1346 - BELMIRO

Tendo já representado como sénior, pela seguinte ordem cronológica, as agremiações amadoras do Futebol Clube Malta e do Grupo Desportivo da Maconde, Belmiro Marques Graça seria apresentado como reforço do Varzim, para a temporada de 1982/83. Natural das Caxinas, nascido no seio de uma família de pescadores, o defesa-esquerdo depressa revelaria o carácter físico e batalhador. Estrear-se-ia sob o comando do “Magriço” José Torres e, testemunho da grande aposta feita pelos responsáveis dos “Lobos-do-mar”, logo na disputa do escalão máximo.
Talvez por razão do enorme salto competitivo, a verdade é que a sua primeira época entre os “grandes”, em termos individuais, não seria muito proveitosa para o atleta, com o lateral a aparecer em campo em apenas 3 jornadas do Campeonato Nacional. Já a temporada seguinte destaparia um jogador completamente diferente e lançado para uma das melhores campanhas da carreira. A prová-lo, Belmiro, muito para além de titular indiscutível, seria um dos elementos do plantel do Varzim, naquela que é a mais importante prova do calendário futebolístico português, a marcar presença em todas as rondas da competição
 Curiosamente, na temporada de 1984/85, o defesa, depois de ter conseguido ser um dos nomes sempre arrolado ao “onze” inicial, voltaria ao ocaso da primeira época passada com o emblema sediado na Póvoa do Varzim. Também em termos colectivos, a referida campanha teria um saldo negativo, com o clube a ver-se relegado para o segundo escalão. Uma época cumprida e o sonho de regressar à 1ª divisão cumprir-se-ia. Sob a alçada do treinador Henrique Calisto, num plantel composto por nomes como os de Vata, Reinaldo, Rui Barros, José Maria, Miranda ou o guardião Lúcio, Belmiro faria parte do grupo de trabalho que, no final da época de 1987/88, alcançaria, para a colectividade alvinegra, o 7º lugar na tabela classificativa do Campeonato Nacional.
Ao perder alguma preponderância no esquema táctico varzinista, talvez à procura de jogar com mais regularidade, o Desportivo das Aves apresentar-se-ia como uma boa solução para o seu trajecto competitivo. Porém, essa época de 1987/88, ao serviço da agremiação do concelho de Santo Tirso, encetaria na carreira do defesa-esquerdo uma nova etapa. Ao escolher representar um emblema a disputar a 2ª divisão, o jogador não mais conseguiria apresentar-se no patamar máximo luso. Daí em diante, sempre a vogar pelos escalões secundários, Belmiro ainda regressaria ao Varzim, onde completaria outras 3 campanhas. Depois, numa caminhada desportiva que acabaria com o termo da temporada de 1993/94, seguir-se-iam Oliveira do Bairro, Joane e Freamunde.
Após “pendurar as chuteiras”, apesar de presença assídua nas bancadas, Belmiro não mais retornaria às actividades do futebol. Ao voltar às tradições familiares, o antigo atleta passaria a dedicar-se às artes da pesca. Ao fim de vários anos no mar, numa senda que o levaria a passar por diversos países, a notícia de um naufrágio ao largo da costa de França, traria a triste notícia do seu falecimento.

1345 - VIEIRA NUNES

Com a formação feita nas “escolas” do FC Porto, Vieira Nunes conseguiria estrear-se no patamar sénior, na temporada de 1964/65, com as cores da Académica. Contudo, a mudança para a cidade de Coimbra, com o objectivo primeiro de dar continuidade aos estudos, integraria o defesa-central num plantel riquíssimo. Num conjunto que, só no sector mais recuado, contava com nomes míticos como Mário Torres, Rui Rodrigues, António Marques ou ainda Curado, o jovem praticante encontraria bastantes dificuldades para alcançar um lugar no “onze” orientado por Mário Wilson. Ainda assim, o jogador, tido como um elemento extremamente inteligente, haveria de participar em momentos de inolvidável importância para a história da “Briosa”.
Sem ser um elemento de fulcral preponderância nos desenhos tácticos da equipa beirã, Vieira Nunes tomaria o seu lugar numa das mais incríveis campanhas da Académica. Com os “Estudantes” a lutar pelos lugares cimeiros das competições nacionais, a temporada de 1966/67 terminaria com a agremiação coimbrã no 2º posto do Campeonato Nacional e com a participação na final da Taça de Portugal. No derradeiro jogo da prova, o defesa seria escolhido para o alinhamento inicial que, frente ao Vitória Futebol Clube, acabaria por não conseguir levar de vencido o aludido desafio. Já na época de 1968/69, finalmente como um elemento, no grupo de trabalho, a auferir do estatuto de titular, o atleta voltaria a entrar em campo no derradeiro embate da apelidada “Prova Rainha”. No Estádio do Jamor, na tarde que ficaria marcada pelo protesto estudantil contra o vigente regime totalitarista, o jogador, mais uma vez, veria o troféu a ser entregue ao adversário, dessa feita, o Benfica.
Com tamanhas prestações colectivas e com os desempenhos individuais a levá-lo a uma evolução ascendente, outros horizontes começariam a abrir-se à caminhada do defesa-central. Uma dessas portas acabaria por ser a da Federação Portuguesa de Futebol. Ao serviço das “esperanças” lusas, actuais sub-21, Vieira Nunes, na primeira e única internacionalização da sua carreira, seria chamado a uma peleja frente a Espanha. Na partida disputada no Estádio de Alvalade, a 22 de Novembro de 1967, teria como companheiros Damas, Artur Jorge, Pavão, Toni, Tomé ou Vítor Batista. Presente no seio de uma equipa recheada de craques, a sua participação no eixo defensivo, acabaria a contribuir para o empate a duas bolas.
Com o termo da ligação de 5 temporadas à Académica de Coimbra, o passo seguinte no seu trajecto clubístico levá-lo-ia a retornar à “Cidade Invicta”. De regresso ao FC Porto, como reforço para 1969/70, Vieira Nunes, numa campanha em que teria três treinadores diferentes, conseguiria manter-se como um dos elementos a merecer a confiança tanto de Elek Schwartz, de Vieirinha e de Tommy Docherty. Curiosamente, depois do arranque auspicioso, o defesa só voltaria a ter uma tão grande preponderância no “onze” dos “Azuis e Brancos”, na época de 1974/75, o último ano em que representaria os “Dragões”. Pelo meio, um episódio bem curioso que, em Janeiro de 1970, no Brasil e na inauguração da casa do São Paulo, inscreveria o seu nome como o do primeiro atleta a marcar no famoso Estádio do Morumbi.
Com o final da carreira ainda a contar com passagens de uma temporada ao serviço do Sporting de Braga e, depois do Minho, com mais uma campanha com a camisola do Salgueiros, não demoraria muito mais tempo para que Vieira Nunes passasse a abraçar as funções de treinador. Como técnico-principal, num trajecto que começaria em 1979 e ultrapassaria a viragem do milénio, destaque para as campanhas realizadas na 1ª divisão. Desse modo, há que nomear as experiências à frente do Sporting da Covilhã e do “O Elvas” CAD, como as de maior realce.

1344 - FERNANDO PIRES

Nascido em Angola, seria já em Portugal que Fernando Pires, ao ingressar nas “escolas” do Sporting de Braga, daria início à caminhada no desporto. Dono de uma boa técnica, qualidade de passe apurada e excelente visão de jogo, as suas exibições nas camadas de formação do emblema minhoto, chamariam à atenção dos responsáveis técnicos da Federação Portuguesa de Futebol. Com a “camisola das quinas”, o médio seria chamado, inicialmente, aos sub-16. Sob a batuta do “magriço” José Augusto, o jovem atleta faria a estreia por Portugal a 9 de Janeiro de 1985 e, com um golo da sua autoria, ajudaria a vencer a congénere magiar, por 1-0.
Ainda no escalão referido no parágrafo anterior, o centrocampista seria chamado a participar no primeiro grande certame da sua ainda curta caminhada. Com o torneio final a ser organizado na Hungria, Fernando Pires, no Campeonato da Europa de sub-16 , entraria em campo em todas as 3 partidas disputadas por Portugal. Infelizmente para as cores lusas, o jovem agremiado nacional não conseguiria passar da fase de grupos, com o único golo concretizado pelo “conjunto das quinas” a ser da autoria do médio. No entanto, apesar do desaire colectivo, as exibições do jogador mantê-lo-iam nos planos das selecções e com as novas chamadas aos sub-18 e aos sub-21, a sua carreira ficaria colorida com um total de 18 internacionalizações.
Já no que ao trajecto sénior diz respeito, a estreia de Fernando Pires na categoria principal do Sporting de Braga, numa altura em que ainda era júnior, aconteceria na temporada de 1986/87. Mesmo ao demonstrar qualidades de grande valor, a verdade é que a concorrência de colegas com maior traquejo levá-lo-ia, na época seguinte à da promoção à primeira equipa, a um curto empréstimo. No Felgueiras, com a agremiação a militar na 2ª divisão, o médio ganharia experiência suficiente para regressar ao Estádio 1º de Maio, em condições de disputar um lugar no “onze” inicial. Nesse sentido, a temporada de 1988/89 viria a provar a validade da mencionada cedência. Com Vítor Manuel no comando técnico dos “Arsenalistas”, o atleta assumiria um papel de relevância no seio do plantel e acabaria como um dos mais utilizados no grupo de trabalho.
Em abono da verdade, Fernando Pires, tirando algumas excepções, assumir-se-ia como um dos titulares da equipa bracarense. Daí em diante, com o clube a cotar-se como um conjunto de meio da tabela, o médio destacar-se-ia como um dos pilares tácticos de todos os treinadores contratados e um dos maiores ícones da massa adepta. Curiosamente, ao fim de 8 temporadas com as cores do conjunto minhoto, 7 delas consecutivas, o termo da campanha de 1994/95 marcaria o fim da ligação do jogador com o emblema sediado na “Cidade dos Arcebispos”. Daí em diante, sem abandonar o escalão máximo, o atleta, ao manter os bons índices exibicionais, passaria ainda pelo Marítimo e pelo Vitória Futebol Clube.
Com a saída do emblema da cidade de Setúbal, o jogador entraria no derradeiro capítulo da sua carreira enquanto praticante. Tempo ainda para 3 temporadas ao serviço do Moreirense, 1 campanha com as cores do Vizela e, para finalizar a caminhada como desportista, a “perninha” dada no futsal, com a camisola do Grupo Desportivo André Soares.
Depois de “pendurar as chuteiras”, Fernando Pires não largaria a modalidade. Como treinador principal, tem tido algumas passagens pelas camadas de formação de colectividades com menor expressão. Já como técnico de conjuntos seniores, destaque para as recentes experiências nos “regionais” sob a alçada, respectivamente, da Associação de Futebol de Braga e da Associação de Futebol de Viana do Castelo, à frente do São Paio D’Arcos FC e no comando do Condor SC.

1343 - SERAFIM

Com a estreia no plantel principal a reportar-se à temporada de 1940/41, o início da ligação de Serafim das Neves ao Belenenses, ainda nas categorias inferiores, aconteceria 3 anos antes. Popularizado como elemento da defesa, mas a posicionar-se, com igual qualidade, em lugares do sector intermediário, o jogador, durante épocas a fio, consagrar-se-ia como um dos elementos mais utilizados, e estimados, no seio do grupo de trabalho “azul”. Nesse pressuposto, ao lado de nomes de enorme história no futebol português, faria parte de equipas de grande valor. Rodeado por atletas de enorme monta, com as suas exibições a serem pautadas por uma sobriedade ímpar e por uma exemplar abnegação, o acréscimo dado pela sua presença aos desempenhos colectivos, seria de inquestionável valia e um pilar para os sucessos do emblema lisboeta.
No que diz respeito aos êxitos, Serafim ajudaria a redigir a época mais gloriosa da narrativa belenense. Para além das conquistas de 2 Campeonatos de Lisboa e da participação na final da Taça de Portugal de 1947/48, também na discussão da apelidada “Prova Rainha”, o jogador seria de fulcral importância para o desfecho da edição de 1941/42. Escolhido para a disputa da derradeira partida pelo técnico Rodolfo Faroleiro, o atleta entraria no “onze” seleccionado para a peleja calendarizada para o Estádio do Lumiar e, ao defrontar o Vitória Sport Clube, transformar-se-ia num dos esteios do triunfo por 2-0.
Também no Campeonato Nacional, com o Belenenses, por regra, a posicionar-se como um dos candidatos ao título, Serafim viria a tornar-se numa figura de proa. Com muitas edições, daquele que é o principal troféu do futebol luso, a terminarem com os “Azuis” na 2ª posição da tabela classificativa, a época de 1945/46 traria uma novidade à prova. Integrado no grupo de trabalho comandado por Augusto Silva, ao lado de nomes como José Sério, Capela, Vasco Oliveira, Feliciano, Francisco Gomes, Mariano Amaro, Artur Quaresma ou Rafael Correia, Serafim participaria em todas jornadas e, com enorme destaque, ficaria inscrito nos anais do futebol português, como um dos laureados com o título de campeão nacional.
Do mesmo modo que em toda a carreira clubística, o seu percurso na selecção nacional seria altamente louvado. Com a estreia por Portugal a acontecer, a 11 de Março de 1945, pela mão de Cândido de Oliveira, a partida frente a Espanha, disputada no Estádio Nacional, empurraria Serafim, numa altura em que não abundavam os desafios entre países, para uma caminhada que duraria até 1953. Durante o referido período, o atleta falharia poucos jogos e com a “camisola das quinas” somaria ao currículo pessoal um total de 18 internacionalizações.
Numa carreira dedicada, quase em exclusividade, aos da “Cruz de Cristo”, as excepções, em termos de equipamentos, seriam dadas a Portugal, à selecção de Lisboa, à selecção militar, a um misto do Benfica/Belenenses e, habitual para a altura, a alguns particulares feitos com as cores do Sporting. Tamanha dedicação valer-lhe-ia uma atenção especial por parte do clube a jogar em casa no Estádio das Salésias. Acima do jogo organizado em sua homenagem, um dos maiores prémios recebidos pela entrega revelada durante 18 anos, surgiria com a braçadeira de capitão entregue à sua responsabilidade. Faltou-lhe, na última temporada enquanto futebolista, a vitória no Campeonato de 1954/55, o tal a escapar aos “Azuis” nos minutos finais da derradeira ronda.

1342 - RIBEIRO DOS REIS

Começaria na prática do futebol ainda como aluno da Casa Pia. No entanto, a sua paixão pelo desporto e em particular pelo “jogo da bola” encaminhá-lo-ia na direcção do Benfica. Agradados com as suas habilidades, os responsáveis pelo emblema lisboeta integrá-lo-iam nas camadas inferiores do clube. Na época seguinte, a de 1914/15, seria promovido à categoria principal, onde daria continuidade à ligação à modalidade.
Como futebolista, em paralelo com as participações vitoriosas no atletismo benfiquista, António Ribeiro dos Reis destacar-se-ia como um avançado-centro rápido e, acima de tudo, bastante lutador. A faceta abnegada mantê-lo-ia ligado ao clube para o resto da vida. Nas actividades de jogador, nas quais participou até à campanha de 1924/25, ajudaria as “Águias” a conquistarem 4 Campeonatos de Lisboa e 2 edições da “alfacinha” Taça de Honra. Ainda como praticante, representaria Portugal, a 18 de Dezembro de 1921, na primeira peleja internacional. Multifacetado no desporto, tal como na vida, no contexto da partida disputada, frente à Espanha, no madrileno Estádio Manzaranes, acabaria a cumprir diversos papéis. Depois de entrar em campo e desempenhar as funções de atacante, seria também dele a cobertura jornalística para o “Sport de Lisboa”. Para terminar, no banquete de encerramento do evento e com a laringite do dirigente luso responsável pelas exéquias finais, seria dele a responsabilidade de ler o discurso oficial da União Portuguesa de Futebol.
Para além das actividades como atleta, Ribeiro dos Reis desempenharia outras funções no futebol. Como dirigente, também ao serviço do Benfica, cumpriria vários exercícios. Na arbitragem, como profundo conhecer das normas, destacar-se-ia como o primeiro português a integrar a Comissão de Regras da FIFA e, em tom de curiosidade, a fazer parte da promoção da lei a proibir o uso das meias para baixo. Porém, a sua faceta de maior destaque na modalidade, levá-lo-ia às experiências enquanto treinador. Nesse campo representaria o Benfica, tal como a equipa nacional portuguesa. Pelos “Encarnados”, seria responsável por um diverso número de glórias, nas quais mereceriam relevo as vitórias no Campeonato de Lisboa de 1932/33 e na Taça de Portugal de 1952/53. Já à frente das cores lusas, estrearia diversas “tradições”. Nesse sentido, seria o primeiro a trabalhar, sozinho, como seleccionador; seria o primeiro, numa partida frente à Itália, a encaminhar Portugal para uma vitória internacional; seria o primeiro, na condição de técnico, a participar num jogo de qualificação para o Mundial.
Também como jornalista, o nome de Ribeiro dos Reis acabaria por merecer os maiores louvores. Para além dos trabalhos feitos para o periódico referido no segundo parágrafo deste texto, a sua ligação à imprensa desportiva viria a fazer-se também através da colaboração com o jornal “Os Sports”. Claro está, é impossível de esquecer a importância naquela que é uma das publicações de maior tradição em Portugal e, ao lado de Cândido de Oliveira e de Vicente de Melo, a 29 de Janeiro de 1945, fundaria “A Bola”.
Em paralelo à existência no desporto, anos tão pródigos quanto os dedicados ao futebol, António Ribeiro dos Reis enveredaria pela carreira militar que, por altura da sua reforma, o tinha como Tenente-Coronel. Para além do aludido, é impossível esquecer as condecorações recebidas durante a vida, como são exemplo a Ordem Militar de São Bento de Assis, a entrega da comenda em nome da mesma Ordem ou, já a título póstumo, o agraciamento com a Grã-Cruz da Ordem do Mérito.

1341 - SOARES

Tendo despontado no Pedras Rubras, o Serviço Militar Obrigatório levá-lo-ia até Angola, onde, na antiga colónia portuguesa, acabaria a representar o Sporting Clube do Lubango. De regresso à metrópole, seria ao serviço do Beira-Mar que, nas provas lusas da temporada de 1969/70, o defesa-central retomaria a actividade desportiva. Com o emblema do Estádio Mário Duarte, na já aludida campanha, a disputar o 2º escalão, o jogador tornar-se-ia de fulcral importância para o regresso do clube ao convívio dos “grandes”.
Avaliado como um elemento aguerrido, com bom porte físico, eficiente no jogo aéreo e fortíssimo nos duelos individuais, a titularidade conquistada e mantida durante os dois primeiros anos a jogar pela agremiação aveirense, fariam dele um pilar dos estratagemas colectivos. Nesse sentido, ao marcar presença no jogo decisivo para a atribuição do título, partida disputada, em Leiria, frente ao Atlético, o jogador, na época de 1970/71, ajudaria a colectividade sediada na Beira Litoral a vencer o Campeonato Nacional da 2ª divisão e a voltar ao escalão máximo.
A estreia de Soares na 1ª divisão, em termos de avaliação pessoal, correria de feição para o jogador. Mesmo sem qualquer experiência no patamar maior do futebol luso, o defesa não deixaria intimidar-se pelos adversários, hipoteticamente, mais fortes. Como elemento habitual nos “onzes” idealizados por Dante Bianchi e, com a saída do treinador argentino, ao manter-se indispensável na táctica pensada por Armindo Teto, o atleta haveria de cimentar-se como um elemento de cariz primodivisionário. Aliás, durante as 8 temporadas com as cores do Beira-Mar, 5 delas no escalão mais elevado, poucas seriam as ocasiões em que perderia o estatuto de titular e os 296 jogos feitos pelos “Auri-negros”, serviriam de prova para sua elevada preponderância colectiva.
Já como um atleta experimentado e depois de, no Beira-Mar, ter envergado a braçadeira de capitão, Soares daria um novo rumo à carreira. Com Mário Wilson à procura de reforços para o sector mais recuado do Vitória Sport Clube, o defesa deixaria Aveiro para rumar a Guimarães. No Minho a partir da temporada de 1977/78, o jogador conservaria os níveis exibicionais das épocas anteriores e conseguiria manter um nível elevado de presenças nas fichas de jogo. Mesmo com a barreira dos 30 anos de idade ultrapassada à chegada à “Cidade Berço”, a verdade é que as suas “performances” em nada sairiam beliscadas. Ainda assim, finda a campanha de 1978/79, o central acabaria, novamente, a mudar de clube e já com as cores do Rio Ave daria continuidade à caminhada na 1ª divisão.
A temporada de 1979/80, a de estreia em Vila do Conde, traria à sua história na modalidade uma nova faceta. Com o despedimento, à 12ª jornada do Campeonato Nacional, de Ruben Garcia, os dirigentes do Rio Ave convidariam Soares, num conjunto técnico igualmente formado por Mário Reis e Duarte, a comandar, interinamente, a equipa do listado vertical verde e branco. O Rio Ave acabaria por não conseguir evitar a despromoção. No entanto, esse não seria o último ano do defesa na 1ª divisão. A transferência para o Salgueiros em 1981/82, traria à sua carreira novo ensejo para disputar o patamar máximo. Com a mudança para a colectividade do portuense bairro de Paranhos inicialmente a mantê-lo no 2º escalão, as duas campanhas seguintes trariam ao seu currículo a 9ª e a 10ª época do atleta a pelejar no degrau maior do futebol português.
No resto da sua caminhada desportiva, trajecto terminado com a incrível idade de 42 anos, tempo ainda para representar o Senhora da Hora, o Castêlo da Maia e o Ribeirão.

1340 - MÁRIO LINO


Ao encetar a caminhada no futebol ao serviço do Fayal Sport, Mário Lino, ainda em idade adolescente, rapidamente despertaria a cobiça de outros emblemas. Como resultado de uma partida feita na Ilha Terceira, a habilidade demonstrada pelo jovem atleta no jogo frente ao Lusitânia dos Açores, levaria a colectividade sediada em Angra do Heroísmo, caso inédito no arquipélago, a pagar pela transferência do à altura médio. A envergar a nova camisola a partir da temporada de 1958/59, o atleta manter-se-ia como um elemento de altos índices exibicionais. Com a chegada do húngaro János Biri ao comando técnico da delegação insular do Sporting, seria por sugestão do referido treinador que o jogador acabaria a viajar para Lisboa.
Agradados com as qualidades do atleta, Mário Lino viria a rubricar um contrato com os “Leões”. Integrado no plantel “verde e branco” na temporada de 1958/59, a campanha de estreia na 1ª divisão, em termos individuais, revelar-se-ia positiva. Daí em diante, o jogador conseguiria impor-se na luta por um lugar no “onze” sportinguista e adaptado a defesa-direito, passaria a ser um dos elementos mais preponderantes no cumprir das metas colectivas. A partir do sector mais recuado, como um intérprete de grande pujança física, boa capacidade de desarme e dono de uma técnica a dar dava azo ao apoio ofensivo, o atleta contribuiria para uma das épocas áureas do conjunto leonino. Para além da participação na conquista de 2 Campeonatos Nacionais e de 1 Taça de Portugal, há que destacar a campanha de 1963/64 na Taça dos Vencedores das Taças. Na prova organizada sob a alçada da UEFA, o futebolista, mesmo sem marcar presença na final ou na finalíssima, entraria em campo em 5 partidas e, desse modo, entraria para o rol de nomes com lugar no triunfo da aludida prova continental.
Talvez de forma não tão vincada, mas Mário Lino também acabaria por traçar o seu trajecto com as cores à guarda da Federação Portuguesa de Futebol. Com a camisola lusa, o defesa, depois de meses antes ter participado numa partida da equipa “B”, estrear-se-ia pelo principal conjunto da selecção de Portugal, numa disputa a contar para a fase de Apuramento do Campeonato do Mundo de 1962. Chamado por Armando Ferreira à peleja frente ao Luxemburgo, a vitória por 6-0 conseguida a 19 de Março de 1961, daria início a uma caminhada que traria ao seu currículo um total de 6 internacionalizações “A”.
Com o fim da sua carreira enquanto futebolista a acontecer no termo da temporada de 1966/67, Mário Lino, ao manter a ligação à modalidade, rapidamente assumiria o papel de técnico. Ao começar nas camadas jovens leoninas, o antigo defesa passaria também pelas tarefas de adjunto da equipa sénior. Com várias ocasiões em que, interinamente, seria chamado às funções de treinador-principal, o destaque maior dessas experiências surgiria com a presença em duas finais da Taça de Portugal, perdendo a de 1971/72 para o Benfica, mas vencendo a edição do ano seguinte frente ao Vitória Futebol Clube. Já na campanha de 1973/74, os responsáveis pelo Sporting tomariam a decisão de, em definitivo, entregar as rédeas do plantel ao seu cuidado. Numa época de excelência para o Sporting, seria ele o mentor da conquista da “dobradinha”. Curiosamente, como resultado de um desentendimento com a direcção, acabaria por não marcar presença no banco dos “Leões” na final da Taça de Portugal e daí em diante não mais voltaria a Alvalade.
Com um longo trajecto como treinador, Mário Lino ainda orientaria um largo rol de equipas. Com realce para os vários anos na disputa da 1ª divisão, Farense, Sporting de Braga, Vitória Futebol Clube, Portimonense, Marítimo e Boavista seriam alguns dos emblemas que preencheriam o resto da sua carreira. Nesse longo caminho, o destaque terá de ir para uma das passagens pelo Bessa, durante a qual, frente ao FC Porto, ganharia a Supertaça de 1979/80.

1339 - NOÉMIO

Com a totalidade do percurso futebolístico dedicado ao Marítimo, Noémio, ao jogar em três décadas diferentes pelo emblema madeirense, tornar-se-ia parte integrante de vários momentos de cabal importância para a vida da colectividade insular. Curiosamente, não só o aspecto cronológico da sua carreira seria traduzido num largo espectro de existências. Também dentro de campo, haveria de mostrar uma extensão enorme de qualidades, o que permitiria ao jogador actuar em funções ofensivas, intermediárias e igualmente no sector defensivo.
Com a estreia na equipa principal maritimista a reportar-se ao começo da segunda metade da década de 1960, Noémio, com os emblemas madeirenses e açorianos sem consentimento para participar no Campeonato Nacional, veria testadas as suas capacidades apenas na disputa das provas regionais. Ainda assim, afastado que estava dos maiores holofotes do desporto português, a qualidade apresentada nessa etapa inicial da carreira, levá-lo-ia a ser cobiçado por um dos maiores emblemas nacionais. No Sporting, depois de prestar provas com resultados bastante promissores, algumas questões de cariz familiar haveriam de fazê-lo recuar na altura de optar pela mudança para o continente e os “Verde-rubro” rapidamente voltariam ao quotidiano competitivo do jogador.
O forçado regresso, ironicamente, empurraria Noémio, versado nas habilidades técnicas, tal como grande exemplo de robustez e altruísmo, para dois dos maiores momentos da cronologia do clube sediado na cidade do Funchal. O primeiro, com os emblemas insulares a conseguir licença para entrar na mais importante prova do calendário luso, seria a participação do jogador na zona sul da 2ª divisão de 1973/74. Sob a alçada do treinador Alberto Sachse, o atleta ver-se-ia escolhido para a jornada inicial da referida temporada e acabaria por concretizar um golo na peleja forasteira, frente ao União de Leiria.
Não muitos anos depois, o futebolista participaria no segundo momento de vital importância para o Marítimo. Ainda na disputa do escalão secundário, seria, pelo técnico Pedro Gomes, chamado à folha de jogo, correspondente à última jornada da campanha de 1976/77. Na recepção ao Olhanense, num grupo que contava com nomes que mereceriam grande destaque no desporto nacional, casos do guardião Amaral, dos defesas Olavo e Eduardo Luís, ou do “capitão” Eduardinho, Noémio acabaria escolhido para o banco de suplentes. Já com o marcador a indicar 3-0 a favor do emblema da casa, o jogador seria chamado a entrar em campo e dos seus pés sairia o passe para o golo de Arnaldo Silva, elemento do plantel maritimista que viria também a merecer um lugar de destaque na história das competições portuguesas, selando-se, nessa jogada, a subida de divisão da agremiação madeirense.
A época seguinte à da aludida promoção, transformar-se-ia no ano de estreia do atleta e do clube na 1ª divisão. Naquele que é o degrau mais alto do futebol nacional, Noémio, sempre com números bem positivos, participaria em 3 temporadas consecutivas. Com a descida do Marítimo no termo da época de 1979/80, também o jogador desapareceria dos palcos principais e já com o final da carreira no horizonte, a decisão de “pendurar as chuteiras” surgiria depois de cumprida a campanha de 1981/82.

1338 - QUEIRÓ

Descoberto no Avintes pelo Boavista, António Augusto Alves de Oliveira, popularizado no futebol como Queiró, chegaria ao Bessa na temporada de 1978/79. Apesar de já ter algum traquejo como sénior, a verdade é que o salto do 3º escalão para a divisão maior do futebol português, levaria o atleta a revelar algumas dificuldades na altura de conquistar algum espaço no novo clube. Ainda assim, certos do seu valor, os responsáveis pelas “Panteras Negras” não abdicariam da sua presença no plantel e apesar de pouco utilizado durante as duas primeiras épocas, o jogador conseguiria garantir a continuidade no emblema portuense.
Curiosamente, seria durante as duas temporadas iniciais ao serviço do Boavista que chegariam ao currículo do atleta as principais distinções alcançadas no decorrer da sua carreira. Sob a alçada do inglês Jimmy Hagan, na condição de suplente utilizado, Queiró entraria em campo frente ao Sporting, tanto na final, como na finalíssima da edição de 1978/79 da Taça de Portugal. Depois da vitória na “Prova Rainha”, a campanha seguinte, na disputa da Supertaça, entregaria ao palmarés do jogador mais um troféu. Já orientado o clube “axadrezado” pelo técnico Mário Lino, o jogador, mais uma vez a saltar do banco, daria a sua contribuição na vitória frente ao FC Porto e, dessa maneira, ajudaria a levar o “caneco” para os escaparates do Bessa.
Daí em diante e na grande maioria das campanhas a envergar a camisola do Boavista, Queiró passaria a ser um dos elementos mais utilizados do plantel. Habituado às lides do sector intermediário do terreno de jogo, a mudança para a lateral-direita da defesa daria um novo estímulo à caminhada profissional do jogador. Aferido pelos diferentes treinadores como um intérprete de cariz altruísta e aguerrido, a sua constância exibicional transformá-lo-ia, não só num nome de referência das provas futebolísticas organizadas durante os anos de 1980, mas também numa das figuras míticas da história dos “Axadrezados”.
Durante um longo percurso feito com o Boavista, outro dos grandes prémios de Queiró viria com a braçadeira de capitão. Claro está que, de bastante importância, surgiriam igualmente as lutas do clube pelos lugares cimeiros das provas disputadas. Com o defesa integrado num grupo de trabalho com altas ambições, as prestações colectivas naquele que é o mais importante conjunto de pelejas do calendário luso, levaria o jogador a apresentar-se nas competições continentais. Nesse contexto além-fronteiras, a estreia do atleta surgiria durante a temporada de 1980/81. Com o 4º lugar alcançado no final do Campeonato Nacional do ano anterior, a qualificação para a Taça UEFA levá-lo-ia, nas eliminatórias frente ao Vasas e ao Sochaux, a entrar em campo nas 4 partidas disputadas pelas “Panteras Negras”.
Com o final da carreira a aproximar-se com o término da década de 1980, Queiró, durante a temporada de 1989/90, na disputa da Zona Norte da 2ª divisão, vestiria a camisola do Leixões. Na campanha seguinte à passada no Estádio do Mar, segundo o “site” da Federação Portuguesa de Futebol, o jogador voltaria a ser inscrito pelo Boavista. Aliás, a sua ligação ao clube dar-se-ia também no desempenho de outras funções. Como treinador, o antigo defesa notabilizar-se-ia pelo trabalho feito nas “escolas”. Tendo completado a formação superior na Faculdade de Desporto da Universidade do Porto, o seu lavor à frente das jovens equipas “axadrezadas” resultaria em diversos títulos nacionais.

1337 - AÍLTON

Ao ser promovido das “escolas” para o patamar sénior pelo mítico treinador Telê Santana, seria no Atlético de Minas Gerais que Aílton Delfino, entre os finais da década de 1980 e os primeiros anos de 1990, cumpriria a parte inicial da sua carreira no futebol. Após conseguir impor-se como um dos nomes importantes nos estratagemas da equipa principal do “Galo”, as suas presenças em campo, logo a partir da campanha de 1988, seriam bastante valiosas para a conquista de 3 Campeonatos Mineiros. Para além das provas internas, é impossível esquecer a sua participação nas lutas continentais e ao tornar-se no melhor marcador da Copa CONMEBOl e com presença nas duas mãos da final, seria decisivo para a vitória da sua equipa na edição de 1992 da referida competição.
Como um atleta com “faro” para o golo e habilidoso com a bola nos pés, os créditos ganhos durante os primeiros anos da caminhada profissional, levariam outros emblemas a olhá-lo como um possível reforço. A proposta mais tentadora emergiria de Portugal, com Aílton a ser apresentado como um dos elementos do plantel de 1993/94 do Benfica. Sob a alçada de Toni, o avançado-centro teria uma estreia auspiciosa. Aliás, após esse “amigável” frente ao FC Barcelona, onde marcou um dos tentos que ditaria a vitória por 2-1, o atacante, sem nunca chegar a ser um dos nomes indiscutíveis para o referido técnico, tornar-se-ia numa das peças muito utilizadas pelas “Águias” e, nesse sentido, de fulcral importância para a conquista do Campeonato Nacional. Surpreendentemente, mesmo com os números a justificarem a sua continuidade no clube, o final da aludida época levaria o jogador a deixar Lisboa e a regressar ao Brasil – “Eu tinha contrato, mas apareceu o interesse do Atlético Madrid e do São Paulo. O técnico do São Paulo era o Telê Santana, talvez o técnico mais importante da minha carreira. Sentei-me com a direção do Benfica, disse-lhes que queria voltar ao Brasil por questões familiares (…). A minha esposa da época nunca quis viver em Portugal e isso afastou-nos bastante a todos os níveis. Jogar no Benfica custou-me um divórcio doloroso”*.
Depois do “empréstimo” ao São Paulo, o regresso ao Benfica na temporada de 1995/96 terminaria ao fim de 6 meses, com o avançado a ser pouco utilizado pelo técnico Mário Wilson. Já a título definitivo, voltaria ao Brasil e de novo ao serviço do emblema do Morumbi, o jogador ajudaria a vencer a edição de 1996 da Copa Master da CONMEBOL. Daí em diante Aílton ainda vestiria as camisolas de um bom rol de clubes. Os maiores destaques acabariam por ir para as experiências no Cruzeiro, Portuguesa e Santo André. No emblema de Belo Horizonte, faria parte dos planteis que venceriam 2 “estaduais” e a Copa Libertadores de 1997. Já a passagem pela última das três equipas arroladas traria à sua carreira outros momentos importantes. Ao participar numa das mais brilhantes páginas do clube, o avançado-centro, nas campanhas de 2000 e 2001, contribuiria para os dois segundos lugares conseguidos no “Brasileirão”. A somar às aludidas prestações, há ainda que referir a chegada à final da Copa Libertadores de 2002, perdida para os paraguaios do Olímpia.
Após “pendurar as chuteiras”, em paralelo com a gestão da sua quinta comprada com o dinheiro amealhado em Portugal, Aílton continuaria a alimentar a paixão pelo futebol. Nesse sentido tem tido algumas aparições como técnico de agremiações mais modestas, caso do Vila Nova, ou trabalhos como “olheiro”, colaborando com emblemas como o Atlético Mineiro, o Cruzeiro e o América.

*retirado da entrevista conduzida por Pedro Jorge da Cunha, publicada a 19/12/2019, em https://maisfutebol.iol.pt