1249 - MACIEL

Após passar por uma série de clubes nos primeiros anos da carreira, seria já como atleta do Volta Redonda que Maciel, em 2001 e numa partida frente ao Flamengo, acabaria observado por José Mourinho. Agradado com a sua velocidade e capacidade de decisão, o treinador aconselharia a contratação do extremo à União de Leiria. Já do lado de cá do Atlântico e depois de ultrapassado um pequeno imprevisto, o atacante rubricaria a ligação que daria início à sua passagem por Portugal – “Tínhamos combinado dez mil euros mensais, mas o Leiria afinal só me queria pagar cinco mil. Desci, saí da sala – onde estava o Mourinho, o senhor João Bartolomeu e o Derlei também – e de repente sinto o mister Mourinho a vir atrás de mim. «Olha, se jogas tanto como dizes, assinas o contrato agora e em dezembro de certeza que o clube renova contigo e aumenta a verba»”*.
A disputar o Campeonato Nacional a partir da temporada de 2001/02, Maciel continuaria a desenvolver as características que tinham maravilhado o “Special One”. Ao destacar-se na equipa da Beira Litoral que terminaria a campanha de 2002/03 nos lugares de acesso às provas europeias, o atacante começaria a ser cobiçado por clubes de ambições maiores. Já com o Benfica na corrida, José Mourinho, entretanto a treinar o FC Porto, convenceria o jogador a mudar-se para a “Cidade Invicta”. Entraria no plantel “azul e branco” a meio da temporada de 2003/04 e depois de, na primeira metade da época, ter, pela União de Leiria, disputado a Taça UEFA. Tal facto impediria o extremo de, pelos “Dragões”, participar na “Champions”. Todavia, e sem fazer qualquer minuto na campanha que terminaria em Gelsenkirchen com a vitória portista, o atacante seria também um dos atletas condecorados – “Fiquei triste por não jogar, mas o presidente falou comigo e até me deu uma medalha de vencedor, tal como a da Taça Intercontinental”**.
Com José Mourinho no Chelsea, surgiria a oportunidade de Maciel ir jogar para o emblema londrino. Contudo, o facto de ser extracomunitário e de não ter qualquer internacionalização pelo Brasil, inviabilizaria a transferência. Para alimentar o azar, a entrada do espanhol Victor Fernandez para o comando técnico do FC Porto tiraria protagonismo ao atleta. Sem praticamente jogar, nem o facto de ter sido uma peça fulcral na conquista da edição de 2003/04 do Campeonato Nacional salvaria o atacante da saída. Por empréstimo, os anos seguintes passá-los-ia com as cores do Atlético Paranaense, União de Leiria e Sporting de Braga.
Desvinculado do FC Porto, o extremo encetaria uma terceira passagem pela “Cidade do Lis”, para, no final dessa temporada de 2007/08, acabar transferido para os gregos do Xanthi. Aliás, aí começaria uma senda deveras errante. Já de volta ao Brasil, Maciel daria início a um périplo muito idêntico àquele que tinha trilhado no começo da carreira. Depois de vestir um número quase incontável de camisolas, seria com as cores do Cabofriense que, em 2015, daria por terminada a caminhada como futebolista.
Mesmo depois de largar os “gramados”, o avançado não conseguiria afastar-se da bola. Já como atleta federado de futevolei, o antigo avançado, ao brilhar na areia, continuaria a manter-se em boa forma.

*retirado da entrevista conduzida por Pedro Jorge da Cunha e publicada a 08/04/2021, em https://maisfutebol.iol.pt
**retirado da entrevista publicada a 09/12/2013, em www.record.pt

1248 - SÉRGIO

Com a estreia como sénior a acontecer na temporada de 1978/79 ao serviço do Atlético Clube Marinhense, Luís Manuel David Sérgio ainda demoraria alguns anos para atingir o patamar maior do futebol português. Ao continuar na disputa da 2ª divisão, depois da campanha passada com o listado branco e negro dos “Vidreiros”, surgiria na sua curta carreira o Grupo de Desportivo de Bragança. No nordeste transmontano, longe dos principais holofotes do desporto luso, o defesa conseguiria destacar-se o suficiente para merecer a atenção de colectividades com objectivos mais ambiciosos.
O passo seguinte dá-lo-ia ao serviço do Rio Ave e com o emblema vilacondense a abrir-lhe as portas do escalão máximo. Com Mourinho Félix como o técnico responsável pela sua estreia na 1ª divisão, a temporada de 1981/82 correria de feição para o atleta. Ao granjear da preferência do aludido treinador, a falta de experiência ao mais alto nível não impediria Sérgio de conquistar um lugar no “onze”. Como um dos titulares na maioria das pelejas agendadas, destacando-se na direita do sector mais recuado, também seria dele a responsabilidade pelo honroso 5º lugar no Campeonato Nacional, que, a par da época 2017/18, ficaria registado como a melhor classificação de sempre do clube.
Na senda de episódios memoráveis, é impossível esquecer a campanha de 1983/84 e a excelsa prestação do emblema nortenho na Taça de Portugal. Depois de, nas eliminatórias precedentes, o Rio Ave afastar, a exemplo, o Vitória Sport Clube ou o Estoril Praia, calharia em sorte que, na final, tivessem de defrontar o FC Porto. Na partida agendada para o Estádio Nacional, Sérgio seria um dos escolhidos para integrar o alinhamento inicial. Infelizmente para si e para os seus colegas, o desenrolar dos 90 minutos da derradeira partida da apelidada “Prova Rainha”, traria a derrota para os de Vila de Conde e seriam os “Dragões”, após o apito final, a deixar o Jamor na posse do almejado troféu.
Ao manter-se, nas épocas seguintes, como elemento do plantel do Rio Ave, Sérgio passaria a ser visto como uma das grandes figuras do clube e, hoje em dia, é também tido como um dos históricos da colectividade. Claro está que nem só bons momentos ergueriam essa experiência com os “Rioavistas”. Nas 6 temporadas com a “caravela” ao peito, o lateral-direito acabaria também por provar o sabor amargo da descida. No entanto, a passagem pelo escalão secundário na temporada de 1985/86, rapidamente seria esquecida com a promoção alcançada no final da campanha. Para o defesa, a subida representaria o regresso ao convívio com os “grandes”, mas, por outro lado, revelaria a derradeira campanha passada com o emblema mais representativo da sua carreira de futebolista.
O verão de 1987 daria a Sérgio “Cafeteira”, alcunha cuja origem desconheço, outro rumo à caminhada profissional. Com o fim da ligação ao Rio Ave, o atleta com o registo da naturalidade a indicar-nos a vila de Sintra, tomaria a decisão de rubricar um vínculo contratual com a União de Leiria. Já numa fase descendente do percurso competitivo, as mudanças de emblema suceder-se-iam e o defesa, após passar a campanha de 1987/88 na “Cidade do Lis”, vestiria ainda a camisola do Beira-Mar, para, em 1990 e depois de representar o Feirense, dar por terminada a carreira.

1247 - EURICO

Eurico Caires terminaria a formação no Benfica, de onde sairia também para integrar os trabalhos orientados pelos técnicos da Federação Portuguesa de Futebol. Com as jovens selecções portuguesas, naquele que hoje é designado o escalão sub-18, o médio acumularia um total de 10 internacionalizações e seria convocado para disputar a fase final do Torneio Internacional de Juniores da UEFA de 1971. No certame organizado na antiga Checoslováquia, o centrocampista tornar-se-ia numa das “estrelas” do conjunto comandado por Peres Bandeira. Já na final frente à Inglaterra, seria chamado ao “onze” inicial, mas, para infelicidade dos craques lusos, os britânicos venceriam a peleja por 3-0.
Não muito tempo após a realização do referido torneio, Eurico seria promovido à equipa principal do Benfica. Porém, nessa temporada de 1971/72, tapado no sector intermediário por atletas mais experientes, casos de Jaime Graça ou Toni, poucas seriam as oportunidades que conquistaria. Ainda assim, conseguiria ser chamado por Jimmy Hagan a disputar a Taça de Portugal e o Campeonato Nacional e esses jogos, um em cada prova, bastariam para embelezar o seu currículo com os respectivos troféus.
Seguir-se-iam na sua carreira, sem abandonar o patamar máximo, as passagens de uma época por Montijo e pelo Beira-Mar. Já no Estoril Praia, onde chegaria na temporada de 1974/75, voltaria a encontrar-se com Jimmy Hagan. No emblema da “Linha de Cascais”, tal como nas duas colectividades anteriores, Eurico assumir-se-ia como titular. Nesse sentido, logo na época de entrada no Estádio António Coimbra da Mota tornar-se-ia num dos pilares da conquista do Campeonato Nacional da 2ª divisão e no consequente regresso da equipa ao escalão maior. Durante o tempo passado com os “Canarinhos”, destaque também para as “férias” cumpridas na North American Soccer League (NASL). No “El Dorado” da década de 1970, o médio vestiria as camisolas dos Rochester Lancers e seria campeão na campanha de 1976, já como atleta dos Toronto Metros-Croatia.
A etapa seguinte da caminhada profissional, com início na temporada de 1977/78, vivê-la-ia com as cores do Belenenses. Apesar não ter sido uma fase tão consistente quanto a anterior, Eurico, nos anos passados no Restelo, manter-se-ia como um elemento preponderante. Para além da curiosidade de, mais uma vez, ter sido orientado pelo inglês Jimmy Hagan, o centrocampista acabaria igualmente por participar numa das piores páginas da história “Azul”. Com a despromoção no final da época de 1981/82, a primeira na história da “Cruz de Cristo”, também o jogador deixaria a 1ª divisão. Nos anos subsequentes, passaria por diversas colectividades a militar nos escalões secundários. Depois de representar o Almada e o União da Madeira, seria no Estrela da Amadora que, cumprida a campanha de 1984/85, daria por terminado o trajecto enquanto futebolista.

1246 - MORATO

Com a filiação a indicar-nos como pai o antigo internacional português António Morato, António Morato, o filho, seria descoberto por Aurélio Pereira nas “escolas” do Loures. Convidado a integrar as jovens fileiras leoninas e com o Benfica já no seu encalço, o defesa-central daria preferência ao listado verde e branco. Ao integrar os trabalhos do novo clube com enorme naturalidade, a habilidade demonstrada em campo levaria os responsáveis técnicos da Federação Portuguesa de Futebol a listá-lo também como um bom reforço. Amiúde passaria a ser convocado; acabaria por participar nos principais certames organizados para as respectivas categorias; e terminaria a formação com passagem por diversos escalões e como um dos mais internacionais da sua geração.
Sem deixar o Sporting Clube de Portugal, subiria a sénior pela mão do treinador Josef Venglos. No entanto, essa temporada de 1983/84 seria madrasta e uma grave lesão afastá-lo-ia da equipa praticamente durante o ano inteiro. Com a recuperação dada como concluída quase no final dessa campanha de estreia pelo conjunto principal, a época seguinte desenrolar-se-ia já sob o comando do galês John Toshack. Favorecido pelo esquema de 3 centrais delineado pelo novo técnico, Morato, tido como um atleta com boa colocação, rápido e com uma técnica muito superior à dos demais colegas de posição, facilmente conquistaria a titularidade. Assim permaneceria daí em diante e o estatuto ganho de “Leão” ao peito levá-lo-ia à selecção “A”.
Com a principal “camisola das quinas”, o defesa-central seria chamado pela primeira vez aquando de uma peleja frente a Itália. Convocado por José Torres para esse “particular” calendarizado a 3 de Abril de 1985, daí para a frente o atleta passaria a fazer, com maior efectividade, parte das cogitações do seleccionador. Nesse sentido, acabaria incluído na comitiva que, em 1986, partiria para o México, para disputar o Campeonato do Mundo. Todavia, a estadia no país centro-americano, muito mais do que pelo desempenho desportivo de Portugal, ficaria marcada pelas revindicações dos jogadores. Na sequência do polémico “Caso Saltillo”, Morato acabaria como um dos castigados. A punição aplicada levaria a que, só em 1988, voltasse a representar a equipa nacional. Essas duas partidas, a somar aos jogos anteriormente esgrimidos, preencheriam a sua carreira com um total de 6 internacionalizações “A”.
Outro episódio controverso da sua caminhada profissional seria a saída de Alvalade. Numa altura em que já envergava a braçadeira de “capitão”, Morato acabaria envolvido numa situação delicada – “Eu tinha ordenados em atraso. Fui negociar com Sousa Cintra e ele disse-me: «O que está para trás, os oito meses, não pago. Ficam os outros dois anos de contrato e assinamos mais um ano.» Disse-lhe que isso era impossível, porque não tinha dinheiro para sustentar a minha família. Quando saí de perto dele, fiz a rescisão e entreguei-a no aeroporto. Fui para casa um mês e meio. Estive esse tempo sem clube, à espera que alguém me contactasse.”*.
Com o fim da ligação ao Sporting e com a Supertaça de 1987/88 como o único troféu ganho durante o ciclo leonino, novos convites seriam lançados ao seu trajecto. Recusadas as propostas de União da Madeira, Vitória de Guimarães e até do Borussia Dortmund, Morato assinaria contrato com o FC Porto. Porém, a sua passagem pelas Antas seria discreta e, mesmo assim, prolífera. Ao participar num par de partidas apenas, o defesa acabaria na lista de atletas vencedores do Campeonato Nacional de 1989/90. Contudo, essa seria a única temporada com os “Dragões”. Daí em diante, sem nunca abandonar a 1ª divisão, Belenenses, Gil Vicente e Estoril Praia passariam a ser os emblemas defendidos pelo central.
Ao deixar o emblema da “Linha de Cascais” a meio da época de 1993/94, a passagem, ainda durante a referida campanha, pelo modesto Fanhões, antecederia a decisão de abandonar a modalidade, contava apenas 29 anos de idade. Após um ano de interregno e incapaz de negar-se ao Presidente do Desportivo de Beja, o apelo do dirigente fá-lo-ia calçar as chuteiras. Curto regresso pois, em Novembro de 1995 e após 4 partidas disputadas pelo emblema alentejano, haveria de pôr um ponto final na caminhada de futebolista.
Depois de retirado do contexto competitivo profissional e com a transição de milénio, Morato fundaria uma empresa de segurança privada. Nessa área tem dado assistência a jogos de futebol, com principal destaque para o trabalho feito durante o Euro 2004. Paralelamente tiraria o Nível II do Curso de Treinadores e, mais recentemente, experimentaria o cargo de Director-Desportivo no Sintrense e no Fátima.

*retirado do artigo de Magda Magalhães, publicado em https://maisfutebol.iol.pt, a 07/05/201
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1245 - RUI LOPES

Descoberto pelo Benfica no Águias de Campo de Ourique, seria já no emblema da “Luz” que Rui Lopes terminaria a sua formação. Contudo, a promoção ao escalão sénior não seria muito proveitosa para o jovem praticante. Tapado por Nené, Eusébio, Artur Jorge ou Jordão, as únicas oportunidades conseguidas durante a temporada de 1973/74, seriam na equipa de “reservas”.
A falta de espaço no conjunto principal “encarnado”, levaria o atleta a deixar Lisboa para, bem a Sul, passar a envergar as cores do Olhanense. No Algarve, orientado pelo treinador Manuel de Oliveira e a partilhar o balneário com Jorge Jesus, Rui Lopes daria os passos inicias na 1ª divisão. Muito mais do que a estreia no escalão máximo, o avançado conseguiria destacar-se com um dos mais utilizados da equipa. Tão boas seriam as suas exibições que, logo no arranque da campanha de 1974/75, seria convocado para os trabalhos da Federação Portuguesa de Futebol. Ele que já contava com uma internacionalização pelos juniores (sub-18), seria chamado às esperanças (sub-21) para, a 19 de Novembro de 1974, defrontar a Inglaterra.
A regularidade conseguida ao serviço do Olhanense, mesmo com a descida de divisão do colectivo “rubronegro”, valeria ao jogador a transferência para outro emblema primodivisionário. No Vitória Sport Clube a partir da campanha de 1975/76, o atacante faria parte do prolífero tridente ofensivo, composto igualmente por Tito e Pedrinho. Muito para além do 6º posto conseguido no final do Campeonato Nacional, a época da chegada de Rui Lopes à “Cidade Berço” ficaria marcada pela participação do conjunto minhoto na final da Taça de Portugal. Depois de, com um golo, ter ajudado a eliminar o FC Porto nos quartos-de-final, também na derradeira peleja da prova voltaria a marcar. No entanto, o remate certeiro contra o Boavista seria insuficiente para derrotar os “Axadrezados” e o troféu seguiria em direcção aos escaparates do Bessa.
Depois de uma primeira época auspiciosa, uma grave lesão iria atrasar o crescimento do avançado. Com uma recuperação longa, a segunda campanha em Guimarães traria poucos jogos ao seu percurso. Ainda assim, tido como um atleta veloz, perspicaz, bom nas bolas paradas, capaz de marcar golos e de assistir os seus colegas, Rui Lopes continuaria a ser aferido como um intérprete multifacetado e com habilidade para actuar mais descaído para um dos lados, nas costas do ponta-de-lança ou no centro do ataque. Tendo isso em mente, o Benfica apostaria na sua contratação. Com a entrada na “Luz” a dar-se em 1977/78, o avançado voltaria a deparar-se com uma feroz concorrência e, mais uma vez, não teria muitas oportunidades para demonstrar as suas qualidades. Ainda assim, nas 2 temporadas passadas de “encarnado” conseguiria alinhar em algumas partidas, destacando-se a participação frente ao Liverpool na Taça dos Clubes Campeões Europeus ou na edição de 1978/79 da Taça UEFA.
A falta de utilização nas “Águias” levá-lo-ia a aceitar novo convite de Manuel de Oliveira, dessa feita para envergar as cores do Marítimo. Com uma utilização algo irregular, ainda assim, os 2 anos passados no Funchal mantê-lo-iam como um atleta de cariz primodivisionário. Esse estatuto serviria para alimentar a titularidade na mudança para o Penafiel e, volvida uma campanha, para selar, em Setúbal, mais um encontro com o treinador referido no começo do parágrafo. Com 2 temporadas de Vitória Futebol Clube e outra a jogar no Farense, Rui Lopes somaria 12 campanhas consecutivas sem nunca abandonar a 1ª divisão. Seguir-se-iam, já nos escalões inferiores, as passagens pelo Estrela da Amadora, Sacavenense, Beneditense e, como atleta de pavilhão, pelo Recordação D’Apolo.
Depois de terminada a carreira como jogador em 1992, seria nesse mesmo ano que Rui Lopes encetaria as actividades enquanto treinador. Ao fazer parte das equipas técnicas de Jorge Jesus, seu colega de balneário no Olhanense, Vitória de Setúbal e Estrela da Amadora, o antigo avançado passaria muitos anos como adjunto. Numa longa caminhada, destaque ainda para as suas incursões pelo Médio Oriente, integrado no “staff” de José Garrido.

1244 - EDMUR

Com os passos iniciais no futebol dados, entre o final da sua formação e o começo da caminhada sénior, em emblemas como Mauá, Tamoios e Fonseca Atlético Clube, seriam as boas exibições conseguidas durantes esses primeiros anos que levariam o histórico Flamengo elegê-lo como reforço. A felicidade de, em 1948, ser contratado pelo clube do seu coração, acabaria, no entanto, por ser abalada pela fraca utilização do ainda jovem atacante. Ao posicionar-se preferencialmente do lado direito do ataque, tanto a extremo como a interior, Edmur, para além de enfrentar a concorrência de colegas mais experientes, teria ainda que lidar com o Serviço Militar Obrigatório. Tais contrariedades acabariam por afectar a sua afirmação no “Mengão” e a saída tornar-se-ia uma realidade.
Primeiro por empréstimo do Flamengo, depois a título definitivo, o capítulo seguinte na carreira de Edmur seria escrito com as cores do Canto do Rio. Na colectividade de Niterói, com a entrada do atleta a acontecer na temporada de 1950,o avançado pouco tempo necessitaria até chamar a atenção de outro dos históricos do futebol brasileiro. Contratado pelo Vasco da Gama para fortalecer o grupo de trabalho de 1951, o jogador haveria de ser orientado pelo icónico Otto Glória. A segunda época a envergar a “Cruz de Malta”, serviria para gravar no seu palmarés a conquista do Campeonato Carioca. No entanto, mesmo tido como um elemento valioso, o facto de nunca ter conseguido afirmar-se como titular absoluto, levá-lo-ia a aceitar um novo convite e a rumar a outro estado e a abraçar outra insígnia.
Ao rubricar uma ligação com a Portuguesa dos Desportos na temporada de 1953, o jogador daria aí o primeiro passo para uma das melhores fases da carreira. Como uma das “estrelas” do conjunto paulista, o atacante tornar-se-ia essencial nos sucessos do colectivo. O maior destaque chegaria na época de 1955, com a participação da agremiação “Lusa” no Torneio Rio-São Paulo. Para além da vitória dos “Verde-rubro”, Edmur terminaria a prova como o líder da tabela dos Melhores Marcadores. Ora, tamanho destaque, levá-lo-ia, durante o mesmo ano, às cogitações da Confederação Brasileira de Futebol. Acabaria chamado à “Canarinha” para disputar a Taça Oswaldo Cruz, facto que, a 17 de Novembro de 1955, numa partida agendada frente ao Paraguai, levaria o atleta à primeira internacionalização.
Em 1958 a curta passagem pelo Náutico de Capibaribe, serviria para lançar uma nova aventura na sua caminhada profissional. Descoberto por António Pimenta Machado, empresário radicado no Brasil, homónimo e familiar do futuro dirigente vimaranense, Edmur seria indicado ao Vitória Sport Clube. Chegaria ao Minho para integrar o plantel de 1958/59, onde brilhavam os seus conterrâneos Ernesto e Carlos Alberto. Mesmo com 29 anos, o avançado manteria as suas qualidades intactas. Veloz, como uma leitura de jogo superior e um enorme sentido de oportunidade, facilmente haveria de conseguir assegurar um lugar na ponta-direita da linha-ofensiva da colectividade sediada na “Cidade Berço”. Na segunda campanha ao serviço do clube, e tido como um dos melhores intérpretes a actuar no Campeonato Nacional, o avançado, com 25 remates certeiros, terminaria a época no topo da lista dos Melhores Marcadores da prova maior de Portugal e, em definitivo, gravaria o seu nome na história do futebol luso.
Após a temporada de 1961/62, cumprida ao serviço do Celta de Vigo, Edmur voltaria ao lado de cá da fronteira, para vestir a camisola do Leixões. Numa fase já mais discreta da sua caminhada, a passagem pelo emblema de Matosinhos, com números a aferi-lo como um dos mais utilizados, precederia o regresso do atleta ao Brasil, dessa feita para representar a “carioca” Associação Atlética Portuguesa. Na realidade, a estadia no Rio de Janeiro transformar-se-ia num interlúdio para a derradeira fase da sua carreira. Na Venezuela, ao envergar as cores do Deportivo Italia, sagrar-se-ia campeão daquele país e, em 1966, viria a “pendurar as chuteiras”.
Também como técnico, Edmur conseguiria desenhar um trilho louvável. Ao voltar a Portugal, o antigo avançado abraçaria diversos projectos, em emblemas de índole mais modesta. Aliados do Lordelo, onde ainda participaria como treinador-jogador, AD Fafe, Moreirense, Paredes, Gil Vicente ou São Martinho do Campo acabariam, ao longo de vários anos, por colorir essa faceta.

1243 - NELINHO

Destacar-se-ia nas “escolas” do Palmense, onde, durante um embate frente às também jovens “Águias”, chamaria a atenção dos responsáveis pelos “Encarnados”. Porém, finda a formação no popular emblema da Freguesia de São Domingos de Benfica, Nelinho, por empréstimo, arrepiaria caminho em direcção ao Tramagal. No emblema ribatejano, a militar na Zona Norte da 2ª divisão de 1968/69, conseguiria destacar-se pela velocidade e capacidade técnica. Com tão bons predicados, não tardariam a aparecer outros clubes interessados no seu concurso. Tirsense, Beira-Mar, Famalicão e Boavista apareceriam na linha da frente, mas o extremo-direito, dando seguimento a uma conversa com um atleta da colectividade aveirense, o “Magriço” José Pereira, escolheria fardar de amarelo e preto.
Mantendo a ligação contratual ao emblema que o tinha formado, Nelinho ainda passaria 2 temporadas no Beira-Mar. Na última campanha desse par, transformar-se-ia numa das grandes figuras do clube na conquista do Campeonato Nacional da 2ª divisão de 1970/71 e na consequente promoção do emblema de Aveiro ao escalão máximo. No defeso seguinte, com a Académica de Coimbra e o Vitória de Guimarães já no seu encalço, o Benfica resolveria avançar para a sua contratação. Pagos os 1500 contos do acordo feito com o Palmense e com o atacante sem lugar no grupo à guarda de Jimmy Hagan, seria tomada a decisão de, por mais um ano, pôr o atacante a rodar. Ainda faria testes no Belenenses, mas com o plantel dos “Azuis” fechado e com a vontade do atleta em regressar ao Estádio Mário Duarte, o extremo acabaria por estrear-se no patamar maior do futebol luso ao serviço dos “Aurinegros”.
A entrada na “Luz” aconteceria na preparação da temporada de 1972/73 e numa altura em que aos comandos da equipa benfiquista ainda estava o técnico inglês referido no parágrafo anterior. Porém, a presença no sector mais ofensivo de craques como Eusébio, Vítor Baptista, Jordão, Simões ou Nené, faria com que Nelinho fosse pouco utilizado. Com a chegada do treinador Milorad Pavic para a campanha de 1974/75, a situação do avançado pioraria e a solução encontrada levaria o jogador a novo empréstimo. Após a passagem pelos espanhóis do Ourense, o regresso ao plantel “encarnado” começaria a mudar o paradigma do atleta. Com Mário Wilson passaria a ser utilizado com outra regularidade, para, já na época de 1976/77, vir a tornar-se num dos favoritos de John Mortimore. Contudo, nem essa ascensão acabaria valorizada pelos dirigentes das “Águias” e, na altura de renovar o contrato, a relação entre o atleta e o clube conheceria o fim.
Com a titularidade no “onze” do Benfica a apontar a outros voos, Nelinho acabaria por chegar às cogitações da Selecção Nacional. Com a estreia com a “camisola das quinas” a acontecer a 30 de Março de 1977, a lista feita por Juca para o “particular” frente à Suíça, encetaria um trajecto que traria outras convocatórias ao seu currículo. Por outro lado e com as negociações entre as “Águias” e o avançado a não chegarem a “bom-porto”, outros emblemas começariam a “namorar” o atleta. Com o Sporting Clube de Portugal a posicionar-se na corrida, seria, no entanto, o Sporting de Braga a convencer o jogador. Com o palmarés pessoal recheado pela conquista de 3 Campeonatos Nacionais, partiria em direcção ao Minho onde seria apresentado como reforço do plantel de 1977/78. As boas exibições mantê-lo-iam como um elemento de grande valor e tal facto reflectir-se-ia nas restantes convocatórias que dividiriam um total de 4 internacionalizações, metade para cada lado, entre a equipa “A” e o conjunto “B” de Portugal.
Ao findar a ligação com os “Guerreiros” no final da temporada de 1979/80, Marítimo, Farense e Grupo Desportivo Portalegrense preencheriam os derradeiros 4 anos da caminhada competitiva de Nelinho. Ainda experimentaria o papel de treinador, por exemplo, ao serviço do Clube Desportivo e Recreativo de Massamá. Contudo, seria em lides afastadas do futebol que o antigo jogador passaria a apostar e no Bairro da Boavista, local onde cresceu, abriria um cabeleireiro e uma padaria.

1242 - CHIPENDA

Depois de começar a prática do futebol em Angola, onde, a exemplo, chegaria a brilhar na selecção do Lobito frente a um Sporting Clube de Portugal em digressão por África, Daniel Chipenda seria contratado pelo Benfica. Na viagem em direcção a Lisboa, em meados de 1954, teria a companhia de Joaquim Santana, futura estrela das “Águias” e vencedor da Taça dos Clubes Campeões Europeus. Conta-se que, durante a longa travessia marítima, cientes das exigências que os esperavam, treinavam nos corredores do navio. Mesmo tendo em conta a dedicação, a vida do avançado, num plantel recheado de craques, em nada seria facilitada. Marcaria poucas presenças no conjunto principal, onde a estreia, com 2 golos a brindar o triunfo frente ao Atlético, aconteceria pela mão de Otto Glória, em Fevereiro de 1957. Em abono da verdade, a sua presença far-se-ia notar, principalmente, na categoria de “reservas”. Ainda assim, as partidas disputadas pelos “Encarnados” dar-lhe-iam alguns títulos e o atacante deixaria o emblema “alfacinha” com a vitória no Campeonato Nacional de 1956/57 a abrilhantar-lhe o currículo.
Seguir-se-ia a Académica de Coimbra e o intuito de prosseguir os estudos. Com a entrada na “Briosa” a acontecer na temporada de 1958/59, a passagem de Chipenda pela “Cidade dos Estudantes”, muito mais do que alavancar a sua caminhada desportiva, iria despertá-lo para causas maiores. Retornando, por agora, ao futebol, a sua primeira temporada de “negro” voltaria a sublinhar as qualidades que, anos antes, haviam justificado a aposta por parte do Benfica. Ao afirmar-se como uma presença habitual no “onze” da equipa beirã, o atacante começaria a ser tido como uma das figuras de proa do plantel. Manter-se-ia como parte integrante da equipa até à derradeira jornada da campanha de 1961/62, a partir da qual outros sonhos passariam a desenhar, de forma bem diferente, a sua vida – “Eu entrei na luta política mais concretamente e diretamente em 1960, porque eu em 59 vim a Luanda. Vim a Luanda integrado na equipa da Associação Académica de Coimbra […]. E é precisamente em Luanda, numa tarde [em] que eu fui convidado a almoçar em casa da tia Tereza de Carvalho, onde depois tive uma reunião em casa do mais velho Veríssimo Costa, o pai do Desidério, e do velho Mingas. Esses dois mais velhos disseram precisamente que eles estavam a trabalhar […], que devíamos nos preparar porque a movimentação que se estava fazendo aqui estava a ganhar forma e consistência e que nós iríamos ser chamados para participar nesta luta”*.
Com a luta dos estudantes em 1962, o lado político de Daniel Chipenda iria, em definitivo, tomar outra feição. Sendo um dos nomes debaixo do radar da PIDE, ainda nos anos que antecederiam os protestos em Coimbra, na sua vida desenrolar-se-iam episódios, eufemisticamente falando, curiosos. Um deles, relatado pelo próprio, aconteceria, mais uma vez, na companhia do amigo Joaquim Santana – “Ao chegar de Amesterdão, o Quim foi ter comigo. Fizemos festa na República dos Milionários, no regresso ao quarto, disseram-me que tinha havido telefonema para nós. Pensei que era complicação. Meti-me imediatamente no carro de Quim para Lisboa. Na Figueira, a PIDE mandou para o Fiat. O Quim, que nunca levava nada a sério, era tremendo brincalhão, sempre a fazer partidas a toda a gente, gritou-lhes: «Vocês sabem quem eu sou, sou bicampeão europeu, portanto identifiquem-se os senhores!». Ficámos, várias horas a torrar ao sol dentro do carro, com a PIDE ali - sem saber o que nos iria acontecer…”**.
A “Crise Estudantil” transformar-se-ia no derradeiro interruptor para o avançado. Já com os passos bem controlados, seria o “capitão” Mário Wilson a conseguir convencer os responsáveis da PIDE a deixar Chipenda marcar presença num exame, ainda que escoltado e transportado num automóvel da polícia política. Também os jogos da Académica seriam afectados pela revolta. A partida frente ao Beira-Mar, referente à penúltima jornada do Campeonato de 1961/62, por ordem do Ministro da Educação, seria adiada. Todavia, a ideia da falta de comparência, em solidariedade com a luta, manter-se-ia bem viva no seio do plantel. Com a última ronda a aproximar-se, as conversas sobre que posições haveriam de tomar, passariam o tomar conta das rotinas do balneário. Tendo a maioria dos jogadores decidido participar no embate frente ao Sporting, Chipenda, com a mulher e os companheiros de equipa, França, Araújo e José Júlio fugiriam para o Algarve e daí, usando para a travessia uma traineira, escapariam para Marrocos.
O passo seguinte levá-lo-ia a Angola, onde Chipenda viria a tornar-se num dos dirigentes do MPLA e figura de proa da luta pela independência. Conta-se que, já como comandante da “Frente de Leste”, mandaria parar as manobras militares, por razão da hipotética presença no contingente português do seu antigo colega na Académica, o também avançado Jorge Humberto. Já em 1974, em Lusaka, e como mentor de uma das facções em discordância com Agostinho Neto, viria a ser eleito líder do movimento. Mais tarde, viria a juntar-se ao FNLA, para, na década de 1990, regressar ao MPLA.

*retirado do artigo de Victor Andrade de Melo, “Jogando no olho do furacão: o desporto na Casa dos Estudantes do Império (1944-1965)”, publicado em “Análise Social, 223, LII (2.º)”, Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa,  2017
**retirado de http://oindefectivel.blogspot.com, publicado em Fevereiro de 2019, citando um artigo de António Simões, em “A Bola”

1241 - JOÃO CAVALEIRO

Ao terminar a formação nas “escolas” do Académico de Viseu, seria no mesmo emblema que João Cavaleiro faria a transição para o escalão sénior. Com 17 anos de idade, a primeira partida no conjunto principal viseense, no decorrer da temporada de 1974/75, transformaria o avançado no 3º jogador mais novo de sempre a estrear-se pela equipa da Beira Alta. Para além desse facto, a sua ligação à colectividade teria muitos mais episódios. Ainda como atleta, na campanha de 1975/76, e como um dos principais elementos do grupo de trabalho, os seus golos ajudariam à promoção à 2ª divisão. Já a época seguinte, sob a orientação da glória leonina Osvaldo Siva, traduzir-se-ia na última partida, enquanto futebolista, efectuada com a camisola da agremiação beirã.
A transferência para a União de Leiria no preparar da temporada de 1977/78, serviria para sublinhar as suas qualidades ofensivas e, nesse sentido, para empurrar o atacante até ao patamar máximo do futebol português. A aposta da Académica de Coimbra na sua contratação, onde, no sector mais ofensivo, pontuavam nomes como Freitas, Aquiles, Nicolau ou o brasileiro Eldon, levá-lo-ia, sob a batuta do treinador Juca, à estreia na 1ª divisão. Sem nunca conseguir segurar um lugar no “onze” titular da “Briosa”, ainda assim o avançado entraria em campo um número de vezes suficiente para manter o seu lugar no plantel. Infelizmente, para si e para os seus colegas, essa continuidade, após o 15º lugar na tabela classificativa de 1978/79, significaria o regresso ao degrau secundário.
O afastamento do patamar maior prolongar-se-ia, na sua carreira, por diversos anos. Após mais uma campanha ao serviço dos “Estudantes”, a mudança para os rivais do União de Coimbra levá-lo-ia a abraçar um dos emblemas mais representativos da sua caminhada competitiva. Na equipa a disputar os embates caseiros no Campo da Arregaça, João Cavaleiro passaria 5 épocas. Durante essas temporadas, ajudaria a colectividade a vencer a edição de 1980/81 do Campeonato Nacional da 3ª divisão e, muito à custa de várias dezenas de bolas introduzidas nas redes adversárias, transformar-se-ia numa das figuras icónicas da história da agremiação conimbricense.
Com Vítor Urbano, seu antigo colega no União de Coimbra, como adjunto de José Domingos no Beira-Mar, João Cavaleiro, para a campanha de 1985/86, acrescentaria ao currículo uma nova camisola. No conjunto de Aveiro passaria apenas uma temporada, a mesma que anteciparia a sua chegada ao Sporting da Covilhã. Nos “Leões da Serra”, após a conquista do Campeonato da 2ª divisão de 1986/87, o atacante voltaria a disputar o escalão máximo. Logo a seguir, naquele que viria a desenrolar-se como o derradeiro capítulo do seu trajecto enquanto futebolista, viria ainda a passagem pelo Salgueiros de 1988/89 e o reencontro com Vieira Nunes, um dos seus treinadores no emblema “serrano”.
Também como técnico, João Cavaleiro erigiria uma carreira louvável. Na caminhada como treinador-principal, para além de passagem por outros emblemas como o Tondela, Moreirense ou Sanjoanense, seria à frente de conjuntos que já tinha representado como atleta que o antigo avançado conseguiria maior destaque. No Académico de Viseu, com presença em 6 temporadas, transformar-se-ia no homem que mais vezes, na história do clube, orientaria o plantel sénior. Finalmente, e de volta ao Sporting da Covilhã, a distinção chegaria com a conquista, em 2001/02, do Campeonato Nacional da 2ª divisão “B”.