia por José Bastos. Logo na estreia, o novo dono das balizas “encarnadas” bateria um recorde e tornar-se-ia no mais jovem guardião de sempre a jogar na categoria principal. Meses depois, o atleta conseguiria um novo feito. Com a Taça Latina a disputar-se em Lisboa e por lesão do presumível titular, o jogador, mais uma vez, seria chamado a competir. No Jamor participaria em todas as 3 partidas da prova e na finalíssima, frente aos franceses do Bordeaux, ajudaria as “Águias” a erguer o prestigiado troféu.
Daí em diante, muito por custa de um perfil tranquilo e, no entanto, bastante corajoso, o jogador tornar-se-ia no atleta mais usado no lugar à baliza. Manter-se-ia como um dos indiscutíveis no “onze” até à chegada de Costa Pereira, outro nome mítico na história do emblema lisboeta. Com a entrada do novo guarda-redes em 1954/55, Bastos começaria a partilhar a titularidade com o colega contratado ao Ferroviário de Lourenço Marques. Alternando épocas em que açambarcaria a quase totalidade dos jogos, com outras de enorme oblívio, seria a entrada de Béla Guttmann para o comando técnico do Benfica que acabaria por pôr um ponto final à sua ligação com o emblema já sediado no Estádio da “Luz”.
Depois de 11 temporadas de “Águia” ao peito e de ter acrescentado ao palmarés, para além da referida Taça Latina, 3 Campeonatos Nacionais e 5 Taças de Portugal, o guarda-redes acabaria “emprestado” ao Atlético. Ao entrar para o emblema de Alcântara na campanha de 1959/60 e com especial destaque para a temporada seguinte, Bastos continuara a mostrar-se como um excelente guardião. Nessa segunda época viveria também duas situações inesquecíveis. Na primeira, num “particular” frente à sua antiga equipa, acabaria por ter a sorte de jogar na estreia benfiquista de Eusébio. A segunda, bem caricata, surgiria através de uma solicitação feita pelo treinador que o tinha dispensado – “O Béla Guttmann era treinador do Benfica e viu-me depois em alguns jogos, pedindo mais tarde ao dirigente Gastão Silva para me contratar. Mal ele sabia que tinha dado ordens para eu sair da Luz quando contraí uma lesão no pulso e fiquei parado durante quase um ano”*.
Pouco mais restaria da sua carreira. Na 1ª divisão ainda representaria o Beira-Mar, para terminar a carreira em 1963, num regresso ao Atlético. Depois de aposentado das lides competitivas, José Bastos ainda teria algumas experiências como treinador. Nessas funções, destaque para a sua passagem, na década de 1970, pelo primodivisionário Estoril Praia ou, uns anos antes, pelo Leiria e Marrazes.

*retirado da entrevista publicada em www.record.pt, a 25/01/2014

1094 - ZECA

As primeiras participações na equipa sénior do Marítimo, ainda em idade júnior, serviriam para sublinhar o trilho de excelência feito com as cores das jovens selecções nacionais. Com 26 internacionalizações, num total acumulado através dos diversos escalões de formação, Zeca acabaria por ter no Europeu sub-18 e no Mundial sub-20, ambos disputados em 1993, o ponto mais alto na caminhada ao serviço de Portugal.
No clube, depois da presença no banco de suplentes em 1991/92 e da estreia na época seguinte, o “trinco” fixar-se-ia na equipa principal. Bastaria mais uma temporada para que conseguisse afirmar-se no conjunto funchalense como um dos mais importantes membros do grupo de trabalho. Esse estatuto, alcançado na campanha de 1994/95, transformá-lo-ia num dos nomes listados para disputar a final da Taça de Portugal desse ano. No Jamor, num “onze” arrolado pelo treinador brasileiro Paulo Autuori, o médio entraria de início. Parca sorte para o jogador, pois o Marítimo perderia por 2-0. Igual fortuna teria passados alguns anos. Dessa feita a “saltar” do banco, o atleta voltaria a marcar presença em mais um derradeiro encontro da denominada “Prova Rainha”. Com o FC Porto como adversário, a equipa insular regressaria ao Estádio Nacional em 2000/01 e mais uma vez sairia de Oeiras com uma derrota.
Também o Campeonato e as competições continentais desenhariam a carreira de Zeca. Ao ajudar o clube a atingir o 5º lugar no final de 1992/93, o atleta marcaria presença na primeira participação do Marítimo na Taça UEFA. Apesar de não ter saído do banco de suplentes, a eliminatória disputada frente aos belgas do Royal Antwerp asseguraria ao seu nome um lugar na história do emblema madeirense. Mais adiante, com os “Verde-rubros” a garantir diversos apuramentos, o médio acabaria por ter a oportunidade de entrar em campo nas provas europeias. Nesse sentido, destaque para os inolvidáveis encontros com a Juventus ou os míticos embates com os ingleses do Leeds United.
Por tudo o que já aqui foi dito e vincado pelas 14 temporadas ao serviço do Marítimo, Zeca tornou-se não só numa figura emblemática do clube, como num dos históricos atletas da 1ª divisão. Com as campanhas jogadas pelos funchalenses a coincidirem com os anos passados no mais importante escalão do futebol português, o aguerrido centrocampista ainda vestiria as camisolas de outras 2 colectividades. Já no final da sua carreira e longe do patamar máximo, o Santa Clara e o União da Madeira, numa caminhada que terminaria em 2008, também entrariam no seu percurso profissional.

1093 - JOSÉ MARIA

Partiu de Angola como produto formado no Atlético de Luanda, para chegar a Portugal na temporada de 1962/63. No Vitória Futebol Clube, onde entrou na companhia do irmão Conceição, depressa encontrou um lugar e depois de uma época de estreia bem aceitável, a campanha seguinte revelou José Maria já como um pilar do conjunto setubalense.
Com uma capacidade técnica tremenda e uma propensão ofensiva que o levou a marcar imensos golos, o jovem atleta fez da posição de interior-esquerdo, o lugar ideal para melhor potenciar as suas qualidades. Numa equipa que, ao longo dos anos, ficou recheada de craques, José Maria encontrou a base certa para lançar uma carreira com vários sucessos. Com o emblema a atravessar os melhores anos da sua história, os treinadores Fernando Vaz e José Maria Pedroto transformaram-se nos grandes timoneiros desse apogeu colectivo. Com boas classificações no Campeonato Nacional e as participações nas provas europeias, foi a Taça de Portugal que melhor serviu o êxito dos “Sadinos”. Com o jogador a conseguir ser titular em 4 finais consecutivas, as vitórias obtidas em 1965 e 1967 teriam nos seus golos uma marca muito importante.
Como já aqui foi dado a revelar, a capacidade finalizadora foi um dos seus melhores apanágios e uma das grandes marcas da carreira do atleta. Nesse sentido, José Maria conseguiu inscrever o nome em vários recordes do listado verde e branco setubalense. Sob a égide do Vitória, o médio, para além de ser o futebolista com mais partidas disputadas na 1ª divisão, transformou-se também no melhor marcador sadino na principal competição portuguesa e no detentor de mais golos concretizados pelo clube, nas provas organizadas pela UEFA.
Apesar de uma participação não tão proeminente, José Maria também vestiu a “camisola das quinas”. Por Portugal, a estreia aconteceu pela mão de José Gomes da Silva, em Junho de 1967, numa partida frente à Noruega, referente à Fase de Qualificação para o Euro de 1968. Seguiram-se, entre 1969 e 1970, mais 3 partidas pelo principal conjunto luso. A juntar a esses desafios, o jogador também participou num jogo feito pelas “esperanças” e em outro desafio com a equipa “b”. Curiosamente, num total de 6 internacionalizações, o atleta nunca veio a conseguir marcar um único golo!
Após 14 temporadas ao serviço do Vitória Futebol Clube, todas elas passadas no patamar mais alto do futebol português, José Maria partiu para o Canadá. Numa derradeira aventura competitiva, o médio ainda participou na multimilionária North American Soccer League (NASL). Com as cores dos Toronto Metros-Croatia jogou a última cartada como profissional e com o fim da temporada de 1977, decidiu pôr um ponto final na carreira desportiva.

1092 - RUI FRANÇA

Apesar de um trajecto pintalgado pelas “escolas” do FC Porto e do Boavista, seria a outro emblema da “Cidade Invicta” que a carreira de Rui França ficaria intimamente ligada. Depois de terminar a formação nos “Axadrezados”, o médio ainda passaria pelos seniores do Estarreja. Curta a experiência, visto que, logo no ano seguinte, Rui França viria a ser contratado pelo Sport Comércio e Salgueiros. Essa temporada de 1982/83 transformar-se-ia num marco para o seu percurso futebolístico e o primeiro passo para uma jornada de 11 anos consecutivos a envergar a mesma camisola.
A estreia com as cores do Salgueiros serviria também para o jovem jogador dar os passos iniciais na 1ª divisão. Ainda sem o traquejo necessário à conquista indiscutível da titularidade, os dois primeiros anos em Paranhos, com o de estreia a ser orientado por Henrique Calisto, trariam poucas oportunidades ao atleta. Nesse evoluir, ajudado por algumas mudanças perpetradas no seio plantel, a temporada de 1984/85 marcaria um ponto de viragem. Com o regresso do treinador supranomeado e as saídas dos médios João Silva e Luís Pereira, o lugar no centro do terreno abrir-se-ia para a sua entrada.
A partir da campanha referida no parágrafo anterior, Rui França, muito mais do que passar a jogar com uma regularidade aceitável, começaria a ser tido como um dos pilares do conjunto portuense. À medida da progressão demonstrada pelo médio, a preponderância do futebol praticado por si no sector intermediário salgueirista continuaria a aumentar. Com o virar de uma das mais importantes páginas da história da colectividade, o atleta, sem grande surpresa, transformar-se-ia numa das caras dessa proeza. Em 1990/91, ao ser um dos atletas mais utilizados por Zoran Filipovic, em muito contribuiria para a melhor classificação de sempre do clube na 1ª divisão. Depois do 5º lugar alcançado no Campeonato Nacional, viria a participação do Salgueiros nas provas europeias e a competir na Taça UEFA, Rui França entraria de início nas 2 mãos disputadas frente ao Cannes, emblema francês onde despontava um jovem de nome Zinédine Zidane.
Curiosamente, a época seguinte à da presença nas pelejas continentais, seria a última de Rui França no Salgueiros. Seguir-se-ia, ainda na 1ª divisão, a experiência ao serviço do Beira-Mar. Porém, o fim da sua carreira estava para breve e Rui França, após as passagens pelo Desportivo das Aves e do Cucujães, daria por terminada a caminhada como futebolista. Depois de “penduradas as chuteiras”, no mesmo emblema onde havia tomado a decisão de assumir o final do trajecto enquanto atleta, encetaria a senda como treinador. Nas novas funções, tem trilhado caminho pelos escalões secundários, com a passagem pelo Sporting da Covilhã, Oliveira do Bairro, Coimbrões ou Cesarense, como algumas das jornadas mais emblemáticas.

1091 - FRAGUITO

Por razão da mudança dos pais para o Brasil, a sua paixão pelo futebol seria alimentada com o ingresso nas “escolas” do Fluminense. Regressaria a Portugal já na plenitude da adolescência, mas logo arranjaria abrigo para as habilidades com a bola. No Vila Real, ainda em idade de formação, começaria a jogar pelos seniores. À custa de tanto surpreender os adeptos, alguém faria chegar uma carta à Federação Portuguesa de Futebol a relatar as suas capacidades. Depois de ser chamado para alguns testes, Fraguito agradaria e ainda como atleta do emblema transmontano, começaria a representar os juniores nacionais.
Com tamanha evolução, o Boavista apostaria na contratação do jovem praticante. Com a mudança para o Bessa a acontecer na temporada de 1970/71, a sua capacidade futebolística faria com que não estranhasse o salto competitivo. Utilizado com bastante regularidade por Fernando Caiado e pelos treinadores seguintes, seriam necessárias apenas 2 campanhas com a camisola axadrezada para que conseguisse subir um novo degrau. Com a viagem para Lisboa, o Sporting serviria para sublinhá-lo como um elemento dono de uma mestria ímpar. Com uma excelente visão de jogo e uma técnica estonteante, Fraguito instalar-se-ia em Alvalade para, de forma quase automática, ser proclamado como um grande condutor de jogo. Ao conquistar um lugar de destaque no miolo do sector intermediário, o atleta passaria a ser um dos pilares da equipa e o responsável por alavancar uma série de conquistas.
A vitória em 2 Campeonatos Nacionais e 2 Taças de Portugal tornar-se-iam no grande destaque da sua passagem pelo Sporting Clube de Portugal. Também como elemento do grupo “leonino”, Fraguito conseguiria chegar à principal selecção lusa. Com a estreia a acontecer em Novembro de 1973, essa partida disputada frente à Irlanda do Norte, daria início a uma caminhada que terminaria apenas com 6 internacionalizações*. Poucos jogos para um tão talentoso jogador, dirão alguns! A verdade é que as várias lesões e operações a que teve de sujeitar-se ao longo da carreira, acabariam por afectar muitos aspectos da mesma. Não só ao serviço dos “Leões”, numa afirmação pouco cabal, sairia prejudicado pelas mazelas. Como já deixei adivinhar, por razão da frequência e gravidade dos episódios médicos, foram muitas as chamadas à “equipa das quinas” que acabariam subtraídas ao seu percurso.
Seria muito por culpa da rápida deterioração física que Fraguito, ainda sem completar 30 anos de idade, deixaria o Sporting. Ao fim de 9 temporadas, o médio decidiria ser a altura certa para abandonar os palcos maiores do nosso futebol e, nos escalões secundários e distritais, continuar a alimentar a paixão pela modalidade. Seria nesse contexto que também daria os primeiros passos como treinador. Ao mesmo tempo que desempenha as suas tarefas como funcionário da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro, o antigo médio tem mantido a ligação ao futebol em emblemas de cariz “regional”, mormente associado à formação de novos jogadores.

*incluída a partida que Portugal disputou frente a uma selecção de Goiás, a 09/03/1975

1090 - VALÉRIO

Apesar de ser difícil associar o seu percurso a um só emblema, Valério destacar-se-ia por um rumo solidamente ligado ao principal patamar português. Todavia, os primeiros anos dessa marcha seriam um pouco diferentes do assumido no encetar do parágrafo. Nesse sentido, saído das “escolas” do FC Porto, mas sem espaço para prosseguir a caminhada nas Antas, o defesa viveria as etapas iniciais da carreira futebolística ao serviço do Trofense e do Tirsense.
Mesmo a disputar o 3º escalão, as exibições esgrimidas no clube de Santo Tirso serviriam para catapultar a carreira do jogador. A aposta do Sporting de Espinho na sua contratação, surgiria como resultado das boas prestações do defesa e como o passo decisivo para a entrada na 1ª divisão. Com o ingresso no novo emblema a acontecer na campanha de 1983/84, o atleta, ao assumir uma maturidade espantosa, rapidamente conquistaria um lugar no “onze” inicial. Já na época seguinte e consumada a mudança para o Vitória Sport Clube, mais uma vez conseguiria impor-se à frente de colegas bem mais experientes. Com toda a naturalidade, tanto para o belga Raymond Goethals, como para o técnico António Morais, a sua presença no eixo do sector mais recuado dos vimaranenses tornar-se-ia indispensável e, desse modo, Valério transformar-se-ia numa das figuras de proa das competições lusas.
As chamadas à selecção olímpica, materializadas no começo da segunda metade da década de 1980, serviriam para sublinhar a ideia de Valério como um futebolista de cariz primodivisionário. Essa ideia prolongar-se-ia na sua passagem pelo Marítimo de 1986/87 e, logo na época seguinte, com o início da ligação ao Boavista. Com os “Axadrezados”, numa união de 3 temporadas, o defesa-central seria parte importante do 3º lugar conquistado na campanha 1988/89 e na subsequente participação na Taça UEFA.
No Estrela da Amadora, capítulo seguinte na história do atleta, também a disputa das competições europeias acabaria por colorir o seu currículo. Curiosamente, seria com a colectividade sediada na Reboleira que Valério voltaria ao 2º escalão. Após a descida e com os “Tricolores” a falhar a promoção na temporada de 1991/92, seria à custa de mais uma transferência que o defesa conseguiria retornar aos palcos principais do futebol luso. O regresso ao Tirsense, apesar de promover mais uma campanha no patamar máximo, transformar-se-ia na última experiência primodivisionária do central e, após a campanha de 1992/93, o jogador não mais voltaria ao convívio dos “grandes”.
Ao fazer mais uma mão cheia de temporadas, o Rio Ave e o Maia tornar-se-iam nos derradeiros emblemas da sua carreira de futebolista. Depois de “pendurar as chuteiras”, Valério não estaria muito tempo afastado da modalidade. Com a viragem do milénio, assumiria as tarefas de treinador. Ao desempenhar as ditas funções em emblemas de menor monta, o antigo jogador arrepiaria caminho pelos patamares secundários. Com passagens por diferentes emblemas, seria na experiência vivida à frente do Maia que, na disputa da divisão de Honra, alcançaria os melhores resultados como técnico-principal de um conjunto sénior.

1089 - VERMELHINHO

Nascido Carlos Manuel Oliveira da Silva, conhecido no futebol como Vermelhinho, o avançado emergiria das afamadas “escolas” da Sanjoanense. No emblema do distrito de Aveiro subiria aos seniores. Passaria, depois, pelo Paços Brandão e, finda a cedência, com o regresso à terra do calçado e chapelaria, continuaria a alimentar as suas qualidades ao ponto de, no Recreio de Águeda, conseguirem ver nele as características certas para reforçar o plantel de 1980/81.
Ao subir um patamar na competição, mas ainda na 2ª divisão, o atacante prosseguiria a afinar a velocidade, a técnica e toda uma cadência ofensiva que nele viria a tornar-se famosa. Já a meio da temporada de 1982/83, sem nunca ter disputado o patamar máximo português, veria no FC Porto a maior oportunidade da carreira desportiva. No entanto, na campanha de estreia nas Antas, apenas viria a jogar na Taça de Portugal. Novas chances surgiriam na época seguinte. Nesse sentido, a alteração acabaria por ser significativa e apesar de não ser um jogador da “linha-da-frente”, a utilização regular do extremo-esquerdo conferir-lhe-ia um novo estatuto. Mais cimentado ficaria ainda o seu valor, quando, na caminhada dos “Dragões” até à final da Taça dos Vencedores das Taças de 1983/84, o golo concretizado por si frente ao Aberdeen, selaria a presença do emblema luso na derradeira partida da prova.
Também a selecção portuguesa marcaria o seu percurso competitivo. Sem ter qualquer chamada ao principal conjunto luso, Vermelhinho seria convocado ao grupo que viajaria até França, para competir no Euro 84. Mesmo sem ter disputado qualquer jogo na fase final do certame gaulês, o seu nome manter-se-ia nos planos da equipa nacional. A estreia viria a acontecer pouco tempo depois. Ainda em Junho desse ano, o atleta seria arrolado para a peleja marcada frente à congénere jugoslava e, na disputa desse “amigável”, obteria a primeira de 2 internacionalizações “A”.
Na “Cidade Invicta” o avançado continuaria a trilhar um percurso que culminaria num total de 6 temporadas de “azul e branco”. Pelo meio, o “empréstimo” ao Desportivo de Chaves inscreveria o nome de Vermelhinho na história do emblema transmontano. Com as cores dos “Flavienses”, o extremo-canhoto participaria na inédita campanha europeia. Na Taça UEFA de 1987/88, o atleta jogaria os 4 jogos disputados pelo clube. Já no final desse ano, voltaria ao Estádio da Antas para terminar uma etapa que, ao seu palmarés, somaria uma faustosa série de títulos. Com o destaque a ter de ser dado à conquista da Taça dos Clubes Campeões Europeus de 1986/87, também o seu currículo ficaria colorido pelas vitórias em 2 Campeonatos Nacionais, 1 Taça de Portugal e 2 Supertaças.
Depois de finda a ligação com o FC Porto, o avançado entraria na derradeira fase da carreira. O Sporting de Braga, na temporada de 1989/90, marcaria a sua última campanha disputada na 1ª divisão. Seguir-se-iam, já nos patamares secundários, a passagem pelo Sporting de Espinho e o regresso à Sanjoanense. No emblema de São João da Madeira, de volta à colectividade onde tinha terminado o percurso formativo, Vermelhinho poria um ponto final na caminhada desportiva e, em definitivo, afastar-se-ia do futebol.

1088 - PEDRO ESTRELA

Tinha tanto talento que, mesmo a jogar no desconhecido Marítimo Olhanense, a sua habilidade chamou a atenção dos responsáveis pelo Sporting. Em Lisboa, nos iniciados da equipa leonina, ficou apenas um mês. Voltou ao Algarve pelas saudades que tinha de casa. No entanto, quando de Alvalade voltaram a perguntar por ele, o pai já não permitiu o seu regresso à capital. Não autorizou dessa vez, nem consentiu da próxima. Ao que consta, Pedro Estrela tinha tudo acordado com o Benfica, mas a nova nega deitou por terra outra grande ocasião.
A oportunidade que conseguiu materializar levou-o, já em juniores, ao Olhanense. Nos “Rubro- negros”, logo no ano de estreia viveu um episódio que mostra bem o seu lado estouvado – “Foi uma brincadeira de Carnaval. Uns amigos meus pegaram nuns burros e andámos pela cidade durante a noite. De manhã, amarrei o burro ao pé do balneário e queria ir treinar. O Mário Wilson impediu-me, só lá voltei no dia seguinte (…). Sem o burro, claro”*.
No emblema algarvio, sem nunca escapar aos escalões secundários, fez também as primeiras temporadas na equipa principal. Aliás, esses 4 anos e meio nos seniores do Olhanense só foram interrompidos por culpa de um conterrâneo seu. Manuel Cajuda, com a temporada de 1994/95 a meio, levou o médio para o Minho. No Sporting de Braga, o resto dessa campanha não permitiu ao médio mostrar a sua qualidade. Já daí em diante, tudo foi diferente. Ao ser um jogador com um talento enorme, com uma técnica excepcional e uma visão de jogo acima da média, o atleta veio a perder-se por alguma falta de disciplina táctica. Ainda assim, os anos passados com as cores dos “Guerreiros” tornar-se-iam nos mais proveitosos da sua vida profissional.
Após ter terminado a ligação contratual com o emblema bracarense e depois de falhada a especulada transferência para o Racing Santander, Pedro Estrela acabou por alinhar, ainda na 1ª divisão, pelo Leça. Mesmo sem abandonar o escalão máximo, a verdade é que a carreira do atleta, talvez por razão de tantos episódios insensatos, começou a perder-se. Ainda passou pelo Belenenses. Regressou com o conjunto do Restelo ao patamar primodivisionário e nessa temporada de 1999/00 despediu-se dos palcos maiores do futebol português.
O resto da sua carreira, sempre com a sensação de que podia ter feito muito mais, viveu-a nos escalões secundários. Quase sempre em emblemas de grande tradição em Portugal, casos de Santa Clara, Portimonense, Atlético, Lusitano De Vila Real de Santo António, Farense ou “O Elvas”, o médio nunca conseguiu segurar-se durante muito tempo em cada equipa. Numa altura em que já andava pelas “distritais”, a sua carreira chegou ao fim e os fãs do, autodenominado, “Peter Star” deixaram de ter mais episódios para acrescentar às memórias.

*retirado da entrevista de Rui Miguel Tovar, publicado em https://maisfutebol.iol.pt, a 18/10/2019

1087 - JAIME

Depois de alguns anos nas “escolas” do Atlético, seria a partir dos escalões de formação do Amora que Jaime ou, se preferirem, Jaime Mercês faria a transição para o futebol sénior. Ao contrário de tantos colegas seus, que demoram algum tempo até conseguirem habituar-se à nova realidade competitiva, o impacto que médio haveria de ter no conjunto da Margem Sul, torná-lo-ia numa das boas surpresas dessa temporada de 1981/82. Nem mesmo a disputa da 1ª divisão assustaria o jovem jogador e a qualidade do seu futebol levaria o treinador José Moniz a entregar-lhe a titularidade.
A preponderância que assumiria no seio do seu clube levaria a que, da Federação Portuguesa de Futebol, olhassem para Jaime como um nome seleccionável. Começaria, em 1981, pela equipa de sub-18. No ano seguinte, ainda no mesmo escalão e ao lado de atletas como Paulo Futre ou Morato, disputaria o Europeu da categoria. Porém, e apesar de uma caminhada rica nas camadas jovens da “Equipa das Quinas”, o atleta não ficaria por aí. Ainda na Fase de Qualificação para o Mundial de 1986, numa partida frente a Malta, o médio jogaria a primeira partida pelo principal conjunto de Portugal. Depois do Campeonato do Mundo disputado no México, voltaria a ser chamado e acabaria por colorir o seu currículo com um total de 9 internacionalizações “A”.
A segunda metade da década de 80, enriquecida pelo percurso com as cores da selecção, acabaria também por estar intimamente relacionada com outro emblema. Ao ser impossível de dissociar o sucesso da sua carreira ao tempo que o médio partilhou com o Belenenses, a passagem do jogador pelo Restelo não pode ser esquecida. Nesse sentido, no prolongar da sua estadia na 1ª divisão, os “Azuis” ajudariam o atleta a cimentar-se como um ilustre elemento do futebol luso. Titular indiscutível e dono de uma qualidade que, no centro ou na direita, faziam dele um futebolista de qualidade superior, Jaime tornar-se-ia numa das figuras icónicas das provas lusas. Para tal, muito contribuiriam os méritos alcançados colectivamente. Os mais mediáticos acabariam por ser a presença na final do Jamor de 1985/86, a conquista da Taça de Portugal de 1988/89, o 3º lugar no pódio de 1987/88 e as presenças nas competições sob a alçada da UEFA.
Numa carreira que não esteve muito longe de chegar aos 40 anos de idade, os últimos anos da mesma seriam passados longe dos palcos principais. Depois de, na condição de “capitão”, ter abraçado a descida do Belenenses à divisão de Honra, seria nesse escalão, e noutros mais abaixo, que daria continuidade à sua actividade profissional. Vitória Futebol Clube, Ovarense, Amora, Desportivo de Beja e Atlético preencheriam essa derradeira etapa. Curiosamente, as últimas épocas no “futebol 11” seriam feitas em paralelo com as suas participações na variante de praia. Nos areais, Jaime vestiria as camisolas do Amora, Belenenses e, com a passagem pelo Mundial e Mundialito, representaria também a selecção de Portugal.
No rescaldo de um percurso indiscutivelmente rico, talvez tenha faltado a Jaime materializar uma pequena história – “Quando estava no Belenenses cheguei a assinar um contrato por três épocas com o Benfica, mas depois não me deixaram sair. Antes, no Amora, aconteceu uma situação idêntica. Mas não me queixo”*.

*retirado do artigo de José Manuel Paulino, publicado em www.record.pt, a 09/03/2000

1086 - MATINE

Descoberto, pelo Benfica, no Central de Lourenço Marques, Augusto Matine chegaria a Lisboa corria o ano de 1967. Já integrado na equipa da “Luz”, o médio, exceptuando algumas aparições pelo grupo principal, começaria por jogar nas “reservas”. Com a promoção ao conjunto “A” a acontecer, de forma definitiva, na temporada de 1969/70, a vitória na Taça de Portugal desse ano, acrescentaria ao seu currículo o grande primeiro troféu.
A sua relação com as “Águias” teria a vantagem dos títulos vencidos. Ainda assim, apesar de ter ganho mais 2 Campeonatos Nacionais ao serviço dos “Encarnados”, seria com as cores de outro clube que o jogador mais conseguiria destacar-se. Essa visibilidade, usufruída nos anos passados ao serviço do Vitória Futebol Clube, coincidiria com um dos melhores períodos da história dos “Sadinos”. Como um dos indiscutíveis do conjunto setubalense, os lugares cimeiros alcançados na principal prova lusa e as subsequentes participações nas provas organizadas pela UEFA, tornar-se-iam numa montra de enorme importância para o seu percurso profissional.
Outro escaparate, ainda que de uma relevância diferente para a sua caminhada desportiva, seria a equipa nacional portuguesa. Com a estreia a acontecer ainda no tempo em que Matine vogava por Lisboa, dois terços das suas 9 internacionalizações surgiriam enquanto atleta do Vitória. Com a “camisola das quinas”, sem que tenha participado num dos grandes torneios organizados para selecções, o médio acabaria por fazer parte de um grupo que ficaria famoso. Ao participar em 4 jogos da Taça da Independência de 1972 (Mini-Copa), Matine ajudaria Portugal a ultrapassar as poderosas equipas da Argentina ou da União Soviética. Acabaria por não participar na final e, no Maracanã, veria os seus colegas perder frente ao conjunto da casa.
Com a primeira metade da carreira a caracterizar-se pela alternância entre o Benfica e o Vitória Futebol Clube, já a última parte emergiria mais discreta e, na quase totalidade, longe dos palcos maiores do futebol luso. Com uma derradeira passagem pela 1ª divisão a acontecer na temporada de 1976/77, ao serviço do Portimonense, Matine ainda disputaria outra meia dúzia de épocas. Lusitano de Évora, Desportivo das Aves, Estrela da Amadora e Torralta tornar-se-iam, dessa maneira, nos emblemas da referida etapa final.
Alguns anos após deixar os relvados, Matine passaria a dedicar-se às tarefas de treinador. Ao dar os primeiros passos no Estrela da Amadora, a parte maior do seu trajecto enquanto técnico cumpri-lo-ia em Moçambique. De regresso à terra natal, o antigo internacional orientaria a selecção moçambicana e emblemas como o Ferroviário e o Desportivo de Maputo.

1085 - JACINTO

Surgiria na equipa principal do Leixões no início da década de 1960 e a tempo de participar num dos episódios históricos do conjunto de Matosinhos. Apesar de pouco ter jogado nessa época de 1960/61, a sua evolução levaria o treinador Filpo Nuñez a arrolá-lo como titular na final da Taça de Portugal. No Estádio das Antas, Jacinto surgiria como uma das surpresas do “onze” inicial. Porém, o espanto maior surgiria com o desenrolar da partida e contra o favoritismo do FC Porto, os de vermelho e branco sairiam vencedores.
No seguimento desse feito, surgiria a participação na Taça dos Vencedores das Taças. Já como um dos pilares da equipa, o defesa voltaria a ser essencial na progressão colectiva. Ao participar em todas as 6 partidas, Jacinto ajudaria o Leixões a atingir os quartos-de-final da prova. Na sequência de tamanha glória, o atleta começaria a ser visto, por equipas de outra monta, como um bom reforço. O Benfica, posicionando-se à frente de outros concorrentes, acabaria por contratar o jovem futebolista na temporada de 1962/63. Contudo, numa equipa que tinha acabado de consagrar-se bicampeã europeia, a concorrência seria feroz. Tal facto, levaria o jogador a ser visto como uma solução de segunda linha e, durante alguns anos, manter-se-ia na sombra de nomes como Cavém, Germano, Cruz, Ângelo ou Luciano.
Ao passar 9 anos de “Águia” ao peito, a última metade desse período, revelaria Jacinto como um elemento de bastante preponderância no seio do grupo “encarnado”. Nesse crescimento, apesar de ter participado nas campanhas que levariam o Benfica à final de 2 edições da Taça dos Clubes Campeões Europeus, só em 1968 é que Jacinto lograria participar na derradeira peleja da prova. Apesar do título perdido frente ao Manchester United, troféus não faltariam ao atleta e no Benfica, o defesa enriqueceria o palmarés pessoal com mais 7 Campeonatos Nacionais e 2 Taças de Portugal.
Também com as cores da selecção portuguesa, Jacinto trilharia o seu caminho. Não tendo tantas chamadas como muitos dos contemporâneos colegas de equipa, ainda assim, o defesa conseguiria chegar à principal selecção lusa. Tendo também participado nos elencos da equipa “b” e sub-21, a primeira chamada “A” surgiria já no rescaldo da participação dos “Magriços” no Campeonato do Mundo. Convocado por Manuel da Luz Afonso e orientado por Otto Glória, a sua estreia com a “camisola das quinas” aconteceria em Novembro de 1966, numa partida frente à Suécia. Passar-se-iam quase 2 anos até conseguir nova oportunidade e, na campanha de apuramento para o Mundial de 1970, registaria as outras 4 internacionalizações.
Depois de ter deixado o Benfica em 1971, Jacinto, ao dividir a campanha seguinte em duas partes, ainda faria mais uma temporada. Curiosamente, depois do regresso ao Leixões, o defesa, já no decorrer da época de 1971/72, abandonaria o emblema em que tinha sido formado, para, com as cores do FC Porto, dar por findo um percurso de 12 anos que, como futebolista, só conheceu a 1ª divisão.

1084 - HERNÂNI

Já a trabalhar com os seniores desde a temporada anterior, Hernâni estrear-se-ia pela equipa principal do Vitória Futebol Clube na campanha de 1982/83. Porém, mesmo visto como um jovem de imenso potencial, o médio, nos anos seguintes, não jogaria com regularidade. Depois de 3 épocas em que poucas vezes apareceria inscrito na ficha de jogo, o empréstimo ao Farense dar-lhe-ia a oportunidade para desenvolver as suas qualidades. A passagem pelo Algarve teria bons resultados e, no regresso ao Estádio do Bonfim, o atleta apresentar-se-ia com uma força bem diferente.
De volta ao plantel sadino na temporada de 1986/87, o “trinco” depressa assumiria uma posição preponderante nas manobras da equipa. Na sequência do seu papel como titular, também os responsáveis técnicos da Federação Portuguesa de Futebol haveriam de ver em Hernâni um elemento de valor. Chamado a jogo por Juca, a sua estreia com a camisola da principal da selecção portuguesa aconteceria em Dezembro de 1987, numa partida da fase de qualificação para o Euro 88. Alguns meses após essa internacionalização, o médio daria outro passo importante na carreira e, resultado do crescimento demonstrado, o Benfica decidir-se-ia pela sua contratação.
O período passado com os “Encarnados” até começaria de feição. A jogar com satisfatória frequência, o término da 2ª temporada na “Luz” traria um dos momentos mais altos ao seu trajecto desportivo. Com o Benfica a trilhar uma caminhada irrepreensível na Taça dos Clubes Campeões Europeus de 1989/90, a presença do emblema português na final, revelaria Hernâni no alinhamento inicial. Na partida disputada em Viena frente ao AC Milan, as “Águias” acabariam por perder o jogo. Ainda assim, mesmo a contar com a derrota na Áustria, os 6 anos ao serviço do emblema lisboeta trariam outros troféus ao palmarés do atleta e as vitórias em 3 Campeonatos Nacionais e 1 Taça de Portugal serviriam para elevar o currículo do médio.
Apesar de reconhecidas as suas qualidades e de surgir sempre em campo como alguém de grande bravura, a verdade é que a passagem de Hernâni pelo Benfica ficaria aquém das espectativas. Muito assolado por lesões, o jogador, nas 4 últimas temporadas de “Águia” ao peito quase não entraria em campo. Mas nisso de maus momentos, o médio passaria também por outro episódio bem negativo. Ainda na temporada de estreia na “Luz”, o atleta acusaria positivo num controlo antidoping e após serem descobertos vestígios de cocaína nas análises à urina, o jogador seria castigado com 3 meses de suspensão.
Depois de deixar o Benfica em 1994, o regresso ao Vitória Futebol Clube e uma posterior experiência no Desportivo de Beja, marcariam a última fase da sua carreira. Para ser rigoroso, o ano de 1997 assinalaria, não o fim da sua passagem pelo desporto, mas a mudança do “futebol de 11” para o futebol de praia. Já na areia, Hernâni tornar-se-ia num dos grandes dinamizadores da emergente modalidade. Ao vestir, a nível das competições de clubes, as camisolas do Benfica e dos italianos do Cavalieri del Mare, seriam, no entanto, as cores de Portugal que elevariam o “fixo” à condição de estrela. Pela selecção, muitas vezes com a braçadeira de “capitão”, ajudaria a conquistar vários títulos internacionais. Claro que o destaque terá que ser dado ao Mundial de 2001. No certame disputado no Brasil, para além de ter ajudado à vitória colectiva, Hernâni haveria de ser eleito como o Melhor Jogador do torneio. Ainda com as insígnias lusas, venceria também 3 Ligas Europeias, 6 Taças da Europa, 1 Copa Latina e 2 Mundialitos.
No final da primeira década do novo milénio, Hernâni afastar-se-ia da vida de praticante. A partir de 2010, já a cumprir funções técnicas e de regresso à variante disputada nos relvados, passaria pelo Vitória Futebol Clube e, posteriormente, pelo Farense.

1083 - PAULO DUARTE

Com o percurso formativo a cumprir-se com as cores do Boavista, haveria de ser a União de Coimbra a abrir-lhe as portas do patamar sénior. Com o referido passo dado na 2ª divisão de 1987/88, seria nesse mesmo escalão que Paulo Duarte competiria nos anos vindouros. Nesse correr, seguir-se-ia a União de Leiria. Ainda sem alcançar o degrau máximo do futebol português, a primeira passagem do defesa-central pela “Cidade do Lis” permitir-lhe-ia evoluir. O crescimento demonstrado durante essas 3 temporadas aguçariam o apetite de outros emblemas e o resultado saldar-se-ia pela sua transferência para o Salgueiros.
A ida para Paranhos, quando contava 22 anos de idade, encetaria um longo périplo pelo escalão máximo. Durante mais de uma década, com a excepção de uma curta despromoção à divisão de Honra, Paulo Duarte vogaria pelos principais palcos do futebol nacional. As 2 épocas passadas no emblema portuense e outras 2 com as cores do Marítimo transmitiriam a ideia de um jogador com características fiáveis e permitir-lhe-iam alcançar o estatuto de atleta primodivisionário. Com nova mudança para Leiria, o “status” alcançado nas campanhas anteriores torná-lo-iam num dos pilares do plantel e, ao ser uma das figuras mais importantes do emblema leiriense, em muito contribuiria para cimentar a equipa beirã como um conjunto de topo.
Ao conseguir, quase sempre, ser eleito para o “onze” inicial, Paulo Duarte sublinharia o seu peso na estratégia montada pelos diversos treinadores que, durante 9 anos consecutivos, orientariam o jogador na União de Leiria. A regularidade das suas aparições torná-lo-iam num dos ícones de etapas memoráveis. Às participações na Taça Intertoto e na Taça UEFA, juntar-se-iam as temporadas de 2000/01 ou 2002/03, onde o conjunto conseguiria o 5º posto no Campeonato Nacional. Na senda de glórias, há também que fazer referência para a sua presença na final da Taça de Portugal de 2002/03 e na Supertaça Cândido de Oliveira disputada na época seguinte.
O Verão de 2004 marcaria a sua passagem para as funções de técnico. Como adjunto, daria os primeiros passos na União de Leiria. Ainda na agremiação da Beira Litoral, em 2006/07 teria a oportunidade de estrear-se como treinador-principal. Pouco mais tempo estaria em Portugal. Em 2008, depois de, várias vezes, ter recusado o repto lançado por Ousséni Zongo, seu antigo pupilo no emblema leiriense, Paulo Duarte assumiria o comando da selecção do Burkina Faso. Pela nação africana, com diversas passagens, participaria em 3 edições da CAN. Em 2017, no âmbito do referido certame, o antigo defesa conseguiria uma verdadeira proeza e levaria os seus discípulos ao 3º lugar do pódio.
Por entre as experiências na selecção do Burkina Faso, Paulo Duarte acumularia outros trabalhos. O Le Mans, na francesa “Ligue 1”, a selecção do Gabão ou os tunisinos do CS Sfaxien, tornar-se-iam nesses referidos projectos. Já para esta temporada de 2020/21, sem nunca deixar o continente africano, Angola acabaria por revelar-se como o seu destino e o 1º de Agosto no novo desafio do treinador português.

1082 - DOUGLAS

Seria no Cruzeiro, entre as “escolas” e a equipa profissional, que Douglas cumpriria grande parte do trajecto desportivo. Já no início da década de 1980, depois de completar a formação, o médio chegaria à categoria principal e rapidamente conquistaria um lugar de destaque. Para a campanha de 1982, a 2ª temporada do atleta no conjunto sénior, assumir-se-ia como um dos elementos mais utilizados no emblema de Belo Horizonte. Essa evolução levá-lo-ia também a entrar nas contas da Confederação Brasileira de Futebol (CBF). Com as cores da selecção, em 1983, participaria no afamado Torneio de Toulon. Porém, o melhor viria a acontecer e ainda no ano do aludido certame francês, incluído no “Escrete”, disputaria a Copa América.
Ao consagrar-se como um médio completo, mordaz a defender e elegante com a bola nos pés, o jogador manter-se-ia como um dos pilares da equipa. Ainda que com o Cruzeiro longe dos títulos nacionais e internacionais, a qualidade que Douglas continuaria a demonstrar dentro de campo, faria com que o seu nome, com regularidade, fosse inscrito nas convocatórias para a selecção do Brasil. Esse facto transformar-se-ia num tónico importante para a sua promoção. Com o avançar da sua carreira, os especulados interesses vindos da Europa começariam a crescer e não tardaria muito para que a mudança tomasse lugar.
Após ajudar à vitória nas edições de 1984 e de 1987 do “Estadual” de Minas Gerais e de, no último dos anos referidos, ter também repetido a presença na Copa América, Douglas começaria a preparar-se para outros desafios. Depois de uma curta passagem pela Portuguesa dos Desportos, ao médio chegaria uma proposta vinda de Itália. Porém, com tudo acordado com um emblema da “Serie A”, os planos alterar-se-iam – “Na época tinha tudo acertado para ir para o Torino através do Juan Figger. Ia eu e o Muller. E o Silas e o Edu iam para o Sporting (…). Lá conseguiram convencer o Figger e o Torino e fez-se a troca: fui eu para o Sporting e o Edu para o Torino (…). Eu sabia que o Torino dificilmente ia conquistar títulos e no Sporting tinha mais possibilidades. Era uma equipa grande, como o Cruzeiro”*.
Cumprido o câmbio, Douglas chegaria a Alvalade para a temporada de 1988/89. Apesar da forte concorrência no miolo do terreno, o médio afirmar-se-ia como um elemento de grande preponderância. Durante 4 temporadas jogaria com bastante regularidade. Contudo, a sua passagem por Portugal não ficaria isenta de polémicas. Com um penteado diferente, a camisola por fora dos calções e a meias ao fundo das canelas, o atleta, por culpa do visual, acabaria transformado num bode expiatório. Ainda que longe de qualquer falha, alguns sectores da imprensa insistiriam em apontá-lo como o culpado para os parcos resultados colectivos. Injustiças à parte, a verdade é que para a maioria dos adeptos leoninos, o médio seria visto como um dos bons elementos do plantel.
Em 1992, Douglas deixaria Alvalade para voltar ao Brasil. De regresso ao Cruzeiro, o médio faria parte de uma época de grande sucesso para o clube. Aliás, a sua presença, muito mais do que importante, seria fulcral. Prova desse seu valor, seria o apreço mostrado pelos outros membros do plantel. Por entre a conquista de vários títulos, onde podem ser incluídos os Campeonatos Mineiros de 1992 e 1994, a Copa Brasil de 1993 e a Supercopa Libertadores de 1992, o jogador viveria um episódio curioso. Perto de terminar o contrato, a direcção do clube parecia não mostrar grande assertividade no momento de renovar a ligação. Nesse impasse, seriam os próprios colegas que, perante os responsáveis da colectividade, acabariam por exigir o selar de um novo vínculo.
Com o fim da temporada de 1995, e depois de um ano com as cores do Ponte Preta, o atleta tomaria a decisão de terminar a carreira de futebolista. Ao passar a dedicar-se à produção pecuária, o antigo médio, durante largos anos, afastar-se-ia do desporto. Porém, essa separação haveria também de conhecer o final. Já no novo milénio, Douglas haveria de aceitar um novo desafio. Ao conciliar a actividade agrícola com os afazeres de treinador, orientaria o Itaúna e, posteriormente, o Jataiense.

*retirado do artigo de João Tiago Figueiredo, publicado em https://maisfutebol.iol.pt, a 26/05/2016