364 - EMERSON

Inspirado por Zico, o seu grande ídolo, Emerson Ferreira da Rosa, ainda uma criança, escolheria o futebol de "onze" em detrimento do futsal. Em boa hora o faria, pois a sua carreira haveria de ser talhada por uma série de êxitos, alguns dos quais ainda a actuar no Brasil.
Com a estreia pelos seniores do Grêmio de Porto Alegre a acontecer em 1993, o "trinco" impor-se-ia pelo seu jogo defensivo, em que a fortíssima presença à frente do sector mais recuado, facilmente viria a destaca-lo dos demais. No emblema gaúcho ajudaria a conquistar a Copa Libertadores de 1995 e a edição de 1996 do “Brasileirão”, o que, em certa medida, abrir-lhe-ia as portas para o futebol do “Velho Continente”. No Bayer Leverkusen a partir de 1997/98, o trajecto a empurrá-lo até à Alemanha, afastá-lo-ia dos títulos colectivos. No entanto, o prémio de Melhor Jogador de 1999/00 da Bundesliga auxiliá-lo-ia a cimentar-se como um dos nomes habituais nas convocatórias do “Escrete”. Ao serviço da selecção brasileira, depois de, em 1998, ter conseguido a primeira presença em Mundiais, o médio veria Luíz Felipe Scolari a chamá-lo para o Campeonato do Mundo de 2002. Porém, o que deveria ser um momento feliz na sua caminhada competitiva, transformar-se-ia num episódio bem aziago. Num dos últimos treinos antes do torneio organizado entre a Coreia do Sul e o Japão, Emerson, à altura o capitão de equipa, decidiria defender uns remates à baliza. A brincadeira sair-lhe-ia bem cara, pois num dos lances haveria de magoar um ombro e, como resultado da grave da lesão, acabaria afastado da competição e assistiria de fora aos seus companheiros a levantarem a taça.
Por altura do inopinado incidente, já o médio vestia a camisola da AS Roma. No emblema da capital italiana, muito para além do "Scudetto" ganho em 2000/01, a grande conquista do internacional brasileiro surgira com a admiração que o treinador Fabio Capello por ele ganharia. A ligação entre os dois cresceria de tal forma forte que, nos anos seguintes, o jogador passaria a seguir o referido técnico. Seria assim na mudança do médio para a Juventus, onde, em 2004/05, repetiria a vitória na Serie A e seria também assim aquando da ida do seu “timoneiro” para o Real Madrid.
Em Espanha, no único ano a envergar a camisola dos “Merengues”, o centrocampista venceria a La Liga de 2006/07. Porém, por razão de alguma quebra na qualidade das suas exibições, o "trinco" acabaria por retornar a Itália. Ao envergar o vermelho e negro do AC Milan, o atleta, em 2007/08, venceria a Supertaça da UEFA e o Mundial de Clubes da FIFA. Contudo, as lesões a assolarem o atleta continuariam a flagelá-lo nos anos seguintes. Já no Brasil, para onde voltaria em 2009 para representar o Santos, as mazelas impedi-lo-iam de mostrar a combatividade que sempre tinha revelado. Uma nova intervenção cirúrgica transformar-se-ia no mote para o fim da sua carreira enquanto futebolista. No entanto, apesar de “penduradas as chuteiras”, Emerson continuaria ligado à modalidade através do Fragata FC, colectividade que fundaria em 2011, e nas funções de treinador-adjunto de Vanderlei Luxemburgo, que o levaria, mais uma vez, até ao Grêmio.

363 - KASEY KELLER

Depois de iniciar a caminhada competitiva no desporto escolar e de ter entrado nas competições universitárias, Kasey Keller começou a ser chamado aos trabalhos das selecções jovens do seu país. Por razão do bom desempenho nas camadas de formação à guarda da United States Soccer Federation, o guarda-redes, com apenas 20 anos de idade e numa altura em que representava os Portland Pirates, logrou ser convocado para um grande certame sénior, o Campeonato do Mundo de 1990.
Em Itália, apesar de ficar na sombra de Tony Meola e de, por essa razão, não ter disputado qualquer um dos três encontros a envolver o conjunto americano, a sua chamada ao torneio foi suficiente para que do “Velho Continente” começasse a surgir o interesse de alguns clubes. Nessa corrida, o Millwall emergiu como o emblema mais convicto de que Keller era uma boa aposta. Nos “Lions” a partir da temporada de 1991/92, o atleta impôs-se com alguma naturalidade ao ponto de ter vencido, no ano a seguir à estreia, o mais importante galardão atribuído pelo clube aos seus atletas, isto é, o prémio de Jogador do Ano.
Seguiu-se, após alguns anos a disputar o segundo patamar inglês, a sua estreia na Premier League. A mudança para o plantel de 1996/97 do Leicester City trouxe-lhe também um importante troféu e o currículo do guardião, com a conquista a ocorrer na época da sua chegada ao emblema sediado nas East Midlands, passou contar com a vitória na Taça da Liga.
No entanto, a sua passagem pelos "The Foxes" não trouxe apenas boas memórias. Houve um episódio menos feliz e que, de certeza, o guardião tão cedo não esquecerá! Nos tempos livres, Kasey Keller decidiu experimentar a prática de outra modalidade. Arranjou um saco com o material apropriado, enfiou-o no automóvel e dirigiu-se a um campo de golfe. Até aqui tudo normal. O pior foi quando chegou ao destino e quis tirar o equipamento da bagageira. Pois bem, fê-lo com tal força e determinação que acertou com os tacos na boca e partiu uma série de dentes!
Depois da primeira estadia em Inglaterra, Kasey Keller começou um périplo que o levou também a outros campeonatos europeus. Rayo Vallecano, Tottenham Hotspurs, Southampton, Borussia Mönchengladbach e Fulham tornaram-se nos novos emblemas a colorir a sua caminhada competitiva. Desportivamente, apesar de uma utilização regular, nada a destacar nessas passagens. A excepção surgiu nas campanhas cumpridas no emblema germânico, onde, ao ser escolhido para capitão de equipa, veio a tornar-se no segundo atleta norte-americano a realizar tal função na Alemanha.

362 - ALLAN NIELSEN

Quando em 1996 o Tottenham foi contratá-lo ao Bröndby, já Allan Nielsen, até por razão da sua presença no Europeu de selecções disputado, nesse ano, em Inglaterra, era sobejamente conhecido no mundo do futebol. O que, provavelmente, não é do conhecimento geral, é que essa não era a primeira experiência fora do seu país. Ainda sem ter disputado qualquer partida a nível sénior, o jogador viu o Bayern Munique, atento ao potencial do médio de 18 anos, a juntá-lo ao seu grupo de profissionais. No entanto, durante a temporada de 1990/91, o dinamarquês poucas oportunidades auferiu. Aliás, no período passado na Alemanha, apenas jogou uma partida pela equipa principal do emblema bávaro e ainda por cima na condição de suplente.
Falhada a oportunidade germânica e depois de uma curta e igualmente negativa passagem pelo FC Sion, Allan Nielsen regressou ao seu país. De volta à Dinamarca, o médio, com os títulos entretanto conquistados (Taça da Dinamarca, pelo Odense; Campeonato, pelo Bröndby), começou finalmente a ganhar a fama de estrela e, resultado do estatuto auferido, veio a ser chamado à equipa nacional. Foi por essa altura que surgiu, como já referido, a proposta dos "Spurs". Na Premier League, a maneira como passou a olhar, a ler e a executar o jogo, catapultou-o e levou-o a ser visto como um dos favoritos a exibir-se em White Hart Lane. Se dúvidas houvesse quanto à preferência dos adeptos, o atleta tratou de dissipar todas as indecisões, quando, no decorrer da época de 1998/99, com um golo, decidiu o derradeiro jogo da edição desse ano da Taça da Liga – “A única coisa de que estou arrependido, foi a de pôr a camisola por cima da minha cabeça depois de ter marcado! Todos os meus companheiros de equipa vieram e saltaram para cima de mim, mas eu não consegui ver nada, então perdi as celebrações!”*.
Nos derradeiros anos da caminhada enquanto futebolista, depois de passar pelo Wolverhampton e ainda pelo Watford, Allan Nielsen voltou para à Dinamarca, onde terminou a carreira no Herfølge. Hoje, gere um restaurante japonês e, com certeza, partilhará as mais caricatas memórias com os seus clientes, como por exemplo, aquela em que esteve afastado dos relvados durante alguns jogos por razão da sua filha ter conseguido, de forma violenta, enfiar-lhe um dedo num olho!

*retirado do artigo publicado a 21/02/2008, em www.tottenhamhotspur.com

361 - BRYAN ROBSON

Ao cotar-se, ao longo da carreira, como um médio muito completo, é admirável como o West Bromwich Albion, emblema onde terminou a formação e fez a estreia como sénior, conseguiu mantê-lo durante um pouco mais de 7 anos no plantel principal…
A pôr cobro à longa ligação referida no parágrafo anterior e, acima de tudo, a dar valor ao seu passe certeiro, à extraordinária colocação em campo, a um singular espírito batalhador e à boa apetência para marcar golos, acabou por surgir o Manchester United. Ao aceitar o convite dos “Red Devils”, que, ao pagarem 1,5 milhões de libras pela aquisição do seu passe, estabeleceram um novo recorde para uma transferência em Inglaterra, Bryan Robson, confesso fã do Newcastle, veio a mudar-se para Old Trafford, já com a época de 1981/82 em andamento. No emblema do condado de Lancashire, o centrocampista tornou-se numa das grandes lendas do clube. Para tal, muito para além das 13 temporadas a vestir a camisola vermelha, ficaram na memória dos adeptos a braçadeira de capitão por si envergada (recorde da colectividade nessas funções) e a habilidade para, dentro de campo, conduzir os companheiros de equipa na busca do sucesso colectivo. Ora, no que respeita a troféus, o jogador, para além de ter ajudado à conquista de 2 Campeonatos, 4 Taças de Inglaterra e 1 Taça da Liga, pôde orgulhar-se de ter sido ele a erguer a Taça dos Vencedores das Taças de 1990/91, numa final onde a equipa britânica derrotou o FC Barcelona
Outra das camisolas que, como ninguém, soube honrar, foi a da selecção inglesa. Com os “3 Lions” ao peito participou no Euro 88 e ainda nos Mundiais de 1982, 1986 e 1990. Aliás, foi nesse último certame, disputado em Itália, que viveu um dos momentos mais inusitados da carreira. Diz-se que, numa brincadeira com Paul Gascoine, o "Captain Marvel", alcunha pela qual ficou conhecido, decidiu levantar a cama onde o mencionado colega de equipa estava deitado. O pior é que Bryan Robson não contou que os seus braços falhassem, e que, para piorar a situação, a cama caísse em cima do seu pé. O desfecho foi bem pior do que planeada tropelia e a lesão daí resultante veio a impedir o médio de disputar as restantes partidas do torneio.
Já numa fase descendente da carreira, a sua última etapa como futebolista profissional viveu-a, a partir da temporada de 1994/95, ao serviço do Middlesbrough, mas com uma função um pouco diferente da habitual, ou seja, como treinador-jogador. Mesmo como alguém novo na tarefa, Bryan Robson conseguiu resultados bem surpreendentes, como o apuramento para as competições sob a intendência da UEFA ou as presenças na final, as primeiras na história do clube, da Taça de Inglaterra e da Taça da Liga. Como técnico, carreira da qual, ultimamente, tem estado um pouco distante, o antigo médio passou ainda pelo Bradford, West Bromwich Albion, Sheffield United ou, naquela que deve ter sido sua aventura mais exótica, pelo comando da equipa nacional da Tailândia.

360 - NENO


Foi no FC Barreirense, agremiação sediada na terra que o acolheu aquando da chegada de Cabo Verde, que Neno encontrou o trampolim para uma enorme carreira enquanto jogador de futebol. Apesar de longe da ribalta de outrora, o emblema da Margem Sul do Rio Tejo continuava, à altura, a viver da fama de colectividade formadora de grandes atletas. Tido como um intérprete com muito potencial, depois da promoção a sénior na campanha de 1980/81, poucos estranharam que alguns dos poderosos conjuntos lisboetas começassem a olhar para o jovem guarda-redes como um bom reforço e, nessa senda, foi o Benfica a conseguir convencer o jogador a mudar de camisola.
Com a chegada às “Águias” a acontecer na temporada de 1984/85, o jovem atleta deparou-se com uma feroz concorrência. A presença no plantel de Bento, Delgado e Silvino, ao deixar pouco espaço para o guardião demonstrar o seu valor, levaram-no a procurar num empréstimo a solução para a carreira. Cedido ao Vitória Sport Clube na campanha da mudança para Lisboa, já em Guimarães, com poucos a apostar na sua titularidade, a verdade é que um início de época desastroso para os “Conquistadores”, fez com o belga Raymond Goethals afastasse o consagrado Jesus para dar o lugar a Neno.
Com uma agilidade espantosa e estiradas espectaculares, as exibições conseguidas no Minho, muito mais do que garantirem ao guarda-redes um lugar no “onze” vimaranense, acabaram a alimentar o seu regresso às “Àguias”. Porém, apesar do prémio que era voltar ao Benfica, o desenrolar da temporada de 1985/86 e da campanha seguinte, revelaram, pelo menos para o jogador, uma realidade diferente da esperada. Com Neno a ser relegado para segunda e, por vezes, para terceira escolha, nem a conquista do Campeonato Nacional de 1986/87 deixou o atleta convencido do estatuto auferido. Ao não ter grandes oportunidades para competir, mais uma vez pôs-se o cenário do empréstimo e na sua caminhada surgiu o Vitória Futebol Clube.
Depois da temporada de 1987/88 passada em Setúbal, Neno regressou ao Minho para voltar a envergar a camisola do Vitória Sport Clube. Em Guimarães encontrou novamente o caminho das boas exibições e a conquista da edição de 1988/89 da Supertaça Cândido Oliveira e a estreia, a 8 de Junho de 1989, pela selecção “A” de Portugal, serviram para sublinhar uma das melhores fases do seu trajecto competitivo.
O crescimento revelado, mais uma vez, abriu a Neno as portas do Estádio da Luz. No entanto, o cenário a contextualizar o seu regresso em 1990/91, destapou o guardião como um dos melhores a actuar em Portugal e, ajudado pelo estatuto de internacional, como um dos candidatos à titularidade. Nos anos seguintes, para além de mais de 100 partidas disputadas pelos “Encarnados”, o jogador conseguiu somar ao palmarés as conquistas de 2 Campeonatos Nacionais e 1 Taça de Portugal. Ainda assim, o guarda-redes também viveu momentos menos bons e a eliminação do Benfica nas meias-finais da edição de 1993/94 da Taça dos Vencedores das Taças tornou-se num deles. Em Itália, frente ao Parma, após a vitória por 2-1 na 1ª mão, as “Águias” claudicaram e perderam o desafio por 1-0. O pior é que Neno, no lance do golo sofrido, não ficou bem no “retrato”. Com uma saída em falso, o atleta assistiu à bola adversária a entrar na baliza sob a sua alçada e, com tal infelicidade, viu esfumar-se a oportunidade de marcar presença numa final das provas europeias.
Com a famosa “limpeza de balneário” perpetrada por Artur Jorge, o guarda-redes acabou por deixar o Benfica e regressar a Guimarães para a época de 1995/96. Foi nessa terceira passagem pelo Minho, durante a qual foi convocado por António Oliveira para o grupo de trabalho a disputar o Euro 96, que Neno passou por um dos momentos mais caricatos, e doloroso, da sua carreira. Num treino, após uma "estirada" em que caiu para dentro da baliza, enrolou-se nas redes, acabando por ficar preso pelos dentes! O resultado foi uma grave lesão no maxilar, que o levou à mesa de operações e a uma difícil recuperação!

359 - PALERMO

Ao estrear-se, em 1992, pelos seniores da equipa da sua terra natal, os Estudiantes de La Plata, Martín Palermo, de forma incompreensível, para mais agora que sabemos a carreira que construiu como futebolista, enfrentaria sérias dificuldades para conseguir afirmar-se no "onze" inicial. O caminho que, nos primeiros anos como profissional, acabaria a percorrer, não seria nada fácil e cerca de 4 anos após a promoção ao conjunto principal, o avançado chegaria a estar na lista de excedentes do seu emblema. Porém, o acordo falhado para a sua transferência e a mudança do corpo técnico safá-lo-iam da venda do seu passe e a partir daí, talvez assombrado pela perspectiva da dispensa, as suas exibições mudariam radicalmente.
Os golos concretizados chamariam a atenção de agremiações de outra monta e o passo que daria em seguida, concretamente em 1998, fá-lo-ia caminhar na direcção de um dos "poderosos" da Argentina, o Boca Juniors. Já em Buenos Aires afirmar-se-ia como um dos grandes nomes a jogar no seu país, tanto pelos títulos conquistados colectivamente, onde está incluída a Copa Libertadores de 2000, como pelas distinções individuais, isto é, o prémio de Melhor Marcador no "Apertura" de 1998 ou a consagração como o Melhor Jogador em Campo na Taça Intercontinental de 2000, edição que o seu clube venceria frente ao Real Madrid.
No entanto, apesar do sucesso dessa primeira passagem pelo Boca Juniors, seria também nesse período cumprido na "La Bombonera" que o ponta-de-lança viveria um dos episódios mais caricatos da carreira e que, inclusive, haveria de pôr o seu nome no livro "Guinness dos Recordes”. A partida, a contar para a Fase de Grupos da Copa América de 1999; o desafio a opor as selecções da Colômbia e da Argentina; e o mais incrível aconteceria, com Martín Palermo, no decorrer do referido encontro e com a agravante da sua equipa ter perdido por 3-0, a falhar 3 grandes penalidades!
Se é possível dizer-se que a sua carreira desportiva decorreria em três partes distintas, então a segunda corresponderia à ida para Espanha. Mesmo tendo em conta o salto qualitativo, a verdade é que, tanto no Villarreal, como no Betis ou mesmo no Alavés, as suas prestações nunca convenceriam quem nele tinha decidido apostar. Salvo raras excepções, a sua passagem pela Europa seria discreta. Contudo, com um jogador a apresentar como "El Loco", tudo poderia acontecer. Nessa linha de raciocínio emergiria, talvez, o momento mais marcante da aventura pelo “Velho Continente”. O episódio sucederia num jogo para a Taça do Rei. Frente ao Levante, a equipa do Villarreal chegaria ao prolongamento empatada. Durante o tempo-extra, Martim Palermo lá conseguiria desfazer o referido impasse e na comemoração do golo decidiria correr para junto dos adeptos. Exaltados pelo tento do atacante, os fãs do "Submarino Amarelo" avançariam para junto de si e o resultado saldar-se-ia pelo desabamento do muro a separar as bancadas e o relvado, pelo jogador a ficar por baixo da estrutura e pela dupla fractura do perónio e da tíbia!
Em 2004, Palermo voltaria para o Boca Juniors e, dessa feita, dentro do possível, sem momentos de grande bizarria. Regressaria, isso sim, para assegurar o seu nome como um dos maiores da história do clube de Buenos Aires. Nesse sentido, muito para além de outro recorde do "Guinness", um golo de cabeça a 38,9m da baliza, ou da conquista da edição de 2007 da Copa Libertadores, a 12 de Abril de 2010, dois golos seus frente ao Arsenal de Sarandí, colocá-lo-iam como o melhor "artilheiro" de sempre dos "Xeneizes".

358 - RAPAIC

Muito antes de emigrar para Itália, onde viria a sublinhar-se como um futebolista muito habilidoso, seria na antiga Jugoslávia que Milan Rapaic iniciaria a carreira. Com 18 anos de idade, depois de cumprido o percurso formativo, o extremo, na temporada de 1991/92, acabaria promovido à primeira categoria do Hajduk Split. Já com a independência da Croácia, o avançado ajudaria a sua equipa a transformar-se numa das grandes potências do recém-criado país e a presença na Liga dos Campões de 1994/95, no grupo onde também ficaria o Benfica, viria a sustentar esse crescimento.
Num plantel com vários nomes sonantes, tais como Stimac, Asanovic ou Butorovic, Rapaic não ficaria conhecido apenas pelas competências dentro de campo, mas também por ser, fora dos relvados, um nadinha despassarado! Bem, pelo menos é a conclusão a tirar do acidente que haveria de sofrer e que o afastaria dos embates competitivos durante um largo período! Conta-se que, ao preparar-se para apanhar um avião, terá conseguido a proeza de enfiar no próprio olho, nada mais, nada menos, que o cartão de embarque. Tal seria a violência do “lance” que o jogador sairia do incidente seriamente lesionado e, no rescaldo do aparatoso episódio, acabaria por ser forçado, como já foi referido, a uma longa recuperação!
Após a relatada peripécia e de ter, ao serviço do Hajduk Split, arrecadado 3 vitórias no Campeonato croata, Rapaic mudar-se-ia para "Calcio". No Perugia a partir da campanha de 1996/97, o estatuto do clube com o qual rubricaria um contrato, pouco mais daria para que o avançado, nos anos passados em Itália, andasse a cirandar entre a Serie A e o segundo escalão do futebol transalpino. Depois dessa primeira experiência no estrangeiro, seria a mudança para a Turquia, mais concretamente para o plantel de 2000/01 do Fenerbahçe, que voltaria a pô-lo na senda das conquistas. Outros troféus de renome, a seguir à vitória na SüperLig no ano de estreia pelo emblema de Istambul, não mais conseguira levantá-los. Porém, o estatuto ganho haveria de pô-lo, indiscutivelmente na rota das principais competições para nações. Nesse contexto competitivo, seria com o axadrezado vermelho e branco da Croácia que o atacante participaria no Mundial de 2002 e no Euro 2004. No certame organizado em Portugal, o atleta destacar-se-ia na partida realizada do Estádio Dr. Magalhães Pessoa, onde, frente à França, um golo seu contribuiria para o empate final a 2 bolas.

357 - BATTY

De tal forma começou a revelar-se nas “escolas” do Leeds United que, aos 18 anos, fez a estreia pela equipa principal. Apesar de ter uma estatura não muito imponente, principalmente para um homem a ocupar uma posição sujeita a constantes embates físicos, David Batty, médio-defensivo, rapidamente veio a impor-se e a fazer-se reconhecer pelo jogo aguerrido, intrépido e sempre a perseguir os adversários a cirandar no meio-campo. Contudo, e apesar de ser essa a sua grande marca, a posse do esférico nunca o atrapalhou. Com a bola nos pés, o jogador inglês sempre teve a habilidade para, facilmente, conseguir distribuí-la pelos colegas e, dessa maneira, tornou-se num elemento importante e eficaz no encetar das manobras ofensivas da sua equipa.
Foi durante a primeira passagem pelo emblema da sua terra natal que o médio sofreu, ou melhor dizendo, agravou uma lesão que tinha contraído anteriormente. Estava em casa, em recuperação de uma intervenção cirúrgica a um tendão de Aquiles, quando a sua filha, na altura com 3 anos, e descontraída no seu passeio de triciclo, atropela o jogador! Resultado: mais uns tempitos a acrescentar ao período de recobro.
Voltando ao seu percurso desportivo, Batty, um ano após ter conquistado a edição de 1991/92 da Liga Inglesa, ao lado de nomes como Eric Cantona, Gary Speed ou Gary McAllister, viu o Leeds United, por razão de algumas dificuldades financeiras, a não ter como recusar a proposta do emergente Blackburn Rovers pela sua aquisição. Acertada a transferência já com a temporada de 1993/94 em andamento, o “trinco”, ao serviço da nova equipa, regressou aos títulos e em 1994/95 venceu a Premier League. Em abono da verdade, a época, vitoriosa colectivamente, acabou por não correr assim tão bem para o atleta e uma grave lesão, um pé partido, afastou-o de tantos jogos que, com o termo da dita campanha e ao alegar não ter dado grande contributo para o troféu ganho, o centrocampista recusou a medalha de campeão.
Foi também ao serviço do Blackburn Rovers que aconteceu outro dos episódios caricatos da sua carreira. No ano a seguir à vitória na já referida edição da Liga, durante uma partida a contar para a “Champions League” frente ao Spartak de Moscovo, Batty desentendeu-se com o companheiro de equipa Graeme Le Saux. Depois de uma rápida troca de palavras, os dois atletas começaram a agredir-se, tendo de ser separados pelo capitão Tim Sherwood, acabando, mesmo assim, por ser poupados pelo árbitro a uma severa sanção disciplinar.
No que restou da sua caminhada desportiva, o internacional inglês, com presenças no Euro 92 e no Mundial de França em 1998, já depois de uma passagem pelo Newcastle United, voltou, na temporada de1998/99, ao Leeds United, clube onde, em 2004, pôs termo ao trajecto como futebolista profissional.

356 - PUMPIDO

Ao fazer quase toda a carreira nas provas argentinas de futebol, a excepção, já no final do percurso competitivo, foi dada à passagem pelo Real Betis. Tirando essas 3 campanhas passadas, entre 1988/89 e 1990/91, em Espanha, Nery Pumpido representou alguns dos mais importantes emblemas do “País das Pampas”. Igualmente internacional pela Argentina, o guarda-redes marcou presença nos Mundiais de 1982, de 1986 e ainda no de 1990. Como campeão no torneio disputado no México, o guardião tornou-se, nos anos de 1980, numa das figuras mais proeminentes a jogar na sua posição. No entanto, a sua vida na defesa das balizas não foi apenas construída de saídas arrojadas ou de estiradas milagrosas. Houve momentos em que a prática daquele que, no Unión de Santa Fé, elegeu como modalidade favorita, trouxe à sua vida instantes caricatos e, noutras situações, verdadeiros pesadelos.
A primeira dessas ocasiões ocorreu em 1987 quando, na antemão da disputa da Copa América, Nery Pumpido fracturou o antebraço, acabando afastado da lista dos eleitos para a disputa do torneio organizado na Argentina. O segundo desses momentos, o mais arrepiante de todos, passou-se, já como atleta do River Plate, durante um treino. Na referida sessão, o exercício exigido pretendia que os guarda-redes saltassem e tocassem com as mãos na barra da baliza. O pior foi quando Pumpido, sem luvas, num desses pulos ficou com a aliança presa num dos ganchos que fixam as redes aos postes. O incidente custou-lhe parte do anelar e só depois de dois meses de paragem é que voltou a ter ordens para regressar à actividade profissional.
Outro episódio "sui generis", aconteceu quando um adepto do Chacarita atirou para dentro de campo, aos seus pés, uma galinha. A reacção do jogador, pelo menos para a ave, não foi a melhor, que, ao ser atingida por um pontapé, acabou por morrer. Ainda assim, a pior de todas as situações sofreu-a no, já no aqui referido, Mundial de Itália e num lance azarado, no encontro frente à URSS, esbarrou com o colega Olarticoechea, e fracturou o perónio e a tíbia.
Depois de, em definitivo, “arrumar as luvas”, Pumpido abraçou a vida de treinador. Como maiores conquistas nessa fase da vida, pode listar-se a conquista da edição de 2002 da Taça dos Libertadores, aquando da sua passagem pelo Olimpia Asunción, agremiação do Paraguai.
Por fim, mais uma curiosidade. Foi Pumpido a descobrir Óscar Cardozo e quem o levou para o Newell's Old Boys, clube argentino de onde o Benfica contratou o avançado.

LESÕES BIZARRAS

Se há ideia ou projecção aterradora na carreira de um jogador profissional de futebol, esse momento deve ser o instante de uma lesão! Claro que, quando entram em campo, ou mesmo nos recintos de treino, poucos serão aqueles que irão lembrar-se de tal. Porém, entende-se perfeitamente o temor que tal causará ou não ficasse em causa todo um sonho. Ainda assim, há aquelas situações que nem os mais medrosos conseguem idealizar. É desses infortúnios que vamos falar neste mês e, ao escolher esse caminho, durante o mês de Maio, no "Cromo Sem Caderneta", a conversa vai ser sobre "Lesões Bizarras"!