1131 - CONHÉ

Cumprida a formação no Grupo Desportivo da CUF, na hora de subir ao escalão sénior, Conhé seria cedido a uma colectividade vizinha. Ao entrar no Luso do Barreiro em 1963/64, as 4 temporadas passadas na 2ª divisão iriam surtir o efeito desejado. Satisfeito o objectivo de ver o jovem atleta ganhar traquejo, na hora de regressar ao emblema “fabril”, a obrigação do Serviço Militar iria levá-lo até ao Ribatejo. Com a distância a impedi-lo de jogar pelo colectivo barreirense, a solução para a sua carreira encontrá-la-ia no União de Tomar.  
Com o emblema sediado nas margens do Rio Nabão a abrir-lhe as portas na temporada de 1967/68, Conhé, depois de ajudar à subida de divisão, acabaria por fazer a estreia no principal escalão do futebol luso. Mesmo ao passar largos períodos na sombra de outros colegas, nomeadamente de Arsénio, a campanha de 1969/70 mostraria um guardião já bem adaptado às exigências das provas maiores. Nesse sentido, o regresso à CUF na época de 1970/71 mantê-lo-ia como titular. Aos poucos, o guarda-redes transformar-se-ia num dos grandes nomes das balizas nacionais. Esse estatuto faria com que chegasse a receber a convocação para representar os sub-21 e os “AA” portugueses. Não tendo conseguido jogar pela selecção principal, entrariam para o seu currículo as 2 internacionalizações pelas “esperanças”.
No conjunto do Lavradio, sempre como um elemento indiscutível do “onze”, Conhé passaria 6 temporadas. O seu crescimento faria com que começasse a ser bastante cobiçado por emblemas de outra monta. Tendo sido, ainda com o atleta em tenra idade, veiculado o interesse do Benfica na sua contratação, dessa feita, surgiria o FC Porto como o destino provável do guardião. A verdade é que, com tanto movimento de bastidores, acabaria por ser o Sporting a convencê-lo a mudar de ares. Com a entrada em Alvalade a acontecer na temporada de 1976/77, nem mesmo a pressão de substituir Vítor Damas levaria o jogador a claudicar. Ao agarrar-se à titularidade durante a primeira metade da época, o guarda-redes viria a perder o lugar na equipa. Especulou-se muito sobre a causa do seu brusco afastamento e, no ar, ficaria a ideia de um desentendimento com a direcção leonina, por razão das melhorias salariais exigidas pelo futebolista.
Já com 32 anos de idade, seguir-se-ia o Sporting de Braga. No norte do país, os níveis exibicionais do guarda-redes manter-se-iam em bom patamar, o que ajudaria o clube a voos maiores. Logo na época de estreia pelos “Arsenalistas”, o 4º lugar no Campeonato Nacional de 1977/78 apuraria a equipa para as provas continentais. Após ter feito a estreia nas competições europeias pela CUF, também pelos “Guerreiros” participaria na Taça UEFA. Sob a alçada de Fernando Caiado, Conhé jogaria as 4 partidas disputadas pelos minhotos, não conseguindo, no entanto, evitar a eliminação aos pés dos ingleses do West Bromwich Albion.
O último emblema do seu trilho enquanto futebolista seria o Portimonense. Com outras 2 épocas disputadas pelo emblema do Barlavento algarvio, Conhé, num longo percurso, terminaria a caminhada como praticante com o excelso número de 14 temporadas na 1ª divisão. Depois de “penduradas as luvas” no final da campanha de 1981/82, o antigo guardião passaria a dedicar-se às tarefas de treinador. Como técnico principal ou adjunto, ainda que com interessantes passagens por emblemas como o Beira-Mar, Montijo ou os espanhóis do Badajoz, a sua carreira tem estado maioritariamente ligada ao Vitória de Setúbal.

1130 - DUÍLIO

Duílio Dias, para além de herdar o nome, haveria de dar os primeiros passos no futebol ao serviço do emblema que já tinha notabilizado o seu pai. No entanto, ao contrário do progenitor, famoso pelos golos, seria no centro da defesa que, durante largos anos, haveria de mostrar os seus dotes desportivos.
Depois de completar a formação no Coritiba, seria também no conjunto do Paraná que o jovem jogador, na segunda metade da década de 70, faria a transição para o escalão sénior. Durante as temporadas passadas com a camisola do “Coxa” ajudaria à vitória nas edições de 1976, 1978 e 1979 do Campeonato Estadual. Os títulos conquistados catapultariam a sua carreira e seguir-se-iam as experiências na Portuguesa dos Desportos e no América do Rio de Janeiro. No entanto, seria noutro emblema “carioca” que Duílio, a partir da campanha de 1983, viveria os melhores anos do seu percurso profissional.
Apesar da entrada num plantel com nomes bem conhecidos do público português, casos de Ricardo Gomes e Branco, Duílio conseguiria impor-se no Fluminense. Como um defesa possante e com habilidade para os livres-directos, a sua presença regular no “onze” “tricolor” seria decisiva para que a equipa alcançasse importantes troféus. Porém, após a conquista do Campeonato Carioca de 1983 e 1984 e do “Brasileirão” de 1984 dar-se-ia a separação entre o atleta e o clube – “Eu era o capitão da equipa, tinha recebido duas convocatórias para a selecção do Brasil, mas continuava a ser um dos jogadores com o salário mais baixo. Falei com presidente, disse que havia a proposta de um clube grande e que precisava de fazer o meu pé-de-meia. Senti que o Fluminense só valorizava os avançados, os extremos e os médios atacantes. Era o momento certo para sair”*.
Seguir-se-ia o Sporting. Contudo, a adaptação ao futebol europeu faria com que o atleta, tapado por Venâncio e Morato, demorasse um pouco mais a impor-se. Com a temporada de estreia em Portugal a correr de forma discreta, aos poucos, o defesa conseguiria ganhar um lugar na equipa leonina. Nesse percurso e depois da chegada em 1985/86, a Supertaça de 1987/88 pautar-se-ia como o único título do central nos 3 anos passados em Alvalade. Ainda assim, Duílio viveria a glória de um dos episódios míticos da história dos “Leões”. Convocado pelo técnico Manuel José para a 14ª ronda de 1986/87, o jogador marcaria presença na vitória frente ao Benfica por 7-1 – “Entrei nesse dérbi, joguei os últimos 25 minutos. Estava 5-1 quando entrei. Participei nos últimos dois golos e tenho a certeza de que se o jogo durasse mais dez minutos seriam oito, nove ou dez”*.
Com a entrada de Jorge Gonçalves para a presidência do Sporting, Duílio seria dispensado. Escolheria o Estrela da Amadora para prosseguir a carreira e em boa hora o faria. Já a cumprir a segunda temporada com o conjunto da Linha de Sintra, ajudaria o clube a atingir o derradeiro desafio da Taça de Portugal. Ao jogar de início na final e na finalíssima, para além de contribuir para a inédita vitória do seu emblema, a condição de capitão de equipa faria com que fosse ele a receber e a erguer o troféu na tribuna do Estádio do Jamor.
No que restaria da sua carreira em Portugal, e a militar nos escalões secundários, tempo ainda para vestir as camisolas da Ovarense e do Portimonense. No regresso ao seu país, depois de terminada a carreira como futebolista, Duílio passaria a dedicar-se às tarefas de técnico. Com passagens pelos portugueses do Machico, e por equipas do Cazaquistão e do Kuwait, tem sido no Brasil que tem trilhado grande parte do seu percurso como treinador. Hoje em dia (2021), já a trabalhar nas “escolas” do clube desde 2018, é o Coordenador de Formação do Fluminense.

*retirado da entrevista de Pedro Jorge da Cunha, publicada em https://maisfutebol.iol.pt, a 24/09/2020

1129 - CAPITÃO-MOR

Natural de Beja, tal como tantos outros alentejanos à procura de uma vida melhor, Manuel Francisco Cambado Capitão-Mor acompanharia os pais na mudança da família para o Barreiro. Na Margem Sul do Rio Tejo, ainda adolescente, daria os primeiros passos no “jogo da bola”, ao ingressar nas camadas de formação do Luso Futebol Clube. Seria também no histórico emblema que, na temporada de 1962/63, faria a transição para o patamar sénior.
Tendo começado na 2ª divisão, apesar das boas exibições, o avançado manter-se-ia pelos escalões inferiores ainda durante algumas épocas. Depois de 4 temporadas a jogar com as cores do Luso, a mudança para o Sporting de Espinho na campanha de 1966/67, dar-lhe-ia uma maior visibilidade. Ainda que a disputar o patamar secundário, a sua passagem de um ano pelos “Tigres da Costa Verde”, traria à carreira do atacante o impulso necessário à mudança de paradigma. A aposta, mais uma vez, surgiria vinda do Barreiro mas, dessa feita, a cargo de outra colectividade.
Atleta da CUF a partir da época de 1967/68, os anos vindouros transformariam Capitão-Mor num dos grandes nomes da equipa fabril e do panorama futebolístico português. Ao estrear-se sob a alçada do treinador Anselmo Fernández, técnico responsável pela vitória do Sporting Clube de Portugal na Taça dos Vencedores das Taças, a referida temporada representaria para o atacante os passos inaugurais na 1ª divisão e, com a participação do clube na Taça das Cidades com Feira, a primeira presença do avançado-centro nas competições organizadas pela UEFA. Também nessa época inicial passada no patamar máximo, o jogador deixaria a sua marca ao agarrar a titularidade e, com o lugar assegurado no “onze” inicial, ao tornar-se no melhor marcador do conjunto barreirense no Campeonato Nacional. Aliás, esse estatuto, o de goleador máximo da equipa da CUF mantê-lo-ia na temporada seguinte. Já a afirmação do jovem Manuel Fernandes, sem nunca pôr em causa a sua presença no balneário, acabaria por beliscar, ao de leve, o estatuto do ponta-de-lança.
Ainda com a ligeira perda de preponderância, Capitão-Mor manter-se-ia como um dos atletas mais utilizados nos desafios lançados ao Grupo Desportivo da CUF. Nesse sentido, como uma das figuras de proa do conjunto, o avançado entraria para a história do emblema sediado no Lavradio. Durante 8 temporadas consecutivas e sempre a disputar o patamar máximo, tornar-se-ia numa referência no ataque às balizas adversárias. Com o Estádio Alfredo da Silva a servir como segunda casa para o jogador, o seu nome acabaria eternizado na mente dos adeptos do futebol. Para tal, muito contribuiria a sua atitude deveras comprometida. Característica essa que, aliada a mais de uma centena e meia de partidas disputadas na 1ª divisão, haveriam de cimentá-lo aos olhos de fãs, técnicos e colegas, como um elemento exemplar.
Já na derradeira etapa da caminhada enquanto futebolista, Capitão-Mor deixaria o emblema mais representativo da sua carreira e o que, em abono da verdade, o notabilizaria. Ao separar-se da CUF no final da temporada de 1974/75, o avançado viajaria para o norte do país para representar outra agremiação. Com contrato assinado pelo Paços de Ferreira, o futebolista, na 2ª divisão, cumpriria mais 3 campanhas e daria por terminado o seu trajecto como atleta de alta-competição depois da época de 1977/78.

1128 - DAVID JÚLIO

Filho de um antigo jogador de futebol, David Julius conseguiria do pai não só o mesmo nome, como as primeiras chuteiras e o óbvio gosto pela modalidade. Mesmo enfrentando a resistência da mãe, que tudo faria para impedir o rebento de seguir tal paixão, a verdade é que todo o esforço feito nesse sentido seria infrutífero e o Gold Fields transformar-se-ia no primeiro emblema do jovem praticante.
Com o desaparecimento do referido clube, o médio ingressaria no Blue Haway. Ao caracterizar-se por um atleta de enorme robustez, resistência e com uma técnica apuradíssima, rapidamente conseguiria ser chamado à selecção Joanesburgo. Com as cores da sua terra natal, acabaria por ir jogar contra a congénere da Cidade do Cabo. Contudo, a partida, mais do que correr mal, terminaria em enorme polémica. Com o conjunto do nordeste da África do Sul a ser humilhado, logo foi levantado um inquérito à paupérrima exibição. O relatório iria apontar o dedo a alguns dos seus colegas de clube. Conclusão: atletas irradiados, clube suspenso e os restantes jogadores libertados das obrigações com a castigada agremiação.
Com a necessidade de encontrar uma solução para a carreira, surgiria a oportunidade de, ao lado de outros futebolistas, criar uma nova colectividade. O Yorkshires, apesar da recente fundação, depressa tomaria uma grandeza incrível e, logo no ano de estreia, sagrar-se-ia campeão no “regional” do Transvaal. Com David Julius a pautar-se como um dos elementos de maior destaque na nova equipa, as chamadas à selecção de Joanesburgo continuariam a surgir com naturalidade. Na sequência de um desses momentos, dessa feita no âmbito de um torneio entre as diferentes regiões do país, as exibições do centrocampista levá-lo-iam à equipa nacional. Pela África do Sul vincaria a sua valia. Entre 4 internacionalizações e como prémio da exemplar postura revelada dentro de campo, o médio chegaria a envergar a braçadeira de “capitão”.
No galgar das diferentes etapas do seu percurso competitivo, a selecção de Joanesburgo iria, mais uma vez, desempenhar um papel de enorme importância. Numa digressão em Moçambique, o atleta seria observado por alguém com ligações ao Belenenses. Depois de uma resposta positiva à pergunta sobre uma hipotética transferência para o emblema lisboeta, o acidental “olheiro” entraria em contacto com os da “Cruz de Cristo”. Para grande espanto, de Portugal viria a indicação que não havia interesse algum na contratação do jogador. Com a surpreendente recusa, seria a mesma pessoa a indicá-lo ao Sporting de Lourenço Marques que, em Fevereiro de 1957, abriria as portas ao craque sul-africano.
Com as exibições a destaca-lo dos demais colegas de equipa, em Junho de 1957 dar-se-ia a sua transferência para o Sporting Clube de Portugal. Em Alvalade depressa alcançaria um lugar no “onze” titular. As suas qualidades, aliadas a uma polivalência que dava David Julius apto para desempenhar funções na defesa ou em várias posições do sector intermediário, fariam dele um importante elemento no conjunto leonino. Como um dos mais chamados à equipa inicial, o atleta, logo na temporada de chegada, ajudaria à vitória no Campeonato Nacional. Seguir-se-iam no seu e no palmarés do clube, o Campeonato de 1961/62, a Taça de Portugal do ano seguinte e, para terminar, a inolvidável conquista da edição de 1963/64 da Taça dos Vencedores das Taças.
Pelo meio, obtida a nacionalidade portuguesa, o jogador, rebaptizado como David Júlio, passaria a envergar a “camisola das quinas”. A par do seu colega no Sporting, o defesa Lúcio, o médio transformar-se-ia no primeiro atleta naturalizado a jogar pela equipa nacional lusa. Sob a alçada de José Maria Antunes estrear-se-ia num amigável frente à República Federal da Alemanha. Depois de encetar caminho por Portugal na partida disputada a 27 de Abril de 1960, seguir-se-iam outras chamadas que, até 1962, iriam colorir a sua carreira com mais 4 internacionalizações.
Na metade inicial da 7 época ao serviço dos “Leões”, o médio decidir-se-ia pela saída. Com o derradeiro jogo de verde e branco a ser disputado em Novembro de 1963, o futebolista partiria em direcção aos Estados Unidos da América. Nem mesmo ao fixar-se do outro lado do Atlântico, David Júlio deixaria esmorecer a paixão pelo futebol e, já na condição de treinador-jogador, representaria ainda o Philadelphia Ukrainians.

PS: existem referências, que não consegui confirmar, da sua passagem pelos sul-africanos do Hearts FC.

1127 - JOSÉ SIMÕES


Depois da entrada para as camadas de formação do Belenenses, a temporada de 1929/30, ainda que nas categorias inferiores, daria início à caminhada de José Simões nas equipas seniores dos “Azuis”.  
Ao caracterizar-se como um atleta veloz, ágil, com grande resistência e dono de um enorme sentido posicional, o defesa-direito começaria a ficar conhecido pela sua habilidade em antecipar-se aos adversários. Tais apanágios levá-lo-iam, na temporada de 1931/32, a encetar labores pela equipa principal, à altura denominada categoria de honra. Como um dos mais importantes elementos do grupo de trabalho, logo nessa campanha de estreia, José Simões ajudaria o Belenenses a vencer o Campeonato Regional de Lisboa e a atingir o derradeiro desafio do Campeonato de Portugal.
O título nacional, depois da final perdida frente ao FC Porto, surgiria no ano seguinte. Sob a alçada do “Mestre” Artur José Pereira, o Belenenses daria corpo a uma caminhada brilhante. Naquela que era a prova mais importante do calendário futebolístico português, depois da eliminação de conjuntos como o Carcavelinhos, Barreirense e Vitória de Setúbal, o Sporting revelar-se-ia como o último obstáculo para a conquista do almejado troféu. No Estádio do Lumiar, José Simões apresentar-se-ia como um dos elementos arrolados para o “onze” e, com a tão importante eleição, transformar-se-ia em parte fulcral da vitória frente aos “Leões”.
Com os títulos a colorirem o currículo e com o avolumar da sua importância no seio do grupo belenense, também da selecção portuguesa chegaria a oportunidade para mostrar as suas habilidades. Orientado por Cândido de Oliveira, a estreia de José Simões com a “camisola das quinas” aconteceria a 26 de Janeiro de 1936. Após a chamada a essa peleja frente à Áustria, seguir-se-iam, no seu trajecto desportivo, mais 9 internacionalizações. Todas importantes, mas, numa altura em que os embates entre países não assim eram tão frequentes, algumas partidas tomariam proporções de maior realce. Dois desses momentos aconteceriam frente à Hungria e à Espanha e selariam a primeira vitória de Portugal frente àquelas que eram duas grandes potências do futebol da altura. Todavia, o momento mais badalado viver-se-ia no Estádio da Salésias. Mais uma vez frente à congénere espanhola, a governação de ambas as nações por forças de extrema-direita impunha aos rituais de apresentação ao público, a saudação nazi. Ao contrário do esperado, José Simões, ao lado de outros dois colegas, recusaria o aceno e, ao invés de esticar o braço com a palma da mão virada para baixo, decidir-se-ia pelo braço levantado e com o punho cerrado.
Sanado o incidente protocolar, José Simões pôde prosseguir a sua caminhada. Cada vez mais importante nas manobras tácticas do Belenenses, a sua pertinência nos sucessos colectivos conseguiria sublinhar-se ainda mais. Nesse trajecto e após perder duas finais seguidas da Taça de Portugal, a época de 1941/42 traria ao jogador, e colegas, a terceira oportunidade consecutiva para vencer um dos títulos mais importantes do calendário nacional. Numa equipa recheada de estrelas, casos de António Feliciano, Serafim das Neves, Mariano Amaro, Artur Quaresma ou Rafael Correia, os da “Cruz de Cristo” bateriam o Vitória de Guimarães e levariam para a casa o troféu correspondente à conquista da “Prova Rainha”.
A carreira de José Simões não duraria muitos mais anos. Fustigado por uma grave doença, o defesa viria a falecer, em Julho de 1944, com 31 anos e depois de ajudar a vencer mais um Campeonato de Lisboa.

1126 - ROLDÃO

Descoberto ainda em idade de formação, Roldão seria contratado pelo Gama, onde entraria directamente para a equipa principal. Apesar de actuar preferencialmente pelas alas do ataque, a sua habilidade permitir-lhe-ia também jogar em posições mais centrais. Ao destacar-se como um atleta veloz, com um forte remate, boa capacidade para assistir os colegas e dono de um bom instinto finalizador, o avançado rapidamente conseguiria assumir-se como um elemento importante no conjunto sediado no Distrito Federal.
Logo nas 2 primeiras temporadas como sénior, ao sagrar-se melhor marcador das edições de 1977 e 1978, ajudaria à dupla vitória do seu clube no Torneio Incentivo Brasiliense. Sempre a pautar-se como um dos melhores jogadores do plantel, em 1979 viria a conquista, a primeira na história do Gama, do Campeonato Brasiliense. Seguir-se-ia a estreia na Serie A do “Brasileirão” e, com a glória inerente a tantos feitos, a chamada, em 1980, à selecção do Distrito Federal.
Curiosamente, e com o seu crescimento a cimentá-lo como um intérprete de capacidades bem acima da média, o ano de 1981 representaria uma mudança de paradigma para o atacante. Ao jogar muito menos do que o normal, o seu lugar começou a ser posto em causa. Com uma ligação ao clube de 5 anos, interrompida apenas por pequenos empréstimos ao Goiás e Guarani, a separação, ao ser assumida por ambas as partes, transferi-lo-ia para o Atlético Paranaense. No entanto, a mudança de emblema acabaria por empurrar o atleta para episódios também pouco positivos. Depois de ter sido assolado por diversas lesões, uma acesa contenda com a direcção faria com que o avançado exigisse a saída e, menos de 1 ano após a sua chegada, já Roldão envergava outra camisola.
Anapolina, Grêmio Maringá, Colorado e Taguatinga completariam o trajecto que precederia a sua viagem para Portugal. No Vitória de Guimarães a partir de Dezembro de 1985, Roldão transformar-se-ia num dos indiscutíveis do “onze” inicial. A passagem de vários treinadores pelo comando técnico dos minhotos, em nada alteraria o seu estatuto no plantel. Na posição de extremo, o jogador seria determinante para os sucessos colectivos. Sob a alçada de Marinho Peres, auxiliaria os companheiros a levar o clube aos quartos-de-final da edição de 1986/87 da Taça UEFA e, ainda na mesma temporada, ao 3º posto no Campeonato Nacional.
Já o regresso à “Cidade Berço” em 1988, após uma enigmática passagem pela 2ª divisão e pelo Nacional da Madeira, daria ao palmarés do atleta um dos mais importantes troféus da sua carreira. Ao participar em ambas as mãos, o embate frente ao FC Porto entregaria aos escaparates vimaranenses a Supertaça Cândido de Oliveira de 1988/89.
Depois de mais 2 campanhas no Minho, a mudança para o Penafiel ainda manteria o atacante na 1ª divisão. Contudo, a sua carreira estava perto do fim e a transferência para o Moreirense em 1991/92, à altura a militar na 2ª divisão B, precipitaria o regresso de Roldão ao Brasil.

1125 - PIO

Ao concluir a formação no Belenenses, Pio tinha como parte brilhante do seu, ainda curto, currículo, algumas passagens pelas jovens selecções nacionais. Ao lado de craques, casos do guardião Zé Beto, de Alberto Bastos Lopes ou Diamantino Miranda o percurso traçado com as cores de Portugal, com as participações no Torneio de St. Malo ou na fase de qualificação para o Torneio Internacional de Juniores da UEFA, permitir-lhe-iam sonhar com um futuro risonho.
No entanto, a passagem para o escalão sénior apresentá-lo-ia a um cenário diferente e longe dos contextos idílicos onde, até à altura, tinha vogado. Com o Lusitano de Évora a abrir-lhe as portas da equipa principal, a temporada de 1978/79 marcaria o começo de uma etapa competitiva que levaria o defesa-central aos patamares secundários. Depois de começar na 3ª divisão, a promoção do emblema alentejano, faria com que subisse mais um degrau na sua caminhada. Apesar de conseguir apresentar-se como um dos esteios do emblema eborense, a verdade é que as oportunidades para voltar aos grandes palcos ainda demorariam alguns anos a chegar e, até lá, tempo para mais duas camisolas.
Após a curta passagem pelo Juventude de Évora, a viagem para o extremo norte de Portugal entregá-lo-ia a desafios de outra monta. Ao envergar as cores do Desportivo de Chaves a partir da campanha de 1983/84, Pio inscreveria o seu nome como parte de um projecto ambicioso e com os olhos postos no escalão máximo do futebol luso. Ao fim do segundo ano com a camisola flaviense, o objectivo da subida dar-se-ia como cumprido. Sob as instruções de Raul Águas, o defesa manter-se-ia na equipa e, em 1985/86, integraria o plantel que disputaria o patamar mais elevado do Campeonato Nacional e que terminaria a época num honroso 6º lugar.
Curiosamente, a temporada que serviria de estreia na 1ª divisão, tanto na história do emblema transmontano, como na do próprio atleta, transformar-se-ia na única campanha do jogador entre os “grandes”. Mesmo ao contabilizar um bom número de jogos pelo Desportivo de Chaves, a verdade é que a ligação entre o atleta e o clube conheceria o fim em 1986. Talvez à procura de um papel de maior preponderância do que aquele que auferia em Trás-Os-Montes, Pio escolheria transferir-se para o Penafiel. Errada ou não, a opção pela colectividade duriense, tal como todos os desafios seguintes, afastá-lo-iam da 1ª divisão. Numa senda que viria a tornar-se um pouco errante, o defesa-central acabaria por experimentar diversas agremiações. Seguir-se-iam, entre o 2º e 3º escalão, Freamunde, Moura, Imortal, Sporting da Covilhã e o regresso ao Lusitano de Évora. Numa carreira de 17 anos como sénior, o fim aconteceria já nas distritais, ao serviço do Alcanenense e em 1995.

1124 - RUI RODRIGUES

Começaria no desporto pelo basquetebol e com as cores do Ferroviário de Lourenço Marques. No entanto, a paixão pelo futebol levá-lo-ia, ainda no mesmo clube, a tentar a sua sorte. Chumbado nos testes de admissão, foi vez de prestar provas no Grupo Desportivo 1º de Maio. Ao agradar aos responsáveis técnicos, o jovem Rui Rodrigues passaria a envergar uma camisola diferente e, ao cortar o laço com a colectividade ligada aos caminhos-de-ferro, acabaria a praticar ambas as modalidades no emblema sediado no seu bairro.
Já no novo clube, cedo começaria a demonstrar qualidades bem superiores aos demais colegas de balneário. A sua habilidade rapidamente levaria o atleta a subir à equipa principal do 1º de Maio. Com as exibições a prometerem horizontes mais longínquos, seria da metrópole que chegaria a grande novidade. Convocado para os sub-18 lusos, o jogador, à altura médio, seria chamado a participar nos trabalhos da jovem selecção portuguesa.
Depois de, com as cores de Portugal, participar na edição de 1962 do Torneio Internacional de Juniores da UEFA, Rui Rodrigues ainda regressaria a Moçambique para, sob a alçada do clube, disputar o Campeonato daquela antiga colónia. Todavia, a sua fama já há muito que tinha chegado aos ouvidos dos responsáveis dos grandes emblemas nacionais. Com a Académica e o Benfica à cabeça, o atleta, com a ideia de também continuar os estudos, escolheria o conjunto de Coimbra.
Como aluno do Curso de Farmácia e, em simultâneo, a praticar futebol, a sua integração aconteceria de forma rápida. Ao chegar para a temporada de 1962/63, Rui Rodrigues depressa conseguiria cimentar-se como um elemento importante no plantel da “Briosa”. Ao convencer o treinador José Maria Pedroto, passaria a jogar com bastante regularidade. Seria, no entanto, já sob os comandos de Mário Wilson que acabaria por afirmar-se como um dos titulares.  Indiscutível no “onze” e já a jogar no centro da defesa, o atleta acabaria por fazer parte dos anos áureos da formação conimbricense.
Depois de, na campanha de 1966/67, ter disputado a final da Taça de Portugal e do 2º lugar conseguido no Campeonato Nacional desse mesmo ano, seguir-se-ia a estreia na principal selecção portuguesa. A 26 de Novembro de 1967, pela mão de José Gomes da Silva, Rui Rodrigues seria chamado, numa peleja frente à Bulgária, à Fase de Qualificação para o Euro 68. Já com o estatuto de internacional sublinhado pela regularidade das convocatórias, mais uma vez surgiria o interesse do Benfica na contratação do defesa. Após 9 temporadas em Coimbra e com a transferência acertada entre a Académica e as “Águias”, a mudança para Lisboa dar-se-ia na temporada de 1971/72. Em Lisboa surgiriam os primeiros troféus da sua carreira e, nos 3 anos passados com os “Encarnados”, o atleta acrescentaria ao seu currículo 2 títulos de campeão nacional.
A saída do Benfica em 1974, levaria Rui Rodrigues ao Vitória de Guimarães. No Minho voltaria a encontrar-se com Mário Wilson e, como em épocas anteriores, pautaria a passagem pela “Cidade Berço” com exibições de grande nível. Já na fase final do percurso enquanto futebolista, tempo ainda para o regresso a Coimbra. Ao completar mais 3 temporadas com as cores da Académica, o defesa terminaria a sua carreira com um total de 17 campanhas feitas no principal escalão português.
Depois de pendurar as chuteiras, passaria a dedicar-se ao treino. Nas funções de técnico, ainda que sem chegar aos grandes palcos, orientaria emblemas como o Beira-Mar, União de Coimbra ou as camadas jovens do Benfica. Já mais afastado do desporto, tornou-se, em 1996, proprietário de uma farmácia numa pequena localidade do Ribatejo.

1123 - LUIZÃO


Formado no histórico Fluminense Football Club, com a subida ao escalão sénior, Luizão* passaria por algumas cedências a emblemas mais modestos. Após as experiências no Fluminense de Feira de Santana ou no Rio Negro de Manaus, a entrada do jovem praticante no Farense seria também a título de “empréstimo”.
Com a chegada a Portugal a acontecer depois do arranque da temporada de 1986/87, a sua estreia na 1ª divisão revelar-se-ia de forma modesta. Mesmo com poucas partidas disputadas, a verdade é que as qualidades demonstradas pelo defesa seriam suficientes para que, da parte dos responsáveis algarvios, houvesse vontade em mantê-lo no plantel. A validade da aposta aferir-se-ia logo na campanha seguinte, com o jogador a assumir um papel fulcral na equipa. Aliás, daí em diante Luizão passaria a ser um dos elementos mais importantes do conjunto. Com um poder de antecipação excepcional e sempre numa forma física superior, o atleta destacar-se-ia como um central de marcação implacável.
A titularidade no Farense, mantida ao longo de vários anos, levá-lo-ia a tornar-se num dos nomes míticos do clube. Porém, não só as 8 temporadas passadas no Sul do país contribuiriam para alimentar esse estatuto. Ao tornar-se numa das peças de maior importância no desenho táctico da equipa, a sua participação num dos momentos mais emblemáticos da história dos “Leões de Faro”, também contribuiria para a inscrição do seu nome nos anais da agremiação. Na campanha de 1989/90, apesar da disputa do 2º escalão, a qualidade do plantel permitiria ao Farense chegar à final da Taça de Portugal. Infelizmente, a recuperar de uma lesão numa das coxas, Luizão seria empurrado para o banco de suplentes e acabaria por não entrar no relvado do Jamor.
Com o fim da temporada de 1993/94, a ligação de Luizão com o Farense terminaria. Em choque com a nova direcção, dar-se-ia a saída do atleta que, no União da Madeira, depressa encontraria nova morada. Mesmo com o FC Porto a tentar imiscuir-se na transferência, o central manteria a palavra dada aos responsáveis do emblema insular e seguiria para o arquipélago. No Funchal voltaria a encontrar-se com o técnico brasileiro Ernesto Paulo, seu treinador nas camadas jovens. Como substituto de Marco Aurélio, entretanto transferido para o Sporting, o defesa cumpriria o papel atribuído e manter-se-ia como titular. Contudo, colectivamente os objectivos não seriam cumpridos e a equipa terminaria o Campeonato Nacional de 1994/95 num dos lugares de despromoção.
O mesmo aconteceria no ano seguinte, com o jogador já ao serviço do Tirsense e naquela que viria a consumar-se como a última campanha do atleta na 1ª divisão. Ao deixar Portugal e sediado no Brasil, o regresso ao seu país natal mantê-lo-ia ligado ao futebol. Depois de largar os relvados, Luizão passaria a dedicar-se à administração das “escolas” por si fundadas, ao treino de jovens atletas e, no papel de empresário, à gestão da carreira de diversos atletas.

*de baptismo Luíz Nogueira e apesar de intitular-se como Luizão, em Portugal ficou conhecido como Luisão.

1122 - ELISEU

Apesar de natural de Leça da Palmeira e de ter começado a cimentar o percurso no futebol português no mais emblemático clube da sua terra, seria num dos grandes rivais do conjunto leceiro que Eliseu passaria a maior parte da sua carreira. Com a estreia na principal equipa do Leixões a remontar à temporada de 1970/71, essa campanha também surgiria como a primeira do médio no escalão máximo.
Lançado pelo treinador António Medeiros, depois dos 2 primeiros anos em que as oportunidades escasseariam para o jovem atleta, a entrada para o comando técnico dos leixonenses de António Teixeira, passaria a dar a Eliseu outra importância no desenho táctico da equipa. Aliás, daí em diante, independentemente das mudanças de timoneiro, o jogador começaria a pautar-se como um dos elementos mais importantes do conjunto. A sua preponderância transformar-se-ia num tónico para os desempenhos colectivos e, embora longe de feitos maiores, de extrema relevância para a manutenção do Leixões na 1ª divisão.
Após 6 campanhas com o listado alvirrubro dos “Bebés do Mar”, uma nova transferência levá-lo-ia, sem abandonar o patamar primodivisionário, a envergar uma camisola diferente. Ao aceitar defender as cores do Varzim, Eliseu voltaria a trabalhar sob a batuta de António Teixeira. A mudança de emblema traria ao médio muito mais do que o reencontro com o referido treinador e antigo internacional português. Depois da entrada na colectividade poveira na época de 1976/77, o destaque conseguido durante 2 temporadas levaria o atleta a desafios e voos de outra monta.
Com a fama a crescer, seria o Boavista que apostaria na sua contratação. Ao assumir-se como um dos titulares dos “Axadrezados”, o seu trabalho no miolo do campo seria de vulto e fulcral nos sucessos colectivos. Logo no ano da sua entrada no Bessa, as “Panteras” venceriam a Taça de Portugal. Chamado por Jimmy Hagan aos jogos da final e da finalíssima, Eliseu ajudaria a derrotar o Sporting e a erguer a edição de 1978/79 da denominada “Prova Rainha”. Logo no ano seguinte, mais uma presença no “onze” e o precioso auxílio na vitória da Supertaça Cândido de Oliveira. Também as provas europeias ajudariam a sublinhá-lo como um jogador de grande capacidade e a disputas de várias partidas entre a Taça dos Vencedores das Taças e Taça UEFA serviriam para elevar o seu valor.
Não será difícil de adivinhar, até pelo que já foi escrito, que, também no plano individual, os anos jogados com o Boavista tornar-se-iam nos mais ricos da sua carreira profissional. Para tal muito contribuiriam as chamadas à principal selecção portuguesa. No campo internacional, sob a alçada de Juca, conseguiria estrear-se a 15 de Abril de 1981. Depois desse “particular” disputado frente à congénere búlgara, Eliseu, ainda que apenas em encontros de carácter “amigável”, somaria outras 5 partidas com as cores de Portugal.
Em 1983 terminaria a ligação ao emblema portuense para entrar na derradeira etapa da caminhada enquanto futebolista. Naquela que pode ser tida como a fase descendente do seu percurso profissional, Eliseu afastar-se-ia da 1ª divisão. Nos campeonatos secundários, a passagem por Sanjoanense e o regresso ao Leixões precederiam a época de 1986/87 e a inscrição no plantel do Estarreja. Seria também no emblema sediado no distrito de Aveiro, que faria a transição para as tarefas de treinador. Na função de técnico, destaque ainda para a experiência à frente da União de Leiria.

CROMOS PEDIDOS 2021

Aproxima-se mais um aniversário do “Cromo Sem Caderneta” e, apesar dos 11 anos que haveremos de cumprir no próximo dia 18 de Junho, o “blog” continua activo! É bem verdade que estes últimos tempos não têm sido fáceis e não têm sido poucas as ocasiões em que a dúvida pairou sobre as andanças deste projecto. Maleitas da idade por certo, mas a verdade é que a vontade de alimentar esta empresa tem sido, em força, bem maior que todos os contratempos surgidos. Ora, nesse sentido tínhamos que pedir aos nossos leitores que, como tem sido a tradição, ajudassem à escolha dos “cromos” no momento de mais esta celebração. Assim foi feito e, com um enorme obrigado, os resultados da eleição são os seguintes:


Conhé (Sp. Braga) --------------- 15,15 % votos
Duílio (Estrela Amadora) ------- 9,09% votos
Capitão-Mor (CUF) -------------- 9,09% votos
David Júlio (Sporting) ----------- 9,09% votos
José Simões (Belenenses) ---- 9,09% votos
Roldão (Vitória Guim.) ---------- 6,06% votos
Pio (Desp. Chaves) -------------- 6,06% votos
Rui Rodrigues (Benfica) -------- 6,06% votos
Luisão (Farense) ----------------- 6,06% votos
Eliseu (Boavista) ----------------- 6,06% votos